PAISAGEM VERDADEIRA
O verde tenro e vivo, de folhagem,
Presépio dos meus olhos, em menino,
Pôs-se de luto a par com meu destino,
Cego-me a vê-lo imagem de miragem...
Quando, iludido, o busco na ramagem,
Já com seus tons mais brandos não atino;
E nesta escuridão, só me ilumino
Vendo-o compor-me interior paisagem:
Paisagem de ouro verde, que de mim
Sai alongada em foco para a terra
A procurar vencer-lhe a cerração,
E aonde num crepúsculo sem fim
Tonta, a esperança, esvoaçando, erra
Sobre torres de encanto e de traição!
O Momento e a Legenda / Líricas Portuguesas. 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)
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