sábado, janeiro 31, 2015

Julia Holter, «Don't Make Me Over»

os nefelibatas da Economia

Um académico disse hoje, no «Expresso da Meia-Noite» que ficou perplexo com o resultado das eleições gregas, e não consegue perceber como um país desenvolvido chega a uma situação política como a da Grécia, isto é, governado, com largo apoio popular por uma força da esquerda radical (aliada a uma direita patriótica ou nacionalista, se se quiser).
Durante anos a Europa esteve entregue a estes indivíduos, cuja ignorância e incompetência política estão mais do que à vista -- e que conduzirão, com enorme probabilidade à vitória da Frente Nacional em França, situação ao pé da qual a questão grega será uma brincadeira de crianças.
Como foi a condução política europeia posta nas mãos deste anjinhos é que brada aos céus.

sexta-feira, janeiro 30, 2015

estampa CLXXXVIII - Richard Gerstl



Auto-Retrato a Rir (1908)
Österreichische Gallerie Belvedere, Viena

a pinta de Varoufakis

É demasiado bom, e além do mais, divertido.
Não me refiro nem à raiva incontida dos troikistas, muitos dos quais ironizavam com a, para eles, expectável hollandização de Tsipras e agora soltam gritos lancinantes e temerosos da revolução em marcha (a contrainformação, a vigarice avençada e a estupidez vão andar de mãos dadas nos próximos tempos).
Refiro-me sim, ao sorriso ironicamente bem disposto com que o ministro Yanis Varoufakis anunciou à Grécia e ao mundo que iria despedir asessores (boa parte dos quais são, como se sabe, valetes do poder e inúteis parasitas), recontratando, com o dinheiro poupado com chupistas, as empregadas de limpeza que haviam sido despedidas pelo governo alemão de Atenas.

quinta-feira, janeiro 29, 2015

The Quireboys, «Mother Mary»

do efeito Syriza

Leio na página online dum jornal, a propósito da morte de Demis Roussos,  a referência aos Aphrodite's Child, banda de rock progressista.

AÑOS



quarta-feira, janeiro 28, 2015

The Enid, «One And The Many»

nem todos somos bons homens (ou mulheres)

«num tempo em que todos somos bons homens a culpa tem de atingir os inocentes»

Valter Hugo Mãe, A Máquina de Fazer Espanhóis (2010)

terça-feira, janeiro 27, 2015

o grau zero da humanidade

Há episódios tremendos na história da humanidade: o sórdido tráfico negreiro e o infame genocídio das tribos americanas -- só para falar nas de maior dimensão -- estão ainda demasiado próximos de nós para que possamos olhá-los de forma desapaixonada. Mas dificilmente se encontrará um tal grau de perfídia, de loucura malsã, de bestialidade, como o do holocausto judeu, perpetrado pelos nazis. Uma triste época que para sempre ficará assinalada como momento em que o homem mais negou a sua própria condição de ser racional e moral. Esta foto diz tudo.


tocar no medo

«Uma dor forte, de punhal, por debaixo do tabardo que me agasalhava. E levei a mão ao ombro, e toquei na dor. Compreendi de novo. Parei, e assim fiquei algum tempo. Não sei se o que senti foi medo, desespero ou até alívio, sim, alívio, o mesmo alívio que sente a nossa alma quando encontra aquilo que era tanto esperado, ou tanto temido até.»

Sérgio Luís de Carvalho, Anno Domini 1348 (1990)

DUNKIRK


segunda-feira, janeiro 26, 2015

pândegas retoiçantes

«Realmente ele não ia aos clubes, de que falava com enjoo. Nunca se associava a pândegas retoiçantes pelos arredores da cidade, com coristas, mulherio desbragado e sentimental.»

Tomás Ribeiro Colaço, A Calçada da Glória (1947)

Jack White, «Lazaretto»

dizer o óbvio

Quando os governos governam contra o povo, por convicção ou por fraqueza e falta de coragem; quando os partidos traem o seu eleitorado, como se verificou com o Pasok, este, sabiamente, saudavelmente, atiram-nos borda fora. Que sirva de lição ao PS, agora com a vida muito mais facilitada depois de os gregos mostrarem darem o exemplo.

os gregos chegam-se à frente, como de costume

O que tenho ouvido esta noite, a propósito da vitória do Syriza, em que muitos dos justificadores da política económica da UE se regozijam com o resultado das eleições gregas, seria cómico, não fora preocupante: "ainda bem [dizem] que o Syriza venceu, porque isso vai obrigar a abrir o debate na União." O que por outras palavras significa: como não houve coragem para tentar inverter uma situação insustentável, em que caminhávamos de cabeça baixa para o precipício, felizmente os gregos chegaram-se à frente.

domingo, janeiro 25, 2015

ao ídolo detestado

«Quando, na cozinha, encheu o primeiro prato de sopa, para lho levar -- e era sopa de beldroegas que ele impusera, aquela de que mais gostava --, ficou, hesitante, a mirar essa comida que ia servir ao seu ídolo detestado e cuspiu-lhe repetidas vezes para dentro, raivosamente, com um sorriso triste, mole e falso, de cadela espancada e acovardada.» 

Urbano Tavares Rodrigues, Bastardos do Sol (1959)

sábado, janeiro 24, 2015

Budiño & António Zambujo, «Déixame Adiviñar»

a outra margem

«A corrente era forte, mas na outra margem havia pássaros, toiros bravos a pastar e valados desconhecidos. À noite, esperava-o a tareia do costume, em vez de ceia, e na manhã seguinte regressava ao telhal pelas orelhas.»

Soeiro Pereira Gomes, Esteiros (1941)

BEHIND THE LINES



ilumina


o punho de Tsipras

BBC
O punho bem alevantado de Tsipras diferencia-o de uma esquerda mole ou vendida, representada pela rosa delicodoce dum socialismo nominal envergonhado, terceira via nem carne nem peixe, nem fode nem sai de cima. Para agradar aos mercados, não são precisos partidos socialistas, que traem as suas origens e os seu ideário. Para o trabalho sujo existe a direita, como se vê em Portugal. O Pasok vai parar ao caixote do lixo, e é bem feito.



sexta-feira, janeiro 23, 2015

do revanchismo sobre Sócrates

As pessoas não são estúpidas, e percebem que o caso de Sócrates vai muito para além de uma configuração criminal. Não digo, como Soares, que ele seja um preso político. A política é outra coisa e não é para aqui chamada. O que se passa com Sócrates é estar ele a ser alvo de um nítido revanchismo. Só assim se percebe que funcionários superiores, directores-gerais & outras insignificâncias, se prestem a protagonizar episódios grotescos como o cachecol do Benfica, o edredão, ou as botas de cano alto, alegando o cumprimento dos regulamentos, a merda dos regulamentozinhos, os filhosdaputa dos regulamentozinhos -- quando é mentira que nas prisões os presos não possam vestir roupa sua. Eu já dirigi um clube de leitura numa prisão (uma experiência inesquecível, diga-se) e sei muito bem que os detidos envergavam vestuário seu para se protegerem do frio -- o que me parece justíssimo, se os serviços prisionais não fornecerem a indumentária suficiente. Quem achar o contrário é uma besta.
Outro episódio curioso foi o da solicitude do Sindicato dos Guardas Prisionais em denunciar os alegados privilégios de Sócrates na prisão. Mas alguém lhes encomendou o sermão? Antecipando justificações, se é que as houve: a instabillidade na população prisional. Está-se mesmo a ver o perigo que seria um motim envolvendo a meia dúzia de reclusos daquele estabelecimento, revoltados pelo pretendido tratamento de favor a um ex-PM, tratado como um manel palito qualquer... (É bem feito, pá!; pois, pá!, aqui é tudo igual, pá!...) A ralé que é ralé refocila e rebandalha-se com as humilhações infligidas aos poderosos.
Finalmente, o episódio da semana: a admiração, o escândalo até!, por um amigo jornalista -- parece que uma amizade de quarenta anos -- o actual director do JN, Afonso Camões, ter avisado Sócrates de que estaria a ser escutado, e inclusive que poderia haver lugar à sua detenção. Enorme escândalo, na verdade. Então as pessoas preocupam-se assim com os amigos, pá?!... Mas não tenho visto grande debate por essa informação ter sido transmitida a Camões por um seu colega de profissão do grupo Cofina, recolhida junto do juiz ou do procurador, como o próprio denunciou...
No meio disto tudo, a Justiça na lama, as pessoas a sentirem o cheiro a esturro. A culpa também deve ser de Sócrates.

St. Vincent «Prince Johnny»

quinta-feira, janeiro 22, 2015

criadores & criatura



Art Babbitt, Walt Disney (& outros)
e
o Pato Donald


terça-feira, janeiro 20, 2015

uma mândria feita de fofidões

«Há um mês e meio que não me desaparafusava do leito! A intoxicação agravara-se-me, encartuxando o corpo numa mândria feita de fofidões; empapando-me a alma e o espírito num indiferentismo oriental pela vida que me cercava, como se a essência da vida fosse apenas a morfina; como se morfina sintetizasse, numa picada, o ar, a luz, todas as necessidades e aspirações e alegrias e prazeres e vícios!»

Reinaldo Ferreira (Repórter X), Memórias de um Ex-Morfinómano (1933)

Lia Ices, «Thousand Eyes»

Inverno duro o da pátria do Norte.

«Sobranceira, a serra de Arga deitava agulhas fortes contra o céu e descia em lombadas aptas a uma discussão mais calma com outras montanhas. Nada de grandezas álpicas ou congéneres. Arga, lobos, montanha, romaria e São Lourenço a queixar-se do reumático. Inverno duro o da pátria do Norte.»

Ruben A., A Torre da Barbela (1964)

segunda-feira, janeiro 19, 2015

Wel Hung Heart, «This is Not Love»

"Desequilibrados, degoladores, calões. Islamistas fora de França"

A minha tolerância ao fundamentalismo religioso é nula; seja islâmico, judaico, cristão e por aí fora. É exactamente igual à minha rejeição, total e absoluta, ao racismo, a guetização das comunidades étnicas. Lisboa tem, por exemplo na Mouraria, um dos mais interessantes fenómenos de misceginação cultural -- como ainda ontem se viu no documentário brilhante de Tiago Pereira, transmitido pela RTP2 , "O que o povo ainda canta".

(A generalidade dos espectadores devia andar a badalhocar-se pela TVI, é verdade.)

Vem isto a propósito da manifestação que movimentos intitulados Resistência República e Resposta Laica (nomes magníficos, saliente-se) pretenderam organizar e foram, porventura justificadamente proibidas pela Justiça francesa. O slogan era divertidamente ofensivo (para os radicais islâmicos, claro), mas justo: "Desequilibrados, degoladores, calões. Islamistas fora da França". A imprensa, politicamente correcta e tonta, apressa-se a qualificar estes movimentos como sendo de extrema-direita, tal como sucede com o Pegida alemão -- o que está longe de ser verdade. Mas, como já escrevi, não podemos alhear-nos dos perigos de infiltração racista e fascista.

A verdade é que se eu fosse francês, ou alemão, ou belga, por exemplo, consideraria como primeiro dever cívico obstaculizar e reprimir por todas as formas legais a capacidade de acção todos os islamitas. Os islamitas, não por serem, estrangeiros (vários já nem o são) ou muçulmanos (o que seria disparatado). Islamitas porque, ao contrário da Igreja Católica, que foi posta na ordem pelo liberalismo e pela República (por vezes com excessos, concedo), a ameaça à liberdade no momento presente reside naqueles, e não nestes, como se sabe.

O alvo dos liberais, dos democratas, dos libertários, das feministas, dos homossexuais, dos homens livres é a besta islamita. Com vigilância para com as vagas epidémicas fascistas e xenófobas. Quanto mais tarde o Ocidente se mobilizar, maiores as ameaças, de ambos os lados.

cães de vidro e bordados de croché

«A mobília da casa é uma embirrenta miscelânea de cacos doirados de casquinha, um canapé, arcas, cadeiras puídas, mesas de mogno com ignomínias expostas: cães de vidro e bordados de croché.»

Raul Brandão, A Farsa (1903)

domingo, janeiro 18, 2015

THE BEAT



um libertino de seiscentos

«Fazia gala nos amores variados; as graças femininas atraíam a sua carne, morena e moça, sem querer saber da qualidade das damas requestadas. Mancebas ou forras, rapariguitas pobres ou burguezinhas, todas serviam ao derriçador que, em vaidade intensa de gabarola, assentava num livro os nomes e as qualidades das rendidas, entre as quais não seria difícil topar o dalguma monja ou dona de jerarquia, arpoada pelas galantarias do namoradeiro.»

Rocha Martins, O Drama de Santa Engrácia (s.d.)

sábado, janeiro 17, 2015

Beck, «Blue Moon»

É útil, é preciso, é necessário;
João de Deus

empreendedorismo negreiro

«A tripulação passou uma semana a atirar baldes de água lá para baixo, a limpar a cagada dos pretos, eu só pensava que se aquilo era assim de Lisboa ao Brasil nem queria imaginar como fora da Mina a Lisboa com o dobro dos pretos no porão. Cada um dormia, comia, mijava e cagava no mesmo sítio, um niquinho de lugar, nem as pernas podia estender, os filhos pequenos dormiam sobre as mães, as mulheres sobre os homens e estes matavam-se uns aos outros para estenderem as pernas. Com esta história de trazer tantos escravos no mesmo barco perdiam-se não menos que cinquenta pretos em cada viagem, mas os atravessadores não se importavam, distribuíam o preço dos perdidos pelos salvados e ficava tudo em casa, era assim que eles diziam, ficava tudo em casa.»

Miguel Real, Memórias de Branca Dias (2003)

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Mónica de Nut & Virxilio da Silva, «Cántocha de mala ghana»

da inversão do exemplo

«Não era uma criança ingénua; era mais e melhor: era uma mulher decidida a ser boa, por isso mesmo que vira e observara de perto a maldade.»

Oliveira Martins, Os Filhos de D. João I (1891)

Exactamente

http://tempocontado.blogspot.pt/2015/01/a-liberdade-e-o-medo.html

do fígado à mão

«Sem sentimentos. Como este texto que vem directamente do fígado à mão sem passar pela casa da partida nem receber cinco contos.»

Miguel Martins, Cirrose (2003)

Não sei porquê, ando a lembrar-me do velho Sam


Sam, Ai Jesus! (1977)

quarta-feira, janeiro 14, 2015

Stephen Malkmus & The Jicks, «Chartjunk»

a propósito do discurso de Manuel Valls

Ouvir Manuel Valls dizer -- no extraordinário discurso que proferiu ontem na Assembleia Nacional Francesa -- que a França é um país onde todos podem viver livremente, os crentes e os que não crêem, é demasiado eloquente quanto à evidência da ameaça de retrocesso da liberdade no Ocidente.
Os mamelucos da nossa paróquia que hoje voltam a verberar a edição do Charlie Hebdo e o subtil e inteligente cartoon da primeira página, dão de si o mais triste testemunho da sua cobardia moral ou da sua estupidez.

hoje é dia de Santa Blasfémia (a pensar nos legionários do pensamento que nos têm saído ao caminho)


terça-feira, janeiro 13, 2015

O BARQUINHO



A espantosa realidade das coisas / É a minha descoberta de todos os dias.
Fernando Pessoa / Alberto Caeiro

sim, é grande, sim, é merecido


segunda-feira, janeiro 12, 2015

domingo, janeiro 11, 2015

A manifestação de Paris: um triunfo da Civilização

A manifestação de Paris, na sequência dos acontecimentos em torno do ataque ao Charlie Hebdo, é o assinalar simbólico, e de novo na história europeia, da oposição inconciliável entre nós, os liberais, os democratas, progressistas ou conservadores, ateus e crentes, antifascistas, antitotalitários, anti-racistas, antifundamentalistas -- e os outros: os xenófobos, os ultramontanos e sectários, os totalitários de direita  e de esquerda
Tal como há 70 anos, no findar da II Guerra Mundial, o mundo livre enfrentara a besta nazi, derrotando-a, e se virava contra o terror estalinista, por dentro apodrecido e também derrotado, terá de enfrentar agora a grotesca demência islamita, que será também derrotada.
É isto essencialmente que explica a grandiosa manifestação de hoje, notável, histórica e exemplar na união dentro das suas diferenças dos homens e mulheres de boa vontade. Um triunfo da civilização.

estampa CLXXXVII - Elaine De Kooning


Al Lazar (Homem num Quarto de Hotel) (1954)
Salanser-O'Reilly Galleries, Nova Iorque)

sábado, janeiro 10, 2015

AfroCubism, «Mali Cuba»

com ele era a murro

«O Pacífico lhe chamavam porque odiava armas, navalhas que fossem, pistolas nem pensar -- como muito bem ficou a saber Arnaldo Figurante, mestre da naifa, frecheiro do revólver, avisado e posto em sentido no acto da admissão da quadrilha: "...Mas se te apanho armado parto-te o focinho."»

Mário Zambujal, Crónica dos Bons Malandros (1980)

quinta-feira, janeiro 08, 2015

uma loura a atirar para o ruivo

«E é uma loura, a atirar para o ruivo, provida de largos dentes, esta criatura que o tem visitado nos últimos tempos. Apresentou-se ela para o jantar há uma semana, vestida como quem vai para um baile, exibindo uma toillete de seda cor de marfim, toda ornamentada de rosinhas de tule no decote e na cintura e na saia. Pelo exterior juraria qualquer um tratar-se de uma dessas muitas que neste início de temporada se esforçam por imitar a tão falada Lily Langtree, a qual o príncipe de Gales vem ostensivamente acalentando com o seu cio de bode de meia idade. Quanto ao mais afirma-se a visitante anglicana convicta, muita afecta aos afazeres da sua igreja paroquial, cujo altar-mor costuma decorar anualmente, aquando da festa das colheitas, com exuberantes corbeilles de flores e de frutos.»

Mário Cláudio, As Batalhas do Caia (1995)

os meninos que embaraçam o Profeta


um cartoon do meu filho António

feminilismo histérico e ascetismo amarelo

«Perturbava o seu aspecto físico, macerado e esguio, e o seu corpo de linhas quebradas tinha estilizações inquietantes de feminilismo histérico e apoiado, umas vezes -- outras, contrariamente, de ascetismo amarelo.»

Mário de Sá-Carneio, A Confissão de Lúcio (1914)

Je Suis Charlie


quarta-feira, janeiro 07, 2015

o ataque ao Charlie Hebdo nos blogues que sigo

Aspirina B: http://aspirinab.com/julio/vive-la-france/
BoDoï: http://www.bodoi.info/cabu-charb-wolinski-tignous-assassines/
Duas ou Três Coisas: http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2015/01/homenagem-ao-charlie-hebdo.html
Delito de Opinião: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/mais-inseguros-e-menos-livres-7001433
Ler BD: http://lerbd.blogspot.pt/2015/01/blog-post.html
O Informador: http://ntpinto.wordpress.com/2015/01/07/sem-palavras/
Ponte Europa: http://ponteeuropa.blogspot.pt/2015/01/a-demencia-mistica.html
Tempo Contado: http://tempocontado.blogspot.pt/2015/01/de-luto.html
Vias de Facto: http://viasfacto.blogspot.pt/2015/01/sei-perfeitamente-porque-me-lembrei.html

e não se pode exterminá-los?...

Mais um patamar na escalada do terrorismo fascista-islamita, que terá como consequência -- já o escrevi várias vezes --, uma reacção brutal, em que muitos inocentes muçulmanos serão vítimas. Mas estes porcos estão-se nas tintas, eles querem sangue -- e vão tê-lo, garantidamente, nas cidades e nos países ocidentais em que se constituem como ameaça.
Os patetas do costume, apressam-se a catalogar movimentos como o Pegida, na Alemanha, como neo-nazis, ou coisa que o valha. Não, os neo-nazis colam-se-lhes, como parasitas que são; mas o que espoletou o Pegida foi a indignação das pessoas comuns perante a indignidade e o medo.
Entretanto, hoje, no ataques ao Charlie Hebdo, foram assassinados Charb (Stéphane Charbonnier, o director, cujo cartoon inclui a edição de hoje mesmo do jornal), Wolinski (Grande Prémio do Festival de BD de Angoulême, em 2005), Cabu e Tignous. O empurrão à extrema-direita francesa foi poderoso.




imagem:  Público

terça-feira, janeiro 06, 2015

Augustines, «Cruel City»

a chantagem sobre a Grécia

O eleitorado grego está a ser chantageado interna e exteriormente. Os chantageadores indígenas são a Nova Democracia, os mesmos que ludibriaram tudo e todos nas contas públicas. Que países como a Alemanha pressionem desavergonhadamente o eleitorado grego a escolherem os aldrabões, diz muito sobre como está a União Europeia. Daí que fosse importante a vitória e um governo do Syriza, o que talvez possibilitasse, com os novos governos que se anunciam na Europa do Sul, fazer uma frente política, reunindo Portugal, Espanha e Itália (esta não deverá estar muito pelos ajustes quanto ao tratamento neo-colonial do Norte europeu).
De qualquer modo, a Alemanha e os seus aliados nem precisam de preocupar-se muito com os helenos. O risco sério de triunfo da extrema-direita em França e a possível saída do Reino Unido serão, previsivelmente, o golpe de misericórdia na própria União Europeia.

segunda-feira, janeiro 05, 2015

ADAGIO MA NON TROPPO



o inexprimível

«Restos de adolescência, breves imagens logo perdidas, fluência de movimentos em desenhos de tapeçaria, raros sorrisos tocados de saber e melancolia.»

Marcello Duarte Mathias, Mas É no Rosto e no Porte Altivo do Rosto (1983)

Sharon Van Etten, «Every Time The Sun Comes Up»

partir, não interessava de que modo

«Nem um arredou pé. Fascinados pela presença do lugre, partir, não interessava de que modo, eis o último recurso a que poderiam deitar mão. Para os famintos, São Vicente era a terra sonhada. E o Senhor das Areias, velho amigo do Arquipélago, o mensageiro da vida. Iam então deixá-lo perder, ali, tão juntinho a eles, a sorrir-lhes de esperança?»

Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)

sábado, janeiro 03, 2015

Sócrates, algumas dúvidas

Depois das respostas de Sócrates -- e que respostas! --, já poucas dúvidas me restam de que aquela malta do MP anda a apanhar bonés.
Faz-me espécie que o presuntivamente corrupto Sócrates esteja preso. Está preso porquê, se ainda nem sequer foi acusado e muito menos julgado? É que a prisão não é propriamente um albergue de férias; e por muito especial que aquele estabelecimento possa ser, o homem está há mais de um mês metido na choça, no meio de, supõe-se, verdadeiros criminosos. Ora, como não se trata dum chefe de gangue, nem dum barão da droga, ou de um infiltrado do "estado islâmico", a presunção de que Sócrates poderá prejudicar o desenrolar das investigações só pode significar que o MP anda aos papéis, o que torna essa mesma prisão inaceitavelmente kafkiana.
Também não me deixa sossegado não saber nada dos protagonistas da Justiça. Quem são este procurador e este juiz? Isto é: que missas frequentam?; em que festas partidárias participam?; que jornais partidários assinam? É que se algum deles, eventualmente, tenha sido visto na Festa do Avante! ou participado num importante colóquio, digamos do IPSD, o caso já mudou de figura. Quem tem processos destes em mãos, tem de ser um livro aberto. A Lei não o prevê, é pena.

chegada à cidade silenciosa

«A chuva abrandou, só quase nada. Juntam-se no alto da escada os viajantes, hesitando, como se duvidassem de ter sido autorizado o desembarque, se haverá quarentena, ou temessem os degraus escorregadios, mas é a cidade silenciosa que os assusta, porventura morreu a gente nela e a chuva só está caindo para diluir em lama o que ainda ficou de pé.»

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)

I Break Horses, «Denial»

dos inconvenientes de jornadear a cavalo, por cerros e vales

«As pequenas impertinências, em que se não pensa antes, que se esquecem depois, ou que a saudade consegue até doirar e poetizar a seu modo; esses microscópicos martírios, que de longe não avultam, actuam-nos, na ocasião, a ponto de nos inabilitar para o gozo do que é realmente belo. A dureza do colchão, em que se dorme, do albardão ou selim sobre que se monta, o tempero ou destempero do heteróclito cozinhado com que se enche o estômago, a lama que nos incrusta até os cabelos, o pó que se nos insinua até os pulmões, o frio que nos inteiriça os membros, o sol que nos congestiona o cérebro, tudo então nos desafina o espírito, que trazíamos na tensão necessária para vibrar perante as maravilhas da natureza ou da arte.»

Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

quinta-feira, janeiro 01, 2015

um blogger passeia-se

1. Os melhores do ano
2. Automóveis (2)
3. Illuminated Manuscripts -- Telling the Shepherds of Jesus' Birth
4. Cartas e cartolas  

recordação distante

«Olhei-me num pequeno espelho, e vi uma cara descarnada e pálida, com o nariz afilado... Onde é que eu já tinha visto uma fácies semelhante? A recordação distante dum morto querido -- meu irmão -- fez-me estremecer.»

José Rodrigues Miguéis, Um Homem Sorri à Morte -- Com Meia Cara (1959)