sexta-feira, fevereiro 29, 2008

acordes nocturnos

6insignificâncias6

O meu velho amigo Paulo Cunha Porto quer que revele 6insignificâncias6 a meu respeito. Como não me posso eximir à solicitação deste meu amigo velho, aqui vão elas, que remédio!
1) Tenho uma predilecção, há quase 40 anos, por cães da raça boxer (um deles tomou conta da minha irmã bebé, outro tomou conta da minha filha mais velha bebé, outro ainda tomou conta da minha filha mais nova bebé).
2) Assino os meus livros no frontispício e nas páginas 25 e 101.
3) A BD sabe-me melhor com um chocolate e o chocolate sabe-me melhor com uma BD (os dentes ressentem-se).
4) Tenho a mania dos descapotáveis (sou encalorado).
5) Dou alcunhas, cognomes, títulos aos meus cães. O actual, Charlie, é conhecido cá em casa por Carlinhos Theron (uma homenagem).
6) Costumo fumar uma cigarrilha à noite no terraço, chova ou faça sol (de preferência na companhia do Carlinhos).

O Vale do Riff - Genesis, «Carpet Crawl»

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

capismo

ilustração de José Ruy para A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca
Publicações Europa-América, Mem Martins, 1973

fala do homem falhado

pedes-me palavras
(só tenho as sílabas do desespero para te dar)
pedes-me amor
(nada mais vislumbro senão carne faminta a saciar)

pedes-me a imortalidade
e eu ergo o muro da descrença de alguma vez te ter

dos jornais

Portugal é hoje um país autofágico, dobra-se sobre o peso das infraestruturas de que ninguém precisa. Quantas casas estão hoje vazias, e sem qualquer possibilidade de virem a ser habitadas? Quantas centenas de quilómetros de autoestradas inúteis já existem? Quantas centenas mais se irão construir? Os estádios abandonados do Euro 2004, são um símbolo desta economia que tem governo, mas não tem estratégia nem estadistas. Viriato Soromenho Marques, no JL de ontem.

O Vale do Riff - Lee Morgan, «I Remember Clifford»

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

caderninho

A sedução é um dom: como o da poesia. Também tem muito a ver com a música. A pintura e a própria escultura vêm depois. David Mourão-Ferreira
Jogo de Espelhos

O Vale do Riff - Carla Bley Big Band, «Pink Panther»

estampa CXXVIII

Aurélia de Sousa, Auto-Retrato
Colecção particular, Porto

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Figuras de estilo - Maria Archer

Maria aceitava-o por marido! Ia casar-se, ter casa, ter mulher! Já não se calaria, cabisbaixo, diante dos outros, dos amigalhaços, que, abancados na taberna, blasonavam de conquistas e amores. Agora, já tinha uma rapariga, como todos os homens! E em breve haveria filhos, e casa sua, e o direito de berrar em casa, e os outros privilégios dos casados.


«Entre duas viagens», Ida e Volta duma Caixa de Cigarros

O Vale do Riff - Lene Lovich, «Lucky Number»

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Toda a árvore velha é catedral erguida sobre o chão
Joaquim Gomes Mota

O Vale do Riff - The Stranglers, «No More Heroes»

BD


Raul Castro Ruiz, que acaba de ser eleito pela Assembleia Nacional de Cuba com 100% dos votos (609 dos 609 deputados), aparece-me aqui com um ar jacobsiano, pelo traço de Edel Rodríguez, publicado na Time. Tem ar do tipo que transmite directamente instruções ao coronel Olrik.
Mas aquelas rugas na testa denotam preocupação. O paradeiro do Capitão Francis Blake é desconhecido, e Philip Mortimer, da última vez que se soube dele, estava com o cientista cubano dissidente, Professor Nicanor de Los Ríos Embid.

domingo, fevereiro 24, 2008

acordes nocturnos

Antologia Improvável #289 - Sebastião da Gama (2)

O IMPOSTOR

Lá porque eu tinha os loiros na cabeça
(os loiros que Ele deixara
cair ao chão de onde sou),
deram-me abraços na praça,
chamaram-me Poeta
e até fizeram discursos...

Ele, do Alto, sorriu
e riu
daquela tragicomédia,
dos meus ares de arlequim,

Mas consegui fugir ao seu olhar...

Por fim
acreditava, tanto como os outros,
que as palmas era pra mim.

Serra-Mãe

The Stranglers

esta semana n'O Vale do Riff + Lene Lovich, Carla Bley, Lee Morgan e, olha... é singular!..., Genesis

hype,hype...

Mary Lou Lord, Jump

sábado, fevereiro 23, 2008

caderninho

Aqueles que estão acostumados a julgar pelo sentimento nada compreendem das coisas de raciocínio, porque querem logo penetrar de relance e não estão habituados a procurar os princípios. E os outros, ao contrário, que estão acostumados a raciocinar por princípios, nada compreendem das coisas de sentimento, procurando nelas princípios e não podendo alcançá-las de relance. Blaise Pascal
Pensamentos (tradução de Américo de Carvalho)

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

O Vale do Riff - Genesis, «Los Endos»




De A Trick Of The Tail (1976). Sem voz, sem Gabriel, mas completamente Genesis, aqui auxiliados por Bill Bruford, baterista dos Yes e dos King Crimson. Rutherford nunca esteve tão exuberante, e, olha!..., Hackett toca de pé. (1.ª postagem: 22/V/2007)

acordes nocturnos


capa daqui

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O Vale do Riff - Genesis, «Dancing With The Moonlit Knight»

Selling England By The Pound (1973), o meu primeiro álbum dos Genesis, o contacto inicial feito através desta primeira faixa, «Dancing With The Moonlit Knight», épica. Sei trauteá-la até a dormir. Há quem considere o melhor álbum deles -- e talvez o seja. É pena o realizador andar a apanhar bonés, e não ter percebido de onde vinham os riffs alucinantes de Steve Hackett, sempre sentado. (1.ª postagem: 12/II/2007)

acordes nocturnos

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Figuras de estilo - Eça de Queirós

Olhemos agora a literatura. A literatura -- poesia e romance -- sem ideia, sem originalidade, convencional, hipócrita, falsíssima, não exprime nada; nem a tendência colectiva da sociedade, nem o temperamento individual do escritor. Tudo em torno dela se transformou, só ela ficou imóvel. De modo que, pasmada e alheada, nem ela compreende o seu tempo, nem ninguém a compreende a ela. É como um trovador gótico, que acordasse de um sono secular numa fábrica de cerveja.
Fala do ideal, do êxtase, da febre, de Laura, de rosas, de liras, de Primaveras, de virgens pálidas -- e em torno dela o mundo industrial, fabril, positivo, prático, experimental, pergunta, meio espantado, meio indignado:
-- Que quer esta tonta? Que faz aqui? Emprega-se na vadiagem, levem-na à polícia!


Uma Campanha Alegre

acordes nocturnos


O Vale do Riff - Genesis, «The Return Of The Giant Hogweed»

Também de Nursery Crime (1971), «The Return Of The Giant Hogweed». Rock progressivo, chamaram-lhe, música elaborada, em crescendo tendencial, com margem para o improviso, por vezes só instrumental, outras com letras que fugiam do real banal. Eles foram dos seus melhores cultores.

Gravado em 1973, no Bataclan de paris. Repare-se que Steve Hackett levanta-se. (1.ª postagem: 9/IX/2006)


terça-feira, fevereiro 19, 2008

Antologia Improvável #288 - José Craveirinha (4)

EM QUANTAS PARTES?

Em quantas partes se divide um grito
em quantos corações se parte uma terra
em quantos olhos se come o sol
e em quantos pães se mata um sonho?

E se uma mulher despida é sempre um desejo
mais aperfeiçoado do que todos os milagres
o que significa neste Mundo o miolo
de um pão obsceno às metades
na mesa de seis bocas?

E quando é certo que um negro
dorme os velhos sonos tão completamente
só imitando outra pessoa a dormir quando já não pode
carregar um saco
ou levar o menino à escola
em quantas partes se divide um riquexó na ilha
em quantas partes se divide uma chávena de chá
em quantos sofás de mandioca se deita a filha mais nova
e em quantas partes se morde um bife de nervo
até ao delírio do osso no espaço tenro
do mundo na lua espetada num tronco
de imbondeiro no jantar engendrado no mato?

E neste poema em quantos trapos
se esconde o rei da fome de cada um
e levanta a cabeça o preciso
verso da fome de cada lei?
Karingana ua Karingana / Obra Poética I

acordes nocturnos

O Vale do Riff - Genesis, «Musical Box»


Uma jóia, uma obra-prima «Musical Box», de Nursery Crime (1971). Gravado em 1972 na tv belga. Gabriel canta e representa de forma magnífica; Banks, na guitarra acústica e nos teclados, soberano; Collins, percebe-se porque é um dos maiores bateristas da sua geração, e porque acabará por ocupar o lugar deixado vago por Gabriel; Hackett, com uma fleuma assombrosa, um dos grandes guitarristas do seu tempo; Rutherford, a discrição em pessoa, pouco se dá por ele, mas sabemos que tem de lá estar. (1.ª postagem: 26/IX/2006)

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

O Kosovo e a União Europeia

Temo que a secessão do Kosovo, promovida pelos Estados Unidos (cereja em cima do bolo duma administração de rapaces encabeçada por um pateta), temo que ela venha a marcar o princípio do fim da UE, definitivamente entregue aos bichos. Não são apenas os políticos risíveis da Comissão, como Barroso e Solana, mas os líderes dos grandes países europeus. Bernard Kouchner, por exemplo, um cretino que ainda há pouco ameaçou o Irão com uma guerra, provocando uma gargalhada geral; o insignificante Miliband, digno ministro dum Gordon Brown tacticista e politicamente cobarde, que muito justamente deverá perder as eleições; os italianos, que constituem a classe política mais ridícula da Europa, useiros e vezeiros em baterem o pé às desconsiderações que os outros «grandes» da União Europeia sistematicamente lhes fazem. Enfim é isto que está à frente da Europa, é isto que provável e desgraçadamente a irá enterrar: o fazer de conta de que os problemas não existem, disfarçando-os, dando-lhes a volta. Disfarça com o Tratado, assobia para o ar com o Kosovo.
Entretanto, com o Reino Unido com os dias contados, e a Espanha também -- duvido seja o que é hoje a breve trecho --, espero francamente que a Córsega também declare unilateralmente a independência. Seria bonito.
Finalmente, para completar a farsa, parece que Israel, país respeitável, mas que não se livra de efectivamente ser uma potência ocupante, também vai reconhecer um país de ficção.
Já agora, alguma lucidez neste comentário.

O Vale do Riff - Genesis, «The Knife»

Segundo álbum de originais, mas o primeiro que realmente conta, é este Trespass, de 1970. «The Knife» é daqui retirado. O filme mostra o excerto de uma actuação no «Bataclan» de Paris, em 1973, com a formação de referência dos Genesis: Peter Gabriel (flauta, voz e percussão), Tony Banks (teclados), Mike Rutherford (baixo), Steve Hacket (guitarra) e Phil Colins (bateria, 2.ª voz e ... apito). Aliás é a partir desta experiência vocal que ele se chega à frente, após a saída de Gabriel, sucedendo-lhe, ponto de partida para uma carreira a solo de grande sucesso comercial, embora muitos furos abaixo dos Genesis, e também do percurso a solo de Gabriel, este com uma audiência mais restrita. (1.ª postagem, 1/XI/2006)

acordes nocturnos

domingo, fevereiro 17, 2008

Darkness On The Edge Of Town




Que têm em comum John Ford e Raoul Walsh, Nicholas Ray e Elia Kazan, Sam Peckimpah e Samuel Fuller, Robert Altman e Martin Scorcese -- para além do cinema e da condição de americanos, por naturalidade ou adopção? Que pontos de contacto existem entre John Steinbeck, Dashiell Hammet e Jack Kerouac -- apesar do destino comum de diferentes escritas na Norte-América? E em Woody Guthrie e Bob Dylan, Elvis Presley e Eddie Cochran, John Fogerty, Neil Young e Tom Petty, trovadores e heróis da guitarra do folk-rock no Novo Mundo? Correspondem todos e cada um a uma certa ideia que fazemos da América -- e todos eles (e mais alguns), uma e outra vez, foram trazidos à baila de cada vez que um crítico se referiu ao trabalho do Boss.
A música de Springsteen, compromisso entre a tradição guthriana de intervenção e o rock and roll expressão do som e da fúria, é autêntica e viril. Expressões como «realismo social» (David Sinclair, Rock on CD, Greenwich, 1995) podem aplicar-se-lhe perfeitamente; e talvez o melhor exemplo seja este disco, de 1978, editado entre o também ele admirável Born To Run (1975) e o excessivo, e quanto a mim, parcialmente falhado The River (1980).
As palavras, nunca são despiciendas neste autor. Em Darkness on The Edge Of Town estamos em pleno imaginário norte-americano: os grandes subúrbios pejados de rebeldes desenquadrados (Badlands, you gotta live it everyday, / Let the broken hearts stand / As the price you've gotta pay, / We'll keep pushin' till it's understood, / And these badlands start treat us good -- «Badlands»); as autoestradas dos convertibles, do on the road, coast to coast (On a rattlesnake speedway in the Utah desert / I pick up my money and head back into town /Driving cross the Waynesboro county line / I got the radio on and I'm just killing time / Workin all day in my daddy's garage / Driving all night, chasing some mirage / Pretty soon littke girl I'm gonna take charge. -- «The Promised Land»); as fábricas e o struggle for life do operariado, certas composições de Springsteen transportam-nos para uma atmosfera pré-New Deal... (End of the day, factory whistles cries, / men walk through these gates with death in their eyes, / And you just better believe, boy, / Somebody's gonna get hurt tonight, / It's the working, the working, just the working life. -- «Factory»). O «vício estético» de Springsteen -- na feliz expressão de Laurent Chalumeau, crítico da Rock & Folk -- está também presente em textos de pulsão erótica (I've been working real hard, trying to get my hands clean, / Tonight we'll drive that dusty road from Monroe to Angeline, / To buy you a gold ring and pretty dress of blue [...] -- «Prove It All Night». «Noite» e «trevas» são presenças constantes na estesia springsteneana. Numa das faixas mais interessantes do álbum, «Candy's Room», a tensão inicial da música atinge os limites do suportável na voz cava e espectral de Springsteen, acompanhada apenas das percussões do piano e dos pratos da bateria (In Candy's room, there are pictures of her heroes on the wall, / But to get to Candy's room, you gotta walk the darkness of Candy's hall [...]), tensão abafada até à explosão da guitarra, seguida da dos tambores.
Muito bem acompanhado pela E Street Band, com destaque para o saxofonista Clarence Clemons e o pianista Roy Bittan. Steve Van Zandt surge como segundo guitarrista, em apoio do Boss. «Adam raised A Cain» e «Candy's Room» são dois exemplos de como o álbum está bem servido neste capítulo.
Um verdadeiro clássico, em suma.

Genesis

esta semana, repostagem

hype, hype

Lynn Williams, Dont Be Surprise
(tirado do Soul Sides)

sábado, fevereiro 16, 2008

caderninho



ALABASTRO - Serve para descrever as mais belas partes do corpo feminino. Gustave Flaubert
Dicionário das Ideias Feitas (tradução de João da Fonseca Amaral)

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

acordes nocturnos

Caracteres móveis - Miguel de Unamuno

Se na morte do corpo que me sustenta, e a que eu chamo meu para o distinguir de mim mesmo, a consciência volta à inconsciência absoluta donde ela saiu, e se o mesmo acontece à de todos os meus irmãos em humanidade, então a nossa laboriosa raça humana não passa dum fatídica procissão de fantasmas, que vão do nada ao nada, e o humanitarismo é o que de mais inumano nós podemos conceber.


Do Sentimento Trágico da Vida
(tradução de Cruz Malpique)

O Vale do Riff - Mahalia Jackson & Dinah Shore, «Down By The Riverside»

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Coisas, e a morte que existe nelas
Murilo Mendes

O Vale do Riff - John Lennon, «Imagine»

estampa CXXVII

Eduardo Malta, Auto-Retrato
Colecção particular

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Antologia Improvável #287 - José do Carmo Francisco (2)

A MENINA

Voltava-se e já não era criança.

Pouco tempo depois dum atravessar tímido na aldeia
em fim de tarde era o circuito da cidade, o rio à esquerda,
as ruas a transbordar.

As lágrimas leves sossegam a almofada adolescente -- sombras
e sorrisos em esboço numa janela a ver passar o tempo.

Voltava-se e já não era criança.

Medo enquanto se fazia já rapariga, um obscuro quarto de casa
com serventia de cozinha, os mesmos frangos e as batatas de
pacote, a melancolia.

Saudades da outra vida sem perigos nem sonhos presos a grandes
expectativas -- embora lento era um território conhecido,
era o passado e não custava percorrer os seus aromas e os
espelhos pequeninos comprados nas feiras entre pó e luz.

Voltava-se e já não era criança.


Leme de Luz

Emerson, Lake & Palmer, «Lucky Man»

terça-feira, fevereiro 12, 2008

dúvida

bolos á fatia ou bolos há fatia?

capismo

capa de Ilda David para História Universal da Infâmia, de Jorge Luis Borges
Assírio & Alvim, Lisboa, 1982

O Vale do Riff - Squeeze, «Cool For Cats»

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

caderninho



Da reputação e da memória deixadas pelo meu progenitor: a reserva e o carácter viril. Marco Aurélio
Pensamentos para Mim Próprio (tradução de José Botelho).

O Vale do Riff - Joe Williams & Orquestra de Count Basie, «Alright, Okay, You Win»

domingo, fevereiro 10, 2008

A casa de meu avô... / Nunca pensei que ela acabasse! / Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Manuel Bandeira

esta semana há John Lennon

e Squeeze, Emerson, Lake & Palmer, Mahalia Jackson & Dinah Shore, Joe Williams com Count Basie

hype, hype...

sábado, fevereiro 09, 2008

12

Pede-me a Ana Vidal 12 palavras favoritas. Acho que não tenho uma palavra preferida, tenho muito mais de 12. Aqui vão algumas:
acervo
azul
bife
colo
compaixão
estepe
estúrdia
flanar
prândio
sangue
tempestade
voo

acordes diurnos

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Figuras de estilo - M. Teixeira-Gomes

Hoje explica-se a «alma grega»! Nunca o homem foi tão insolente, mesquinho e desprezível como hoje!


«Agripina»,
Inventário de Junho

O Vale do Riff - Horace Silver, feat. Junior Cook & Blue Mitchell, «Señor Blues»

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Antologia Improvável #286 - Sebastião Alba

QUANDO NASCEMOS ENTRAMOS

Quando nascemos entramos
no nome pela voz dos pais:
-- Dinis Albano...
Íntima e sonora identidade.
Chamam-me e volto a cabeça, dissuadido.
Na voz duma mulher
os nomes são
interiores a nós.
(Na dum polícia, desprendem-se,
como se apenas
os envergássemos).
Um amigo dirige-se-nos,
e as letras do nome
-- tu?!... -- correm de doçura.
Um dia, o nome,
por capricho duma veia ou dum fonema,
ocultamente, esvai-nos.
E por detrás dele,
alheados dos ritos,
nem sabemos da sua
cessação.

Noite Dividida
(foto)

O Vale do Riff - Mark Knopfler, «Speedway At Nazareth»

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

caderninho


Os amigos não são muitos nem poucos, mas o número suficiente. Hugo von Hofmannsthal
Livro dos Amigos (tradução de José A. Palma Caetano)

Os anos do Imperador

Vieira visto por Portinari (daqui)

Li algures que o Padre António Vieira foi o grande modernizador da língua portuguesa, o que me parece certo. Muito antes de Garrett, aliás.
Lembro-me de, há anos, ter assistido à recitação de um dos seus sermões, na Igreja da Misericórdia de Cascais, feita por um actor, a partir do púlpito. É uma sensação extraordinária presenciar aquele encadeamento das palavras e do pensamento, cheio de plasticidade e de sedução para com o ouvinte.
Longa vida ao Imperador da nossa língua, como o qualificou o Pessoa, nos seus 400 anos!

O Vale do Riff - John Lee Hooker, «Boom Boom»

terça-feira, fevereiro 05, 2008

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Os demónios do Kosovo

Com a vitória do candidato «pró-europeu» à presidência da Sérvia, veremos em que moeda vão pagar aos sérvios quer a UE quer os Estados Unidos.
A vitória foi escassa, 130 mil votos, mas não deixa de aliviar aqueles que no Ocidente se preparam para sancionar uma das maiores vigarices da política internacional dos tempos actuais.
O Kosovo é, como se sabe, uma província histórica da Sérvia. O problema kosovar foi criado por Tito -- um croata -- que, com o propósito de minar a preponderância sérvia na federação iugoslava, tira da cartola a criação de duas regiões autónomas -- o Kosovo e a Voivodina, a sul e a norte, respectivamente, e a segunda com uma forte minoria húngara --, regiões essas que passaram a ter representação no conselho federal com peso igual ao das restantes repúblicas. Deste modo, pensava Tito, haveria um maior equilíbrio, cortando-se eventuais veleidades à concretização duma Grande Sérvia.
Daqui resultou que uma província que, pela sua localização geográfica fronteiriça, concentrara um grande número de albaneses se veja, com a fragmentação iugoslava, no centro dum conflito étnico, em que os sérvios se tornam minoritários numa parte do seu próprio país.
O resto é o que se sabe. Do ditador Tito, que retalha o país a seu talante (outra das suas grandes asneiras, de consequências nefastas, foi a concessão de um estatuto nacional aos sérvios e croatas muçulamanos da Bósnia-Herzegovina...), ao comunista-nacional-demagogo-populista Milosevic.
Não há dúvida de que a Sérvia -- tornada bode-expiatório da crise iugoslava -- tem de sofrer as consequências de se ter posto sob as ordens de Milosevic. Mas é inaceitável que tal seja feito à custa do bom senso mais elementar, que é o de conceder "independência" a um território que será um estado inviável, necessitando de tutela internacional sob pena de se tornar um cóio de ladrões, traficantes e terroristas (mais do que já é), à custa da humilhação de uma nação inteira.
Se a Europa sancionar esta solução, como parece querer a Alemanha, não estará a resolver nenhum problema, mas sim a adiar uma nova guerra nos Balcãs. Consequências dela? Nem ouso antecipar.

O Vale do Riff - Simple Minds, «Ghost Dancing»

domingo, fevereiro 03, 2008

esta semana há Mark Knopfler

e também John Lee Hooker, Horace Silver Dr. Feelgood, Simple Minds

Figuras de estilo - Pinharanda Gomes

Acaso a queda adâmica afectou a própria divindade? Deus sofreu com a queda original do homem que criara?


«Os 50 anos de A Missão de Ferreira de Castro»,
Imagens de Literatura e de Filosofia

acordes diurnos

hype, hype...

sábado, fevereiro 02, 2008

Antologia Improvável #285 - António Barahona (4)

MATRIMÓNIO DAS LUZES

XI

Que a vida chega ao fim, em qualquer momento,
não é novidade nenhuma nem sequer um susto,
mas apenas consciência do luto prévio
e previdente pano de fundo do meu trabalho

Que a vida chega ao fim, que pode ser princípio
e outras frases que tais que trazem água no bico,
não é novidade nenhuma para quem é um passarão
disposto a não morrer mesmo depois de morto

Que a vida não me chega e só o amor alcança
sem medir a distância e a duração do voo

Remédios, 30.X.90


Noite do Meu Inverno

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

estampa CXXVI

D. Carlos I, Sobreiro
Fundação da Casa de Bragança, Vila Viçosa

O rei ousou afrontar a politicalha monárquica, desviando-se do seu papel de moderador constitucional, ao impor João Franco como chefe do governo, em ditadura. Porque razão teve ele de o fazer, remete-se para o caos institucional em que o chamado rotativismo lançara o país. D. Carlos deixou aqui de obedecer à fórmula constitucional «o rei reina mas não governa», para assumir, por interposta pessoa, os escolhos da governação. Tal atrevimento não poderia ficar sem reacção: José Maria de Alpoim e o Visconde da Ribeira Brava (por ironia, antepassado directo da actual Duquesa de Bragança), membros destacados do Partido Progressista (do bacoco José Luciano de Castro, patrono do agora célebre Hospital de Anadia), que após o 5 de Outubro se passariam para o novo regime, estão implicados nesse acto bárbaro, perpetrado por um bando de fanáticos carbonários. Sabe-se hoje, depois do estudo sobre o regicídio levado a cabo por Miguel Sanches de Baena que as Winchester que atentaram contra as vidas do rei e dos príncipes foram compradas por Ribeira Brava, que a 1 de Fevereiro estava preso por participação no golpe de 28 de Janeiro. Alpoim, que conseguira escapar-se para Espanha, estava em Salamanca, com Unamuno, quando teve notícia do assassínio. «Mataram o cão!», disse o Alpoim ao grande mestre salamantino, que mais tarde o recordou, escrevendo a seguir: «Fiquei gelado»...
A fraqueza institucional do rei esteve em não ter o respaldo e a legitimidade do sufrágio universal. Mas esse era um problema do regime, não do homem. Este, um grande diplomata, um pintor de mérito, um oceanógrafo pioneiro, «abatido como um cão a uma esquina de Lisboa» -- como escreverá Raul Brandão nas suas Memórias --, foi assassinado pelas suas qualidades: a de não poder sancionar o regabofe da politicalha.
Dois anos depois, com mais ou menos retoques, mudavam as moscas.

O vale do Riff - Buddy Rich, «Time Check»