quinta-feira, maio 03, 2007

Antologia Improvável #222 - Mário Dionísio

CASA DESERTA

Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.

O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
e a chuva caindo
e a casa deserta...

Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
ouvindo eternamente o vento soprando
e a chuva caindo, na noite, caindo...

Há uma cancela de madeira que ginga nos gonzos.
E um velho cão de guarda que ladra sem motivo.
Parece que é gente que vem a entrar.

E é só o vento soprando, soprando,
e a chuva caindo...

Mudaram muita vez as folhas da floresta.
E os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.

Ah nada pior que a casa deserta,
cheia dum sonho imenso que ficou na cabeça.
A casa deserta na noite deserta.

E o vento soprando
e a chuva caindo
e a casa deserta...


Poemas

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