terça-feira, outubro 31, 2023

antologia improvável #522 - Fernando Assis Pacheco

 

3:


e vá-se-me dos dedos toda a agilidade escrevente

que eu já possa ditar só metade de versos


e que ao oitavo dia se me fujam

as referências do mundo visível


que eu dure sem préstimo lá ao canto

ao pé da telefonia, "o da manta de lã"


e as filhas venham casadas e com filhos

tentar amar esse madeiro podre


se a maldição for tanta que na morte

do entendimento se me vá teu cheiro


Memórias do Contencioso (1976)

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«E quem perdoa reencontrar fora de si o que já em si detesta?» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934) / «Manuel da Bouça sentou-se à mesa de pinho, bordada já pelas agulhas do caruncho, e logo se debruçou, voraz, sobre a malga do caldo que a mulher lhe pôs em frente.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928) / «Todo o corpo, entre fresco e madurinho, tão enfeitado de graças, que se dissera de fidalguinha, de pastora não. » Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosque (1926)

segunda-feira, outubro 30, 2023

quadrinhos

fonte

 

caderninho - Ferreira de Castro

 «Sob a farda animaleja-se o coração dum autómato.»

 Mas… (1921)

domingo, outubro 29, 2023

antologia improvável #521 - Eugénia de Vasconcellos


PURO ACASO


Um texto não é uma casa.

Um poema não te protege de nada.

Não serve para nada.

Existe só porque sim --

como eu, como nós,

os construtores de coisas inúteis.

Que mistério é a vida.

Ou isso, ou puro acaso.

Livro da Perfeita Alegria (2021)



sábado, outubro 28, 2023

Carlos Ramos, «Toca o mesmo»

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«Era isto em Setembro; já as noites vinham mais cedo, com uma friagem fina e seca e uma escuridão aparatosa.» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos
«Para subir às montanhas, um livro vale mais do que um bordão -- e, com um livro sob o braço, punha-me a caminho», Ferreira de Castro, «O Senhor dos Navegantes» (1954)
«Vinham ao consultório fechados em meias palavras, avaliando dos meus dotes de mágico.» Fernando Namora,  «História de um parto», Retalhos da Vida de um Médico (1949)

antologia improvável #520 - Carlos Queirós


DESAPARECIDO


Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar'ceu...»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
-- Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar'ceu...»
Eu, o feliz desapar'cido!

Desaparecido (1935)

quarta-feira, outubro 25, 2023

antologia improvável #519 - Armando Taborda


VIVALDI, AS QUATRO ESTAÇÕES


Quando as estações

são música

não há alterações climáticas

que perturbem

as previsões meteorológicas da terra. 


Palavras, Músicas e Blasfémias que Envelheço na Cidade (1986)

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«As rugas riscavam-lhe a cara porque tinha de estar sempre sério e isso é uma das coisas que faz pior à pele: as peles, quando se riem, fazem ginástica, o sangue anda mais depressa e as caras ficam como a erva quando chove miudinho.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984) / «E aquém dos barcos: as ondas tinham outra maneira de quebrar, o quebrar de antigamente, se é que sabe ao que me estou a referir.» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984) / «E, se na palavra senhor  há reverência e submissão ao poder do ouro, do sangue ou da posição, na palavra tio, reluz não sei que luaceiro de afecto, de intimidade, da quente solidariedade dos humildes uns pelos outros.» A. M. Pires Cabral, O Diabo Veio ao Enterro (1985) 

António Guterres é hoje a voz da decência

significando a indecência de quantos atacam ou criticam (talvez por inoportunas...) as suas declarações na ONU.

terça-feira, outubro 24, 2023

Netanyahu, o libertador

 Nos últimos dias tem libertado os palestinos deste vale de lágrimas. E suspeito, como quase toda a gente, que também muito fez para a libertação definitiva dos concidadãos israelitas no passado 7 de Outubro. O alegado falhanço dos serviços secretos israelitas tresanda a mentira -- para não falar do alerta egípcio. De primeiro-ministro execrado e com os tribunais no encalço passa a chefe de um governo de unidade nacional (no fundo, a mesma luta, Hamas e Netanyahu: a sua preservação no poder).

Mas tal como Cristo veio para nos salvar e se tramou na cruz, também este gajo corre o risco de ser engavetado pelos próprios israelitas. Assim se espera.

Entretanto, os líderes ocidentais fazem bicha para se encontrar com ele, talvez para amansá-lo. Hoje, Macron, ontem, Rutte e Mitsotákis. Com sorte, ainda lá veremos Marcelo, e a entregar outro penduricalho da Liberdade. Talvez o libertador Netanyahu demonstrasse mais consideração do que Zelensky, essa inspiração para o mundo livre. A comenda da liberdade, pois, para Netanyahu, o libertador da Palestina.

onde pára o TPI?

Dúvidas houvesse sobre as mentirolas despejadas ad usum simplorii por locutores analfabetos sobre tudo o que respeita à guerra da Ucrânia -- como a fábula engendrada da dita deportação de crianças ucranianas pelos russos --, veríamos agora que o  TPI não passa -- como já se sabia desde a Iugoslávia -- de uma farsa mal montada para servir os interesses dos Estados Unidos.

TPI significa Tribunal Penal Internacional. Com sede em Haia, mantém-se calado e inútil após duas mil crianças mortas em Gaza. Aqueles juízes não passam de canalhas grotescos. Bendito Medvedev, que quando os palhaços do tribunal vieram com fòsquices perguntou se Haia estava ao abrigo duma bomba nuclear. Já se percebeu que os americanos e os criados deste lado do Atlântico só percebem a linguagem da força. É por isso que eu gosto tanto dos russos, caraças!

Esqueço os reféns inocentes israelitas? Nunca! Mas orgulho-me de ser livre o suficiente para chamar nomes a todos estes bois. Qualquer palavra adicional não passa de um vómito. 

domingo, outubro 22, 2023

caderninho - Liberto Cruz

 «Quem da vida se debruça / Seu destino desafia.»

Livro de Registos / Última Colheita (2022)

sábado, outubro 21, 2023

antologia improvável #518 - António Jacinto


 UMA QUADRA


Que dos céus as estrelas desçam esculpidas em mármore

E se abatam em mim na dureza pétrea e existente;

E do chão abafado e maldito onde não desponta árvore

Crescerá num volume duro meu canto humano e quente.


Poemas (1961)

João Gilberto & Stan Getz, «Doralice»

sexta-feira, outubro 20, 2023

não percebo se Biden é só estúpido ou acumula com a patifaria (ucranianas CCXVIII)

1. Agora é que está mesmo bom para o complexo militar-industrial norte-americano. Bora lá então para uma guerra generalizada. Isto, porque os Estados Unidos quiseram neutralizar a Rússia antes de se atirarem à China. O plano gizado para a harpia Clinton tem a sua efectivação com este senil.

2. Biden, o velho destroço arranjado pelo referido complexo militar-industrial, a arengar à carneirada.

3. Costumo apanhar o major-general Arnaut Moreira, com aquela sua pinta de entertainer, em várias, digamos, incongruências. Hoje de manhã na rádio Observador -- cujos comentadores da guerra são cuidadosamente escolhidos (já nem o coronel Mendes Dias lhes serve, apoiante declarado da estratégia Nato, mas sério na análise) -- (hoje de manhã) uma explicação geo-política para o antagonismo do Irão relativamente a Israel: segundo o militar, o estado judaico é a única entidade que pode obstar à supremacia iraniana na região, dado o poder militar de que dispõe. É extraordinário que este comentador se esqueça, numa análise semanal, certamente preparada com muita cabeça e não à cabeçada, como por vezes parece, que a maior força militar da região é a Turquia... Um pormenor que lhe estragaria a argumentação. 

o silêncio dos inocentes

1. Os inocentes são os reféns israelitas civis da última incursão do Hamas e os reféns palestinos do sionismo.

2. Escusam de vir chamar criminosos aos milicianos do Hamas (que obviamente o são), sem chamar à pedra o terrorista n.º 1, Netanyahu, o rosto da sabotagem dos acordos de Oslo, que nos pôs à beira deste precipício, com a tolerância e as cumplicidades do costume. 

3. Ler quem sabe: Maria João Tomás, no Diário de Notícias  de ontem. 

4. Fechar os olhos e ouvidos aos toscos e fanáticos habituais.

caderninho - Orhan Pamuk

 «Os romances são vidas segundas, vidas paralelas às nossas.» 

 O Romancista Ingénuo e o Sentimental (2010)

quinta-feira, outubro 19, 2023

quarta-feira, outubro 18, 2023

antologia improvável #517 - ANTERO ABREU

 

CÍRCULO


Do sonho a mão

Da mão a pá

Da pá o cabo

Do cabo a força

Da força a seiva

Da seiva a flor

Da flor o chão

Do chão o espaço

Do espaço o ângulo

Do cabo

Da pá

Do sonho

                                                                                                     1/4/981


Poemas Intermitentes (1987)

falemos de hospitais, em Gaza e na Ucrânia (CCXVII)

 Ou foi um erro trágico de um dos lados, ou um sangrento lance comunicacional. 

Em caso de crime, é sempre boa prática ver a quem aproveita um horror como o que se passou ontem. Não aproveita nada ao governo israelita e aproveita tudo ao Hamas, como é notório e está a ver-se diante dos nossos olhos.

Exactamente o mesmo que se passa na Ucrânia, quando arsenais e meios de combate são colocados ou armazenados perto de hospitais e escolas.

É por isso que não gosto de vigaristas nem de sonsos, sempre prontos a apanharem a onda comunicacional quando lhes convém. É por isso também que valorizo muito a seriedade de meia dúzia de comentadores no meio do matagal de charlatanice.

PS - O insuportável Zelensky queria apanhar boleia de Israel, que o mandou passear. Lá, pelo menos, têm a noção do ridículo e sabem bem o que andam a fazer. Por cá, tirando o nanismo mental da promoçãozinha própria, o único pensamento estratégico destes indigentes é o de serem como aqueles horríveis cães minúsculos, que fazem muito barulho, mas no fundo não contam para nada.

Nina Simone, «African Mailman»

terça-feira, outubro 17, 2023

antologia improvável #516 - Alberto de Lacerda

 SANGUE


Venho da rua cansado de exibir

o perfil que me deu hoje a inquietação.

Venho da mentira,

mas, entrando em casa, não entro na verdade.


Que vida existirá que me não fira?

77 Poemas (1955) / Oferenda I (1984) 

subscrevo, mas falta o resto e sem branquear o Hamas, que não é o "estado islâmico", como pretende a propaganda do Netanyahu, mas está gafado do tifo religioso

 Mão amiga fez-me chegar este link para um abaixo assinado em defesa do povo palestino, que agora está a sofrer de inegáveis crimes de guerra (em vez das fabricações dos mérdia para locutor papaguear a propósito da guerra da Ucrânia) e perante o silêncio dos aldrabões do TPI (qualquer magistrado se desqualifica se pertencer àquela farsa).

O meu grande mas ao texto do abaixo-assinado, é que falha redondamente ao passar de forma ligeira pela morte de "todos os civis", sem uma palavra clara condenado o ataque a um kibbutz (não é um colonato, criaturas!...) e o criminoso rapto de civis, crianças, velhos, mulheres e até homens... 

A liderança palestina é também uma desgraça, desde a morte do Arafat. O que era preciso era um Gandhi, ou um Mandela, que aliás já existirá, nos calabouços de Israel desde 2002. Chama-se Marwan Barghouti, e é bem possível que a resolução do problema Israel-Palestina passe por ele. Sem esquecer a notável Hanan Ashrawi.

 Ao contrário do que querem alguns fanáticos e pensam os ingénuos úteis, isto não um Benfica-Sporting, apesar de quase todos insultarmos o árbitro.

Resumindo: todo o apoio ao povo palestino, denúncia radical dos crimes perpetrados pelo estado israelita, mas nunca, nunca desqualificar-se branqueando ou relativizando estes crimes do Hamas, e assegurar distância clara, inequívoca, higiénica e profilática do islamofascismo e da padralhada aiatólica. Foi com este tipo de condescendências que muitos se enodoaram fechando os olhos e justificando o totalitarismo que redundou nos kgb's, nas stasis (as pides, e que pides!, lá do sítio), no gulag e nos hospitais psiquiátricos. 

Sobre a questão já aqui escrevi por diversas vezes, para quem esteja interessado.    


"Condenamos a morte de civis, de todos os civis, vítimas dos ataques dos últimos dias. E recordamos que Israel incumpre o direito internacional ocupando, contra todas as resoluções das Nações Unidas, Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e os Montes Golã; desde 1948 desrespeita a Resolução 194 da Assembleia Geral da ONU que reconhece o direito ao retorno a todas/os as/os refugiadas/os palestinianas/os. Fá-lo com a conivência de todos os seus aliados, especialmente os ocidentais, e isto ao fim de 75 anos de opressão e discriminação que configuram, à luz das convenções internacionais, uma tentativa de genocídio do povo palestiniano. É neste quadro que vimos manifestar o nosso apoio à liberdade e ao direito de autodeterminação da Palestina e exigir do Governo português que cumpra o n.º 3 do art. 7º da Constituição da República (“Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão”) e faça cumprir o n.º 2 do art. 1.º da Carta das Nações Unidas (“Fomentar entre as nações relações de amizade baseadas no respeito pelo princípio da igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar as medidas adequadas para fortalecer a paz universal”) de que o Estado Português é subscritor, e se empenhe num processo que possa contribuir para o fim do regime de colonização, ocupação e apartheid em vigor na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jerusalém Oriental e também em Israel, e para que seja garantido o direito de retorno aos cerca de 6 milhões de refugiadas/os palestinianos/as expulsas/os do território onde nasceram e viveram elas/ es e os seus antepassados.

À luz dos princípios do direito internacional e dos direitos humanos, é intolerável a reiterada normalização de atos que visam punir coletivamente toda a população palestiniana da Faixa de Gaza, que militares e colonos israelitas estão já a ampliar à Cisjordânia, a Jerusalém Oriental e às comunidades palestinianas que vivem dentro do Estado de Israel, perpetrando execuções sumárias que se vêm sucedendo. Não aceitamos esta visão colonial e racista, na qual apenas as vidas das/os israelitas importam, e em que as/os palestinianas/os são descritas/os como “animais” (Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel), pessoas sem nome, sem passado, sem direito a uma perspetiva de futuro em liberdade naquele que é o seu território ancestral. Em nome do “direito à defesa” de Israel, há muito que os seus aliados vêm impedindo que se sancione e castigue o Estado de Israel e os colonos pelas campanhas de assassinato indiscriminado de população civil, nas quais, segundo dados da ONU ( jan. 2008- set. 2023), por cada israelita morto são mortas/ os 21 palestinianas/os, isto é, as/os palestinianas/os representam 95% de todas as vítimas mortais. Nem os/as palestinianos/ as, nem ninguém, tem de justificar ou pedir que se reconheça a sua humanidade e, por isso, nos recusamos a subscrever uma narrativa em que a história que nos contam começa sempre que uma vida israelita é perdida, omitindo 75 anos de vidas palestinianas perdidas.

Há mais de um século que a Palestina e o povo palestiniano estão sujeitos a um domínio colonial que ainda não cessou e que o apoio ocidental a Israel só ajuda a prolongar e agravar. Com esse apoio, o Estado de Israel foi estabelecido em 1948 sobre a Nakba (“Catástrofe”), um processo (em curso) iniciado com expulsão e expropriação de mais de 750.000 palestinianas/os das suas casas, aldeias e cidades, a que se seguiram décadas de regime militar de exceção, de destruição de ecossistemas, de culturas ou de qualquer outro modo de subsistência, de empobrecimento, detenção e encarceramento sem acusação nem direito a defesa, de morte, tortura e incapacitação causadas pelos bombardeamentos, pelas incursões militares e pela carta branca reconhecida aos colonos para agirem como bem entenderem em qualquer parte do território. Quando se descreve os acontecimentos terríveis do dia 7 de outubro como “o pior trauma coletivo por que passou Israel”, perguntamo-nos porque se ocultam 75 anos de traumas coletivos que foram e continuam a ser impostos ao povo palestiniano. Não contem connosco para colaborar no assassinato da memória da tragédia palestiniana.

A meses de celebrarmos os 50 anos da revolução do 25 de Abril de 1974, expressamos a nossa solidariedade com quem, na Palestina e no mundo, defende o fim do labirinto de opressão, segregação, ódio e degradação humana que o Estado de Israel, com a conivência dos seus aliados, construiu com betão, aço e torniquetes. Ao “dobrar a aposta”, como está a suceder neste momento, com mais massacres e com o encurralamento e a humilhação diária a que se expõe milhões de palestinianas/os, Israel e os seus aliados estão a criar as condições para que dias de violência se repitam indefinidamente. Não aceitamos que o nosso Governo se solidarize em nosso nome com o que chama “o direito de Israel se defender”, confundindo-o com o direito que este se arroga a espezinhar e matar. Não se acuse de ambiguidade quem defende o direito do povo palestiniano à autodeterminação, enquanto se cala a condenação de 75 anos de violência colonial.

É por isto que nos solidarizamos com a luta de libertação da Palestina, e exigimos que se abra de uma vez por todas um caminho que vá além deste statu quo insuportável feito de opressão e hipocrisia. Sem descolonização, sem justiça e sem liberdade não existem caminhos para a paz! O caminho para a paz passa pelo respeito dos direitos do povo palestiniano, com a criação do Estado da Palestina, livre e independente, no cumprimento do direito internacional e das resoluções das Nações Unidas.

Meio século depois da guerra colonial, a maior homenagem que podemos prestar aos homens e mulheres que dedicaram as suas vidas a lutar pela emancipação dos povos por todo o mundo não é considerar as suas ações como simples património moral, mas reivindicar hoje o que elas/es reivindicaram durante décadas: a liberdade e o direito à autodeterminação de todos os povos.

O caminho para a paz passa pelo respeito dos direitos do povo palestiniano, com a criação do Estado da Palestina, livre e independente"

segunda-feira, outubro 16, 2023

caracteres móveis

«Contou-me um dia, envergonhado da ingenuidade, que tinha chegado a andar pelas ruas da cidade atrás dos carteiros, sem coragem de perguntar, a ver se descobria onde era a sede dos Correios, com a esperança de que lá com certeza tinham ouvido falar dele -- "O Gato da Linha do Sabor» -- e lhe dariam emprego.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003) / «E quando fechou sobre mim a portinhola, gravemente, supremamente, como se cerra uma grade de sepultura, eu quase solucei -- com saudades minhas.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901) / «Gostava de se meter no escritório, depois do jantar, gostava de ficar ali sozinho e de ler tranquilamente no silêncio da casa.» Ferreira de Castro, A Curva da Estrada (1950)

Israel-Palestina: do particular para o geral

Podemos recuar até Abraão, mas o que interessa agora é o seguinte: os cento e muitos reféns civis israelitas aprisionados pelo Hamas, contra tudo o que é admissível (militares ou polícias detidos não são reféns, mas prisioneiros de guerra); a população civil palestina alvo de cerco e bombardeamento, contra tudo o que é admissível. Isto é o que importa tratar já; o resto terá de vir depois. 

quinta-feira, outubro 12, 2023

"antissemitismo": ser-se idiota útil e fazer o jogo do Netanyahu

Politicalho hábil e sem escrúpulos, não por acaso é o primeiro-ministro de Israel que mais tempo esteve no poder, cargo brevemente ocupado tantas vezes por líderes carismáticos com historial, alguns até complicado, de Golda Meir a Menahem Begin, de Ythzak Rabin a Ehud Barak.

Uma das técnicas de condicionamento da opinião pública internacional às crtíticas ao seu papel desastroso à frente de Israel foi o de tentar confundi-las com antissemitismo -- ou seja: criticas o governo de Israel, estás a ser antissemita, logo pões-te do lado dos nazis e até da negregada Inquisição, tornas-te um elo da cadeia histórica de perseguição, dos autos-de-fé às câmaras de gás.

Diga-se que foi uma estratégia com algum sucesso, para os que se deixam condicionar, tendo sempre o auxílio prestimoso de jornalistas analfabetos -- uma característica da espécie.

Entretanto, com os últimos acontecimentos, o ataque de largas dimensões do Hamas, em que a legítima defesa se manchou também com a barbárie ( e não é preciso inventar bebés de capitados e coisas que tais), levanta-se um movimento global de apoio ao povo palestino, até porque nem todos são estúpidos, ou seja: sabem o que é o Hamas, mas sabem também o que tem sido a política do estado israelita, muito em especial a deste primeiro-ministro, aliado à extrema-direita religiosa.

No entanto, condenar a acção do governo de Israel não obriga ninguém a tornar-se mentecapto, atentando contra os judeus e as suas organizações. Quem apoia a Palestina no seu direito à autodeterminação tem de perceber tudo o que está em jogo. A expulsão dos judeus pelo D. Manuel I e a perseguição aos cristãos-novos, que só acabou com o grande Marquês de Pombal, foi um dos maiores crimes e um dos maiores erros da nossa história. Claro que quando se é ignorante, actua-se sem noção. um pouco como os tontinhos que vandalizaram a estátua do padre António Vieira, aliás um dos muitos perseguidos pela Santa Inquisição.

Resumindo: quem vandaliza, além de ser um cretino e um analfabeto está a fazer o jogo do Netanyahu. Para esse peditório não dou; eles de um lado, eu do outro.   

misérias morais

1. O espaço público está cheio de miseráveis morais. Condenar a ofensiva do Hamas sem fazer o mesmo (pelo menos) ao Netanyahu, o maior responsável pelo estado a que se chegou, é duma torpeza inqualificável.

2. Eu logo vi que a história dos bebés decapitados levava o selo da qualidade (des)informativa da guerra da Ucrânia; no entanto, mesmo que essa barbaridade tivesse acontecido, o maior responsável seria sempre a actual liderança israelita. Netnanyahu, apostada mais que ninguém em inviabilizar o estado palestino. A guerra com o Hamas, de resto, tem-lhe dado um jeitão; veremos como acaba.

3. O John Kirby, almirante na reserva, assistente do secretário da defesa, neocon do Partido Democrata, ex-dirigente do Pentágono, voltou a chorar para as câmaras; ontem por causa de Israel, há um ano era pela Ucrânia. Um falcão com sentimentos.

4. Os palermas que andam a vandalizar sinagogas, em particular no Porto, deveriam saber que estão a dar argumentos aos vesgos e mal-intencionados que falam em antissemitismo, quando o que se trata é de não pactuar com os bibis lá do sítio. Além disso, estamos em Portugal, e temos um cadastro suficiente nesta matéria para usarmos um pouco de pudor. pichar sinagogas em defesa dos palestinos? É preciso ser-se estúpido.

quarta-feira, outubro 11, 2023

terça-feira, outubro 10, 2023

antologia improvável #515 - A. M. Pires Cabral

 

SILÊNCIO


Há momentos em que tudo o que desejo

é o silêncio e seu bálsamo. Momentos

que a própria música conspurcaria.


Mas há silêncio e silêncio. O que apeteço

não é o silêncio que alguma autoridade

decreta, seja direcção-geral, escola, igreja.


O silêncio que ambiciono há-de ser

sereno como nuvens e ervas bravas

e água em repouso e asas imóveis

de borboleta.


Há-de ser como o doce cansaço

que, depois que o vento tem passado, 

fica a cintilar sobre as coisas

que o vento alvoroçou.


Caderneta de Lembranças (2021)

dever ser por tratar-se de "animais humanos", que em Gaza não há bebés, nem jardins infantis

1. O palavreado nazi do ministro da defesa de Israel. Os nazis também desumanizaram os judeus, e assim custava menos eliminá-los. Gallant é uma sopeira, despedida como imprestável pelo Netanyahu em maus lençóis e readmitido logo a seguir, por estado de necessidade.

2. Já cá faltava o palhaço do Zelensky a acusar a Rússia de ter ajudado o Hamas. Mais mentira, menos mentira, o que interessa isso?

3. Os locutores da CNN-Portugal -- passo a chamar-lhes locutores -- eliminaram um pormenor importante ao pseudonoticiarem as ameaças dos Hamas: a de executarem um refém por cada ataque de Israel. Faltou este pormenor: se o ataque não fosse precedido de um aviso que permitisse aos civis refugiarem-se. É feio, não é? -- refiro-me à ameaça, não à manipulação do costume. É feio, mas é o olho por olho dente por dente. Se as famílias palestinas podem ser surpreendidas pelas bombas israelitas em suas casas -- o que faz delas reféns permanentes -- os palestinos respondem em conformidade.

4. Mas já me tinha esquecido, não é bem a mesma coisa: afinal a sopeira Gallant já tinha avisado: trata-se de animais humanos; desta vez não precisam ser metidos em vagões, podem mesmo ser abatidos dentro de casa. Ah, e sendo "animais humanos", não se trata, obviamente, de bebés, crianças, velhos, mulheres, é tudo gado. Afinal o que é a faixa de Gaza senão um vagão gigantesco a céu aberto, que agora não vai para Auschwitz, mas a caminho do mar?  

segunda-feira, outubro 09, 2023

Alexey Lubimov, «Fur Alina» (Arvo Pärt)

já condenámos os palestinos pela "invasão não provocada" de Israel?

Há quem goste de passar por onagro e não tenha problemas em debitar em conformidade, pondo-se em bicos dos pés para ficar bem na fotografia, comportando-se de acordo com o que se espera deste tipo de hemíonos.

Quem pressurosamente condena o ataque terrorista -- terroristas  era como chamávamos há menos de meio século, os guerrilheiros que lutavam pela libertação das colónias --, faz de conta que não sabe que há um povo que vive em Gaza, abaixo do limiar da dignidade. Nem podem confundir-se com curdos ou catalães, que apesar de verem a pátria ser-lhes sonegada, ainda têm por onde se espraiar. Os palestinos de Gaza estão confinados na área de maior densidade populacional do planeta. Quem lá esteve, testemunha o inferno, talvez purgatório perpétuo, nos dias menos maus. Estavam à espera de quê?... Com os acordos de Oslo permanentemente sabotados, com a cumplicidade americana, claro está, que cobre o vigarista do PM israelita, e a perspectiva dos dois estados cada vez mais distante? Para um asno como, por exemplo, Biden, uma vida palestina não vale outra israelita; tal como para os seus puxa-sacos (esplêndida expressão brasileira...) europeus, os russos do Donbass e da Crimeia não interessam para nada -- mas aí o Putin já lhes mostrou como é.

Para sermos justos e honestos, não podemos ocultar os erros dos próprios palestinos, nem o azar que foi o assassínio de Rabin por um judeu de extrema-direita ou a incapacidade e subsequente morte de Sharon, ambos generais, ambos com autoridade moral e política para forçar o país a acatar o acordado, no seu próprio interesse. Mas isto só tem que ver com a cúpula política, não com os estados de revolta, insurreição e guerra, a que só um asno pode qualificar como terrorismo -- o que não quer dizer que o Hamas não tenha cometido crimes nesta ofensiva.

P.S. - Sempre admirei Israel, tal como sinto desdém pela generalidade dos países árabes, quanto à sua realidade política, para não falar do asco que nutro pelos regimes do Golfo. A minha admiração pelos israelitas cessou na era Netanyhau e dos asquerosos partidos confessionais. Há muito tempo que Israel se tornou um estado opressor, o que não deixa de ser particularmente vergonhoso, no seu caso específico.

  

caderninho - Liberto Cruz

 «Visita muda / A morte / Não se anuncia.»

Livro de Registos / Poesia Completa

domingo, outubro 08, 2023

porque compro o DN ao sábado...

 A crónica de Viriato Soromenho Marques.

The Beatles, «I Saw Her Standing There»

caracteres móveis

«A realidade é a manha, a astúcia que cada um põe em jogo.» Raul Brandão, Húmus (1917)  / «E a catedral surgia-lhe em olímpica nudez, remoçada, muito branca, em toda a beleza ideal do século XIV!» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920) / «Na face pálida e sem interesse de feições um ar de sofrimento não acrescentava interesse, e era difícil definir que espécie de sofrimento esse ar indicava -- parecia indicar vários, privações, angústias, e aquele sofrimento que nasce da indiferença que provém de ter sofrido muito.» Fernando Pessoa, Livro do Desassossego por Bernardo Soares (póst. 1982)

sábado, outubro 07, 2023

não é terrorismo, é guerra

Não tendo ainda visto o essencial dos acontecimentos de hoje -- ataque dos palestinianos a Israel, e contra-ataque --, já ouvi várias vezes o Netanyahu a falar de terrorismo e terroristas. Este bandalho, o tipo que governou Israel por mais tempo, quem sabe se o seu coveiro, tem o desplante de falar em terrorismo quando tem uma população de palestinos a abarrotar um campo de concentração a céu aberto, que é a faixa de Gaza.  
É por isso que enerva ouvir o PR falar em ataque "intolerável" sem ter uma palavra para a opressão daquele outros povo. E abstenho-me de mais comentários a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa.

quinta-feira, outubro 05, 2023

caderninho - Ferreira de Castro

 «A república aqui foi um feto: – nasceu morta.» 

Mas… (1921) 

Nina Simone, «For All We Know»

quarta-feira, outubro 04, 2023

antologia improvável #514 - Helder Macedo

 Enquanto os cães ladravam um ladrar 

ralo de sono

que não chegou para acordar os donos

na noite doutros sonhos sem luar

e sem retorno

também cruzei por mim sem me chamar.

Viagem de Inverno (1994)

é sempre reconfortante ler Carlos Matos Gomes (ucranianas CCXVI)

Mão amiga fez-me chegar este post de Carlos Vale Ferraz -- que é também o escritor Carlos Matos Gomes --, autor de Nó Cego, um dos grandes romances portugueses do século passado.

Falece-me já a paciência de estar constantemente a denunciar a enxurrada de vigarice mediática e académica a propósito da guerra; prefiro assinalar quem é competente, isento, lúcido e honesto. Há uma meia dúzia no espaço público: entre os militares, repito-me, Agostinho Costa, Carlos Branco, Mendes Dias e pouco mais; entre os académicos, retenho dois nomes (entre pouquíssimos) Marcos Farias Ferreira e Tiago André Lopes; dentre os publicistas portugueses que têm escapado à indigência, contam-se, de forma destacadíssima, Viriato Soromenho Marques, Miguel Sousa Tavares e Carlos Matos Gomes. Não são os únicos, felizmente. Vale a pena lê-los e ouvi-los, sem perdermos tempo com bonecos.

caracteres móveis

«A milhã, rapineira de energia dos arrozais, pouco lá entrara; a brança só invadira um ou outro pé; e o limo e a sarna tinham ficado cá por baixo, a enfeitar a água, e a verem crescer a sua seara; sua, pois então; ninguém lhe dera tanta canseira e apaparicos.» Alves Redol, Gaibéus (1939) / «E pela porta do quintal entravam, com o sol moribundo, que vinha pintar de branco o ocre do cântaro da água, os grunhidos do cevado.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928) / «E quando uma vaga maior, uma vaga de respeito fez gingar o veleiro de bombordo a estibordo, Chico Afonso, o moço do barco, teve um gracejo sem eco em almas tão desconfortadas.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)

terça-feira, outubro 03, 2023

caderninho - La Bruyère

«Tudo foi dito já. Quem julga dar novidades chega afinal muito tarde: -- os homens existem e pensam há mais de sete mil anos. Em matéria de crítica de usos e costumes, que se poderá dizer? Repetir os conceitos antigos e alguns modernos de mais apurada lucidez.»

Os Caracteres (1688)

Frank Sinatra, «The Last Dance»

segunda-feira, outubro 02, 2023

o populismo tem as costas largas (ucranianas CCXV)

 Não sei nada da política eslovaca, pouco além da noção de o partido de Robert Fico o Smer -- Direcção Social-Democracia -- pertence ao Partido Socialista Europeu, partilhando, pois, a bancada com o PS, no Parlamento Europeu.

Ontem na CNN-Portugal, enquanto estava à espera do comentário de Carlos Branco -- sempre informado, competente e honesto, uma raridade --, ouvi e li a vitória do Smer ser apresentada desta forma (cito de memória): populistas vencem eleições; vitória do partido  anti-ucraniano (ou anti-apoio á Ucrânia, qualquer coisa assim). Na véspera também fora anunciado que Fico -- que tem a minha idade, 59 anos -- considerava o casamento entre pessoas do mesmo sexo uma aberração (está explicado o populismo...), Seria interessante, a este propósito, fazer-se uma sondagem aos políticos ucranianos para saber da sua opinião a este propósito. 

Cometo, aliás, um disparate, pois o jornalismo sério anda escondido, e quando aparece autocensura-se. 

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 «Distanciada do brasido, a velha panela, com uma perna já fracturada, fumegava, tecendo na boca negra do forno uma cortina vaporosa.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928) / «E lá ia, que remédio!, de balde ao ombro, a espreitar alguma maracha que precisasse de engravatada, por oscilação das terras, ou canteiro mais soberbo por desequilíbrio da gleba.» Alves Redol, Gaibéus (1939) / «Quem o visse à distância, julgá-lo-ia um belo barco de recreio, garbosamente galgando a planura azul e mansa.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)

domingo, outubro 01, 2023

1001 livros do Século XX - tópicos para outro livro, 1901

Eça de Queirós
1. João Lúcio de Azevedo, Os Jesuítas no Grão-Pará. 2Abel Botelho, Amanhã3. Raul Brandão, O Padre4. D. João da Câmara, A Rosa Enjeitada.  5. Eugénio de Castro, Depois da Ceifa.  6. Júlio Dantas, A Severa. 7. Carlos Malheiro Dias, Os Teles de Albergaria8. Augusto GilVersos. 9. Jaime de Magalhães Lima, Sonho de Perfeição 10. João Lúcio, Descendo. 11. Teixeira de Pascoais, À Ventura. 12. Teixeira de Queirós, A Caridade em Lisboa. 13. Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póstumo)

Brasil: Machado de Assis, Poesias Completas. Coelho Neto, Tormenta.

 Confronto: Sigmund Freud, Psicopatologia da Vida Quotidiana. Rudyard Kipling, Kim. Thomas Mann, Os BuddenbrookBeatrix Potter, A História de Pedrito Coelho. August Strindberg, O Sonho. Anton Tchékov, As Três Irmãs. Émile Zola, Trabalho. 

Prémio Nobel  Sully Prudhomme (1839-1907).


Columbano Bordalo Pinheiro

Contexto. Governo de Hintze Ribeiro legaliza a generalidade das ordens religiosas. João Franco forma o Partido Regenerador Liberal, cisão do Partido Regenerador. Desfile do 1.º de Maio em Lisboa. Congresso operário galaico-português em Tui. Fundação do Centro Académico da Democracia Cristã, Coimbra. Criação da Sociedade Nacional de Belas-Artes. Imprensa: Serões (Adrião de Seixas). Pintura. Columbano Bordalo Pinheiro, A Luva Branca. José Malhoa, Retrato do Fotógrafo António Novais. Sousa Lopes, Engano de Alma, Ledo e CegoMúsica. Óscar da Silva, Dona Mécia.


Giuseppe Pellizza da Volpedo


Confronto. Paz de Pequim, indemnizações da China às potências ocidentais. Morte da rainha Vitória assinala fim de uma época. Assassínio do presidente americano William McKinley, pelo anarquista Leon Czolgoz ; ascensão do vice, Theodore Roosevelt.  Pintura: Giuseppe Pellizza da Volpedo, O Quarto EstadoPaul Gauguin, E o Ouro dos Seus CorposGustav Klimt, Judite e a Cabeça de HolofernesPablo Picasso, Yo, PicassoQuarto Azul. Ilya Repin, Retrato de Tolstói Descalço. Música: Edward Elgar, Marchas de Pompa e Circunstância #1 e #2. Gustav Mahler, Sinfonia#4. Serguei Rachmaninov, Concerto para piano #2. Ciência e tecnologia:  Santos Dumont contorna a Torre Eiffel em dirigível.

Bib: Fernando de Castro Brandão, Da Monarquia Constitucional à República -- 1834-1910. Uma Cronologia, Lisboa, Europress, 2003. Pedro Cardoso, As Informações em Portugal, Lisboa, Instituto de Defesa Nacional, s.d. Jean Delorme, As Grandes Datas do Século XIX [1985], Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d. Carlos da Fonseca, História do Movimento Operário e das Ideias Socialistas em Portugal -- I. Cronologia, Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d. Eugénio Lisboa (dir.), Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, vold. I-III, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1990-94. José Calvet de Magalhães, Breve História Diplomática de Portugal, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1990. Philippe Mellot e Claude Moliterni, Chronologie de la Bande Dessinée, Paris, Flammarion, 1996; César Oliveira, Salazar e o Seu Tempo, Lisboa, O Jornal, 1991, António Machado Pires, O Século XIX em Portugal -- Cronologia e Quadro de Gerações, Amadora, Livraria Bertrand, 1975. Daniel Pires, Dicionário Cronológico da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940), Lisboa, Grifo, s.d. Rui Ramos (coord.) História de Portugal, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2009. Maria de Lourdes Rosa, «Cronologia», in José Mattoso, História de Portugal, Lisboa, Editorial Estampa, vol. 8, s.d. Vítor de Sá, Roteiro da Imprensa Operária e Sindical -- 1836-1986, Lisboa, Caminho, 1991; Joel Serrão, «Cronologia Geral da História de Portugal», Dicionário de História de Portugal, vol. VI, s.ed., Porto, Livraria Figuerinhas, 1984. Neville Williams, Cronologia Enciclopédica do Mundo Moderno [1966], Vols. II-IV, Lisboa, Círculo de Leitores, 1989.