segunda-feira, março 18, 2024

domingo, março 17, 2024

ucraniana CCXXXIV: vontade de rir: a taxa de abstenção nas eleições russas

Nem são os oitenta e tal porcento que Putin teve, mas a elevadíssima taxa de participação, acima dos 70% que fortalecem Putin ainda mais do que já estava.* 

Há largos meses, um dos muitos patetas que vêm a televisão comentar, falava da fraqueza de Putin, por ocasião do da insurreição do folclórico Prygozhin. Já então dava vontade de rir, então agora... Bem pode a CIA pegar em fascistas e nazis e branqueá-los para vender a democracy. Já para não falar do garoto Macron, esbofeteado na rua como um puto, um nada, como disse o outro, um palhaço esportulado pela banca que os prescientes franceses reconduziram no Eliseu.

Como há-de Putin olhar para este pequeno cretino? 

* Ouvir a Casa Branca dizer que as eleições não foram livres nem justas (como se alguém se preocupasse), quando os americanos têm taxas de abstenção de 70 % e se preparam para decidir entre Trump e Biden -- ou seja, entre um bilionário que despreza os seus eleitores, e uma marioneta senil do complexo militar-industrial --, é de ir às lágrimas.

Em tempo: Calhou-me ouvir um excerto do inefável Portas, zero em credibilidade: repete este lázaro ressuscitado a lengalenga: se Putin ganhar na Ucrânia (se?...), a seguir são os outros países da Europa, referindo-se, obviamente, aos Bálticos, e sabe-se lá que mais. Para não me repetir sobre a sua pertença à Nato (bem sei que o Trump provavelmente ganhará), eu responderia apenas: deixem-nos vir. Ou será que a Nato tem agora medo dos russos, em realão aos quais eram alvo de piadinhas dos pobres comentadores das RI e afins?...


Bob Seger System, «Mongrel»

sábado, março 16, 2024

sexta-feira, março 15, 2024

antologia improvável #529 - Manuel Bandeira

 

O AMOR, A POESIA, AS VIAGENS


Atirei um céu aberto

Na janela do meu bem:

Caí na Lapa -- um deserto...

-- Pará, capital Belém!...

Berimbau e Outros Poemas

(antologia por Elias José)

quarta-feira, março 13, 2024

John Coltrane, «Giant Steps»

e que tal um jornal público, independente e para todos?

Pegue-se no pessoal da Lusa e da RTP, reforcem-no e façam um jornal sem outra agenda que não a  do puro jornalismo. Com mais esta machadada no Diário de Notícias (grande trabalho de José Júdice e da sua equipa ao longo de quatro meses), e se o seu fim se vislumbra a breve trecho (como dizia ontem alguém, não se fazem jornais sem jornalistas), resta-nos a miséria de três jornais diários nacionais (em papel), por vezes infrequentáveis: o Público  e a sua agenda woke; o Correio da Manha, agenda porco-mealheiro; o Jornal de Notícias, que, para além de ser um pouco incaracterístico, traz diariamente um descartável de tráfico de carne humana, tal como o diário anterior.

Eu bem sei que imprensa pública, só por si, não é sinal de qualidade. Só é BBC quem sabe e pode sê-lo.  Se há uma agência de notícias pública, televisão e rádio públicas, porque não também um jornal nacional público?

terça-feira, março 12, 2024

ucraniana CCXXXIII - o papa já de há muito viu o filme todo

Ao contrário dos pastores alemães da União Europeia, Francisco não é um zombie nem vassalo de ninguém. Aflige-o a mortandade inútil e perigosíssima. Inútil, porque a Rússia já não largará os territórios que eram seus e que entretanto recuperou, provocada que foi pelos Estados Unidos, até a corda se partir (aquilo que o pontífice em 2022 designou percucientemente como "a Nato a ladrar à porta da Rússia"). 

Não só sabe que a Rússia jamais abandonará o que recuperou, ladre o que ladre von der Leyen, como nos arriscamos todos a ser arrastados pela aventura americana (acolitada pelos ingleses), sem falar nesse parvo do Macron, estéril criatura que não se preocupa com os filhos dos outros, julgando-se Luís XIV ou Napoleão.

Por falar nisso: depois de Costa e ainda com Marcelo, o que virá a seguir destes pensadores da geopolítica? Pior será impossível, mas nunca se sabe. 

curtas

«Ele, rapaz fino de Lisboa, apenas queria brincar com a beleza tenra e limpa de D. Branca.» Ruben A., «Branca», Cores (1960) / «Quando os marítimos começaram a andar nos barcos com as lanternas penduradas nos cintos, para não chocarem nas cobertas uns com os outros, dado o adiantado da hora, ou para chamarem a noite (tenho a satisfação de deixar isso ao seu critério), chegou ao cais um homem vestido de preto, com chapéu musical, sapatos poéticos, lama nos colarinhos, uma harpa ao ombro e um colete que seria laranja, se trouxesse colete.» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984) / «Surpreendeu-o a figura de sua mulher, de pé, na franja de espuma, que a onda deixava, na areia, um pouco curvada no empenho de procurar, afastando-se, quando o mar avançava na subida, correndo atrás da resaca, que cada vez deixava menos espaço para a sua empresa.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894)

Charlie Parker, «Smoke Gets In Your Eyes»/«52nd Street Theme»

segunda-feira, março 11, 2024

Ventura cospe no prato em que comeu

Ouvi ontem o Ventura bolsar sobre o 25 de Abril. Sei pouco da criatura, tenho muito mais com que ocupar o tempo. Suponho que tem origens humildes. Talvez os avós andassem descalços, passassem fome, como sucedia aos pobres no pré-Abril, e no Natal tivessem laranjas de presente; talvez os pais tivessem querido estudar, o que não era permitido aos pobres entregues a si próprios. este demagogo, que se licenciou com elevada classificação e doutorado em Direito deve-o ao 25 de Abril, que democratizou o ensino e transformou o país mais atrasado da Europa, em 1974. Não foi perfeito, claro. Por isso, há 18% de ressentidos e/ou saudosistas que se revêm neste ex-pobre que cospe no prato que lhe deu de comer. Abaixo de zero à esquerda.  

eleições

AD - vitória (?) mais sofrida do que estava à espera, a premiar a boa campanha de Montenegro, uma surpresa também para mim. 

PS - boa alocução de derrota (?) de Pedro Nuno Santos. Apesar de tudo, o PS, pelos dois desastrados anos de Costa, merecia uma derrota retumbante, independentemente de PGR e PR.

Ch - Surpreso com os 18%. Pode agradecê-los a Costa. 18 % de deploráveis, mais os paisanos que votaram ADN a pensar que era AD. Em Viseu, o partido antivacinas (!) saltou em dois anos de de 80 para seis mil votos... Como és belo, meu Portugal.

IL - Aguentou bem a pressão do voto útil, manteve o número de deputados.

BE - Aguentou também, mas enquanto a IL tem margem para crescer, o Bloco vai continuar ser comido pelo Livre, PAN e , no futuro, o PS de Pedro Nuno Santos.

PCP/CDU - Ao irreversível envelhecimento do seu eleitorado, em desaparição, teve de arrostar com a campanha sobre a Ucrânia, que o marcou estúpida mas decisivamente. O que não é de admirar, num país com 18% no Chega, mais os paisanos de de Viseu -- esteve quase a eleger. Que país... A esta hora, parece que António Felipe foi eleito. Dou o meu voto por bem empregue.

Livre - Crescimento anunciado e confirmado, pesca no eleitorado do BE, mas não só.

PAN - Sem surpresa.

A ideia com que fico é que isto não vai durar muito. Mas, quem sabe?, talvez Montenegro surpreenda e consiga entalar o Ch.



domingo, março 10, 2024

sábado, março 09, 2024

Duke Ellington, «In A Mellotone»

curtas

«Era ele a única pessoa em quem verdadeiramente sentia uma angústia sem censuras.» Fernando Namora, «História de um parto«, Retalhos da Vida de um Médico (1949) / «Há sempre um pingo que cai ou um surro que se forma ou qualquer outra coloração que disfarça a brancura evidente do branco.» Ruben A., «Branca», Cores (1960) / «-- [...] O homem ficara com todas as aspirações de um deus e não era completamente deus.» Ferreira de Castro, O Senhor dos Navegantes (1954) 

sexta-feira, março 08, 2024

quinta-feira, março 07, 2024

antologia improvável #528 - Antero Abreu


SARABANDA DE AMOR


Sarabanda de amor

Em tudo quanto é trigo e quanto é flor

Morte e vida repartida

Em cada migalha em cada suor


16/4/984

ucraniana CCXXXII - inicia-se o serviço público, agora que nos querem em guerra (Carlos Branco, Carlos Matos Gomes e Viriato Soromenho Marques, para quem quiser perceber realmente o que é a guerra na Ucrânia)

Noutro post, falarei do silenciamento e censura que a maioria esmagadora dos me(r)dia  impõem a quem pensa pela sua própria cabeça, logo tachados de tudo e mais alguma coisa, mas também elogios, como "comunistas" ou "putinistas", o que para os analfabetos do costume é a mesma coisa, ou parecido.

Para já, a propaganda está em força -- hoje, no carro, na Rádio Observador, uma estação indubitavelmente bem esgalhada, mas mísera no que respeita ao debate sobre a guerra na Ucrânia, a pivô abria a síntese da meia hora mais ou menos assim: " mais de 400 mil soldados russos já morreram na Ucrânia." Depois lá dizem que são dados do governo ucraniano, o mesmo que  assumiu a morte de 30 mil dos seus. Está-se mesmo a ver.

Quem gosta de ser enganado, seja-o, à vontadinha; quem por preguiça mental, come a sopa toda que lhe põem à frente, sem pestanejar, pior para ele; mas para quem tem o hábito de pensar e de se interrogar, com dois dedos de testa, vou passar a fazer as ligações aos esplêndido artigos de análise opinião de Carlos Branco, Carlos Matos Gomes e Viriato Soromenho Marques. Com a excepção do primeiro, na CNN-Portugal, os outros nunca os vi no pequeno ecrã convidados para falar sobre o problema mais sério e preocupante da actualidade. Mas, como disse, isso ficará para outro post.

E as lideranças políticas, em especial Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, servirão para que interesses? Os da nação, do povo, do país? Ou seja, vão ser também eles meros fantoches, ou evidenciarão um mínimo de brio. A resposta que se adivinha é tudo menos satisfatória. Mais uma vez: têm aí o Brasil do Lula ao lado; aprendam e apoiem-se nele, apesar de ser missão quase impossível. 

Serviço público

Carlos Branco, "As palavras e os factos após dois anos de guerra"

Carlos Matos Gomes, "Dopping -- O programa de armamento de Bruxelas

Viriato Soromenho Marques, "'Tempestade ainda' na Europa"

3 filmes de António-Pedro Vasconcelos

quarta-feira, março 06, 2024

ucraniana CCXXXI - quando Zelensky e Macron eram pombas da paz

Zelensky venceu as suas presidenciais não apenas à custa da popularidade televisiva, mas também prometendo ao eleitorado negociar a paz com a Rússia e resolver a situação do Donbass (a guerra começou em 2022?...). Imagino, depois, a desilusão.

Até posso acreditar na sua sinceridade inicial, tanto mais que ele não é etnicamente ucraniano nem russo, mas judeu, cujo povo, até ao ao primeiro quartel do século passado, era periodicamente chacinado em pogroms por aquelas paragens, entre Rússia e Polónia. Havia os Acordos de Minsk..., uma autonomia do Donbass não estava ainda fora da equação.

Quando Zelensky ganhou em vez de Poroshenko, homem dos americanos, encontra uma Ucrânia já minada pela CIA. Depois foi o que sabemos, o pardal tornou-se falcão.

Quanto ao Macron, ainda há dia escrevi como este mercur(i)ocromo da paz benefeciou das idas e vindas a Putin, para tentar contê-lo. Limpou as eleições, escapando ao destino igual ao do pateta Hollande, que lhe estava marcado. Agora, é esta ave de arribação que se vê, permitindo-se até chamar cobarde (indirectamente, claro) ao titubeante Scholz.

Já agora: mão amiga fez-me chegar o sempre extraordinário Carlos Matos Gomes, antigo oficial comando na Guerra Colonial e homem muito culto. Quem quiser perceber ou aprender alguma coisa que o leia -- a ele, a Viriato Soromenho Marques, Carlos Branco, e alguns mais. 

Com esta preparação para a guerra (fria ou quente) que nos estão a aranjar, o tempo para ser anjinho, espécie peculiar de pássaro, já acabou. Por alguma razão ninguém fala disto na campanha eleitoral. Estão pois com mãos livre para fazer o que quiserem, os partidos...

caracteres móveis

«Adiante de mim caminhava, levemente curvado, um homem que, desde as botas rebrilhantes até às abas recurvas do chapéu donde fugiam anéis de um cabelo crespo, ressumava elegância e a familiaridade das coisas finas.» Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (póst., 1901)

«Já o Cirilo tendeiro, que vagueava de terra em terra, erguera dos amassadoiros do linho o seu mostruário de bonitezas.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)

«Um dia, sem perceberem como, tão dados eram à boa paz e ao improviso, faltava-lhes a mama e saltavam, de rompão, para a violência, como lobos acossados.» Alves Redol, Barranco de Cegos (1961)

terça-feira, março 05, 2024

ucraniana CCXXX - a Europa está "cada vez mais em perigo", diz este sábio -- mas estão à espera do quê?

Borrell, pois claro, quem mais? A "Europa" sanciona a Rússia, fica-lhe com o dinheiro, envia tropa disfarçada de mercenários para a combater na Ucrânia, guia-lhe os ataques dos ucranianos através de satélite, estoiram-lhe com os gasodutos e -- cereja -- vê um yuppie que se tornou presidente de França a ameaçar (ahahah...) enviar tropas para o terreno, agora "oficialmente". 

Mas do que estão à espera estes animais? É evidente que a Rússia não terá, a não ser em caso de mobilização geral, tropa e meios para entrar em guerra com o Ocidente -- mesmo se, admitamo-lo por fantasia, os Estados Unidos se retirassem da Nato. Mas têm armas nucleares, fora o resto.

Há dias li isto do NYT, via DN. A comprovação do que sempre se soube, excepto os detalhes. Ah, as zonas de influências, as soberanias limitadas, os patetas dos comentadores...

mas do que está esta gente à espera para dar-lhe o Camões?.

A propósito da magnífica entrevista que dá hoje ao Público, no dia em que é directora honorária do jornal (bela e justíssima escolha) volto à carga com o óbvio alvitre de atribuir o Prémio Camões a Maria Teresa Horta. Que diabo!, é preciso ser-se um país muito estúpido e provinciano para ainda não ter dado a esta extraordinária poeta do amor, da sexualidade feminina e do corpo; a uma das autoras das Novas Cartas Portugueses, um dos grandes livros do século XX, o seu maior prémio literário, que já distinguiu outros que não lhe chegam aos calcanhares. 



curtas

«A este tempo Carlos, para quem passara desapercebida a cena anterior, saiu da barraca, aconchegando o forte jaquetão azul, esfregando as mãos num contentamento despreocupado, a trautear os compassos alegres de uma canção de caça.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894) / «Macário afirmou-se, e, sem mais intenção, dizia que aquela mulher, aos vinte anos, devia ter sido uma pessoa cativante e cheia de domínio: porque os seus cabelos violentos e ásperos, o sobrolho espesso, o lábio forte, o perfil aquilino e firme, revelavam um temperamento activo e imaginações apaixonadas.» Eça de Queirós, «Singularidades de uma rapariga loura» (1874), Contos (póst., 1902) / «O Franciú levantava-se muito cedo para carpir os vagabundos, os desorientados, os gatos e também cães, os mais afectuosos, e desprevenidos rouxinóis que o Toledo deixava pelo caminho, amorosamente desventrados.» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984)

segunda-feira, março 04, 2024

Bob Marley & The Wailers, «We and Dem»

ucraniana CCXXIX - porque votarei no PCP

Votarei no domingo, 10 de Março de 2024, no PCP, o único com representação parlamentar que neste momento histórico não me envergonhou. 

Tenho várias razões para votar no PCP, e outras tantas para não votar. Sou um cidadão livre, voto como me apetece. Já votei em vários partidos e também votei em branco. Exerço a minha liberdade, só não deixo de ir às urnas.

A minha decisão está tomada desde que estas eleições foram anunciadas, e prende-se com a guerra na Ucrânia, entre dois imperialismos, e a postura de menorização do país, subserviência e leviandade crassa ignorante de praticamente todas as outras formações concorrentes e dos órgãos de soberania portugueses, que fizeram deste país um mero capacho dos interesses da administração americana, dominada pela rapacidade do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Mais que um capacho, uma excrescência, uma espécie de Hotentócia (o vocábulo é queirosiano...), a quem ninguém liga nenhuma, uma coisa ridícula. 

Um país como Portugal, a caminho dos novecentos anos, com uma forte ligação atlântica aos países que emergiram do seu império e com um património histórico e simbólico ímpar -- uma língua, uma literatura, uma cultura popular --, submete-se à pirataria alheia sem um pingo de vergonha nem brio.

Sou o primeiro a reconhecer os condicionalismos da nossa situação geopolítica de vizinhança com os Estados Unidos (ao contrário de outros, que porventura achariam que a Rússia iria tolerar indefinidamente as investidas e provocações dos patifes da cia e do pentágono), com quem deveremos manter boas relações -- mas de onde está excluída a vassalagem de protectorado que tem caracterizado a política (?) portuguesa, pelo menos desde a destruição da Iugoslávia. 

Se a minha posição não é totalmente coincidente com a do PCP, que acho moderada, só aqui vi uma atitude que chamasse nomes aos bois. Por isso, foram fustigados pelo que disseram e pelo que não disseram, pelo analfabetos e prostitutas da política e do comentariado, que visceralmente me enojam.

Gostaria que o PCP tivesse uma boa votação nestas eleições, mas para mim isso é secundário, pois o país está e estará nas mãos dos mesmos. O que me interessa é mesmo tomar posição, e ela aqui está. 

caracteres móveis

«Declarara-se ali mesmo, com segurança e desenvoltura, falando logo em casamento, enquanto procedia a rápidos planos mentais para a casa do Vale Formoso, desabitada desde a morte do avô Jacinto, que tinha catorze divisões e um grande jardim onde Raquel poderia cultivar as suas preciosas begónias.» Helena Marques, O Último Cais (1992)

«Não faltou receio a Henrique, que supôs a estes bonacheirões quadrúpedes a índole travessa e bravia dos touros, a cuja chegada tantas vezes fora assistir em Lisboa.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

«No exterior, a partir das paredes, há dois palmos de atmosfera lúcida, quase luminosa (intensifica-se pouco a pouco): halo a envolver a casa, a protegê-la (?) misteriosamente.» Carlos de Oliveira, Finisterra (1978)

sábado, março 02, 2024

sexta-feira, março 01, 2024

quinta-feira, fevereiro 29, 2024

ucraniana CCXXVIII - ainda o inqualificável Macron e um recado de Putin, para ele e para os outros

Nós já sabíamos, de há muito, que a Europa é tragicamente governada por aprendizes de feiticeiro e impostores. Macron é apenas mais um da linhagem inaugurada por Sarkozy e continuada por Hollande. Mas se pensarmos bem, de Aznar a Pedro Sánchez, ou de Blair a Boris Johnson, entre muito outros cadastrados, o Velho Continente muito tem enfraquecido e infligido sofrimento a terceiros por esse mundo além. Olha-se para Putin e compara-se com estes desmunidos e é todo um abismo que se cava. (Veja-se a forma como reage ao truão hexagonal.)

Já sei o que vão dizer do russo, e francamente estou-me nas tintas. Porque me hei-de preocupar com o modo como Putin governa a Rússia, se entre nós temos à cabeça dos estados os mais inqualificáveis bandalhos? Poderia acrescentar muito mais àquela lista sórdida. Como dizia ontem o comandante Farinazzo, Macron "é um nada" -- porém é um nada que reúne 31 chefes de estado e de governo para pôr-se em bicos de pés. Eu, se estivesse lugar de Marcelo, atribuiria de imediato a Ordem da Liberdade ao cidadão que enfiou uma chapada neste idiota perigoso. 

Em tempo: a estratégia propagandística dos peões do Pentágono : a ameaça de um ataque da Rússia a países da Nato. Qualquer pessoa informada rir-se-ia; no entanto, a vasta maioria da população não faz a mínima ideia, e precisa de ser condicionada pelas nossas queridas "democracias liberais" da ameaça do lobo, que é neste caso um urso. Fá-lo a liderança ucraniana, repetem-no estes indigentes europeus, que acham que podem derrotar a Rússia, mas na realidade condenando a Ucrânia à destruição e ao seu provável desaparecimento enquanto estado.

colagens

«Janela fechada»

«Tua gruta, Vesúvio» 

«Um pouco de poesia»


1, Sebastião da Gama

2. Dick Hard

3. António Jacinto


terça-feira, fevereiro 27, 2024

ucraniana CCXXVI - Macron profetiza

Depois de ter reconquistado a presidência francesa às vésperas da invasão da Ucrânia, fazendo o papel de mensageiro da paz (e tratado por Putin com merecido desprezo), o desacreditado Macron arrebanhou uma série de colegas para o Eliseu, de onde emanou uma alarvidade e uma profecia.

A alarvidade desta aventesma é a de admitir a possibilidade, de há muito a ser ponderada, de enviar tropa para combater na Ucrânia. Pode ser um truque para amansar os concidadãos pelos gastos enormes em armamento, cujo fim é o de ser destruído pelos russos e retardar o seu avanço, mas o imbecil pondera que a França entre em guerra com a Rússia...

O profeta Macron antevê um ataque militar da Rússia nos próximos anos... Parece que ele quer fazer por isso, ainda para mais se for de motu proprio enfiar-se numa guerra com o país de Putin sem uma decisão colectiva da Nato, que deveria ser uma aliança defensiva e não um instrumento ao serviço do Pentágono. Com as diatribes que têm feito: (pseudo?) mercenários em operações, auxílio às tropas ucranianas via satélite, para não falar da sabotagem dos gasodutos, parece mesmo que estão a pedi-las. 

Outra coisa: veja-se como o indigente que escreveu esta notícia caracteriza Robert Fico, o primeiro-ministro da Eslováquia: "populista", apesar de integrar o Partido Socialista Europeu, "conhecido pelas suas posições anti-Ucrânia". Ou seja: ser contra a guerra -- em especial esta guerra que destruirá a Ucrânia e que provavelmente a deixará apenas com o território que antes era polaco e pouco mais --, ser contra esta guerra, é ser, como se infere do que escreveu o analfabeto, é ser "populista". Disse Fico, antes de partir para a "cimeira" em Paris, para a reunião com os homólogos: "Tudo o que querem é que a matança continue." Aí está o populismo.

Charlie Parker, «Now's the Time»

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

«Ferreira de Castro -- Uma Biografia» I (1898-1919)


















Índice: Uma biografia de Ferreira de Castro

I- Um ursinho em Ossela (1898-1911): Alguma poesia. Salgueiros: o que pode haver num nome. Uma terra antiga. Paisagem… . …e povoamento. O brasão de Ossela. Os Castros. Um pai de quem não se fala. Infância. Um benemérito local e os dois mestres de Ferreira de Castro. Margarida. Primeiras leituras. João de Deus. A «Educação Cívica». Faustino Xavier de Novais. Eduardo de Noronha, Do Minho ao Algarve. Os jornais. História de João Soldado. Tradição oral. As lágrimas dos foguetes. A fuga, ou as razões de uma partida. O caso Margarida. Contexto económico e social. O último dia.

II- No coração da selva (1911-1914): A travessia. De Belém do Pará ao rio Madeira. Rumo ao coração da selva. Patrão, procura-se. Conhecimento do inferno. Os índios, os outros. Os dias do Paraíso. Cartas de longe. As duas Raimundas. Charadas. Manoel Sabino Durães. Jornais. «O Amor de Simão». Horas Nostálgicas. O adeus ao seringal.

III- Na Feliz Lusitânia. Do Pará ao Rio (1914-1919):  Belém do Grão-Pará. A cidade desconhecida. “Cassiporé”. Viver em Belém. O Jornal dos Novos. Criminoso por Ambição. Alma Lusitana. Portugal. Patriotismo e nativismo. Um temperamental. Uma agenda. O jovem galante. O Rapto. Rugas Sociais. Às voltas pelo Brasil, até ao Rio de Janeiro. A bagagem literária. Zola. Schopenhauer. Tólstoi. Euclides da Cunha. Regresso.

Cronologia (1898-1919)

À venda na Wook.


curtas

 «Acontecimento único a abalada, para terras longínquas, da meia dúzia de homens que anualmente emigrava, era também ali, comoção única, o momento da largada do navio.» Assis Esperança, «O dinheiro», O Dilúvio (1938) «Mas sobretudo os olhos, aquelas duas contas reluzentes, coisa mínima e tão alerta sempre, maliciosos ou compungidos, consoante o que conta é digno de riso ou de lamento.» A. M. Pires Cabral, «O saco», O Diabo Veio ao Enterro (1984) «No fim ficava tudo identificado: o rapaz, a gaja, o pai da gaja, o cínico, o amigo do rapaz e o bandido.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)

domingo, fevereiro 25, 2024

ucraniana CCXXV - a derrota do jornalismo, da cidadania e da liberdade: dois anos de incompetência e miséria moral

Uma regra básica do jornalismo é a de ouvir ambas as partes em qualquer situação. E nem me refiro às versões dos dirigentes, que essas passam sempre de um modo ou de outro, mas as pessoas, os lados, e já agora também as opiniões.

Para além das doses maciças de propaganda a que somos sujeitos, algo nunca visto desde a Guerra Fria, para além da censura objectiva, como o do acesso aos canais russos (de propaganda, segundo a Comissão Europeia), não me lembro de ter assistido a um atropelamento tão grosseiro da liberdade de informar e do direito a ser informado.

Exemplo: enquanto que o sofrimento da população ucraniana é mostrado (e bem), o sofrimento dos russos do Donbass -- aqueles que o Bloco de Esquerda e o Livre esquecem quando dizem defender o direito à autodeterminação dos povos -- é praticamente silenciado, até porque ali não devem ter escolas, nem parques infantis, nem crianças (as tais que foram deportadas para a Rússia...).

Não é crível que, nomeadamente nas televisões e nas rádios, não haja jornalistas com deontologia. Claro que há; mas ou vão por sua conta, como Bruno Amaral de Carvalho (com o bónus de serem insultados por colegas de profissão), ou então é claro que não temos notícias do outro lado. (Honra seja feita à CNN-Portugal, creio que o único órgão de imprensa que transmitiu as suas reportagens).

Este atentado grosseiro à cidadania e à liberdade de informar e ser informado, é tragado por nós com a facilidade com que se bebe um copo de água.

Para além do básico, que é a ausência, ocultação e manipulação da informação, e do condicionamento dos cidadãos como se fossem atrasados mentais, temos o afastamento, silenciamento -- sem esquecer as múltiplas pressões e suspeições -- levantadas sobre quem tem uma perspectiva não alinhada (salvo, outra vez, a CNN-Portugal, apesar das doses maciças de propaganda da casa-mãe que despeja, e da impreparação de muitos dos pivôs). A RTP, televisão pública, é claramente insatisfatória, e é vergonhoso não ter ainda enviado um repórter para o Donbass, talvez porque o patrão não deixe. Tenho muitas vezes criticado José Eduardo Moniz, mas comparado com a nódoa do congénere da RTP, que nem sei quem é, fez mais aquele pela cidadania e pela liberdade, numa estação privada do que a televisão pública.

Poderia falar de outros casos grosseiros de manipulação e condicionamento, como o da Rádio Observador, para quem já nem serve o coronel Mendes Dias, assumido defensor de uma vitória do Ocidente, mas analista honesto, para não falar do major-general Carlos Branco, que rapidamente deixou de ser convidado para comentar. Para eles, militares só os majores-generais Isidro e Arnaut e civis do jaez do catedrático de circo cardinali que por lá têm. 

Claro que por muita censura da Comissão Europeia e manipulação merdiática, hoje podemos sempre aceder à informação que queremos, sem termos de estar exclusivamente sujeitos às declarações patetas dos nossos governantes e escapando à informação unilateral que procura impedir-nos de formarmos o nosso juízo.

Haver uma estação pública de televisão e rádio que, numa guerra desta magnitude e consequências, se abstém do dever de informar com equilíbrio e isenção, ouvindo e reportando o que sucede nos dois lados, é o grau zero do jornalismo, um atentado à cidadania, um crime contra a liberdade.   

Bob Marley & the Wailers, «Bad Card»

sábado, fevereiro 24, 2024

colagens

«(Ah, cão, asno de ouro, corro ao cadáver.)»

«Bebo-o a colherinhas de olhos» 

«O espanto inunda as mãos (aves sem peso)»


1. José Emílio-Nelson

2. Luísa Dacosta

3. Fernando Jorge Fabião

quadrinhos


 

continuo a reconhecer-me no que escrevi há dois anos (ucranianas CCXXIV)

 Aqui. Hoje, creio que estou mais pró-russo que há dois anos, mais antiamericano.

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

caracteres móveis

«Era então a Amazónia um imã na terra brasileira e para ela convergiam copiosas ambições dos quatro pontos cardeais, porque a riqueza se apresentava de fácil posse, desde que a audácia se antepusesse aos escrúpulos.» Ferreira de Castro, A Selva (1930) 

«Mulheres, de enxada, pés a chapinhar nos canteiros alagadiços, talhavam regos, abrindo e vedando caminho à serpente de água preciosa.» Romeu Correia, Calamento (1950)

«O padre irou-se outra vez: deixou cair a caixa, no excesso da indignação; verteu no peito da camisa quatro pingas de rapé; escumou pelos cantos da boca; pisou uma perna do papagaio; entalou o rabo da gata, que saltou, bufando, para o peitoril da varanda; e acabou por dizer, em voz cavernosa, que Rosa, no dia seguinte, sem mais delongas, seria fechada no Recolhimento de S. Lázaro, para não ver sol nem lua.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

ainda Navalny, sem bater mais no morto, mas assestando a mira aos tolos cá da parvónia

Mão amiga fez-me chegar o artigo do major-general Carlos Branco, a propósito do mal contado caso da morte de Navalny ( o discurso cavernoso de crepes de Lobo Xavier, que quase choru na "Quadrarura", ou a penosa indignação selectiva de Pacheco Pereira não conseguem competir com o descabelo de Assis -- Navalny, o Mandela russo...:). 

Eu, que sou um mero curioso destas coisas, não totalmente desinformado, sinto-me sempre confortado quando vejo alguém da craveira de Carlos Branco coincidir no essencial com o que penso sobre o assunto).

Claro que não é preciso ser um génio para levantar dúvidas e questões (ou afirmar umas quantas certezas) ocorridas em torno da morte do "democrata" reciclado Navalny; com alguma leitura e estudo, basta ter honestidade intelectual, e saber pensar.

Bob Dylan, «The Lonesome Death of Hattie Carroll»

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Navalny, o fascista reciclado pelos Estados Unidos e beatificado pelo pateta Assis

O maior pateta da política portuguesa dá pelo nome de Francisco Assis, o tal que era contra a Geringonça e agora é cabeça de lista do Pedro Nuno Santos pelo Porto. Comparar o racista e neo-fascista Navalny com Nelson Mandela é revelador... 

Não querendo ficar atrás embora com menos sucesso, o habitual João Gomes Cravinho, trouxe à liça o Humberto Delgado. Depois, estes bicos de pés de mandarmos chamar o embaixador russo, só faz rir, pela completa falta de noção de ridículo, sem falar no mau aspecto que dá do país, cãozinho amestrado e obediente à voz dos donos (tutela partilhada...). Para além do duplo critério, claro, relativamente ao embaixador israelita, como escreveu hoje Pedro Tadeu no Diário de Notícias.

Mas, na verdade, que importa a coerência, a compostura, a prudência, a isenção, o brio?...

Em baixo, belas demonstrações do malogrado "Mandela" russo, de acordo com a cabecinha vesga do Assis.

quadrinhos


 

terça-feira, fevereiro 20, 2024

curtas

«A boca nua de dentes, salvo o tal canino e os restos do outro, chupada para dentro, sarcástica o mais das vezes, comovida outras, com uma língua que vem frequentemente humedecer os beiços, numa passagem rápida, como a que certos batráquios disparam para capturar insectos.» A. M. Pires Cabral, «O saco», O Diabo Veio ao Enterro (1984) «O Norberto nunca se chateava, desenrolar espaço era o seu passatempo favorito (o seu olhar levíssimo partia amiúde nas asas das gaivotas oblíquas), afiava mastros por conta dos donos das embarcações que iam ao cais falar com ele e cuspir para as ondas, agitando o braço direito (o esquerdo, conforme rezam as crónicas da época, era paralítico de nascença).» Dinis Machado, Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez (1984) «Os colos eram todos gordos menos o da tia Augusta que tinha dois ossos -- um em cada perna, mas também não era mau.» António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Tamás Benedek, «Summa» para cordas (Arvo Part)

a estória do Navalny tresanda a gasoduto, e todos os que não andam distraídos sabem disso (ou por que raio precisava o Putin de mandar matar o Navalny?)

Talvez por que seja louco, dir-me-ão em fina análise de mulher-a-dias (com respeito por estas e nenhum pelos outros)... Ou porque tem cancro, ou porque ficou apanhado pela covid-19, entre outras interpretações sofisticadas.

Na sexta-feira dava fifty-fifity quanto às suspeitas sobre a autoria da morte (isto, se o homem não morreu vítima de qualquer embolia): agora, tenho cada vez menos dúvidas de que, não se tratando de uma síncope qualquer (sim, Navalny era um preso político, mas também um agitador perigoso e racista, como há tempos escrevi; e sempre suspeitei dele como um peão dos americanos, ou que deles se nutria -- talvez mais esta segunda hipótese: alguém, como Bin Laden, que depois lhes fugiria ao controlo), 

As reacções pressurosas da administração americana, muito parecidas no tempo com as que foram proferidas por ocasião da sabotagem dos Nordstream (aqueles que Biden ameaçou destruir, ao lado do gnomo alemão -- eu vi), deixam no ar o cheiro a canalha. O Lula, que, ao contrários da maioria dos líderes europeus em particular portugueses, não é um pacóvio nem menino a cheirar a leite, já disse ao pessoal para ter calma.

Agora, estes atrasos de vida da União Europeia fazem mais um filme com a viúva -- um filme para a fotografia --, sabendo que a única coisa que podem contra a Rússia é serem peões do Pentágono. (Alguém sabe dos nosso tanques Leopard?...) Que lixo.

Se a morte do Navalny foi perpetrada por serviços secretos ocidentais, tal não passa de um sinal de desespero: uma tentativa burra de criar um levantamento popular (a burrice (e a ganância) dos americanos é lendária); ou a criação de um clima emocional que leve a Câmara dos Representantes a libertar as verbas para que a Ucrânia continue a comprar armamento aos Estados Unidos... Ou ambas, e quiçá outras que me escapam. Enfim, nada que verdadeiramente conviesse a Putin, embora, estando na mó de cima com esta guerra com os Estados Unidos, pudesse ser tentado a transfigurar-se em Vladimir, o Terrível, para fazer o gosto ao Ocidente, isto a crer nos profundos perfis desenhados pelas esportuladas centrais de comunicação. 

colagens

"Chama o saci: -- Si si si si!"

"Forma-se a onda e depois outra e outra" 

"Lembra um daqueles briosos cães-pastores"


1. Manuel Bandeira, "Berimbau"

2. Antero Abreu, "Onda vai onda vem"

3. A. M. Pires Cabral, "A um comprimido hytacand"

domingo, fevereiro 18, 2024

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

NAVALNY x ASSANGE, felizmente temos "os nossos valores"

Chego ao restaurante, televisão sem som sintonizada na RTP3, vejo que Alexei Navalny morreu na prisão; saio, e o tema continua, ininterruptamente. Pude verificar que a Casa Branca emitiu um comunicado a dizer que se a notícia se confirmar "será uma tragédia"; Blinken a sustentar que o acontecimento ilustra "a fraqueza e a podridão do regime de Putin"; e ainda aquela camela inútil que é vice-presidente, cujas emanações da cavidade oral não pude apurar. Cereja no topo do bolo: a anedota demissionária que passa por ministro do Estrangeiros português, acusa o presidente russo do sucedido.

Ri-me várias vezes. Não da morte de um homem na prisão, por muito detestável que fosse o seu trajecto de antigo militante da extrema-direita xenófoba russa. A CIA teve sempre a inclinação para recrutar e branquear neo-nazis e tralha conexa para transformá-los em paladinos da liberdade. Dos nossos valores, portanto. Não tenho nenhuma prova de que Navalny trabalhasse para a CIA, mas não tenho dúvida de que estava feito com os americanos. O método topa-se à légua, e já foi experimentado muitas vezes desde há décadas. E os russos sabem-no.

Isto para dizer que, se ele foi assassinado na prisão, não faço ideia sobre quem terão sido os mandantes. Ou melhor, faço: ou foi o Kremlin (é verdade que com Putin cada vez menos se brinca, apesar de agora ter dado em humorista) ou foi a CIA (currículo vasto).

Vai ser um dia a ouvir os papalvos do costume, ainda bem que estou em viagem.

Já agora: o que é feito do Julian Assange? A sorte que ele tem em pertencer ao mundo livre. 

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

Charlie Parker, «What's New»

caracteres móveis

«Então reproduz de cór a paisagem que se vê da janela, cria os seres primordiais, mistura verão e inverno, atenua a cegueira (o excesso) do sol incidindo sobre a sílica, mica esmigalhada, vidro moído num almofariz (sabe-se lá), aumenta os grãos de areia até ao tamanho que parecem ter, de noite, quando o vento atira contra as vidraças as suas enormes pedradas.» Carlos de Oliveira, Finisterra (1978)

«O fervor com que ela falava de Alighieri acendia-lhe o cinzento dos olhos, habitualmente muito frio, e os movimentos da cabeça, virando-se para ele enquanto caminhavam pela Quinta da Saudade, captavam o sol do entardecer e revelavam reflexos, até aí insuspeitados, de mogno antigo ou malvasia velho.» Helena Marques, O Último Cais (1992)

«Tristes hortejos manifestavam a presença daquela gente em tão ermas paragens.» Romeu Correia, Calamento (1950)