sábado, junho 30, 2018

«Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.» Jorge Amado, Capitães da Areia (1937)

«Mas nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das preces, se sacrifica a uma imobilidade total depois de retirar-se de si e da cama o esposo, para que não se prejudiquem em seu gerativo acomodamento os líquidos comuns, escassos os seus por falta de estímulo e tempo, e cristianíssima retenção moral, pródigos os do soberano, como se espera de um homem que ainda não fez  vinte e dois anos, nem isto nem aquilo fizeram inchar até hoje a barriga de D. Maria Ana.» José Saramago, Memorial do Convento (1982)

«Só de longe em longe, a choça do pegureiro ou a cabana do rachador, mas estas tão ermas e desamparadas, que mais entristeciam do que a absoluta solidão.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)

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mandar de volta os portugueses de merda para o buraco donde saíram

Não apenas o animal que espancou a jovem colombiana Nicol Quinayas, como os polícias que se desinteressaram da miúda que acabara de ser violentada. 
A confirmarem-se as notícias, estes agentes da Polícia de Segurança Pública faltaram gravemente ao seu dever e desonraram a farda e o estado português. A sua acção deve ser averiguada, e apurando-se a negligência grosseira e a desonra que ela implica, terão de ser exemplarmente punidos -- de acordo com a penalização prevista no estatuto disciplinar, bem entendido, porém, negligência e desonra configuram faltas graves, com sanção disciplinar adequada. 
Criaturas deste jaez deveriam ser mandados de volta para o terrunho das berças ou para os subúrbios donde foram evacuados, de preferência de quarentena, e proibi-los de voltarem a pôr os pés numa cidade enquanto não estivessem reeducados -- assim um pouco como se faz com aqueles cães agressivos que têm de ser ressocializados (o PAN também deveria pensar nestes bichos).
Cruzo-me diariamente com um certo povo de merda, empregaditos de mesa, lojistas, seguranças, motoristas, pequenos funcionários, trolhas, manicures & pedicures, uns miseráveis mal pagos, grosseiros, alienados pelo consumo a prestações, pelas revistas de mexericos e pelos futebóis, criaturas exploradas que arrotam o lamentável insulto racista contra o preto, o cigano, o brasileiro, o monhé.
Também há energúmenos daqueles noutras estratos sociais, todos conhecemos alguém; eu conheço vários e desprezo-os; mas o lumpen racista é tão grotesco que nem o desprezo alcança; só mão pesada é susceptível de produzir qualquer coisa que se assemelhe a sinapses dentro daquelas cabecinhas com cortes de cabelo à estúpido.

sexta-feira, junho 29, 2018

quinta-feira, junho 28, 2018

«Parecia um qualquer homem jovem que regressava a casa depois do trabalho; o sobretudo preto conferia-lhe um aspecto clerical.» Graham Greene, Assassino a Soldo (1936) (trad. Fátima St. Aubyn)

«Um pequeno de onze anos, que assistira solícito ao entrouxar das coisas, juntara-se também ao grupo e, enquanto coçavam o queixo, indecisos, murmurou corando ao som da própria voz:» Thomas Hardy, Judas, o Obscuro (1895) (trad. Maria Franco e Cabral do Nascimento)

«Em princípios do mês de Abril de 1813 houve um domingo cuja manhã prometia um desses belos dias em que os Parisienses vêem pela primeira vez no ano as suas ruas sem lama e o céu da sua cidade sem nuvens.» Honoré de Balzac, A Mulher de Trinta Anos (1829/1942) (trad. Carlos Loures)

quarta-feira, junho 27, 2018

«Heavenly Pop It»

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«Um fio de mar, parece-me, inclinava a terra / num poço de luz silenciosa.» José Emílio-Nelson, O Anjo Relicário (1999)

«Vou cair e ficar no chão horas e horas / até que o frio da noite -- esse pássaro sonâmbulo -- / venha, com suas asas metálicas, acordar-me / ou roçar-me de morte...»  Saul Dias, ...Mais e Mais... (1932)

«Paixão puríssima ou devassa, / Triste ou feliz, pena ou prazer, / Amor -- chama, e, depois, fumaça...» Manuel Bandeira, A Cinza das Horas (1917) / Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira (1984)

segunda-feira, junho 25, 2018

«O taque-taque do relógio parecia mais nítido, mais corajoso, à medida que o iam deixando sozinho.» Ferreira de Castro, A Curva da Estrada (1950)

«A névoa da madrugada desprendia-se dos campos, ia envolvendo a montanha.» Vergílio Ferreira, Manhã Submersa (1954)

«Dali à entrada da quinta corria um muro de pedra solta onde espreitavam trepadeiras, e só a uns vinte metros se erguia a parede nobre com o grande portão verde de padieira grossa, que ao abrir bem até trás, devido a uma posição mal calculada, batia na borda da sineta arrematada do naufrágio de um veleiro.» Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal (1944)

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domingo, junho 24, 2018

criadores & criatura


René Goscinny, Albert Uderzo e Astérix 


sábado, junho 23, 2018

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«Ao entrar na sala / cumprimentei-o com três palavras / boa tarde senhor» Francisco Alvim, «Muito obrigado», 26 Poetas Hoje (edição de Heloisa Buarque de Hollanda, 1975)

«A paisagem de grandes árvores dormentes.» Manuel Bandeira,  «Paisagem noturna», A Cinza das Horas (1987) / Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira (1984)

«Morrer é desaparecer / do nome» Sebastião Alba, «Na morte de Picasso», A Noite Dividida (1996)

sexta-feira, junho 22, 2018

quinta-feira, junho 21, 2018

quarta-feira, junho 20, 2018

estampa CCCIX - Norman Engel


Dia de Derby (2017)

terça-feira, junho 19, 2018

«We've Only Just Begun»

«Se a vossa luz me afasta, o vosso abismo atrai-me!» Queirós Ribeiro, Cinzas (1896) / Líricas Portuguesas - 2.ª Série (edição de Cabral do Nascimento)


«Dizem mais que na seda das varetas / Do seu leque ducal de mil matizes... / Satã cantara as suas tranças pretas, / -- E os seus olhos mais fundos que as raízes!» Gomes Leal, «A Duquesa de Brabante», Edoi Lelia Doura -- Antologia das Vozes Comunicantes da Poesia Moderna Portuguesa (edição de Herberto Helder, 1985)


«Quando o descobridor chegou / e saltou da proa do escaler varado na praia / enterrando / o pé direito na areia molhada // e se persignou / receoso ainda e surpreso / pensando n'El-Rei / nessa hora então / nessa hora inicial / começou a cumprir-se / este destino ainda de todos nós.» Jorge Barbosa, Cadernos de um Ilhéu (1956) / No Reino de Caliban I (edição de Manuel Ferreira, 1975)
«Depois do jantar sentei-me no meu quarto, na Rua Catinat, à espera de Pyle: ele dissera: "Chegarei quando muito às dez horas", e quando bateu a meia-noite senti-me incapaz de ficar quieto por mais tempo, desci as escadas e saí.» Graham Greene, O Americano Tranquilo (1955) (trad. P. J. de Morais)

«Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.» Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão (1967) (trad. Eliane Zagury)

«Em 1824, no último baile da Ópera, várias máscaras ficaram impressionadas com a beleza dum mancebo que passeava pelos corredores e pelo salão, com o modo das pessoas que procuram uma mulher retida em casa por motivos imprevistos.» Honoré de Balzac, Esplendores e Misérias das Cortesãs (1838-1847) (trad. M. Manuela da Costa)

segunda-feira, junho 18, 2018

estampa CCCXVIII - Salvador Dalí


Retrato da Minha Prima Ana María Domenech (1923)

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domingo, junho 17, 2018

50 discos: 40. DISCIPLINE (1981) - #6 «The Sheltering Sky»




«Pois naquela manhã, antes de a tragédia abalar a cidade, finalmente a velha Filomena cumpria a sua antiga ameaça, abandonara a cozinha do árabe Nacib e partira, pelo trem das oito, para Água Preta, onde prosperava seu filho.» Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela (1958)

«Há dias tão duros como o frio deles, outros em que se não sabe de ar para tanto calor: o mundo nunca está contente, se o estará alguma vez, tão certa tem a morte.» José Saramago, Levantado do Chão (1980)

«Em 1858 monsenhor Buccarini, núncio de Sua Santidade, visitara-o com a ideia de instalar lá a Nunciatura, seduzido pela gravidade clerical do edifício e pela paz dormente do bairro: e o interior do casarão agradara-lhe também, com a disposição apalaçada, os tectos apainelados, as paredes cobertas de frescos onde já desmaiavam as rosas das grinaldas e as faces dos cupidinhos.» Eça de Queirós, Os Maias (1888)

sexta-feira, junho 15, 2018

És grande!

«Era ao entardecer, / na hora espessa, peganhenta e húmida, / em que um resto de luz no espasmo da agonia / geme nas coisas e empasta-as como goma.» António Gedeão, «Poema do cão ao entardecer», Poemas Póstumos (1983)

«É só a mim que procuro / e sou eu próprio o caminho.» Armindo Rodrigues, «Não sou escravo nem sou rei», Voz Arremessada ao Caminho (1943)

«Maré cheia, / árvores em parto, / ondas sobre ondas / dum inferno farto.» Carlos de Oliveira, «Amazónia», Turismo (1942) / Trabalho Poético (1978)

quinta-feira, junho 14, 2018

criador & criatura

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Raymond Macherot e o Coronel Clifton

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presidente dos CTT premiado...

Aos olhos e nas barbas de todos, os Correios foram sonegados ao país pelo próprio governo, que devia servir a comunidade e não interesses particulares, locupletando-se uns accionistas com um património material e imaterial que era pertença de todos.
Esta empresa pública, que dava lucro, passa a dar prejuízo, fecha balcões, rescinde contratos com os trabalhadores, o serviço piora escandalosamente. O prejuízo e o dano causado pelo anterior governo está aí, para apreciarmos a miséria política em hasta pública. O que acontece? O presidente da empresa recebe um prémio internacional, de que ninguém ouvira falar, mas que deve ser o Nobel dos Carteiros (aqui).
Não desenvolvo.
«Berenice continuava silenciosa: -- quase abstracta: -- os olhos pousados sobre o largo cais: -- esse cais que o sol crepuscular ia empalidecendo: -- e onde uma multidão invejosa ou saudosa dos que partiam, aguardava que o vapor levantasse ferro.» Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge (1924)

«Arrastava-me até casa, subia às apalpadelas, despia-me rezando fragmentos de velhas orações; e adormecia dum sono que parecia não dever ter fim.» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934)

«Com suas altivas lombas, as ramificações da montanha cercavam, de todas as bandas, a vila postada quase no fundo do grande vale, ao pé do Zêzere, que na paz crepuscular adquiria voz forte, correndo e cantando entre os penedais do seu leito.» Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)

quarta-feira, junho 13, 2018

terça-feira, junho 12, 2018

«O quarto, sufocante e caótico, que servia ao mesmo tempo de quarto de dormir e de laboratório, mal começava a iluminar-se com o resplendor do amanhecer na janela aberta, mas bastava essa luz para reconhecer imediatamente a autoridade da morte.» Gabriel García Márquez, O Amor nos Tempos de Cólera (1985) (tradução de Margarida Santiago)

«Enquanto ele dormia pela tarde fora --  acabara o longo turno da noite às oito horas daquela manhã --, o Apollo  ancorara a meia milha da costa de Brooklyn, presumivelmente para a professora Summers e os membros científicos da expedição terem tempo de analisar a atmosfera.» J. G. Ballard, Olá, América! (1981) (tradução de Fernanda Pinto Rodrigues)

«Por entre as árvores corriam os escravos da cozinha , espavoridos e quase nus; as gazelas saltavam na relva balindo; era a hora do pôr-do-sol e o perfume dos limoeiros tornava ainda mais pesada a exalação de toda esta gente suada.» Gustave Flaubert, Salammbô (1862) (tradutor anónimo)

segunda-feira, junho 11, 2018

vamos ver quem ensina quem

Depois das italianas, o comissário europeu das finanças, um factotum do financismo, teve a ousadia de dizer que os mercados iriam ensinar os italianos a votarem como devia ser. Até é possível que o serventuário tenha razão, que os italianos venham a arrepender-se do seu voto. Mas suspeito que se e quando tal acontecer a União Europeia já tenha ido para o galheiro. Por culpa dos eleitores italianos? Talvez não; talvez por causa da clique que domina os partidos do mainstream político europeu, com tão bons resultados para a própria ideia de Europa. 
Para já, com a história do barco dos imigrantes, os italianos já estão a responder ao lacaio alemão. 

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domingo, junho 10, 2018

«Seja velório rico, seja pobre, exige-se, porém, constante e necessária, a boa cachacinha; tudo pode faltar, mesmo café, só ela é indispensável; sem seu conforto não há velório que se preze.» Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966)

De ponta a ponta, um pesadelo perpassava pelas aldeias e casalejos galgando pela amarelidão da terra nua e requeimada.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)

«Só uma figueira brava conseguiu meter-se nos interstícios das pedras e delas extrai suco e vida.» Raul Brandão, Húmus (1917)

estampa CCCXVII - Dante Gabriel Rossetti


Canto de Natal

Johann Sebastian Bach, CANTATA BWV 27- «Wer weiß, wie nahe mir mein Ende«



cabaz da feira

50 Milhões de Fãs não Podem Estar Enganados; Stephen Pastis (Bizâncio)
A Amazona Portuguesa, Mário Silva Carvalho (Saída de Emergência)
Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, Luís Filipe Silva (Saída de Emergência)
A Belle Époque, Ana Maria Daou (Jorge Zahar Editor)
Berimbau e Outros Poemas, Manuel Bandeira (José Olympio Editora)
A Corja, Camilo Castelo Branco (Lello & Irmão)
Insanus, Carlos Querido (Abysmo) 
A Modernidade: Um Projecto Inacabado, Jürgen Habermas (Vega)
Noites de S. Peterburgo, Nikolai Gógol (Saída de Emergência)
Os Passos Perdidos, Alejo Carpentier (Saída de Emergência)
Os Putos, Altino do Tojal (Europress)
A Velha Casa -- I - Uma Gota de Sangue; José Régio (Círculo de Leitores)
Vulcões de Lama, Camilo Castelo Branco (Lello & Irmão)

50 discos: 44. THE DREAMING (1982) - #6 «The Dreaming»



sábado, junho 09, 2018

«Este quis o anonimato, a discreta parceria / com o mistério da pedra.» Luís Quintais, Verso Antigo (2001)

«Nápoles era um imenso bairro da Graça / mas com mais vizinhas / em roupa interior / e berros nas / janelas» Miguel-Manso, «Via Atri Nº 25 Piano Int. 12», Contra a Manhã Burra (2009)

«A mãe foi artesã / da alegria (da minha -- não da sua) / e passou breve / cisne ao sol / sacrificado.» Soledade Santos, «Deram-me o nome», Sob os Teus Pés a Terra (2010)

Johann Sebastian Bach, CONCERTO PARA VIOLINO EM LÁ MENOR - 1. Allegro



sexta-feira, junho 08, 2018

«No olho direito tinha muita vida; o esquerdo, porém, nesta ocasião tinha um terçolho, e inflamado, de mais a mais, pelo calor.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

«Se quisesse definir a invisível peste que ao acordar me toldava a existência, a palavra seria bruma.» Paulo Castilho, Fora de Horas (1989)

«E o pranto da muita gente que ali ficou a agitar lencinhos de adeus fora-se logo convertendo num uivo, o qual acabou por confundir-se com o rumor do vento a alto mar.» João de Melo, Gente Feliz com Lágrimas (1988)

quinta-feira, junho 07, 2018

criador & criatura




Robert Crumb e Fritz, o Gato



quarta-feira, junho 06, 2018

«Em frente, ao longo da parede, uma estantezita, sem dúvida obra de amador, também cheia de livros.» Mircea Eliade, Bosque Proibido (1955) (trad. Maria Leonor Carvalhão Buecu)

«Era um daqueles barretes compostos por elementos de boina de feltro, boné turco, chapéu redondo, gorro de peles e carapuça de algodão; uma coisa medíocre, enfim, daquelas cuja fealdade muda tem profundidades de expressão semelhantes às do rosto de um imbecil.» Gustave Flaubert, Madame Bovary (1857) (trad. Fernanda Ferreira Graça)

«A brancura do mundo exterior mistura-se com a penumbra sonolenta que impera dentro da cela, o silêncio dá-se bem com o sussurro dos numerosos relógios que ainda trabalham, enquanto outros, já sem corda, estão parados.»  Ivo Andrić, O Pátio Maldito (1954) (trad. Dejan e Lúcia Stanković)

segunda-feira, junho 04, 2018

estampa CCCXVI - Gustave Caillebotte


A Sesta (1877)

50 discos: 18. ATÉ AO PESCOÇO (1972) - #6 «Pare, escute e olhe»



«A cama a voar telúrica, estilhaçada pelo ruído dos corpos.» Aal Aarão, «Namoro e pão com tâmaras», in Viola Delta vol. XLIII (edição de Fernando Grade, 2006)


«Este vento que, há muitas horas, clama, / Bem o sinto cá dentro: é por mim que ele chama...» Mário Beirão, «Peregrinação», Mar de Cristo (1957) / Caminhos da Moderna Poesia Portuguesa (1960, edição de Ana Hatherly)


«Ouvir a música do instante que passa / E recolhê-la no coração, / Olhos fechados à dor e à desgraça, / Os ouvidos atentos à canção / Do instante que passa.» Luís Amaro, «Fuga», As Folhas de Poesia Távola Redonda (edição de António Manuel Couto Viana, 1988)

domingo, junho 03, 2018

«No barco de imigrantes que os trouxera do Médio Oriente, das montanhas da Síria e do Líbano para as florestas virgens do Brasil, penosa travessia de tormentas, Raduan Murad, fugitivo da justiça que o perseguia por vadiagem e jogatina, letrado de prosa aliciante, revelara ao sírio Jamil Bichara, companheiro de porão, que tendo se debruçado noites insones sobre alfarrábios relativos à primeira viagem de Colombo, descobrira, na relação de marujos que compunham a equipagem de uma das três caravelas da festiva excursão, o nome de um certo Alonso Bichara.» Jorge Amado, A Descoberta da América pelos Turcos (1994)

«A avó Caixinha, sempre que me enxergava, dizia que eu era a cara do meu avô Sebastião, morto, ainda eu era de peito, por um toiro dos Terrés que o apanhara, num dia em que ele voltava da Azinhaga.» Alves Redol, Fanga (1943)

«E noite, cerração compacta, névoa e granito formam um todo homogéneo para construírem um imenso e esfarrapado burgo de pedra e sonho.» Raul Brandão, A Farsa (1903)

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sábado, junho 02, 2018

Johann Sebastian Bach, SONATA PARA VIOLA DA GAMBA E CRAVO (1730's-1740's) I. Adagio



Johann Sebastian Bach (1685-1750) - VARIAÇÕES GOLDBERG (1741) «Aria»


Isaac Albéniz (1860-1909) - IBERIA (1905-1909) - «Evocación»



«Boas maneiras, bilhete de identidade, contribuinte, gravata.» José Emílio-Nelson, O Anjo Relicário (1999)

«Rompem fogo / pandeiretas / morenitas, / bailam tetas / e bonitas, / bailam chitas / e jaquetas, / são as fitas / desafogo / de luar.» José de Almada Negreiros, «Rondel do Alentejo», Poemas (póst., 2001)

«As mães são as mais altas coisas / que os filhos criam, porque se colocam / na combustão dos filhos, porque / os filhos estão como invasores dentes-de-leão / no terreno das mães.» Herberto Helder, A Colher na Boca (1961) / Ou o Poema Contínuo (2001)