sábado, dezembro 28, 2013

música de 2013 -- #11 "EARTHLY PLEASURE"

bem escrito

«Primo Levi, Cormac McCarthy e uma banda norueguesa, três ângulos sobre a grande questão moral: se o apocalipse é às três da tarde, o que me leva a mudar a fralda à minha filha? Se o mundo vai acabar numa fornalha nazi, se a natureza vai destruir a humanidade, se Deus vai se derrotado, qual é o sentido da paternidade?»

Henrique Raposo, "Fazer filhos", Expresso #2148, 28 de Dezembro de 2013.

música de 2013 -- #10 DUST AND GLASS

música de 2013 -- #9 "DULCIMER"

música de 2013 -- #8 "DESFADO"

música de 2013 -- #7 "COCKROACH KING"

música de 2013 -- #6 "CELEBRITY TOUCH"

terça-feira, dezembro 24, 2013

alegre Natal

Em casa da minha Avó Zé havia alguns discos de Natal, que ainda hoje conservo. Um deles, que acabo de pôr a tocar, é da alegre orquestra de James Last. Música não muito religiosa, que a religião na família oscilava entre a indiferença ou a hostilidade de quem crescera em ambiente de forte anticlericalismo. No entanto, e apesra de ateu, gosto muito do Natal, e não tenho pachorra para os humbuggers de trazer-por-casa; portanto, Feliz Natal!


segunda-feira, dezembro 23, 2013

Nadezdha Tolokonnikova



Não é que eu aprecie por aí além a iconoclastia. Não pelas Igrejas em si, que não me merecem grande respeito, mas pelos crentes, desarmados diante do que não compreendem. Se, enquanto ateu, defendo a total liberdade, liberdade de não acreditar como liberdade de acreditar no que se quiser, desde que deixem os cidadãos em paz, também acho que deve haver limites auto-impostos perante o que os outros consideram sagrado (limites, dentro do razoável, claro).
Isto, a propósito das Pussy Riot. Em primeiro lugar, a especificidade russa, sempre com odores autocráticos: um país decente não condena a prisão pessoas por se manifestarem em templo, não tendo havido destruição de bens ou agressões físicas; nem manda mulheres para uma prisão na Sibéria; nem liberta umas e deixa outra na cadeia. Ainda por cima, mãe; ainda por cima, a única que não é de etnia russa, mas judia (e sabemos como os russos, e os alemães, e os franceses, e os espanhóis, e os portugueses, e os os ingleses, e...) têm as mão sujas neste particular persecutório...
E, ainda por muito acima, a mais gira de todas, de longe.   

Em tempo: as últimas dão conta da libertação de Nadezdha. Mantenho o post, obviamente, por ter âmbito mais vasto. As questões étnicas que levantei não se verificaram, felizmente. É óptimo não ter razão em circunstâncias tais...

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Terra sem água é uma mulher sem homem.
António Nunes

terça-feira, dezembro 17, 2013

estampa CLXVII

Regresso de Judite (1470-1472)
Galeria dos Ofícios, Florença

segunda-feira, dezembro 16, 2013

P&R -- Joel & Ethan Coen

Ele é mais um falhado da galeria Coen... Alguém que passa ao lado de algo grande na vida.  J.C. -- Não sei se podemos falar de um estereótipo do falhado nos nossos filmes. Nós nunca nos sentimos superiores às nossas personagens. Somos da mesma casta. Quer dizer, aquilo em que pensamos em primeira instância é na história, sempre na história, nunca na personagem. E é tão simples quanto isto: a personagem evolui com a história e torna-se mais ou menos estimulante por causa dela.   E.C. -- Exacto. Além disso, eu nem sequer me consigo imaginar a escrever uma história sobre um gajo que triunfa na vida. Não consigo, juro!  J.C -- Sim, seria terrível acabar um filme com um gajo desses...  E.C. -- Um sinal de senilidade da nossa parte?

Entrevista a Francisco Ferreira, a propósito de Inside Llewyn Davis, Expresso / Actual # 2146, 14.XII.2013.

O Vale do Riff -- My Alien Mojo

Another Day In Manila

domingo, dezembro 15, 2013

tempo de Natal

e de levar as crianças ao cinema.



quinta-feira, dezembro 12, 2013

quarta-feira, dezembro 11, 2013

BANHISTAS

Banhistas,
de Nadir Afonso (Chaves, 20.XII.1920 -- Cascais, 11.XII.2013)

terça-feira, dezembro 10, 2013

criador & criaturas

Rudolph Dirks e The Katzenjammer Kids
(Os Sobrinhos do Capitão)

imagem deste fantástico blogue
Com a minha idade, o meu pai já era um homem honrado
David Teles Pereira

segunda-feira, dezembro 09, 2013

bem escrito


«[Camus] Defendia a liberdade de consciência e a "boa-fé", convicções fatais para quem está em política, domínio dos dogmatismos e da má-fé organizada.»
Pedro Mexia, «Camus, a testemunha», Expresso / Actual #2145, 7.XII.2013.

domingo, dezembro 08, 2013

O Vale do Riff - Tito & Tarantula

After Dark

não estava preparado, mas adaptei-me

From Dusk Till Down ("Aberto até de Madrugada"), de Robert Rodriguez (1996). 
Quando o vi pela primeira vez, nem sabia quem diabo era o Robert Rodriguez. Pus-me, portanto, a ver um road movie com dois psicopatas (Tarantino mais que Clooney) em fuga, sequente e habitual sequestro de família, pai viúvo, pastor que perdeu a fé (deslumbrante Harvey Keitel) e casalinho adolescente (ela é Juliette Lewis). Tiros, pancadaria, esgares maníacos (Tarantino) e crueldade moderada (Clooney, esplêndido moderador...), quando, passada a fronteira, aguardam contacto num bar cheio de mulherio (inesquecível Salma Hayek). Só não estava à espera de zombies (Tarantino é o autor do argumento)... Mudado o registo, a adaptação é fácil, filme que se revê muito bem, um must  do género.

quinta-feira, dezembro 05, 2013

Nelson Mandela

Poucos homens na história da humanidade conseguiram, pela acção, tornar o mundo melhor. Nelson Mandela foi um desses raros.


terça-feira, dezembro 03, 2013

mansos, mas perigosos

Na excelente entrevista que deu ao Expresso, Rui Nunes disse que o impressionava "a mansidão" dos portugueses, acrescentando: "Este povo foge, não enfrenta."
Trata-se de uma meia verdade. Nem vale a pena irmos aos Lusitanos, esse beirões bárbaros, para lembrarmos como foi dura a conquista romana ("não se governam nem se deixam governar", não é?). Este país fez-se à estalada, e os quase nove séculos que leva de existência ininterrupta (a união filipina foi isso mesmo, a junção, e não a fusão de duas coroas), não permitem que nos possamos caracterizar como bons de assoar. É Manuel Alegre quem costuma dizer que a história dos brandos costumes é uma treta. Basta lembrarmo-nos da sangrenta guerra civil ou, anos antes, das invasões napoleónicas, em que francês capturado era francês grelhado ou crucificado como um cristo numa superfície de madeira mais à mão, até apodrecer; e também não foi com suavidade que sustentaram uma guerra colonial em três frentes durante treze anos; como não tinham sido gentis no Índico, uns séculos antes, passando a fio de espada populações autóctones ou pondo a tormento os comandantes de barcos inimigos, antes de os incendiarem e afundarem, com as tripulações lá dentro...
Os portugueses serão mansos, até se sentirem acossados. Nessa altura mostram a sua natureza de animais ferozes, gente que joga à bola com as cabeças decepadas dos inimigos, que amputa os seios às mulheres, que fabrica cristos de carne e osso.

P&R -- Rui Nunes

É quando a pátria está longe que ela nos remete para um sentimento de pertença?  Sim. É o sentimento de uma ligação ao um sítio, mas essa ligação é feita através da memória. Muitos dos portugueses que emigram fazem-no sempre a pensar em regressar. Mas depois não regressam. Vêm e vão-se embora. Se lhes perguntarmos se têm saudades da pátgria, eles respondem que sim, mas na verdade não têm. O que têm é saudades da existência de uma terra que foram recriando com o afastamento, mas que não é a terra real que os espera. Entrevista a Alexandra Carita, Expresso / Actual #2144, 30.XI.2013.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

fora-de-série, estes artistas da Google


2 DIAS EM PARIS, alleniano q.b.

De Julie Delpy (2007). 
Filmezinho de fim-de-semana, com olhar desabusado sobre os franceses e seus estereótipos, como talvez só uma francesa o pudesse fazer, bem. 
A cena da vernissage é hilariante. 
Dei 8/10 estrelas no imdb.





domingo, dezembro 01, 2013

bem escrito

«Quem na Igreja Católica esperava ar fresco sentiu que "A Alegria do Evangelho" lhe dizia respeito; quem no mundo se indigna com os predadores reconheceu o que quer dizer que "esta economia mata".» Francisco Louçã, «A cavalaria prussiana contra o Papa», Expresso / Economia #2144, 30.XI.2013 

bem escrito

«Não há poder financeiro global, existe apenas um sistema internacional da finança que tenta sobreviver. Há assim que lhe impor, igualmente, austeridade, para que todos possamos sair dela, a tempo.» João Caraça, «A globalização é uma treta», Expresso # 2144, 30.XI.2013 

bem escrito

«Um governo sem núcleo político é uma chuva de meteoros. Os ministros seguem mais ou menos na mesma órbita, mas cada um vai para seu lado.» Ricardo Costa, «Três coisas estranhas e uma sensata», Expresso #2144, 30.I.2013.

sábado, novembro 30, 2013

O meu LEFFest 2013 #21 -- «The Immigrant»

The Immigrant, de James Gray (EUA, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».
País de imigrantes, a identidade americana (as identidades americanas, de Norte a Sul) tem sempre esse lastro dramático de nostalgia e luta pela vida que marcou e continua a marcar a sua população não autóctone nem ex-escrava (porque nestes casos, o passado é ainda mais traumático). Gray, que no Estoril, evocou o seu avô russo, é grande, e conta-nos uma história -- dos muitos milhões de estórias de que as Américas continuam a fazer-se -- com mestria. E Marion Cotillard está sublime.

sexta-feira, novembro 29, 2013

O meu LEFFest 2013 #20 - «My Blueberry Nights»

My Blueberry Nights, de Wong Kar Way (Hong Kong / China e França, 2007). "Homenagem - Wong Kar-Wai". 
Deixei passar este nas salas, e agora não perdi a oportunidade de ver a adorável Norah Jones, que não me desapontou nada enquanto actriz. Filme circular, Lizzie (NJ), mais uma desiludida das relações amorosas, conhece outro solitário (Jeremy), imigrante que explora um pequeno restaurante em Nova Iorque; restaurante que, entre outras iguarias, oferece uma tarte de mirtilo que nunca ninguém quer, projecção do próprio Jeremy. Lizzie afasta-se de NI, vai curtir o desgosto on the road, primeiro Memphis, a trabalhar por sua vez também num restaurante, e depois num casino, em Las Vegas. O círculo fecha-se quando a peregrinação de Lizzie a reconduz a Nova Iorque, memória do sabor de uma tarte de mirtilo.



quinta-feira, novembro 28, 2013

O meu LEFFest 2013 #19 --«Història de la Meva Mort»

Història de la Meva Mort, de Albert Serra (Espanha e França, 2013). "Selecção oficial -- Fora de competição". Casanova meets Drácula. Notabilíssima interpretação de Vicenç Altaió i Morral, encarnando o Grande Libertino. Como li algures, o filme ilustra (ou pretende ilustrar) a passagem do racionalismo iluminista de Setecentos ao romantismo destemperado da centúria seguinte. Confesso que a minha coluna e o meu traseiro burgueses perderam, a meio do filme, a paciência com as abaixo de desconfortáveis cadeiras do Centro de Congresso do Estoril. Foi uma pena, porque esse desconforto já não me deixou fruir em condições a segunda parte, e, a certa altura, já não levava nada a sério, e via em Serra um autor de uma espécie de crossover do cinema de Oliveira com o de Coppola, e olhava para o Drácula como a figura do Lobo Mau, à espera de soprar à porta das 3 porquinhas... Malvadas cadeiras!


terça-feira, novembro 26, 2013

O meu LEFFest #18 -- «La Vie d'Adèle»

La Vie d'Adèle -- Chapitres 1&2, de Abdellatif Kechiche (França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».
Para ir directo ao assunto, não me comoveu. Não basta tratar-se de amor entre duas mulheres, com cenas de sexo explícito, para que o filme deixe de ser um tratado banal sobre as relações amorosas, histórias com princípio meio e fim. Posto isto, é um filme que merece ser visto (Adèle Exarchopoulos, actriz estupenda), mas de todos quanto vi neste Festival, que estiveram na calha para a Palma de Ouro (La Vénus à la Fourrure, Inside Llewyn Davis, Le Passé e The Immigrant), este seria o último a ficar com ela.
  

O meu LEEFFest #17 -- Fish & Cat


Fish & Cat, de Shahram Mokri (Irão, 2013). "Selecção oficial -- Em competição".
Mesmo sem ver uma boa porção dos outros filmes a concurso, achei que era um forte candidato ao principal prémio do Festival, tal o engenho e a mestria da equipa de Mokri. Somos confrontados, no início, com a notícia (verídica) de que numa província do Irão, num restaurante que entretanto encerrado, foram encontrados vestígios de carne humana, que teria sido servida... A partir daqui, a acção parte do exterior duma casa de pasto onde estão dois tipos mal encarados, e um grupo de jovens e tenros estudantes de Teerão que se concentram à beira de um lago, onde decorrerá um festival de papagaios de papel... Tudo é filmado num único take, com cerca de vinte personagens em cena, o que obrigará à repetição de cenas em diferentes perspectivas, com uma rigorosa marcação "de palco". A certa altura, corre-se o risco de deixarmos de prestar atenção ao plot para nos concentramos naquele maravilhoso deambular da câmara tecendo esta sugestiva tapeçaria persa. Certamente ciente desse risco, Mokri consegue manter-nos atentos com um progressivo acréscimo de tensão. É um filme espantoso, e fiquei bem contente por ter sido premiado. 

segunda-feira, novembro 25, 2013

Eanes

Militar do 25 de Abril (e do 25 de Novembro). Democrata, confiável à esquerda e à direita. Homem de cultura, que nunca se pôs em bicos de pés. Cidadão impoluto, que a generalidade do país admira.
Que mais é preciso num estadista?



P&R -- Amoz Oz

Define-se, aliás. como um peacenik e não como um pacifista. Qual é a diferença?  Para um pacifista, o pior mal é a guerra. Para mim, é a agressão. E a agressão, por vezes, tem de ser travada pela força. Uma tia minha que morreu há uns anos e foi sobrevivente do campo de Theresiendstat disse uma frase que nunca vou esquecer: "Nós fomos libertados não por manifestantes com cartazes mas por soldados com armas."
Entrevista a Luciana Leiderfarb, Expresso / Actual #2143, 23.XI.2013 

domingo, novembro 24, 2013

O meu LEFFest 2013 #16 -- «O Grande Mestre»


O Grande Mestre, de Wong Kar-Wai (China / Hong Kong, 2013). "Selecção oficial -- Fora de competição».
Se a imagem da filigrana não estivesse tão estafada, utilizava-a para falar do modo como W. Kar-Wai nos apresenta as cenas de combate kung-fu, virtuosismo puro; para não falar de tudo o resto: do argumento (a acção decorre em anos negros para a China: invasão japonesa e guerra civil), aos cenários, à fotografia e às actrizes, às actrizes...

Os CTT -- para não esquecer mais uma traição aos portugueses

Quando o governo anterior foi levado a negociar com a troika, na sequência do chumbo do PEC IV, previu-se o recurso a privatizações de activos do Estado português no valor de 5.000.000.000 € (cinco mil milhões euros). 
Até agora, o Estado encaixou mais de seis mil milhões, tornando dispensável a alienação dos Correios de Portugal, empresa lucrativa, fundamental para a coesão do território (como ainda há pouco era lembrado n'"O Eixo do Mal") e, como a RTP (Rádio e Televisão de Portugal) ou a TAP (Transportes Aéreos Portugueses) são instrumentos de soberania (tal como o era, por exemplo a REN, Rede Eléctrica Nacional).
Isto demonstra que este governo é atentatório da dignidade e da soberania nacionais. Recorde-se que o serviço de correios foi instituído em 1521 por D. Manuel I, e que pouquíssimos países no mundo conhecem uma originalidade destas (nos EUA, por exemplo, os correios são públicos).
O insuportável vice-primeiro-ministro disse estarmos à beira do 1.º de Dezembro (feriado, aliás, que foi ignominiosamente suprimido, por gente sem vergonha); a conclusão óbvia é a de que a direcção política do governo encarna o perfil do traidor Miguel de Vasconcelos. Como dizia Mário Soares, seria bom que eles se apeassem por si próprios, para não serem defenestrados, como sucedeu com o dito Vasconcelos colaboracionista.

sábado, novembro 23, 2013

O meu LEEFFest 2013 #15 -- «Fruitvale Station»

Fruitvale Station, de Ryan Coogler (Estados Unidos, 2013). "Selecção oficial -- Fora de competição".
As tensões raciais nos Estados Unidos não desapareceram com a eleição de Obama, como é óbvio. O filme traz-nos a história verídica, passada em 2009, do assassínio de Oscar Grant III pela polícia, na sequência de uma rixa no metro, entre negros e brancos. A Autoridade canaliza a sua acção repressiva apenas contra os negros, enquanto os brancos não são incomodados. Bom cinema.


O meu LEFFest 2013 #14 -- «Stop The Pounding Heart»

Stop The Pounding Heart, de Roberto Minervini (EUA, 2013). "Selecção oficial -- Em competição".
Mixed feelings a propósito deste documentário ficcionado. Uma família do Texas, cristã observante, leituras e exercícios diários sobre a Bíblia, que provocam uma inesperada empatia, apesar de todo aquele primitivismo que não se aguenta. Empatia provocada talvez pelo apelo da simplicidade, da vida familiar tanto quanto possível harmoniosa, que hoje é uma ficão para muita gente. Gostava de ter ouvido o realizador a propósito, e também sobre aquela rápida e intrigante sequência duma cruz em chamas, que imediatamente me remeteu para o Ku Klux Klan... De facto, é tudo muito branco, por aqueles lados... Por fim, há um amadorismo que, mesmo assumido, não deixa de fatigar.

O meu LEFFest 2013 #13 -- «Week-end»


Week-end, de Jean-Luc Godard (França, 1967). «Rupturas». 
Godard como Jacques Tati, negro.

quinta-feira, novembro 21, 2013

O meu LEFFest 2013 #12 -- «Wakolda»


Wakolda, de Lucía Puenzo (Argentina , França, Espanha, Noruega, 2013). «15 anos, 15 filmes -- Mostra de cinema iberoamericano».
Pelo que vi, Lucía Puenzo é uma realizadora de mão cheia (e é filha de peixe, como a sua contemporânea Sofia Coppola). A história (Lucía P. também assina o argumento) é esplêndida. Uma família feliz (ele é um artesão dedicado a manufacturar bonecas...) em trânsito para o fim do mundo patagónico, aonde ela tomará posse da herança da mãe, um fantástico albergue nos arredores duma cidadezinha dos confins, cruza-se, por maldade do acaso, num apeadeiro do deserto, com um alemão que (eles saberão depois; nós um pouco antes) não é mais nem menos que o foragido e tenebroso Josef Mengele, o anjo da morte nazi. Puenzo, ainda jovem, além de argumentista madura é uma realizadora seguríssima. Planos que tiram o melhor partido de cenários incríveis, magnificados por uma fotografia soberba. Um filme do caraças.


quarta-feira, novembro 20, 2013

O meu LEFFest 2013 #11 -- «O Passado»


Asghar Farhadi, O Passado (Itália e França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição» 
Farhadi é um mestre na exibição crua das relações humanas no mais recôndito das causas e motivações individuais; e a sua mestria resulta na forma como ele sabiamente doseia esse encadeamento relacional. Fortíssimo, na sua contenção, o último plano. O passado é um lugar de onde nunca se consegue sair.

terça-feira, novembro 19, 2013

O meu LEFFest 2013 #10 - «Alexandra»


Alexandra, de Aleksandr Sokurov (Rússia e França, 2007). «Homenagem -- Aleksandr Sokurov».
Na crónica que mantém na Revista  do Expresso de 9 de Novembro, o esplêndido José Tolentino Mendonça, cuja leitura nunca dispenso, escreveu que «Os avós são mestres de uma arte esplêndida e rara: a arte de ser». Neste filme de Sokurov, uma avó vai visitar o neto, um capitão a combater na Tchetchénia, ao acampamento das tropas russas estacionadas naquela província irredentista do Cáucaso. Se a guerra despersonaliza e bestifica, são as mulheres, as avós, que têm de reapresentar esses mancebos angustiados nessa tal arte de ser, de tornar a ser. Não apenas as mulheres e avós russas, mas também as mulheres e as avós tchetchenas, que no filme se encontram no afecto e com poucas palavras para a brutalidade da guerra.

Não me sairá da retina a cena do neto, capitão curtido pelos rigores do combate anti-subversivo, a entrançar o cabelo da avó, como menino que por instantes voltou a ser.

P&R -- Roman Polanski

Para si quem é a Vanda?  É uma mulher que sabe o que quer. Este filme é a história de um homem enrolado por uma mulher com a facilidade com que se enrola um charro. Eu queria fazer um filme para mulheres. E ter uma que diz as coisas certas, numa linguagem divertida, sem banalidades.
Entrevista a Francisco Ferreira, Expresso / Actual #2142, 16.XI.2013

segunda-feira, novembro 18, 2013

O meu LefFest 2013 #9 -- «Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo»

Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo, de Corneliu Porumboiu (Roménia, 2013). «Selecção oficial - Em competição». 
O envolvimento entre um realizador e a sua actriz é um excelente tema para se tratar. Aqui, foi pífio e soporífero.










O meu LEFFest #8 -- «We Own The Night»


We Own The Night [Nós Controlamos a Noite], James Gray (EUA, 2007). «Homenagem -- James Gray».
Grande cinema. O melhor Coppola e o melhor Scorsese estão aqui. Uma história comum de lealdade e homenagem filiais, exercidas pelo lado mais difícil. Tudo neste filme é bom e intenso, milimetricamente planeado para que fiquemos numa espécie de letargia na cadeira da sala de cinema, profundamente embebidos do que, no grande ecrã, se desenrola diante dos nossos olhos.

domingo, novembro 17, 2013

O m eu LEFFest #7 -- «Sacro Gra»


Sacro Gra, Gianfranco Rossi (Itália e França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».A maior autoestrada urbana italiana, que envolve Roma. No meio, milhões de vidas, das mais ricas às mais degradantes, das mais faustosas às que se remeteram à mais insignificante insignificância. É um excelente documentário, da mais pura reportagem. Intermináveis histórias de vida.

sábado, novembro 16, 2013

O meu LEFFest #6 - «Lições de Hamornia»


Emir Baigazin, Lições de Harmonia (Casaquistão, 2013). «Selecção oficial - Em competição» Filme despojado, como espartano é o cenário da aldeia da Ásia Central em que a acção decorre, brutal, da casa à prisão. A escola, um liceu comum como um similar da província portuguesa, poderia ser um lugar de normalidade, não fora a ocorrência de bullying e extorsão por parte de organizações juvenis já mafiosas, a que se alia uma brutalidade policial de arrepiar.

sexta-feira, novembro 15, 2013

quando a protestadeirice passa das marcas ou a histeria em torno da homenagem a João César Monteiro

Espero que muitos dos que assinaram esta carta-aberta imbecil não tenham lido o seu conteúdo. A razão que assistia aos familiares por ninguém lhes ter dado cavaco sobre a homenagem que o festival de cinema de Paulo Branco iria prestar a João César Monteiro (leitura de textos por diversas pessoas, entre as quais o ministro Poiares Maduro) -- essa razão desvaneceu-se com a idiotice dos termos utilizados no protesto.
Acresce que não devem invocar os protestatários o suposto "intuito subjacente de branquear, neutralizar, festivalar o furor interventivo, manifestamente Anti-Sistema [com maiúsculas e tudo, caralho!], do cineasta, assim posto à mercê de tais canibais homenageantes", porque quem histericamente leva o protesto para a questão política devia saber que quem invoca o nome de João César Monteiro não tem autoridade moral para a invocar, pois JCM só filmou porque um negregado político (democraticamente mandatado, note-se, embora para alguns protestateiros tal possa ser coisa de somenos) despachou favoravelmente os subsidiozinhos para que JCM estendeu a mão (não a dele, é claro, que a gente não se suja com essas coisas, mas a do pedinte então de serviço, um produtor...). Houve gente, antes e depois do 25 de Abril, que nunca aceitou subsídios do Estado. Tenho exemplos. Não assim JCM no Portugal democrático (não sei se o que fez durante a Ditadura mereceu espórtula estatal; quero crer que não) e, quanto a mim, muito bem; muito mal este destempero protestadeiramente grotesco e, além do mais ridículo: daqui a cinquenta anos, se alguém se lembrar de ler poemas de JCM num certame destes, ninguém se vai dar ao trabalho de atestar a santidade Anti-Sistémica (para usar também maiúsculas, foda-se!) do preclaro realizador.

quinta-feira, novembro 14, 2013

O meu LEFFest #5 -- «Only Lovers Left Alive»

Only Lovers Left Alive, de Jim Jarmusch (Reino Unido, Alemanha e França, 2013). "Selecção oficial - Fora de Competição".
Esteticamente interessante; Tilda Swinton e Tom Hiddleston, muito bem.
Argumento pretensioso e a dar-se ares (vampiros e Stephen Dedalus -- oh, a ironia insuportavelmente saloia!-- entre vários outros pedantismos by the book).
Não tenho pachorra.

segunda-feira, novembro 11, 2013

O meu LEFFest #4 -- «Tip Top»

Tip Top, de Serge Bozon (França, 2013). "Selecção oficial -- Em competição". Uma comédia policiária, um papelão de Isabelle Huppert, boa para desopilar, moderadamente. Apesar da leveza, a paisagem humana, magrebina e gendarmiana, poderá fazer-nos pensar sobre a involução política do hexágono.

O meu LEFFest #3 - «Jimmy P. -- Psycothérapie d'un Indien des Plaines»

Jimmy P.-- Psychotérapie d'un Indien des Plaines, de Arnaud Desplechin (França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».
Há cerca de uma década, escrevi um poema intitulado «3 Visões do Terror», em que falava de espectros e estilhaços, de mortos-vivos, a propósito do que entendia, e entendo, terem sido, os maiores crimes praticados contra a Humanidade.
Este filme conta-nos a história (verídica) do encontro entre Jimmy Picard (Benicio del Toro), um índio blackfoot, saído da reserva para o cenário francês da II Guerra Mundial, e no qual sofreu um acidente; e o antropólogo e psicanalista francês George Devereaux (Mathieu Amalric) -- aliás, o judeu romeno de etnia húngara naturalizado francês György Dobó. Numa nota apressada escrevi que se tratava do encontro entre dois homens carentes. Mas, na verdade, foi mais que isso: uma história que trata do laço que se cria entre dois portadores dum trauma psíquico ("dor na alma", diz Devereaux no filme), de dois homens estilhaçados por dentro. 

domingo, novembro 10, 2013

Emmanuelle Seigner

(e mais dois gajos)

O meu LEFFest 2013 #2

Inside Llewyn Davis, Joel & Ethan Coen (EUA/França, 2013). "Selecção oficial - Fora de competição". Nova Iorque, 1961. Um bom folk-singer que não consegue passar da mediocridade dos pequenos bares e das editoras farruscas. Porquê? Não sei, a música é fantástica. Talvez ausência de carisma... A verdade é que tudo lhe corre mal, das grandes aspirações às ocorrência mais prosaicas do dia-a-dia. Na noite em que definitivamente atira a toalha ao chão e a câmara o segue para a porta das traseiras, percebemos de soslaio que um jovem de guitarra nas mãos e harmónica presa à altura da boca, começa a cantar com uma voz fanhosa. De quem se trata, todos sabemos, e os Coen dispensam-nos de  referir-se ao óbvio. A voz fanhosa acompanha os créditos finais.

O meu LEFFest 2013 #1

Vénus de Vison, de Roman Polanski, França e Polónia, 2013 ("Selecção Oficial -- Fora de Competição"). 
A palavra é "virtuosismo", não há outra, para esta reincidência de Polanski pelo texto puramente dramatúrgico. Emmanuelle Seigner, sexualmente devastadora e Mathieu Amalric perfeito, apesar do perigo derrapagem para o caricatural. A música (de Alexandre Despalt), quase inexistente de início, vai ganhando intensidade, à medida que os papéis se trocam e desvelam, nesta comédia terminada em farsa.

sexta-feira, novembro 08, 2013

outros tons - Delfins

A Cor Azul

P&R - Gianfranco Rossi

Não é sensível ao facto de muita gente, sobretudo jovem, ver filmes em ecrãs pequenos, às vezes muito pequenos? Sei disso, mas não quero saber. Não faço filmes em formato de bolso.
Entrevista a Jorge Leitão Ramos, Expresso / Actual # 2140, 2.XI.2013.

P&R (pergunta e resposta) - Carlos do Carmo

A propósito, está a gostar do Papa Francisco? É bom de mais para ser verdade...
Entrevista a José Carlos de Vasconcelos e Manuel Halpern, JL #1124, 30.X.2013.

estampa CLXVI

Ar Livre (Banhistas em Moritzburg) (1910)
Museu Wilhelm Lehmbruck, Duisburgo

quinta-feira, novembro 07, 2013

quarta-feira, novembro 06, 2013

a mercantilização da violência

As imagens são mercadoria. Diante dos proventos que elas permitem arrecadar, nenhum "empreendedor" mediático recuará, se puder exibi-las com impunidade. Não há restrições éticas para este tipo de gente. Como não há para os pais-dos-amarais, de missinha dominical, que conspurcam as casas portuguesas com a mais besuntada vulgaridade.
Entre a casa dos segredos e latrinices televisivas afins e uma cena de decapitação ou apedrejamento há apenas uma diferença de grau, quer de inanidade de quem nelas refocila quer de deslealdade dos bandalhos que as difundem, com o único fim de engordarem o porta-moedas.
(A propósito deste post.)
Chorar não basta / pra dignificar / a tristeza.
Cassiano Ricardo

criador & criatura



terça-feira, novembro 05, 2013

segunda-feira, novembro 04, 2013

30 dias, 30 livros

Beatriz J A, blogger extraordinaire, deu-se ao trabalho de postar sobre 30 livros que a marcaram. E fê-lo com grande interesse e inteligência. Recomendo.

Fender vs. Gibson: Buddy Guy e Angus Young



sábado, novembro 02, 2013

O meu ateísmo simples acredita em milagres

Encarar como possibilidade a ocorrência primordial duma entidade que paira sobre nós, operosa, intervindo nas nossas vidas, dotada de vontade, e à qual nós devemos a ventura da existência, eis algo que para mim não só é inconcebível, como resulta da tão humana fragilidade carente de sentido e de amparo. 
O grande milagre é termos chegado aqui, sem sabermos ler nem escrever, à real mas não menos presunçosa condição de sapiens, fruto de acasos que se combinaram, desenvolveram e evoluíram necessariamente, até tomarmos consciência de nós: em relação ao universo, primeiro; do nosso próprio mundo interior enquanto indivíduos, depois.
Que esta minha verificação não exclua uma dimensão metafísica, mas não sobrenatural, é uma evidência que seria dispensável enunciar.

(a propósito de um debate, ontem, no Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro)

3.ª epígrafe de A SELVA, de Ferreira de Castro

«Realmente, a Amazónia é a última página, ainda a escrever-se, do Génesis».

quarta-feira, outubro 30, 2013

Majora

O que eu gozei com os jogos de tabuleiro da Majora!; e como continuei e continuo a gozá-los com os meus filhos...: «Corrida de Automóveis» e «O Tesouro dos Corsários» foram os que sobreviveram desse tempo. Os livros de pano, perdi-os todos (nem parece meu...) Comprei para a minha filha mais velha um sucedâneo, em vez do pano, papel plastificado e lavável, mas não é a mesma coisa... O Correio da Manhã vai oferecer alguns, nos próximos fins-de-semana. A marca está suspensa, à espera de melhores dias, ou novas armas para enfrentar o digital. Bolas.


terça-feira, outubro 29, 2013

segunda-feira, outubro 28, 2013

Europa: já estivemos mais perto, e mais longe também

Em entrevista ao Expresso, o lucidíssimo Claudio Magris declarou ansiar por uma Europa verdadeiramente federal, como um estado, necessariamente descentralizado: para ele, "a Itália e Portugal [deveriam ser encaradas como hoje o são] a Lombardia e o Alentejo", sonha ele, e eu também, porque sabe que o nacionalismo é a guerra, como diria o Mitterand.
À vista de todos, esse sonho desfaz-se pela prevalência dos egoísmos nacionais e pelo laxismo e mediocridade das lideranças.
Estou pessimista quanto ao futuro desta União; creio que ela terá de ser religitimada (imprescindível, no caso português) por via referendária; e, naturalmente, terá de ser institucionalmente diferente desta, com sistema bicameral, por exemplo). Neste momento, isso é uma miragem. Estamos todos presos ao Euro, e só por milagre (um milagre do Santo SPD, em que não creio) poderia reverter esta hegemonia alemã & outras situações indecorosas, como essa de a Holanda nos sabotar alegremente com a sua favorável taxa de irc, para compunção dos patriotas do psi20.
E estou pessimista porque, mais cedo do que tarde, a extrema-direita, obtusa, nacionalista e xenófoba tomará o poder em França (que será sempre coisa diferente, se tal sucedesse num país pequeno, como ocorreu na Áustria). É claro que uma coisa é o que eles dizem agora, e outra é o que farão. Mas, nessa circunstância, a moeda única estará condenada, ab initio. Depois, até à guerra, será só deixar correr a loucura dos homens.

rondas da noite & do dia




http://umredondovocabulo.wordpress.com/2013/10/25/desmantelamento-de-um-pais/

http://cupetinte.blogspot.pt/2013/10/blog-post_24.html