terça-feira, maio 01, 2007

Camarim

Só te reconheces ao espelho quando te olhas nos olhos. Encaras então a fraude em que te tornaste. Gostas de agradar. É para isso que tens opiniões. Não porque se ajustem ao que pensas, mas para subires no conceito deste e daquele. És agora tudo o que outrora repudiaste. A descrição que de ti fazem não te assenta como uma luva. Estás perigosamente postiço, por carência, por preguiça, por perversidade. Por isso não é bom o que o reflexo te devolve. Sabe-lo. Podes estar ressentido com a existência que te coube, mas não és estúpido. Olhas-te nos olhos do espelho. É lá que a verdade está. A que os outros não vêem. A que já te fugiu.