quarta-feira, agosto 31, 2016

Brasil: o cómico da situação


Nunca vira turistas brasileiros antes dos governos de Lula e Dilma. Antes disso, via-se brasileiros que eram portugueses que viviam desafogadamente, o que lhes permitia visitarem a família, ou então lusodescendentes. Havia sim, e (há), imigrantes, gente que fazia o caminho para cá, vindos de todo o Brasil, do nordeste ao sul, gente humilde, fugida à pobreza, a violência. Turistas brasileiros, aos magotes, em excursão,só há poucos anos.
Quando Lula foi eleito pela primeira vez, disse que o seu mandato valeria a pena se conseguisse que todos os brasileiros (todos), pudessem usufruir de pelo menos uma refeição por dia. Assim era,e ainda é, o Brasil, um dos países mais ricos do mundo e também dos mais miseráveis, porque é iníquo: um país que tem uma pequena elite plutocrática quando uma porção enorme do povo é extremamente pobre. Os responsáveis por essa iniquidade tiveram hoje uma vitória, regressam ao poder, fazendo tábua rasa do voto do povo. E quem deita fora os votos dos eleitores? Os seus representantes, que, à direita, são um conglomerado de caciques, pastores evangélicos, vigaristas de várias procedências. Portanto, golpistas; portanto, traidores, E, além disso, o cómico da situação, muitos deles, ao contrário da Dilma, delinquentes de ficha suja, como as criaturas acima retratadas. (Com que cara vai o Temer apresentar-se ao Obama, aos líderes europeus, nas Nações Unidas. Com a cara de pau que tem, Esperemos que alguém lha cubra, com creme. Aí o espectáculo ficaria completo.)




50 discos: 38 - PERMANENT WAVES (1980) - #3 «Jacob's Ladder»


domingo, agosto 28, 2016

'burquíni': viva a liberdade!

Quando leio que a decisão que anula a proibição do 'burquíni' é "pequena vitória para a liberdade das mulheres", estamos conversados. 
O júbilo (a cegueira) explica-se por essa "pequena vitória" ser vista como derrota do "imperialismo cultural europeu". Ora, não negando que existe um imperialismo cultural europeu, ocidental e até cristão (como existe um imperialismo cultural saudita, por exemplo...), a última coisa que os anti-imperialistas de sofá deveriam sancionar seria a opressão, neste caso da mulher.
As mulheres muçulmanas que arduamente durante décadas conseguiram ver-se livres da opressão nas sociedades que tiveram à proa movimentos laicos -- os países do Magrebe, o Egipto, a Síria, o Líbano, o Iraque, a Jordânia, são, para estes simplórios, vítimas desse imperialismo cultural; onde elas são mesmo livres é na Arábia Saudita, e nos países do Golfo. 
Como não se acredita que estes defensores da liberdade da mulher não saibam que não sua maioria, elas são obrigadas a cobrir-se (entre muitas outras restrições atentatórias da sua dignidade) , aqui, sim, teria cabimento a observação de Fernanda Câncio:  " Às tantas é porque não é, nunca foi e nunca será com as mulheres e a sua opressão que estamos ralados, verdade?"

canções portuguesas #2 «Adeus Tristeza» (Fernando Tordo, 1983)



música e letra: Fernando Tordo

sábado, agosto 27, 2016

44

fotografias de animais de estimação com os seus amigos humanos,
para ver aqui

 
 

canções portuguesas - #1 «À Beira do Fim» (Tantra, 1977)



música & letra: Manuel Cardoso

sexta-feira, agosto 26, 2016

últimas do burquíni: agora eram os ciganos


Fernanda Câncio, jornalista e cronista que considero enquanto seu leitor, na crónica de hoje no Diário de Notícias, é bem o exemplo do beco sem saída em que se meteram aqueles que não tomam posição, a não ser em termos muito vagos e com coisas como esta: «Que o livre-arbítrio das mulheres vença o fundamentalismo dos homens proibicionistas e obrigacionistas»... Por detrás de frases de efeito duvidoso, o vazio absoluto dos chavões.

Mas, voltando a Câncio: agora são as mulheres ciganas, cujo lugar na família tradicional roma está longe de ser invejável, Como muitos dos que são contra o tratamento a que são sujeitos uma parte das muçulmanas na Europa, nunca manifestaram preocupação pela outras, tal significará, neste raciocínio cabriolante, que lá no fundo não deve ser bem a situação da mulher que move uns quantos. É extraordinário. Como se quem se preocupasse com os direitos cívicos dos negros americanos no fundo tivesse, consciente ou inconscientemente, outra motivação, por não reparar que ao lado existe uma reserva de índios...

Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Mas o que interessa é misturar, confundir. Acresce que nunca vi bandos de ciganos agressivos a meterem-se com casais namorados, por comportamento indecente, escorraçarem prostitutas das ruas, já nem por comportamento, mas porque não podem apedrejá-las, agredirem um médico que no hospital se atreve a dirigir-se e tocar numa paciente islâmica acompanhada pelo marido -- mesmo que a paciente esteja a parir, mesmo que ele seja o único médico de serviço no banco. Tudo isto e muito mais, e muito pior se passa em inúmeras cidades europeias. Mas não há uma reacção, um basta. Ou quando há, aqui del«rei que é islamófobo, ou coisa pior.

Câncio pode sugerir e insinuar que há outra coisa que não a defesa dos direitos das mulheres nesta reacção: provavelmente racismo, intolerância etc. E obviamente que também o há. Mas eu também posso admitir que a decisão do Supremo francês, entretanto tomada, suspendendo a proibição do 'burkíni', a coberto de uma esdrúxula concepção de liberdade e direitos humanos, tenha sido motivada pela prudência ou, mais cruamente, pelo medo do acirrar dos ódios, portanto pelo pavor da reacção do fundamentalismo islâmico -- como se lê tão bem, apesar dos sublinhados outros, na última frase deste post de Vital Moreira.

De cedência em cedência até ao mais do que expectável desenlace, que não será, obviamente o triunfo do islamismo em França, à Houellebecq, mas da tomada do poder pela extrema-direita, como de há muito venho dizendo -- para além das vindictas irracionais de ambos os lados, com muito sangue e sofrimento inocente, Entre a cobardia, a alucinação idiota e o racismo bestial, cristão ou muçulmano, ainda só estamos no princípio da história.


50 discos: 46: SYMPHONIEN NOS. 5 & 6 «PASTORALE» (Beethoven) #2 «Allegro»


quinta-feira, agosto 25, 2016

'Burquíni': parvoiçadas

A inversão de valores, a cobardia  de quem opina no espaço público com receio de ir contra o estabelecido, recorrendo a notória desonestidade intelectual, a simples ignorância, de tudo tenho lido e ouvido a propósito do chamado 'burquíni'.

parvoiçada 1: o próprio nome das coisa: o vazio da coisa, reproduzido gulosamente pelo jornalismo trendy e analfabeto.

p. 2: dizer que se trata de uma manifestação religiosa:

2.1. - não trata. Tanto quanto julgo saber, nada há no Corão que imponha que uma mulher cubra a cabeça: nem o tchador, muito menos o niqab ou a burka. É uma mera manifestação cultural que secundariza a mulher.

2,2, - ainda que o fosse, as sociedades laicas devem combater e impedir tudo que seja abusivo, quer para os indivíduos, quer no espaço público. Se turistas bororós quiserem comer ritualmente alguém da sua nação, não o devemos permitir porque é cultural e religioso. Sarkozy fez muito bem em impedir que o pessoal ocupasse os passeios quando tinham de orar para Meca. Orem nas mesquitas, e não chateiem. E para não se dizer que sou islamofóbico (apodo facilmente demagógico e preguiçoso); quem me conhece, sabe que vocifero contra o abuso da igreja católica, no Norte do país, que impinge gravações sineiras do A 13 de Maio na Cova da Iria -- uma intromissão abusiva no meu sossego. Portanto: islamofóbico? Bardamerda.

2.3. Falando em demagogia barata: comparar a obrigação de cobrir a cabeça com a mera ostentação de um fio com um crucifixo é completamente desonesto.

3. A estupidez sem nome de dizer que se trata da liberdade de cada um vestir o que quiser. É claro que não trata, mas de uma imposição do 'chefe de família' Exceptuando alguns casos de mulheres, normalmente instruídas e articuladas, para o qual o hábito é um statement político ou as pobres mulheres que julgam que tem mesmo de ser assim, as muçulmanas usam-no por pressão social ou imposição familiar.

4. O delírio da demagogia, que vem sendo repetido: a de as nossas avós (pelo menos as avós populares) usarem uma coisa parecida. Rico exemplo. Era no tempo em que a mulher era uma cidadã de segunda, não lhe sendo permitido votar, nem deslocar-se ao estrangeiro sem a permissão do marido, entre outras coisas tão naturais e culturais.

5. quando não há mais argumentos, fala-se na reacção xenófoba de franceses nas praias ou, admito, de  insensibilidade da polícia. Pois, só que a questão não é essa. Que os franceses (generalização abusiva minha...) são racistas, xenófobos, etc., sabem-no os emigrantes, como o souberam os judeus que Vichy mandou deportar sem que a Alemanha nazi o exigisse (a Itália fascista ou a Hungria de Horthy, não o fizeram).

Sobre este assunto, para além das próprias, que infeliz e generalizadamente, não têm liberdade para se manifestarem e decidir, só me importa a opinião das feministas. Se aparecer alguma a defender a coisa, prometo analisar os argumentos.


sábado, agosto 13, 2016

VIVA O POVO BRASILEIRO!

Os Jogos Olímpicos estão a ser um grande sucesso, sob todos os pontos de vista. Uma vitória para os brasileiros, os seus gestores, operários, engenheiros, desportistas e para o público, que tem vibrado com as provas. O Brasil e todos os seus amigos bem precisavam disso, após a sua classe política, ainda há pouco, ter arrastado o nome e a imagem do país pela lama, com a tentativa de destituição da legítima Presidente da República, farsa que vai prosseguir, depois dos Jogos. Jogos, cuja única nódoa foi a de terem sido inaugurados por um golpista. Viva, pois, o povo brasileiro, merecedor de muito melhor do que a camarilha corrupta que, ao longo dos tempos o tem governado.

sexta-feira, agosto 12, 2016

A Pide antes da Pide

Esplêndida série documental de Jacinto Godinho, «A Pide antes da Pide», a passar na RTP3. Bem batidos os arquivos da televisão, pesquisa indispensável, pois quase toda a gente já morreu, Serviço público a sério.


segunda-feira, agosto 08, 2016

a Incrível Almadense


Telma Monteiro, medalha de bronze nas Olimpíadas do Rio de Janeiro
(e, já agora, SLBêêê!...)

uma carta de D. Carlos I

Deve ter feito algum furor, em 1924, quando João Franco, um dos homens políticos mais odiados da História do Portugal contemporâneo, resolveu publicar e comentar as cartas que D. Carlos lhe enviara, desde o convite para formar gabinete, pelo impasse criado pelos partidos tradicionais, fautores do fim da monarquia portuguesa, que em breve eclodiria. Independentemente das intenções e autojustificações, o que interessa é o conjunto de cartas que revelam um rei que pouco tem que ver com o boneco, entre o pândego e torpe, que o republicanismo panfletário dele quis fazer.

quinta-feira, agosto 04, 2016

uma nódoa no Governo

É inadmissível, eticamente reprovável e de um mau gosto completamente saloio governantes deslocarem-se a um jogo de futebol da Selecção Nacional, pagos por empresas. É vergonhoso e miserável. Quem o fez, não merece politicamente nenhum respeito.

Este caso repugna-me. Outro caso, enjoa-me: o da sonsice dos seiscentos euros pagos do bolso de Marcelo, para custear a viagem ao mesmo Euro num avião da FAP. Um Presidente da República quando se desloca para assistir um jogo de qualquer selecção nacional, fá-lo em representação do país, por isso a Força Aérea lhe devolveu o cheque. Dispensava-se a marcelice, e apreciava-se alguma fibra na no enfrentar da opinião publicada em facebooks e escumalha afim.

terça-feira, agosto 02, 2016

Cory Henry

Tecla amiga fez-me-ze-o chegá-lo.


o criador no seu labirinto


Centrado num´período crítico, pessoal e artístico de Miles Davis, com alguns flashbacks inevitáveis, Miles Ahead, não é, felizmente, um biopic banal, antes um exercício sobre o criador no seu labirinto. Don Cheadle, também realizador, é um formidável Miles.