quinta-feira, junho 30, 2022

«Wading In Waist-High Water»

«Leitor de BD»

 


Chicão, de Ângela Cardinhos

quarta-feira, junho 29, 2022

«Twelve String Mile»

já que os curdos não interessam a ninguém (ucranianas CVII)

Por mim os russos podem começar a tomar Kiev, isto, claro, se entretanto conseguirem arranjar guito no crowdfunding para as botas, e se a China continuar a emprestar-lhes armas, como fazem desde a segunda semana de guerra (informação fidedigna dos serviços secretos britânicos, que os pobres dos pivôs transmitem).

Não interessam os curdos (só para lutarem por nós, contra o Estado Islâmico), nem sarauís ou catalães. Continuam a orgulhar-me tanto, os nossos valores.

E o que é mesmo giro, é andarmos todos a toque de caixa dos próceres daquela sociedade de merda, em que tudo é mercadoria, tudo tem um preço, das mães às filhas, em decomposição e fragmentação.

Pensando bem, porque raio iriam os russos deixar Kiev aos americanos? 

Entretanto, Putin responde ao Macron que antes prefere ir jogar hóquei no gelo que reunir-se com a França e os EUA (a sério, a França? -- este complexo de Luís XIV nunca mais lhes passa), para discutir a paz. Soube-se também pelos serviços secretos britânicos, que o Putin conseguiu uns patins via crowdfunding. Se não disseram na televisão, foi porque não calhou.

ucranianas

terça-feira, junho 28, 2022

«The Soul Searchers»

os tipos que querem instalar-se com armas e bagagens a uma dúzia de minutos estratégicos de Moscovo, consideram esta uma ameaça -- ou a lata dos patifórios (ucranianas CVI)

 Os aldrabões dos americanos, inconcebíveis, contumazes e relapsos -- como dizia o tribunal da Santa Inquisição --, fazem o que querem da Europa, e os  governos do Ocidente, no papel de estúpidos mansos. E estes podengos, os stoltembergues, os borises, as úrsulas, os borréis...

A Rússia ameaça, dizem os americanos, que se instalam à porta e minam por dentro. A lata destes gajos. 

E depois da Rússia, a China. É um modo de vida destes patifes. Algo me diz que eles não vão ganhar; algo me diz também que o risco de perdermos todos aumentou. (A conversa Chamberlain-Daladier é propalada para analfabetos, por vigaristas que fazem o jogo dos americanos.)

ucranianas

segunda-feira, junho 27, 2022

domingo, junho 26, 2022

quinta-feira, junho 23, 2022

«Contact»

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 «--" [...] Basta cair a cerração e já se põem tontos, a urrar de medo pela boca das sereias, que é mesmo um cortar a alma á gente. Porque então nem farol nem caracol. É a cegueira. Navegam com a Morte no leme. [...]"»

Monteiro Lobato, «Os faroleiros», Urupês (1919)

«A Felicidade»

quarta-feira, junho 22, 2022

terça-feira, junho 21, 2022

«Walking With The Wolf»

querem tanto a guerra nos países dos outros, não sendo eles a morrer (ucranianas CV)

1. Neste momento, não dou nada pela Ucrânia. O Donbass é russo; o sul russo é. Veremos se os russos lhe deixam Kiev. Acredito que só se não puderem. Ter ali à porta os animais do Pentágono deve-lhes causar bastante comichão. E tratando-se daquelas hienas, têm toda a justificação, e também a minha simpatia quando os enxotam.

 2. A ideia transmitida pelas várias reportagens, que nas áreas da Ucrânia em guerra ficaram os pobres, os velhos e os agricultores, para quem fugir equivale a suicídio, aumenta com a percepção de certo tipo de regugiados que por aqui vejo, não sei se por viver e trabalhar em zonas privilegiadas ou turísticas. Este fim de semana no Guincho, com excepção de um carro familiar de classe média (não me lembro da marca, Opel? Toyota?...) que estava bastante sujo da poeira do deserto que se abateu por aqui, passam-me, com matrícula UA, um Porshe Cayenne, e um Ford Mustang descapotável; a estacionar à porta de casa, passa um Jaguar tipo suv, e outro cuja marca não consegui ver. Perto do meu local de trabalho, um Tesla, e depois um Range Rover, modelo actual. Em tempo: Soube também de um Bentley no Guincho; certamente de um oligarca. Bem sei que é uma amostra, mas são sempre os pobres e os mais fracos que suportam as guerras desta canalha. 

3. Por falar em canalhas, o rafeiro do Boris Johnson, visita Kiev de surpresa, mandados pelo dono americano, menos de 24 horas depois da troika europeia. Todos percebemos do que se trata.

4. Por falar em rafeiros, e para não haver confusões: tão rafeiro é o Boris Johnson dos americanos, como o Lukashenko o é dos russos, com a diferença de que este está do lado, não direi certo, mas menos errado.

5. Um pouco de poker: a Lituânia a fechar a fronteira com o enclave de Kaliningrado; o novo cemgfa inglês a avisar que a tropa deve habituar-se à ideia de voltar a combater no continente.

6. Um palhaço chamado Fareed Zakaria, ou comunicação de vendidos para analfabetos. Fica para outro post.

ucranianas

segunda-feira, junho 20, 2022

Ó Laurinda, linda linda»

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 «Chega lá de cima, do céu da primeira, uma rajada de jazz. Os viajantes olham a cena da amurada e riem-se. As bagagens empilham-se desordenadamente no rebocador, que dança nas ondas. as mulheres gritam de susto, as crianças choram. Mas vale a pena arriscar a vida para sair do seio deste monstro, onde uns viajam e outros são viajados.»

José Rodrigues Miguéis, «Gente da terceira classe», Gente da Terceira Classe (1962)

domingo, junho 19, 2022

playlist: «The Summer the Sky Cried For Rain»

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 «Respirava-se um ar vivaz que nos poros mais fechados entrava, descarado, à procura de infiltrações para uma dilatação alegre. Defronte, a serra de Arga desdobrava-se em matizes que deixavam ver lugarejos a deitar pelas frinchas de telhados com remendos e, raro em raro, navegava um barquito de viagem a Ponte de Lima e aos Arcos, ajoujados de pipas, de sacos de batatas, caixotes de sabão em barra ed vassouras empalhadas.» Ruben A. (1920-1975), A Torre da Barbela (1964)

sexta-feira, junho 17, 2022

playlist: «Say You Love Me Too»

Assange

A entrega de Julian Assange à "justiça" americana, Nada para estranhar, vindo de um governo chefiado por um bandalho.

playlist: «Nan Fon Bwa»

quinta-feira, junho 16, 2022

mais 1.000.000.000 de dólares, para ajudar a Ucrânia -- a ser dizimada, é claro (ucranianas CIV)

 Ainda a guerra não começara, já eu escrevia aqui que os Estados Unidos apoiariam a Ucrânia até ao último ucraniano.

Enquanto não nos chegam os verdadeiros desenvolvimentos da troika Draghi-Macron-Scholz, nem afinal o que fará Erdogan, fica aqui sinalizada a benemerência americana de mais mil milhões de dólares a juntar aos vinte e tal mil milhões já despendidos.

Tal como a maioria do povo, eu fico comovido com a solidariedade praticada por aquela nobre nação, em prol dos direitos humanos e da democracy: Clinton, Bush, Biden, mas também Cheney, Rumsfeld. Ah, que nomes, novos Ghandis, novos Mandelas, É de levar a mão ao coração e verter todas as lágrimas que a comoção exija.

Eu até proporia homenagens públicas: porque não uma Praça Joe Biden nesta Lisboa que adoramos, ou uma praceta para a Kamala?... Toca a salpicar as artérias do país com o nome destes homens com H grande. E mulheres também. Agora que finalmente se lembraram de homenagear o Gago Coutinho, dando o nome ao aeroporto de Faro, proponho que avancemos no estreitamento de laços atlânticos, baptizando o próximo que servirá Lisboa com a graça de Hillary Clinton -- desde que venha a ser construído na Porcalhota. 

ucranianas

1 disco, 1 faixa: NORMAN GRANZ JAM SESSION (1952) - #2. «Ballad Medley»

quarta-feira, junho 15, 2022

os idiotas inúteis e a Guerra da Ucrânia (ucranianas CIII)

 No que respeita a plumitivos & outros opinantes sobre a Guerra da Ucrânia, entre a Rússia e os Estados Unidos, há, em ambos os lados, dois tipos de de comentadores: os honestos e os vigaristas, ou seja, os decentes e os vigaristas-estúpidos-vendidos (riscar o que não interessa).

Tenho lido e ouvido indivíduos decentíssimos que estão declaradamente contra a acção da Rússia, que, portanto, tomaram partido. Tenho falado deles aqui, e os primeiros que sempre me vêm à cabeça são o coronel Mendes Dias e o jornalista Miguel Szimansky. Analisam os fatcos de acordo com os elementos que têm, sem procurar enganar quem os lê ou ouve. E isso é inestimável. Todos temos direito à nossa opinião, quanto mais fundamentada, mais credível.

Depois, há, entre outros, os idiotas inúteis em que estou sempre a tropeçar. Passei os olhos hoje pela coluna dum cretino, cuja preocupação é afastar qualquer sombra da NATO sobre o conflito e remeter a origem da guerra para as aspirações imperiais de Putin (incluindo um próximo ataques aos países bálticos -- membros da benemérita organização, recorda-se) como se, há meia dúzia de meses ele tivesse acordado e resolvido ser o novo Pedro o Grande. A facilidade da associação é tão primária que envergonharia qualquer escrevente da imprensa regional. 

Já agora, actualizo a minha percepção: chegados a este ponto, com o revés porventura inesperado da renúncia à neutralidade por parte da Suécia e da Finlândia, não só o destino da Ucrânia está traçado -- ou seja: pode dizer adeus ao Donbass e às cidades do Mar Negro (veremos como será Odessa), como Kiev está de novo em cima da mesa, mesmo que não para já. Portanto, a Ucrânia que foi criada pela União Soviética desapareceu; o que dela restar, seja a capital Kiev (o que sucederá apenas como uma espécie de protectorado), ou Lviv.

Bem podem os cadelos do Pentágono, como aqueles inacreditáveis líderes da UE virem ladrar. Alguém que explique à Úrsula que ela não é primeira-ministra da UE e nos poupe àqueles complexos de alemã. Quanto à nulidade catalã, o Borrell, desaparecido, alguém já deve ter feito perceber que ele não risca nada.

A propósito do meu putinismo, arranhei um poemeto (aqui), a propósito dos massacres na Tchetchénia. Só para reafirmar o meu acordo com o direitos dos povos à autodeterminação (tchetchenos, ucranianos, catalães..., etc.). O que não implica que se disponham a ser joguetes de patifes, v.g., essa escumalha que manda na administração americana, e a quem nós aqui, no extremo ocidente não podemos contrariar. 

Quanto ao resto, mais uma vez e sempre: eu dou graças ao Senhor Jesus, e a todos os anjos e santos, por haver uma Rússia a pôr os americanos -- essa corja -- no lugar

  

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 «Fazem-se revoluções e desencadeiam-se guerras, a rir, a rir, de dentes à mostra...»  

Fidelino de Figueiredo (1886-1967),  «O gosto de coleccionar», Um Coleccionador de Angústias (1951)

terça-feira, junho 14, 2022

playlist: «Melancholy»

 «Canta o caminhante ledo / no caminho trabalhoso, / por antr'o espesso arvoredo; / e, de noite, o temeroso / cantando, refreia o medo. / Canta o preso docemente / os duros grilhões tocando; / canta o segador contente; / e o trabalhador, cantando, / o trabalho menos sente.» 

Luís de Camões, Sôbolos rios que vão

«Leitor de BD»


Manu Larcenet, O Combate Quotidiano

 aqui

domingo, junho 12, 2022

sexta-feira, junho 10, 2022

playlist: «Mr. Tambourine Man»

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 «A Maria Rita era uma morena de truz, perigosa como o demo. O tolo do Gerebita derreou-se de amores pela bisca e lá casou. E vai ela, a songuinha, mal o homem saía no Purús, metia em casa ao Cabrea. E nesse jogo viveram até que um dia fugiram juntos para outras terras. O pobre Gerebita se não acabou de paixão é que é teso. Mas entrou para o farol, o que é também um modo de morrer p'r'o mundo.»  

Monteiro Lobato, «Os faroleiros», Urupês (1919)

playlist: «Diamonds and Rust»

quinta-feira, junho 09, 2022

pintora de intervenção: Paula Rego, à luz de Álvaro Cunhal, Ferreira de Castro e José Régio, passando pela ministra inexistente e o cabelo comprido de Santana Lopes

 

O título é só para chatear, porque eu até sou bastante regiano, tendência castriana. No entanto, a Paula Rego (o artigo atribui-se aos que nos são socialmente íntimos) usou, e muito bem, a arte para denunciar. E a arte pode e deve expressar tudo, incluindo a revolta e a denúncia.

O jovem Cunhal (23 anos, salvo erro), plekhanoviano, defendia que a arte devia servir os movimentos ascendentes da humanidade, rechaçando o solipsismo reiterado e alienado. Era bem intencionado, além de jovem (em velho, achava a mesma coisa). O problema é que o poder, onde se acoita a maioria dos filhos-da-puta, tem sempre os seus jdanovs, os seus puxa-sacos (como tão bem dizem os brasileiros), os seus lambe-cus (menos elegante a nossa expressão). E então vieram os ditames, com os seus comissários políticos, os seus burocratas, toda a ralé. As boas intenções de Cunhal tornadas pesadelo. Régio, mais velho (doze anos), mais maduro, mais genial -- José Régio está entre a meia dúzia dos maiores nomes da literatura e cultura portuguesas do século XX --, rebatia em favor da liberdade do artista para escrever o que quisesse, como quisesse, sobre o que quisesse. Na polémica (séria, mas correctíssima e diria até amistosa) com Cunhal na Seara Nova, dá o nome do Ferreira de Castro como um exemplo de alguém que escrevia uma literatura de intenções sociais.  (Para Ferreira de Castro, a arte não servia; a arte era servida; e servi-la era também dotá-la de desígnio.) É claro que tanto Régio como Cunhal estão a falar de arte, não de propaganda; no entanto, Régio outra vez, sabia perfeitamente que a arte pode revestir-se de propaganda e que uma não exclui forçosamente a outra. Di-lo na presença, a propósito de "A Revolução de Maio", do António Lopes Ribeiro, e com toda a razão: Riefenstahl, não é? Ou Eisenstein... 

Sobre a pintura da Paula Rego, não direi nada. Há coisas de que gosto, outras nem tanto. É um dos grandes pintores portugueses do seu tempo? É sem dúvida dos mais marcantes. Estará na primeira linha?, provavelmente, mas o tempo o dirá; e não é a circunstância que sempre impressiona os basbaques de ser "reconhecida internacionalmente" -- continuamos uns provincianos -- que lhe garantirá maior ou menos relevância.

Achava imensa piada à forma como ela trocava as voltas ao circo político-mediático que a parasitava. Ontem vi por diversas vezes aquela inexistência que foi a última ministra da cultura a condecorá-la (já que não se serve para nada, assina-se obituários, ou condecora-se); e num acto bastante performativo, Paula Rego abria muito a boca, como que espantada, simulando desvanecimento, percebendo e gozando como a forma como estava a ser usada para outros se promoverem. Um grande momento, e não me lembro de outro assim, desde que Santana Lopes, nomeado sec-de estado da cultura de Cavaco, deixou crescer o cabelo para a função. 

"Leitor de BD"


Apolo, por Luc Ferry, Clotilde Bruneau e Luca Erbatti

aqui

quarta-feira, junho 08, 2022

playlist: «Blank Generation»

turista (quase) passada a ferro - ode aos javardos da minha terra

A turista passeava francófona no meio da rua com trânsito. Sexagenária avançada, jeans e coiro curto, talvez madeixas. Na curva em frente, um audi indígena, parecendo um tudo nada mais rápido do que devia.  Um tudo nada, porém. O motor cavalar, quiçá em escape livre, parecendo evoluir mais velozmente na córnea transeunte. Fora do passeio, a turista gestualiza, mandando o indígena abrandar. E este guina-lhe para cima, pondo a criatura a falar sozinha com o ameaço. Vinte metros atrás, o companheiro murmura um abruti, enquanto rapa do cone o gelado. "Que pena", terá pensado.

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 «Ah, destes tristes diplomados na escola da miséria e da humildade, que haverá a esperar? a revolta cega e desvairada? a submissão abjecta? Como fazer a Cidade com tal arremedo de Cidadãos?»  

José Rodrigues Miguéis, «Gente da terceira classe», Gente da Terceira Classe (1962)

terça-feira, junho 07, 2022

playlist: «Wassorai Asho Mada»

o Vladimir Putin da RTP 3 (ucranianas CII)

Há muito por onde dizer bem de Putin, e muito também para criticar, embora esta guerra seja a menor delas. Queriam a Nato em Kiev, não queriam? Pois é, pois é... que chatice para os nossos valores.

Não sei por que caraças me deu para ver um pseudodocumentário na semana passada intitulado a ascensão de Putin ou coisa que o valha. Já suspeitava que não devia cheirar bem, mas era pior do que supus, propaganda acabada de fazer destinada a atrasados mentais, suponho que para o  lumpen obeso médio lá deles.

Inenarrável de mau, Putin com carantonhas a preto e branco, música de fundo a preceito, intervenientes abaixo de cão "autores" sabe-se lá de onde, ex-subsecretários de estado da defesa, duas famigeradas criaturas que andaram a puxar pelas massas e pela democracy na Praça Maidan.

Um momento hilariante, quando um sub-sec da defesa acompanhou o suíno do Bill Clinton numa visita a Moscovo. Depois de se encontrar com Putin, visitou o velho compincha Ieltsin (fartamente elogiado pelo subproduto documental). Muito sério, o sub-sec diz que não mais se esquecerá quando ouviu aquela cara de vitelo ferrado do Arkansas dirigir-se à velha esponja e confidenciar que Putin não tinha a democracy no seu coração (apontando para o órgão). Parece que o Ieltsin se mostrou muito arrependido -- ele que deixara um país de pantanas dominado pelas máfias, pelos oligarcas, derrotado na Chechénia, pasto para os terroristas islâmicos, para além da contínua figura de triste que fazia.

A televisão estatal atreve-se a servir uma mixórdia desta cheia dos nossos valores, e não há quem puxe as orelhas até ao chão ao analfabeto que a comprou e programou. Ou então, quer-se agradar ao dono; mas o dono não é o governo, o dono são os portugueses; e eu, como cidadão, não estou para ser vigarizado sem refilar.

ucranianas


 

sexta-feira, junho 03, 2022

playlist: «Gunes Turkusu»

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 «[...] impolítico é todo aquele que vive a sua vida, dentro de si e para si, e cresce e sobe nos ares, como árvore irresistível, que faz sombra e toma espaço, enriquece e obstrui, usurpando o espaço de outros interesses.» 

 Fidelino de Figueiredo,  «O gosto de coleccionar», Um Coleccionador de Angústias (1951)

playlist: «Fly Away»

quinta-feira, junho 02, 2022

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 «Deixei-me ficar á janela a ver cair a noite. Nada mais triste do que as avemarias no ermo.»

Monteiro Lobato, «Os faroleiros», Urupês (1919)

playlist: «Hard Blues»

quarta-feira, junho 01, 2022

sai um memofante para o prof. Telo (ucranianas CI)

Costumo ouvir regularmente o historiador António José Telo na Rádio Observador ou na CNN/TVI -- sempre com desprazer, aliás, o que dantes não sucedia.

No outro dia, não se calava com Munique 1938. Ora Munique'38, significa o acordo da Inglaterra e da França à invasão da Checoslováquia e anexação do território dos Sudetas por Hitler, área de vasta população alemã.

Comparação subliminar Putin = Hitler -- algo que foi feito com brutalidade propagandística destinado à maralha, no gigantesco condicionamento das opiniões públicas a que temos assistido,  mistela grosseira que um catedrático se coíbe de fazer --, o paralelismo parece-me espúrio.

Claro, pode sempre dizer-se que Putin tem falado nos russos que estão fora das fronteiras, ou ainda -- o que não fazem, porque não convém -- das humilhações à Rússia nos últimos anos, a que já me referi aqui --, mas que não tem nada que ver com a situação de uma Alemanha ajoelhada pós-Versalhes, o que deu a corda toda ao nazismo. Se há coisa que a Rússia não está é ajoelhada, embora os Estados Unidos e satélites estejam a tentar, à custa dos ucranianos, aqui a servirem de cobaias e de isco.

Para trás e para a frente com Munique'38,  o que Telo quer dizer é que conforme a "política de apaziguamento" de Hitler redundou na II Guerra Mundial, a de Putin irá redundar na III.

Para além de ser duvidoso que Hitler fosse já apaziguável em 1938, após a incorporação consentida da Áustria -- consentida e aplaudida pelos próprios austríacos, algo que não é conveniente lembrar --, o prof. Telo esquece-se, por outro lado, que Hitler não tinha vizinhos agressivos que significassem uma ameaça militar; pelo contrário, eles estavam aterrorizados que uma carnificina como a da Grande Guerra voltasse a suceder.

E esquece-se também de que a Nato em Kiev, algo previsto na constituição do país, depois do golpe orquestrado pela CIA em 2014, juntando-se a uma série de acções na vizinhança e dentro da Rússia de que aqui tenho falado. seria algo de inaceitável para ela, Rússia. 

Claro que os que dizem, ah, mas isso não estava em cima da mesa, não merecem crédito algum. A Ucrânia esteve-se nas tintas, com as costas aquecidas pelos Estados Unidos, que esticou a corda toda; está agora a pagar as consequências de os seus dirigentes se terem posto ao serviço do império ocidental, mesmo que a Rússia vá pagar também ela um preço, Os Estados Unidos serão sempre vencedores; a Rússia nunca poderá cantar vitória total (a Finlândia), e o grande derrotado já é a Ucrânia, como seria previsível: pelos mortos, a destruição e a inevitável perda de um parte significativa do território. 

E as contas ainda não parecem fechadas. 

Em tempo - Naturalmente, está aqui presente o slogan de má fé comunicacional: "hoje é a Ucrânia, amanhã o resto da Europa". Para este absurdo, tem-se aproveitado tudo: Putin está louco; Putin está doente; Putin tem sido enganado pelo próprio estado-maior, entre mais patranhas para ludibriar a populaça europeia. Seria sem dúvida uma loucura a Rússia atacar um país da NATO, pois já se saberia qual a resposta. Pelo contrário, quem nós vemos cheios de vontade de subir a parada é a Polónia, os estados bálticos e o cão de fila inglês, sem falar nas criaturas da UE que nos saíram na rifa (aquela van der Leyen, aquele Borrell, aquela Metsola).

ucranianas

«Leitor de BD»


O Perigoso Pacifista - Histórias de Adriano Correia de Oliveira

de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas

aqui