sexta-feira, outubro 30, 2015

a possibilidade de viver

Há uns bons anos, em resposta a um comentário que a Maria Noronha (quando voltará ela a blogar?) fez a este excerto de Stig Dagerman:  «Sem fé, ouso pensar a vida como uma errância absurda a caminho da morte, certa. Não me coube em herança um qualquer deus, nem ponto fixo sobre a terra de onde algum pudesse ver-me. Tão pouco me legaram o disfarçado furor do céptico, a astúcia do racionalista ou a ardente candura do ateu. Não ouso por isso acusar os que só acreditam naquilo que duvido, nem os que fazem o culto da própria dúvida, como se não estivesse, também esta, rodeada de trevas. Seria eu, também, o acusado, pois de uma coisa estou certo: o ser humano tem uma necessidade de consolo impossível de satisfazer.»
escrevi a minha via pessoal para tentar iludir o absurdo da existência, via que continuo a trilhar, tentando iludir-me
 
«É o nada que nos espera que torna a vida absurda. O Vergílio Ferreira diz num dos seus diários qualquer coisa como isto: uma hora de eternidade é igual a mil anos de eternidade; isto é: uma hora de nada é igual a mil anos de nada. Há para mim algo que pode dar um sentido à vida, e tal é a minha descendência, a única coisa perene que me vai sobreviver, pois não sou Miguel Ângelo, Beethoven, Camões ou sequer Napoleão. E mesmo esses... Por isso, também ouço muitas vezes o «Blackbird» & outras músicas; tornam a vida possível de ser vivida.»

*«Blackbird», música de Paul McCartney, nos Beatles.

quinta-feira, outubro 29, 2015

conversa de notário da União Nacional

«A manha do "Manholas"... Programa para mais três décadas. Com Vila Velha agradecida por ter sido salva das bombas. Aliadas? Alemãs? O notário Teófilo de Oliveira considerava, a posteriori, tal eventualidade como "bombas antiportuguesas». Para facilitar.»

Álvaro Guerra, Café Central (1984)

Raif Badawi


Honra ao Parlamento Europeu, que acaba de atribuir o Prémio Sakharov ao blogger saudita Raif Badawi, condenado a prisão e chicotadas públicas por liberdade de expressão.
Vergonha, não apenas ao regime atrasado e vil da Arábia Saudita, sem lugar no concerto das nações civilizadas, como às potências que enchem o bandulho com os petrodólares.

quarta-feira, outubro 28, 2015

escozinhar com molho de Camões

«Em certo 10 de Junho quando todos os jornais molemente escozinhavam com molho de Camões e as entidades oficiais transportavam ramos tristes para o Largo das Duas Igrejas, Antero Chumbo teve um dos seus rasgos: atirou algumas sem-cerimónias ao épico.»

Tomás Ribeiro Colaço, A Calçada da Glória (1947)

segunda-feira, outubro 26, 2015

se eu tivesse de escolher só uma música



Amour, imagination, rêve -- Air. O acrónimo sintetiza o cerne deste duo de Versalhes, composto por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel -- tão cosmopolita e simultaneamente tão francês. Um portento de melodia, um certo romantismo com uma boa carga de ironia. Deste 10 000 Hz Legend (2001), extraio isso mesmo que acabei de dizer com «Wonder Milky Bitch».


domingo, outubro 25, 2015

AMORE



vinha das choças

«Vinha das choças um mugir manso de gado, um mugir quente e terno, junto ao bafo de fezes e de pastos apodrecidos.»

Romeu Correia, Calamento (1947)

sábado, outubro 24, 2015

um xarope

Tinha a expectativa de ver uma comédia inofensiva e enxuta com o meu actor preferido, Robert De Niro, e Anne Hathaway (que nome...) como bónus. A primeira parte ainda assim foi; depois, o filme resvala para uma lamechice inane, do género sic-Mulher servida nas salas-de-espera dos consultórios. Só não foi tempo & dinheiro perdidos porque DeNiro transforma em aceitável qualquer porcaria em que entre. 


sexta-feira, outubro 23, 2015

Seria surpreendente se Cavaco surpreendesse.

Não é de admirar que quem torpedeou um governo nas vésperas da adesão à então CEE ameaçasse, em fim de mandato presidencial fazer o mesmo ao país, em nome da pequenez política que o caracteriza.
Há dez anos eu, pobre ingénuo -- sem que pusesse sequer hipótese de nele votar -- acreditava que dez anos como primeiro-ministro e outros dez de travessia do deserto lhe tivesse dado estofo de estadista. Foi sol de pouca dura, como se sabe. Portugal está há poucas semanas de ver-se livre dele; veremos em que estado deixará o país.
(nota: escusado será dizer que este post não tem que ver com a decisão formalmente inatacável de ter indigitado Passos Coelho para formar governo, mas com os avisos à navegação que entendeu fazer. Esperemos que, então sim, não tenhamos de recorrer às fórmulas patéticas da Traulitânia: golpe de estado, usurpação, e outros mimos.)

terça-feira, outubro 20, 2015

Dez livros que não poderiam nunca faltar na minha lista dos melhores romances escritos em língua portuguesa

Via Ler-te, descobri esta lista, e participei na inquirição sobre Os Melhores Romances Escritos em língua Portuguesa., como de costume sem ler as regras até ao fim... Por isso, a minha ordenação foi cronológica e não por ordem de preferência, como é pedido (acho que nem conseguiria fazê-lo). Também me impus não escolher mais do que um título do mesmo autor nem mencionar escritores vivos. Finalmente, prefiro chamar a esta minha lista «Dez livros que não poderiam nunca faltar na minha lista dos melhores romances escritos em língua portuguesa», uma vez que ninguém poderá jamais determinar quais são os melhores romances (ou sinfonias, ou telas, ou o que seja). em Arte não há melhor: há bom e mau; obra conseguida ou falhada. O resto são opiniões.
E então ela aí vai:

1. Os Maias (1888), de Eça de Queirós
2. Andam Faunos pelos Bosques (1926), de Aquilino Ribeiro
3. A Selva (1930), de Ferreira de Castro
4. Mau Tempo no Canal (1944), de Vitorino Nemésio
5. Servidão (1946), de Assis Esperança
6. Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado
7. Barranco de Cegos (1961), de Alves Redol
8. O Signo da Ira (1961), de Orlando da Costa
9. Sinais de Fogo (1979), de Jorge de Sena
10. Para Sempre (1983), de Vergílio Ferreira

É claro que das Viagens na Minha Terra (1846)m de Almeida Garrett, até a as Primeiras Coisas (2014), de Bruno Vieira Amaral, muitos poderiam figurar nesta lista -- só que não poderiam ser dez.
Agora, caros amigos, toca a participar (têm até ao fim do ano, não se atrasem).

criador & criaturas


Hergé e Jo, Zette et Jocko (Joana, João e o Macaco Simão)

imagem

domingo, outubro 18, 2015

50 discos: 18. ATÉ AO PESCOÇO (1972) #1 «Até ao Pescoço»


santa de verdade

«Veio com a esposa, tia Santa, santa de verdade, pobre mártir daquele homem estúpido.»

Jorge Amado, Cacau (1933)

sábado, outubro 17, 2015

Rover, «Aqualast»

previsível e açucarado,

mas com grandes actores -- um prazer sempre de ver desempenhos desta qualidade. Um filme que escorrega muito bem.




sexta-feira, outubro 16, 2015

Se tivesse de escolher só uma música

Este Beck-Ola, do Jeff Beck Group é todo bom; poderia escolher qualquer uma das sete faixas que o compõe. Lançado em 1969, está num dos períodos mais ricos do rock, cheio de experimentalismo e fusão, hard rock, prog rock, jazz rock, blues rock, psicadelismo e por aí fora. Acabo por escolher esta sensacional cover  de Elvis Presley, trabalhada e potenciada coma criatividade que o melhor rock não dispensa e a víscera que deve ser-lhe apanágio. Os músicos, viscerais, portanto: Jeff Beck, guitarra; Rod Stewart, voz; Nicky Hopkins, piano; Ron Wood, baixo; e Tony Newman, bateria. 


quinta-feira, outubro 15, 2015

encharcado de tisanas

«Afinal eu não tinha culpa. Tão linda, branca e forte, com as mãos de longos dedos bons para beijos, os olhos grande e azuis... De Adrião Teixeira, um velhote calvo, amarelo, reumático, encharcado de tisanas. Outra injustiça da sorte. Para que servia homem tão combalido, a perna trôpega, cifras e combinações de xadrez na cabeça? Eu, sim, estava a calhar para marido dela, que sou desempenado, gozo saúde e arranho literatura.»

Graciliano Ramos, Caetés (1933)

quarta-feira, outubro 14, 2015

se o governo de Angola não se dá ao respeito, não merece ser respeitado

Nunca alinhei naqueles ataques a Angola por causa da corrupção e assuntos afins. Por várias razões: em primeiro lugar, porque considero uma atitude neo-colonialista. Depois, sobre corrupção, não temos lições a dar a ninguém, muito menos a uma ex-colónia. Quinhentos anos de colonização são quinhentos anos de pilhagem e morte. Portanto, quanto a isso, muito cuidadinho e decoro.
Outra coisa são os direitos humanos! Aí não há países nem ingerências nem sensibilidades nem cerimónias. Por isso, quando um governo de qualquer país atenta contra a dignidade do ser humano, impedidndo-o de se manifestar e encarcerando-o, tem de estar sob forte pressão condenatória da comunidade internacional.
Assim, enquanto o governo e a justiça angolanas não se comportarem civilizadamente neste caso dos jovens detidos, entre os quais está o grevista da fome Luaty Beirão (estou-me nas tintas para a nacionalidade dele, dupla ou tripla), a denúncia do caso e execração da atitude do governo de Angola -- que tem de acabar rapidamente com esta farsa -- é um dever de todos os que têm a Liberdade de consciência e de expressão como valor absoluto e sagrado. 
E já agora, com Luaty Beirão, quero lembrar outros presos políticos: o palestiniano Marwan Barghouti, o curdo Abdullah Öcalan, o chinês Liu XiaoBo, o australiano Julian Assange e o norte-americano Edward Snowden.

simplismos, simplórios e o que está em causa

A generalidade dos blogues alinhados com o governo cessante oscila entre a tentativa de manipulação, normalmente canhestra, e a desqualificação de António Costa, isto para não falar numa simplicitas que encara o processo eleitoral como uma espécie de jogo de futebol, em que quem tem mais golos (votos) ganha a partida (eleições). E que, nalguns casos, acreditam (ou argumentam) que Passos tem direito (direito, imagine-se) a governar, porque "venceu as eleições".
Começando já por aqui: a coligação PàF teve mais votos, mas não ganhou as eleições. Perdeu-as, inapelàvelmente. Poderão considerar-se vencedores se formarem governo e lograrem aprová-lo na fonte da soberania que é a Assembleia da República. Aí sim, podem cantar vitória, mesmo que tenham de governar com um programa em boa parte imposto pelo PS.
Mas os representantes eleitos do povo são, na sua maioria, contra a política do actual governo. Logo, democraticamente, os deputados da nação, podem, legitimamente (eu diria: quase obrigatoriamente) reprovar o programa de um executivo do PSD e do CDS -- se estes, contra as conveniências dos mercados etc. & tal, insisitirem em levar a sua avante, sabendo de antemão que são minoritários no hemiciclo.
No nosso sistema, no que respeita à formação do governo, as legitimidades política e constitucional estão no parlamento e só no parlamento. Não há esperteza saloia como a tradição, nem infantilismos como "prémios" para o vencedor.. Há a vontade política maioritária dos portugueses, expressa pelos seus representantes, e é só.
Por outro lado -- pondo de parte os argumentos patetas e patéticos que pretendem desclassificar Costa e o agitar do papão anti-PC --, será (ou seria) natural haver dúvida ou receio sobre a consistência de um eventual governo à esquerda. Porém, não só António Costa nem muitos dirigente do PS são meninos de coro para se deixarem manobrar pelos partidos à sua esquerda, como um acordo de futuro governo terá de ser assinado e divulgado, com as tais linhas vermelhas, sob pena de ao PS não restar alternativa senão viabilizar um governo à direita, e, então sim, justificadamente.
Confio porém que isso não irá acontecer. Depois da catástrofe política e social dos últimos quatro anos, o trauma é tal, que correr com eles se tornou um desígnio essencial. Ou já ninguém se lembra da venda do país e da subserviência do governo cessante, a triste figura que, na UE, fizeram representantes de um estado com um lastro de quase novecentos anos?  
E além disso -- o mais importante para um futuro governo que regenere o país: esse país que vota à Esquerda não perdoaria uma traição. Ao PS, e, muito principalmente, ao PCP e ao Bloco.

terça-feira, outubro 13, 2015

50 discos: 17. THREE FRIENDS (1972) #1 «Prologue»


o lixo da Direita

A possibilidade que se desenha de constituição de um governo à Esquerda, veio destapar a cloaca salazarota onde têm estado escondidas as pulsões saudosas do 24 de Abril de boa parte da Direita portuguesa -- que alguém já classificou, e bem, como a Direita mais estúpida da Europa (Passos é líder que se apresente?...; Portas não é uma espécie de apresentador dos programas televisivos das tardes de Domingo?... Que miséria, que miséria.).
A verdade é que boa parte da Direita, que aceitou o 25 de Abril com reserva mental, baba-se de ódio, resseca-se de ressaibo, refocila e desespera. Vejo-os, ouço-os e leio-os. Não consigo ignorá-los, nem com um lenço no nariz. Bem sei que há sempre os estimáveis e os repugnantes, à Direita e à Esquerda. Mas do que se trata agora é do espectáculo confrangedor da impotência, da raiva, do alapar-se ao Poder.
Perderam, a maioria dos eleitores quer vê-los pelas costas. Pouca sorte, pouca sorte. O Telmo Correia, que até é uma pessoa cordata (vivò Benfica!), descabelava-se ontem no frente-a-frente com o João Soares, por sinal, bem divertido com o desbragamento do oponente.
O terrorismo a que estamos a assistir, por parte dos vendidos do costume que têm acesso ao espaço público e de boa parte de jornalistas que são o atraso de vida que se sabe, avivou-me a memória. 

três longos dias

«De resto, tudo chegava tarde a Vila Velha. As notícias, também. Desde o momento em que Gavrilo Prinzip desfechou a pistola nos peitos nobres do herdeiro do Império Austro-Húngaro e da duquesa Sofia até que o Dr. Teófilo de Oliveira desdobrasse, com idêntico dramatismo, a gazeta chegada da capital, à mesa do Café República, decorreram três longos dias durante os quais os mortos se contaram apenas nas fileiras dos nacionalistas sérvios.»

Álvaro Guerra, Café República (1984)

segunda-feira, outubro 12, 2015

estampa CXCVI - Costa Pinheiro

Fernando Pessoa - Heterónimo
(CAM-FCG, Lisboa)

negro e perverso


O último Woody Allen é uma incursão pelas partes mais recônditas da mente humana; e embora haja gente para tudo, o desenvolvimento da personagem nas motivações que o levam a cometer um crime, parece-me rebuscado. Mas é um bom filme. Irónico, logo a começar pelo título; perversamente divertido, pelo modo como a música sublinha os momentos que deveriam ser de maior tensão.

domingo, outubro 11, 2015

ainda bem que o Sousa Pinto se demitiu

Vi-o no programa do Ricardo Araújo Pereira; um pavão insuportável, toleirão, auto-suficiente, com um humor capaz de fazer rir uma hiena. O indivíduo, de resto, foi o primeiro a torpedear a estratégia do PS para as presidenciais, com um ataque (estúpido?, propositado?) a Sampaio da Nóvoa.  Respira-se melhor, agora.

sábado, outubro 10, 2015

Se tivesse de escolher só uma música

Álbum atípico de Louis Armstrong, já então uma pop star mundial, mas nem por isso menos grande tudo.
Acabo por escolher este tune dos anos 40, popularizado por Fats Domino.
O canto de Armstrong é sublime, em todos os aspectos, simultaneamente doce e divertido. O arranjo do coro é excepcional , tal como o entrosamento com os sopros.
Em Hello, Dolly! (1964)

quinta-feira, outubro 08, 2015

turvação

«Tareja deixou então tombar o xaile que lhe cobria os alvos ombros e demorou algum tempo a resguardá-los de novo e isto com tanta graça que os olhos de Afonso se turvaram.»

Augusto Abelaira, O Bosque Harmonioso (1982)

quarta-feira, outubro 07, 2015

Espero não estar a lançar foguetes demasiado cedo

nem a contar com o ovo no rabo da galinha por parte do BE, mas parece-me que há uma genuína vontade de entendimento na esquerda parlamentar maioritária. As declarações dos dois líderes à saída da sede do PCP indiciam-mo. Nem o país perceberia que não se fizessem todos os esforços nesse sentido. A aspiração da rua fez-se ouvir durante a campanha.
Por outro lado, António Costa, agora já sem a plastificação artificiosa da campanha eleitoral é o secretário-geral certo no momento certo. A delegação à Soeiro Pereira Gomes foi de grande agudeza política: Carlos César, presidente do PS; Pedro Nuno Santos, elemento da ala esquerda do partido e um dos mais acerbos críticos da troika; finalmente, Mário Centeno, o coordenador do programa económico apresentado antes das eleições, que, por sinal, tomava notas com afã.
Há razões para ter alguma esperança.

Em tempo: vi depois, numa outra estação, também Ana Catarina Mendes, um dos melhores quadros políticos do PS, que nas eleições de domingo encabeçou a lista vencedora por Setúbal.

Já estamos a falar melhor

Acabo de ouvir Jerónimo de Sousa, após reunião com António Costa. Será desta?

O que será para o PCP a "ruptura com a política de direita"?

Se for a recuperação da iniciativa na defesa do estado social, da dignidade do trabalho, do fim da selvajaria nos ataques ao sector público, de reparar os estragos provocados pela governação catastrófica do PSD e do CDS, então eu estou com o PCP.
Se for outra a agenda, como a exigência da saída da Zona Euro, ou da NATO, pode o PCP esperar sentado -- até porque o PS não é propriamente "Os Verdes". 
Veremos, então, mais uma vez o que é verdadeiramente importante para o PCP (e quem diz PCP, dirá também BE), e se, por sectarismo e instinto de conservação, os portugueses estão condenados a ser governados pelas forças minoritárias da direita, ou se podem esperar que a maioria no seu parlamento os represente.

(Nota: em teoria, não vejo problema -- pelo contrário -- na posição do PCP em estudar a possibilidade da saída do Euro, uma vez que ela pode-nos sempre ser imposta. Aliás, não tenho dúvidas de que o cenário foi ponderado e não deixou de estar em cima da mesa, como possibilidade.)

(Nota 2: sobre a posição que o PS deverá ter, para mim como, digamos, "não antipatizante", concordo com o que está escrito em  http://maquinaespeculativa.blogspot.pt/2015/10/e-agora-esquerda.html).

apesar de ter passado pelas brasas, é um grande filme


segunda-feira, outubro 05, 2015

CON ALMA



devaneios: um governo patriótico e de (centro-) esquerda

Costa fez um bom discurso de derrota. Não sei para que vai servir, atendendo aos ziguezagues desta campanha, mas seria bom que servisse para alguma coisa. Aspirar a uma união da esquerda é um devaneio, até porque o PCP já demonstrou que não está nada interessado em sair da fortaleza; por sua vez, o Bloco cresceu à custa do PS e não chega para fazer maioria com ele; e o Livre, para meu desapontamento, foi um nado-morto político, não por inépcia própria mas pela lógica trituradora do voto útil e, por outro lado, pela magnífica campanha de Catarina Martins.
Perplexidade: a vitória folgada da PàF mostra como parte dos eleitores estão desejosos de ouvir mentirolas e deixarem-se atemorizar. Conhecendo os portugueses, não é de espantar;
Surpresa interessante: a eleição de um deputado do PAN. A ver se ali há alguma consistência ecológica e afim ou se se trata de mais um molho de tontinhos a desaparecer em próximas eleições.
E por falar em tontinhos e parentela, as alegrias da noite, que também as houve: a votação quase inexistente dos racistas e xenófobos, a irrelevância dos agires e dos pêdêerres, uns e outros amostras do populismo mais grosseiro. E a alegria maior: a perda de 700 mil votos pelo PSD e CDS, e com eles a da maioria absoluta. Mesmo assim, temo pela autofagia idiota do PS e que se deixe endrominar por Passos Coelho, essa raposa.