domingo, janeiro 31, 2021

sábado, janeiro 30, 2021

a arte de começar

 «Tinham dado onze horas no "cuco" da sala de jantar. Jorge fechou o volume de Luiz Figuier que estivera folheando devagar, estirado na velha voltaire de marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse:»

Eça de Queirós (1845-1900), O Primo Basílio (1878)

Tony Banks (1950) - Seis Peças para Orquestra (2012) - #6 City of Gold




sexta-feira, janeiro 29, 2021

um dia histórico

 A aprovação da legalização da eutanásia pelo Parlamento é mais um passo na libertação das pessoas das parvoíces religiosas que a beatice procura a todo o custo preservar. 

Percebo que por razões éticas e filosóficas (e até religiosas, que é uma possibilidade que a liberdade individual dá) se seja contra, desde que aplicada a si mesmo. Que se queira impingir as crenças próprias aos demais é dum descaramento e falta de noção para os quais não pode haver contemplações.

Postura diferente tem o PCP, que receia que a miséria humana a vários níveis comece a despachar os velhos doentes por dispensáveis. Percebo mas obviamente discordo. Não há autoridade moral e política e muito menos conjuntura social que tenha legitimidade para coarctar a liberdade das pessoas.

quinta-feira, janeiro 28, 2021

terça-feira, janeiro 26, 2021

na estante definitiva

 2. Continuar: «Na história da estética portuguesa do século XIX, onde situar com mais evidência as primeiras correspondências a uma "arte útil"?» Cap. I: «Até finais de 1935: motivações e primórdios de um trajectória de inspiração marxista» (pp. 11-22).

A década de 1930 foi apaixonante no que respeita a debates e confrontos de posicionamentos estéticos sobre os méritos e deméritos de uma arte útil ou inútil (para simplificar...). A questão vinha já detrás e de fora, no prefácio de Théophile Gautier ao seu romance Mademoiselle de Maupin (1835), proclamando que toda a arte para o ser não deveria servir outro propósito que não o seu próprio, o célebre prinípio da arte pela arte.
Alvarenga recua à Geração de 70 e a Antero de Quental, que no prefácio às Odes Modernas (1865) afirma: «A poesia que quiser corresponder ao sentir mais fundo do seu tempo, hoje, tem de forçosamente de ser uma poesia revolucionária.» Estranho a ausência de uma referência à conferência de Eça de Queirós do Casino Lisbonense, em 27 de Maio de 1871, «A "Literatura Nova" ou "O Realismo como nova expressão da arte», provavelmente porque o texto se perdeu, sendo reconstituída posteriormente através dos relatos da imprensa. 
Esta ideia de uma arte interventiva ou útil nos moldes proudhonianos terá continuidades e desenvolvimentos na geração da Seara Nova como de A Batalha, que ficarão situados, digamos, a meio caminho entre os presencistas e os neo-realistas, para não falar do curioso caso de O Diabo, fundado em 1934 por um grupo de escritores e jornalistas anarquistas e republicanos, que progressivamente passará par as mãos da geração seguinte, propriamente considerada neo-realista, até ao seu encerramento compulsivo, em 1940, circunstância que não é para já abordada; mas será a partir do Congresso dos Escritores Soviéticos, em 1934, com a defesa de um realismo socialista, que o debate irá aquecer, mas com nuances, fazendo o autor o levantamento de algumas tomadas de posição, com especial destaque para José Régio no campo do que eu chamaria de arte livre -- mas nunca de arte pela arte, no seu caso, e um destaque ainda para do outro lado, mas sem intenção polemizante, um outro nome maior: José Rodrigues Miguéis, enquanto ficcionista, em entrevista ao Diário de Lisboa ou, antes dele, no campo da crítica e do ensaio, Álvaro Salema, com o artigo publicado no jornal Gládio, em Janeiro de 1935, «O antiburguesismo da cultura nova», propondo a ultrapassagem dos conceitos defendidos pela Geração de 70, ou seja, uma abordagem marxista da literatura e da arte em geral.
Nestes debates, aparece como sumamente importante o artigo de Adolfo Casais Monteiro, com o artigo publicado n'O Diabo em 1935, «Sobre o que a Arte é, e sobre algumas coisas que não poderá ser», de onde se retira a famosa frase em prol da independência artística, «a arte é, não serve» -- embora o autor não o refira, é uma reacção ao discurso de Salazar na Sala do Risco, em que elabora sobre o papel dos artistas, mas que acabará por ver-se apontado aos que no pólo oposto queriam essa arte comprometida com as ideias ascendentes da humanidade. Há a contraposição de meio termo de Amorim de Carvalho no artigo «O carácter social da Arte», também n'O Diabo, em Agosto de mesmo ano, interpelação directa a Casais, quando escreve que «A Arte pode servir, sem deixar de ser»; e uma síntese de Julião Quintinha em três artigos no mesmo semanário com o mesmo título, «A Arte e os artistas», posição com proximidade à de Régio, nomeadamente no terceiro, «O artista ante o problema social e político»: «Parece coisa natural que o artista, possuído por determinados sentimentos sociais, muito sinceramente os exteriorize na sua obra. O essencial é que não seja faccioso na afirmação ou negação desses sentimentos, que vá até ao ponto de os transformar em baixo instrumento político, e que acima de tudo, não se esqueça do que deve à Arte.» 
Estudo sobre arte, Fernando Alvarenga dá-nos exemplos de outras intenções, com Roberto Nobre e A Cega Sanha do Povo (1935) e Companheiros, de António Lopes (s.d.), que reproduzo em baixo, fechando com uma apreciação de Heliodoro Caldeira, no inevitável O Diabo, a propósito de dois reconhecidos muralistas mexicanos: Diego Rivera e David Alfaro Siqueiros e dos chamados Frescos de Cuernavaca, apresentando-os como exemplo duma arte a fazer-se, em que estivessem patentes, como ali, a «linguagem simples e reveladora das grandes verdades».

Roberto Nobre, A Cega Sanha do Povo (1935) - Museu de Faro

António Lopes, Companheiros



Diego Rivera, História de Cuernavaca e Morelos.
 Plantação de Açúcar



Fernando Alvarenga, Afluentes Teórico-Estéticos do Neo-Realismo Visual Português, Porto, Edições Afrontamento, 1989.

domingo, janeiro 24, 2021

a arte de começar

 «O rio, a árvore e o rouxinol tinham razão de existir idêntica à do dia arrastado pelas metamorfoses sombrias da noite e pelo vento frio do norte. Na fragilidade quebradiça da palavra gasta pelo uso, Luísa encontrava o respirar mágico e ofegante do sonho. Todos no bosque a conheciam e a aceitavam por igual até quando a viam embriagada de fantasia.»

Miguel Barbosa (1925-2019), Anatomia de um Sonho (2008)

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Concerto para piano em lá maior K. 486 (1786)




sábado, janeiro 23, 2021

«Breathe»

«Cinnamon Girl»

porque voto em Marcelo

 Após alguma hesitação, decidi deixar-me ir no voto em Marcelo Rebelo de Sousa, a minha estreia num voto à direita em Presidenciais. Conheço bem os seus defeitos e nunca fui seguidor dos comentários televisivos, que por aqui várias vezes critiquei. Mas também reconheço as suas qualidades, a sua preparação para o exercício do cargo, a sua postura democrática, não sectária e humanista, em perda neste tempo de abutres e patifes à solta.

Por outro lado, Marcelo é o único candidato verdadeiro a presidente. Poderia votar em branco, já me aconteceu, mas não vejo razão neste caso. Vai ajudar a levar a direita ao poder? Porte-se a esquerda como deve, como fez o PCP ao contrário do BE.

Em terceiro lugar, Marcelo é o candidato para o agora; não só porque é o único real (os outros estão a brincar às presidenciais), como o que tem estofo e lastro -- e eu não estou para aturar tacticistas nem boçais. Com os problemas com que nos debateremos, confio em que terá uma actuação ponderada. Gosta dos "privados"?, é "papa-missas"? Quero lá saber, é para o lado que durmo melhor.

E para ser honesto, a possibilidade de enganar-me redondamente e Marcelo vir a fazer um mau segundo mandato (não seria o primeiro), será aborrecido, mas ficarei confortado pelo facto de o meu voto não ter sido decisivo para a reeleição, mais do que garantida.

Cheguei a ponderar em votar em João Ferreira, não apenas por ser o melhor dos restantes candidatos, em preparação e postura não demagógica, mas porque se o PCP perder força a sociedade fica entregue aos bichos. É um caso a ver depois das eleições, porque voto em quem me apetece.

Ana Gomes. É uma candidatura que emerge da politicalha partidária, uma casca de banana que Assis lançou a Costa. Não tenho paciência, por mim o Assis pode ir dar sangue. Claro que Ana Gomes não é uma boneca de Assis, é uma mulher corajosa e uma diplomata experimentada, mas não tenho nada que ver com aquilo.

Marisa Matias. Gosto imenso dela, seriíssima, dedicada, empática, afável. Joga num tabuleiro que não é o meu, e que abomino, as parvoíces do Bloco de Esquerda. Quando diz "a todos e a todas" tenho vómitos. Não por causa da questão da igualdade de género, pois considero que todo o homem decente deve ser feminista, mas pela manipulação da linguagem, que é algo terrível.

Tiago Mayan Gonçalves. A boa surpresa da campanha quanto à prestação, candidato ideológico, o que só lhe fica bem. O modelo de sociedade que propõe é lindo, mas não para este país com povo e elites de terceiro mundo. Ainda estamos a pagar a factura do atraso a que o Salazar nos votou.

Vitorino Silva. Há cinco anos creio que lhe chamei o nosso Tiririca. Errado. Tornou uma candidatura espontânea em algo refrescante. Impôs-se por não ser parvo. Óptimo para o voto de protesto.

André Ventura. Boi e bobo. Boi na postura avinhada e de taberna (ficámos a saber que é neto de alcoólicos), na provocação e nos ventos que semeia que lhe ia valendo um calhau na mona. Bobo, porque é uma marionete -- marionete de si próprio, para começar, porque diz o que acredita que rende e num segundo incha que nem um sapo,  e marionete da gente que o financia, vá lá saber-se porquê e para quê. Mas eles sabem.

Fala-se na possibilidade de uma segunda volta, na eventualidade de uma abstenção catastrófica. Se a lei o permitisse, faria sentido adiar a eleição para Maio ou Junho; ninguém falou nisso, à excepção de Vitorino Silva. 

50 discos: 28. COMES A TIME (1978) - #9 «Motorcycle Mama»




sexta-feira, janeiro 22, 2021

a arte de começar

 «Aquele fora um tempo de más notícias. O deputado Artur Carneiro Macedo da Rocha, descendente da velha estirpe paulista, pensava com alegria que dentro em poucas horas aquele fatídico mês de Outubro do ano de 1937 estaria terminado, talvez Novembro se iniciasse sob melhores auspícios.»

Jorge Amado, Os Subterrâneos da Liberdade (1954)

quarta-feira, janeiro 20, 2021

«Leitor de BD»

Mademoiselle J. - Je ne Me Marierai Jamais
                                                            de Yves Sente e Laurent Verron



terça-feira, janeiro 19, 2021

50 discos: 26. SONGS FROM THE WOOD (1977) #9 «Fire at Midnight»




um cidadão exemplar: Ricardo Baptista Leite

 Eu fui sempre contra a profissionalização na política. Com as excepções do costume, a funcionalização dos indivíduos que fazem da política modo de vida é meio caminho andado para o desgoverno a a corrupção.  Uma das perversões do nosso sistema e a razão porque a qualidade é má, reside aí, nesses indivíduos que estão dependentes dos cargos a que concorrem pois outra actividade não se lhes conhece.

Por isso, quando vejo excepções como a de Ricardo Baptista Leite, alguém com profissão e uma militância política longa, aponto-as com gosto.

Baptista Leite não precisa da política para viver, é alguém fora dela. Médico, o exercício de voluntariado junto de doentes covid no Hospital de Cascais é outro exemplo que muito o dignifica e, por arrastamento, serve para mostrar que a política é serviço para o bem comum, não é -- ou não deveria ser -- carreira. Infelizmente é o que mais se passa nos meandros partidários.

Nota 1. Aproveito para arquivar aqui este documento pungente ,que ontem toda a gente viu, e que é também um documento para a História.

Nota 2. Como sei o que a casa gasta: apesar de sermos ambos de Cascais, não o conheço e não tenho nada que ver com o PSD.

segunda-feira, janeiro 18, 2021

50 discos: 25- MEUS CAROS AMIGOS (1976) - #9 «Basta Um Dia»




a arte de começar

«Rubicundo, pesadão de farto, o estômago bem lastrado com lombo de vinha-de-alhos, padre Jesuíno saiu a espairecer para a varanda que a aragem da serra brandamente refrescava. Manjericos e craveiros floriam dentro de velhos potes, e tão abertos, tão medrados, que do mainel transbordava para a casa e sobre o pátio uma onda álacre de primavera. Tarde de infinita benignidade -- era nas vésperas de Nossa Senhora de Maio, quando ela, de andor ao céu aberto avista tudo verde em redondo -- ali apetecia gozá-la com cristianíssimo ripanço ao passo moroso da digestão. Mas não tardou que argoladas fortes soassem à porta e Jesuíno, em tamancos, as calças presas no abdómen por um negalho, camisa de estopa deixando espreitar pelos bofes a pelúcia de cerdo à mistura com o alcobaça vermelho, cigarro nos beiços, toda a sua pachorra eclasiástica mais rabugenta que cão dormido, foi ver.»

Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)

50 discos: 21. BURNIN' (1973) - #9 «One Foundation»




domingo, janeiro 17, 2021

na estante definitiva

 


 «De maneira nenhuma este ensaio pode ser, nem pretende ser, um estudo exaustivo dos problemas que levantou, e levanta ainda, a música destas quatro primeiras décadas do século XX.»  Da «Advertência preliminar» à 1.ª edição, 1942; 2.ª ed., 1946, pp. 5-7.

Lopes-Graça era um extraordinário escritor, de primeira água e com nervo de polemista. Apresenta-se como músico que as circunstância levaram a escrever sobre música; mas, irónico, adverte «[...] não ser musicólogo -- palavra que o assusta, pelas responsabilidades que impõe a quem se adorna com ela.» E acrescenta que as circunstâncias levam-no pro vezes a escrever sobre música: quanto à primeira, diz não se para ali chamada -- e está-se a ver que a razão é política: tendo sido impedido de aceder ao lugar de professor do Conservatório, para cujo o concurso alcançara o primeiro lugar, tinha de ganhar a vida como professor de piano e escrevendo artigos aqui e ali; a segunda razão prende-se com a alegada incapacidade de dizer não aos convites que lhe dirigem a escrever sobras algo; finalmente a própria idiossincrasia, «[...] o impulso irreprimível que frequentemente nos assalta de sairmos com a pena a defender a música das mentiras, tranquibérnias e despautério com que constantemente a aviltam os próprios que se dizem seus servidores, seus sacerdotes, seus entendedores feros e esclarecidos.» E esta será sempre uma das melhores razões para alimentar uma disposição polemista notável: ideias arrumadas, convicções fortes e a ferramenta que maneja como um escritor de vastos recursos. E, conhecendo-se, avisa para um excesso de calor na prosa, «[...] um tal ou qual ardor prosélito, resulta isso de que nos é impossível escrever a sangue frio sobre um assunto que nos interessa profundamente [...]». Não sei se estava a ser sincero, que possa ser uma cortesia para com o leitor. Mas é precisamente  por cause desse ardor que as páginas de Lopes-Graça se lêem como peças literárias, e hoje tão bem como há oitenta anos.

«Horchata»

sábado, janeiro 16, 2021

quadrinhos

Bruno Brinsidi - Dylan Dog -- Até que a Morte nos Separe (1996) (texto: Mauro Marcheselli e Tiziano Sclavi
 

quinta-feira, janeiro 14, 2021

Tony Banks (1950) - Seis Peças para Orquestra (2012) #5 «The Oracle»




a boa política

 Daqui a duas semanas se verá, mas o funcionamento das escolas durante o confinamento parece-me acertado. Para os sectores mais destituídos da população, alimentados a lumpen televisivo e venturas, a interrupção das aulas é catastrófico. Uma vez que os especialistas não estão de acordo, a decisão tem de ser política. E esta, de António Costa e Tiago Brandão Rodrigues, é política da boa.

quarta-feira, janeiro 13, 2021

quadrinhos


Hermann, Duke -- Sou uma Sombra (2019)
texto: Yves H.

 

terça-feira, janeiro 12, 2021

domingo, janeiro 10, 2021

quadrinhos

Chester Gould, Dick Tracy -- O Caso 3-D i(1957)


 

na estante definitiva

 1. Henrique Abranches (Lisboa, 1931 - África do Sul, 2004) foi um dos muitos portugueses que, indo crianças para Angola, cresceram assistindo à indignidade do colonialismo. É sempre um ultraje quando uma minoria, ainda para mais alienígena, se impõe pela força, subjuga, suga e domina os naturais de outro(s) país(es). Foi o seu caso, tornado angolano de armas na mão. O contributo que deu para a história, etnografia e literatura de Angola é vasto. Foi também um pioneiro da BD angolana. O desenho da capa é de sua autoria.

Este livrinho, Diálogo, publicado pela Casa dos Estudantes do Império - importante alfobre de intelectuais e políticos dos hoje PALOP's  -- é uma obra de dois países. Abranches português pelo nascimento, e como português o publicou em 1962, com o jovem autor a cumprir pena de residência fixa na cidade natal. Há verdura, mas também admirável empatia; ele escreve não sobre angolanos, mas como angolano. Tem um óbvio lugar na minha lista de livros que importam. comovem e me dão prazer.

*** 

2. «Diálogo no tempo morto», o texto inaugural, é uma conversa meditativa a propósito da terra devastada em a seca ransfin« a seca mata o tempo, traz a fome, leva os novos, anuncia a morte, priva dos prazeres mais elementares, uma cerveja fresca, uma boa cachimbada; só o sentimento de impotência é abundante: «Olha o céu de hoje, olha-o: sem uma nuvenzinha, como que envelhecido. Ele já não é capaz de fazer nada. Tudo o que é velho e incapaz é um fardo pesado. Nós somos velhos...»

Henrique Abranches, Diálogo (1962), leitura em curso

audições permanentes I (música erudita) - nova entrada


Johannes Brahms, Concerto para piano #1 (1858)*

Béla Bartók  (Nagyszentmiklós, 25.III.1881 - Nova Iorque, 26 de Setembro de 1945) Concerto para Orquestra SZ 116, BB 123 (1943) - Eugene Ormandy, Orquestra de Filadélfia (Sony Classical)

Georg Friedrich Händel (Halle, 23.II.1685 - Londres, 14.IV.1759) , Concerto para Órgão HWV 295, «O Cuco e o Rouxinol» (1731) - Simon Preston (órgão), Trevor Pinnock, The English Concert (Archiv)

Hector Berlioz (La Côte-Saint-André, 11.XII.1803 - Paris, 8.III.1869), Episódio da Vida de um Artista, Sinfonia Fantástica em Cinco Partes, opus 14 (1830) - James Colon, Orquestra Nacional de França (Erato)

Henryk Gorecki (Czernica, 6.II.1933 - Katowice, 12.XI.2010) Sinfonia #3, Op. 36 (1976) - David Zinman, Dawn Upshawn, London Sinfonietta (Elektra Nonesuch)

Johann Sebastian Bach  (Eisenach, 21 de Março de 1685 - Leipzig, 28 de Julho de1750) Concertos de Brandemburgo, BWV 1046-1051 (c.1718-21) Milan Muncliger, Ars Rediviva Ensemble (Supraphon); Magnificat BWV 243 (1733) Helmuth Rilling Gächinger Kantotei Stuttgart-Bach Collegium Stuttgar (CBS Recorda)

*Johannes Brahms (Hamburgo, 7.V.1833 - Viena, 3.IV.1897).Concerto para piano #1 Op. 15 (1858) Arthur Rubinstein, Colin Davis, Orquestra Sinfónica da BBC ((BBC Music); Sinfonia #1, Op.  68 (1876) Karl Bhöm, Orquestra Filarmónica de Berlim (Deustsche Grammophon).

Ludwig van Beethoven (Bona, 17.XII.1770 - Viena, 26.III.1827) Sinfonia #1, Op. 21 (1800)  Karel Ancerl, Orquestra Sinfónica de Praga (Supraphon)

Samuel Barber (West Chester, Pensilvânia, 9.III.1910 - Nova Iorque, 23.I.1981) Adágio para Cordas (1936) Leonard Bernstein, Orquestra Filarmónica de Los Angeles (Deustsche Gramophon)





Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para piano #1, op. 15 (1858)




os debates (8)

 Ana Gomes-Marcelo Rebelo de Sousa. Uma superioridade visível no debate por parte do actual PR, com o caldo a entornar-se no fim, desnecessariamente, com aquela alusão viperina a Ricardo Salgado, desnecessária além de deselegante. Ana Gomes, mal assessorada, com o fito de marcar uns pontinhos, teve uma atitude em tudo idêntica à do ignóbil Ventura com a alusão a Paulo Pedroso.

Marisa Matias-Tyago Mayan Gonçalves. Talvez o melhor debate de todos. O formato, no entanto é péssimo, e portanto não deu para muito mais para além do que já se sabia.

João Ferreira-Vitorino Silva. O Tino de Rans é uma personagem de quem todos gostam, de uma maneira ou outra. Independentemente das suas ambições mais profundas, se as tem, é um indivíduo interessantíssimo e desarmante. Acho que nunca vi o João ferreira tão risonho como hoje...

O formato dos debates foi péssimo, meia hora para debater é indigente. Mas a verdade é que não havia grande debate a fazer-se numa eleição presidencial como esta. Nada ou muito pouco de política externa, CPLP, património histórico e cultural, de que o Presidente deve ser o principal garante, e um longo etecetera.


sábado, janeiro 09, 2021

«Leitor de BD»

 



Ghost Kid, de Tiburce Oger

(aqui)

50 discos: 21. GRAND HOTEL (1973) - #9 «Robert's Box»




os debates (7)

Ana Gomes-André Ventura. O esgar de nojo que por duas vezes Ana Gomes assestou ao boneco bastou. Dos três à esquerda quem, para mim, melhor susteve a marioneta foi Marisa Matias; mas o os mais eficazes foram os outros três, Marcelo em primeiro lugar.

João Ferreira-Maria Matias. O único verdadeiro debate da noite. Aprecio ambos, prefiro o discurso de Ferreira.

Tiago Mayan Gonçalves-Vitorino Silva. O liberal não disse nada que já não lhe ouvíramos; Tino é um homem do chão que eleva os outros.

sexta-feira, janeiro 08, 2021

50 discos: 18. ATÉ AO PESCOÇO (1972) - #9 «Maria-Canção»




os debates (6)

 André Ventura-Marisa Matias. Não foi um ko, mas a impostura do Ventura ficou exposta duma forma mais descarnada, como até agora ainda não se vira.

Ana Gomes-Tiago Mayan Gonçalves. Um debate desagradável e desinteressante, de frases feitas. Correu pior a ele. 

Marcelo Rebelo de Sousa-Vitorino de Silva. Um talk show, a praia de Marcelo. E como não foi um debate, o moderador até ajudou.


quinta-feira, janeiro 07, 2021

50 discos: 16. OS SOBREVIVENTES (1971) - #9 «Cantiga da Velha Mãe e dos Seus Dois Filhos»




os debates (5)

André Ventura-Marcelo Rebelo de Sousa. Não me lembro de ver Marcelo tão irritado, apesar da bonomia exemplar que usa. Aliás, é precisa a paciência dum santo para aturar aquele linguarejar para a tasca. Marcelo esteve muito melhor do que esperava. Boa moderação.

João Ferreira-Tiago Mayan Gonçalves. Uma interessante troca de pontos de vista sobre duas inexequibilidades. A moderação foi competente. O único verdadeiro debate, uma vez que o anterior não pode realmente ser considerado como tal. É possível discutir com um vendedor de banha da cobra? Não é. Há apenas que expô-lo na aldrabice larvar. 

Ana Gomes-Vitorino Silva. Não foi um debate. 


quarta-feira, janeiro 06, 2021

50 discos: 15. MOONDANCE (1970) - #9 «Everyone»




os debates (4)

Ana Gomes-João Ferreira. Quando ia a começar a haver debate, o tempo acabou. Alguém explica àquele tipo que debates não são entrevistas paralelas? Um inferno.

André Ventura-Tiago Mayan Gonçalves. O candidato liberal e o candidato de taberna. A incompatibilidade foi total e a clara. Já se esperava, mas esplêndido.

Marisa Matias-Vitorino Silva. Não houve debate, como era previsível. De qualquer modo, ficámos a saber que era o João XXI, é o Guterres e há-de ser o Tino.

terça-feira, janeiro 05, 2021

Cutileiro, o escultor que mudou os pedestais à História


O Camões de João Cutileiro, em Cascais

 

os debates (3)

João Ferreira-Marcelo Rebelo de Sousa. Um bom debate, sem uma moderação excepcional, mas que pelo menos permitiu algum diálogo, embora sem grande controvérsia. As divergências eram conhecidas e o debate fez-se com civilidade e simpatia mútuas. 

Ana Gomes-Marisa Matias. Passei um bocado pelas brasas, tenho de confessar. Já conhecíamos as diferenças e as semelhanças. Aguardo os próximos. A moderação cansou-me.

André Ventura-Vitorino Silva. E Tino de Rans foi ao Forte de Peniche tomar alento para o frente-a-frente. Trouxe do mar pedras de várias cores e pô-las na mesa. Lindo.

segunda-feira, janeiro 04, 2021

50 discos: 14. LIVE AT LEEDS (1970) - #9 «A Quick One, While He's Away»




os debates (2)

Marcelo Rebelo de Sousa-Tiago Mayan Gonçalves. Poderia ter sido muito mais interessante, se o moderador soubesse moderar. Pelos vistos, não sabe. É extraordinário. Fantasias extremoliberais à parte (partilham com a esquerda uma ideia mirífica de que o bom senso se autorregula nas sociedades bem organizadas), gostei de ouvir o liberal de serviço. Mesmo assim, com entrevistas paralelas..., até agora o melhor debate, com pontos marcados dos dois lados. A maquinação das eleições para as CCDR's, com a passividade de Marcelo foi muito bem metida.

domingo, janeiro 03, 2021

os debates

Marcelo Rebelo de Sousa-Marisa Matias. É a candidata mais empática, mais despida dos artifícios performativos da actuação política. Seria talvez a melhor presidente, mesmo vinda de um partido que cada vez mais me é desagradável. Foi envolvida por Marcelo, essa velha raposa. Estiveram ambos bem, num debate que não acrescentou nada, a não ser a explicação convincente relativamente à "falta" para com a viúva do imigrante assassinado por agentes do Estado, Ihor Omeniuk. O moderador, sempre em correria, cansou-me. Candidato à pergunta mais idiota: a de saber se um mau resultado prejudicaria a eventual pretensão de Maria a coordenadora do BE. A intriga, o sarro de politica-lha com que se entretêm entre si e só interessa esse tipo de parasitas que se nutrem à volta dos jogos de poder.

André Ventura-João Ferreira. Se é uma questão de decibéis e falta de vergonha, Ventura ganhou o debate, mesmo quando Ferreira expõe o carácter mentiroso do oponente e lhe lança no fim com os três votos sobre o Novo Banco: contra, abstenção e a favor. Nunca visto. Claro que o atirar das torpezas do bolchevismo e a impossibilidade de João Ferreira de demarcar daquilo, não o favorece. Este devia ter sido mais incisivo no destapar dos financiadores de Ventura, de quem este é testa de ferro, fantoche. A moderadora, que aprecio como pivot, foi muito atacada. Não é fácil pôr ordem naqueles galifões. mas a acusação de que as perguntas estavam montadas, até pela suspeição de que um dos financiadores de Ventura é accionista da TVI é gravíssimo. O jornalismo nunca foi grande coisa neste país, mas está assim tão baixo?

música para salvar o ano (passado):- #11 e final: «Vias de Extinção» (Benjamim)

na estante definitiva

 O texto introdutório é uma justificação da procura e resgate empreendidos pelo autor duma cultura e tradição varridas da narrativa historiográfica portuguesa com honrosas excepções, fruto da Reconquista e da bagagem ideológica que se lhe colou. triunfo do cristianismo, derrota do outro, que éramos também nós próprios e não sabíamos: «Conheci então o que sempre de mim fora conhecido.»

E há um óbvio apontar de dedo aos basbaques do país traduzido do francês em calão. O autor fala de subserviência, eu vejo o complexo do bimbo que gosta de mostrar que bebe do fino. Misérias. A constatação do abandono e do desinteresse, em 1987 mais pungente que hoje, por certo, peso o vírus jihadista que entretanto contaminou tudo o que pudesse emanar eflúvios de arabismo, E nesse então, a pergunta: «E quantos Árabes ilustres ligados à nossa terra têm merecido a atenção da nossa intelectualidade? Apenas responderá um silêncio que magoa.»  A melhor resposta é dada com este volume, que é obviamente um livro essencial dos estudos arábicos do século passado, como o foi esse outro maravilhoso gesto de António Borges Coelho com Portugal na Espanha Árabe (quatro volumes, 1972-1975). É isto que realmente interessa, o resto são inanidades para o agora.
Adalberto Alves, Portugal na Espanha Árabe (1987),

música para salvar o ano (passado): «Tudo no Amor» (Clã)

sábado, janeiro 02, 2021

a arte de começar

«Eu tinha chupado a vida por uma palhinha e o que restava dela e de mim era um monte de ossos com algum sebo! Acabara de ter uma desilusão de amor com uma cadastrada e estava a reaprender a amar na altura em que estes sinistros crimes se passaram. Vivia sem grande futuro e pior presente numa mansarda perto das Portas do Sol na Rua da Judiaria. Por companhia tinha um lavatório de ferro com tantos gatos como os que passavam miando pelo telhado  e um desenho a lápis do Hogan preso na parede por um adesivo onde se viam os dedos impressos pela fome. A única divisão servia-me também de escritório e, pendurado na porta da rua, tinha porto um letreiro com uma letra gorda dizendo "Agência Privada de Detectives". E para disfarçar a crise e enganar os clientes, com uma opulência fictícia, comprara um telefone a fingir e uma velha máquina de escrever na Feira da Ladra. Luxos que não podiam esconder o prédio, um pardieiro quase a cair, , alcunhado o "P.I.B. de Alfama", porque estava tão deficiente como a situação do país. De tal modo a casa se tornara popular no bairro que na taberna em frente se apostava, entre dois copos de tinto, quem ia dar primeiro com as trombas no chão: o prédio, o governo ou eu, vítima do meu arriscado ofício de impoluto investigador.» 

Rusty Brown (Miguel Barbosa, 1925-2019), Os Crimes do Buraco da Fechadura (2010)