sexta-feira, março 31, 2017

«A um posto de trabalho permanente, um contrato efectivo»

Passo diariamente por alguns cartazes destes, afixados pelo PCP. E sabe-me bem ver esta mensagem política directa. Sempre senti desprezo pelos que se aproveitam das debilidades dos outros. Aliás, sempre senti repugnância pelos aproveitadores de qualquer espécie. É assim que vejo a generalidade das chamadas empresas de trabalho temporário. Por isso, estando tão afastado do PCP em tanta coisa, no meio da sujidade comunicacional, da política ao 'entretenimento', e todo o resto desse submundo enganoso,  o avistar duma frase tão decente como «A um posto de trabalho permanente, um contrato efectivo», é-me verdadeiramente grato, pelo pouco de higiene que traz.

quinta-feira, março 30, 2017

quarta-feira, março 29, 2017

Sou só, porque não consigo ser único.
António Miranda

arquivo: «Chelsea Bridge» (Ben Webster, 1959)

terça-feira, março 28, 2017

da Ponte Salazar ao Aeroporto Cristiano Ronaldo: o país entregue à bicharada

Não que Cristiano Ronaldo não seja credor de enorme admiração, sendo o atleta excepcional que é, um dos maiores futebolistas de todos os tempos. No entanto, nem há distância -- o homem, nos seus trinta e poucos, continua o maior nos relvados -- nem, por muito extraordinário que seja, chegou ainda à categoria de 'mito'.

É verdade que os aeroportos não deixam de ser infraestruturas a que foram dados nomes de políticos que as circunstâncias enobreceram e alçaram acima do nível geral dos congéneres. É o caso notório de Charles de Gaulle, um homem que impôs que o país resistisse à barbárie, ou John Kennedy, cujo assassínio em directo comoveu os seus concidadãos e o mundo, coroando, assim, um carisma que vinha sendo construído, pairando sobre o imaginário utilitarista norte-americano.

Por cá, a atribuição, há dias, do nome de Humberto Delgado ao aeroporto de Lisboa, participa dessa intenção de homenagear alguém que se agigantou e perdurou na memória colectiva, independentemente da pobre condição humana que lhe assistia. Delgado desafiara o todo-poderoso Salazar, galvanizara um povo que há mais de três décadas vivia em ditadura, opressão e pobreza, concorrera a eleições fraudulentas e mesmo assim -- não restam dúvidas -- ganhou-as; foi destituído, perseguido, exilado e, no fim, assassinado pelo mesmo regime que afrontara, e de que ele, militar, fora um dos fundadores, em 1926. Ah, e além disso, dirigiu a criação da TAP. É um nome absolutamente incontroverso.

Podendo haver casos anteriores, dou pela parvoíce logo com a Ponte Salazar. Os untuosos e puxa-sacos (expressão brasileira que adoro) do costume resolveram besuntar o então Presidente do Conselho, em plenas funções, oferecendo o seu nome à espantosa obra de engenharia que ligava as duas margens do Tejo, em Lisboa. E o homem deixou que o besuntassem. Há quase quarenta anos no poder, ele é que era o dono disto tudo, nada no país se fazia contra a sua vontade. Foi uma das fraquezas do Salazar. a humaníssima vaidade.

Depois, o caso caricato do Aeroporto Francisco de Sá-Carneiro, a ponta visível duma epidemia toporreica que atravessou Portugal, não havendo lugarejo que não tivesse a sua Rua Sá Carneiro e, em seguida, o seu beco Adelino Amaro da Costa. Na minha vila de Cascais, uma das praças teve de ser baptizada com o nome do dito, e, para o CDS não ficar atrás, deram ao Amaro da Costa a mais comprida avenida. Não é preciso dizer que o portuense Sá-Carneiro e o alentejano Amaro da Costa nenhuma relação notória tiveram com Cascais, e assim com os trezentos municípios do país que sobram; havia, porém, que marcar pontos políticos e pessoais de vária natureza.


Isto seria só ridículo, se não fosse mais um sinal evidente de como o país está entregue à bicharada, ao descaso, quando não a um rasteirismo sórdido: se há alguém que deveria ter um nome num aeroporto, esse seria Gago Coutinho, para não falar dos restantes pioneiros da aviação. Mas bastaria lembrar os navegadores. Se Portugal tem um lugar de destaque na história universal, este deve-se às navegações dos portugueses e, portanto, não vejo melhor nome para um aeroporto do que os desses homens corajosos e aventureiros que muitas vezes pereceram no mar, como Bartolomeu Dias ou os irmãos Corte Real, entre tantos da mesma estirpe.


Compare-se Aeroporto Gago Coutinho ou Aeroporto Bartolomeu Dias e Aeroporto Cristiano Ronaldo. Não joga, pois não?...


*Já agora, como o velho almirante tinha raízes algarvias, corram a dar-lhe o nome ao aeroporto em Faro, antes que Marcelo se lembre do Cavaco.

arquivo: «Conquistador» (Procol Harum, 1967)

segunda-feira, março 27, 2017

livros que me apetecem

Coração Mais que Perfeito, Sérgio Godinho (Quetzal)
Desobediência Civil, Hannah Arendt (Relógio d'Água)
Escravos em Portugal, Arlindo Manuel Caldeira (A Esfera dos Livros)
Três História Desenhadas, José de Almada Negreiros (Assírio & Alvim)




50 discos: 1. LOUIS ARMSTRONG PLAYS W. C. HANDY (1954) - #5 «Long Gone (From Bowlin' Green)»


domingo, março 26, 2017

caracteres móveis

O tempo, quando se olha para trás, passa depressa mesmo para os que sofrem.

Conde de Arnoso (Bernardo de Pindela), De Braço Dado (1894)

arquivo: «O Cabral Fugiu para Espanha» (José Afonso, 1979)

sábado, março 25, 2017

nos 60 anos da União Europeia

O dia 25 de Março, data da assinatura do Tratado de Roma, deveria ser feriado em todos os países da União Europeia.
Nunca, na história do Ocidente (e digo 'Ocidente' para não ser eurocêntrico), houve uma tamanha aquisição institucional; e será preciso recuar à Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) para um avanço civilizacional de envergadura semelhante.
É isto que devemos ter em mente quando somos críticos, pelas boas razões, da União Europeia. 
A circunstância de ela estar em recuo, em virtude da falta de orientação política por parte de dirigentes menoríssimos, que a coloca nas mãos do financismo predador internacional, não pode levar os progressistas, os liberais, os democratas -- todos os homens e mulheres de boa-vontade na Europa, em suma -- a perder de vista que a construção europeia é um triunfo do racionalismo ilustrado sobre o atavismo e o primarismo de toda a espécie.
Pelo contrário, a União Europeia precisa de quem lute por ela, precisa de avançar num sentido duma maior integração federal, ao contrário do arremedo actual: moeda única sem orçamento e legislação conformes; parlamento europeu gigante e sem grandes poderes, em vez de uma segunda câmara em que Malta esteja em paridade com a Alemanha, tal como nos Estados Unidos o Havai e a Califórnia estão igualmente representados no Senado).
Os danos causados à ideia europeia na última década foram tremendos; o aprofundamento federalista é hoje cada vez mais difícil, quando vemos que a maioria dos cidadãos de um país fundador como Itália -- a Itália, que é a âncora da civilização europeia, e sem a qual a Europa não existe --, está descontente. 
A luta pela Europa é hoje o mais importante desígnio que se nos põe a todos. De um lado, a União Europeia; do outro, a xenofobia, o nacionalismo, a guerra.

Joseph Haydn: Sinfonia n.º 94 - I. Adagio cantabile. Vivace assai


(1732-1809)



Orquestra Filarmónica de Berlim / Mariss Jansons

arquivo: «Bud's Bubble» (Bud Powell Trio, 1947)

sexta-feira, março 24, 2017

estampa CCXLI - Gwen John


Auto-Retrato (1902)
(Tate Gallery, Londres)

arquivo: «Back In The U.S.S.R.» (The Beatles, 1968)

quinta-feira, março 23, 2017

os atentados de Londres e o que me apetece dizer

Que os ingleses, criminosos de guerra no Iraque, estão a colher o que semearam? Não é toda a verdade, mas também não é mentira.

Mas que tinham que ver com isso o polícia desarmado, a mãe que ia buscar as filhas à escola, o homem que festejava em Londres os 25 anos de casado, o homem de 75 anos que acaba de morrer, a jovem arquitecta que viera da Roménia para passar os anos com o namorado? Nada, caralho; não tinham nada que ver nem com os crimes dos ingleses nem com os crimes dos jihadistas.

Como não há justiça, os líderes ingleses não vão ser julgados por crimes contra a Humanidade, e os que promovem os atentados vão ficar impunes. Como não há justiça, muito serão os muçulmanos inocentes olhados de lado, vexados, agredidos. 

50 discos. 28: COMES A TIME (1978) - #4 «Lotta Love»



quarta-feira, março 22, 2017

criador & criatura

fonte

Mort Walker e Beetle Bailey / Recruta Zero


fonte

arquivo: «African Children» (Aswad, 1983)

terça-feira, março 21, 2017

o panasca do Dijsselbloem

Li aqui e depois aqui
Vamos admitir que gastamos o dinheiro em copos e mulheres, nós, o europeus do Sul. Sempre é bem melhor ser putanheiro que punheteiro, que é o que o Jerónimo D. deve ser -- além de vigarista e dirigente de um partido inútil, à beira da extinção com a últimas eleições holandesas.
Este cretino do Jeroen não merece só que se riam dele: o Centeno, o Guindos, mais o grego, o italiano e o francês, já para não falar do cipriota e do maltês, devem dizer: "o pá vai ladrar para a estrada, que não fica bem estarmos numa sala contigo...!

arquivo: «As Atrizes» (Chico Buarque, 2006)

segunda-feira, março 20, 2017

Os teus versos sabem mais de literatura do que tu,
Rui Almeida

arquivo: «Angel Eyes» (Chet Baker, 1959)


domingo, março 19, 2017

estampa CCXL - William Blake

Deus Julgando Adão (c. 1795)
Tate, Londres

arquivo: «And I Love Her» (The Beatles, 1964)

quinta-feira, março 16, 2017

criador & criatura


Jacques Martin e Alix


arquivo; «Yellow Dog Blues» (Louis Armstrong, 1954)

tudo de pernas para o ar

Se, no Verão, vimos feministas defenderem o burkini, em nome não sei bem de que direitos, neste Inverno a FN suspendeu um suave negacionista do Holocausto (diz que tem dúvidas), líder do partido em Nice. Na Europa, a esquerda torce por Merkel e Rutte; em Portugal, o PCP protege o governo -- no que faz muito bem, aliás.

quarta-feira, março 15, 2017

a liberdade individual à esquerda

A cacofonia do tempo, o seguidismo bovino, a loquacidade dos corifeus do politicamente correcto  e espessas camadas de ignorância, engendram as confusões a que vimos assistindo sobre o posicionamento esquerda-direita em relação a questões que se prendem com a liberdade individual.

O véu islâmico é uma demonstração pública da subjugação da mulher e nada mais do que isto. Todo o bruaá em torno é um mero aproveitamento da guerra ideológica que os sectores radicais islamitas movem às nossas sociedades liberais, auxiliados pelos idiotas-úteis de alguma esquerda.


É evidente que o assunto é difícil, e que a mulher pode ser duplamente penalizada, com a decisão do Tribunal de Justiça da UE, pois o uso do véu não é da sua escolha, nunca o foi -- a não ser em casos recentes de statement político. O problema é que temos cada vez temos tempo. O enterrar da cabeça na areia, que já leva décadas, é pasto para a extrema-direita. Neo-fascistas e integristas islâmicos alimentam-se mutuamente, como se tem visto. E, portanto, ou pomos racionalidade nisto ou seremos devorados.


Só há uma 'liberdade' com que a esquerda digna desse nome não pode contemporizar: a que esmaga os outros, a do libertinismo financista, a que se arroga o direito de dispor da vida dos outros seres humanos em nome duma ideia depravada de enriquecimento. A esquerda que contemporiza com o autoritarismo, sob pretexto de questões ditas identitárias que colidem com a mais básica noção de autodeterminação individual, não serve.

arquivo: «Your Song» (Elton John, 1970)

terça-feira, março 14, 2017

Júlio Dinis, algumas aparas

Que penso eu do Júlio Dinis?
Um extraordinário talento de novelista, notável encenador de ambientes e situações.
A segunda metade do século XIX na novelística portuguesa é Camilo-Júlio Dinis-Eça. O resto é secundário. Por alguma razão ele sobreviveu, ao contrário doutros autores estimáveis, mas cujo desempenho não chegava aos calcanhares do criador d'A Morgadinha dos Canaviais.
Não o conheço a fundo: li três dos seus quatro romances e um ou outro conto ou disperso; falta-me a juvenília, para a qual não estou muito virado, e o paraliterário (correspondência, etc.), mas, homem do Porto e mão inglesa, suponho-o um liberal distante da politiquice e do caciquismo.
Detractores, teve e ainda terá uma quantidade deles. Entre nós, o apoucamento de grandes escritores deve-se a pelo menos uma de três desrazões: ressentimento despeitado dos contemporâneos, sectarismo ideológico, o deslumbramento basbaque, Os primeiros, os mais tristes; os últimos, tristemente risíveis. Por isso, ainda corre que por aí que o Júlio Dinis é autor de romances cor-de-rosa, país desgraçado.
Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho, Porto, 1839-1871), é um dos meus escritores.

50 discos: 30. GERM FREE ADOLESCENTS (1978) - #4 «Let's Submerge»


a Sr.ª PGR, o bandido Madoff, a cara de Sócrates após interrogatório

Joana Marques Vidal desabafou esta tarde que o caso Madoff levou oito anos a ser investigado. Pois, é verdade. Mas o que a sr.ª PGR não disse, foi que as autoridades n-americanas investigaram oito anos com discreta eficiência, e, chegados ao fim, prenderam e em seis meses julgaram e condenaram o bandido. Exactamente o contrário do que por cá fizeram com Sócrates. 

Se estavam tão convencidos da corrupção do ex-PM, tinham feito o trabalho, discretamente, meticulosamente, seriamente. Mas não, Houve quem quisesse mostrar-se, pôr-se em biquinhos dos pés, mostrar que era muita bom, tão bom que até prendia um PM. E os cidadãos que se houvessem.
Pela cara de Sócrates após o interrogatório, parece-me que vão espalhar-se ao comprido. O que significará, no fundo, que estiveram a trabalhar para o Correio da Manhã.

Repetindo-me: confiança na justiça, tenho zero, pois ainda estou bem recordado da miséria do caso Casa Pia, e de como à pala duns médicos, duns apresentadores, duns embaixadores que gostavam de desviar meninos pobres, foram usados (ou deixaram-se usar) para decapitarem a liderança mais à esquerda do PS. Foi a 'justiça' na lama. Ao mesmo tempo, o BPN, ligado ao PSD, afunda-se (talvez  até à prescrição. Não?...); já para não falar dos submarinos do CDS do Jacinto Leite Capelo Rego, com presos na Alemanha e na Grécia (corruptores e corrompidos).

Portantos, só não termino com uma asneirada das minhas, pois tenho em atenção que comecei este modesto post com o nome de uma senhora.

domingo, março 12, 2017

Gosto quando pões a quinta porque me tocas na perna com o nó dos dedos
Miguel-Manso

sexta-feira, março 10, 2017

50 discos: 19. ARGUS (1972) - #4 «The King Will Come»


Fiquei com a ideia, porventura injusta, de que, segundo o STJ, 'para quem é, bacalhau basta'. Estarei a ser injusto, além de socrateiro? Oh!, corrijam-me, se estiver errado,por favor...

Sócrates foi viver para Paris, para estudar Ciência Política.
Certa imprensa, que eu não frequento por uma questão de asseio, relata uma real ou suposta vida de nababo do ex-PM.
A Justiça investiga, mas não se resguarda. Em vez de desempenhar o seu papel como deve ser, e tentar apanhar Sócrates com a boca na botija, não: vá de promover o atropelo à lei, vazando na dita imprensa toda a sorte de fugas de informação sujeita ao caricaturesco segredo de justiça. Isto é: não interessa se a Justiça cumpre a lei; o que interessa é engavetar o corrupto, e de caminho tornar alguns agentes da justiça estrelas da chamada do mundo mediático
.
O espectáculo que tribunais e Ministério Público têm dado ao longo destes anos, teve ontem mais um momento glorioso: "No acórdão, os juízes do Supremo justificam que existe um risco real do não reconhecimento público da imparcialidade de Rui Rangel." Isto, depois de ter sido negada a pretensão do afastamento do juiz Alexandre, após a desastrada entrevista à sic.
Sim, reconheço que seria praticamente impossível, e provavelmente indesejável, afastar Carlos Alexandre, atendendo às dimensões do caso. E também acho que os juízes em funções, seja Alexandre seja Rangel, deveriam estar autorizados a falar apenas do futebol e dos quadros do Miró. Uma vez que não é assim, o que me chateia é conversa canhestra do STJ.

Agora já não é o plebeísmo da Relação com o adágio das cabras; agora é o STJ a não se dar ao trabalho de usar uma justificação sólida para o afastamento de Rangel, parecendo que, para quem é (opinião pública), bacalhau basta: já nem falo do 'risco real do não reconhecimento público da imparcialidade' do juiz Rangel (então a Justiça sacrifica ao 'reconhecimento público'?...); o pior de tudo é a própria justificação: o juiz Alexandre pode dizer o que quiser a propósito de um arguido, mesmo que em alusão indirecta, como toda a gente percebeu; aí, já não há problema; o juiz Rangel, como favoreceu Sócrates numa opinião e numa decisão, já corre o risco de ver afectada a sua imparcialidade...

Posso estar redondamente enganado, mas isto vai acabar mal. E o acabar mal é o arrastamento do caso por anos, sem que se chegue a um desfecho, a não ser na tal opinião pública, que há muito já condenou ou absolveu Sócrates. Pelo caminho, lama e descrédito, sujando tudo e todos.  E poderia ter sido diferente? Não pertenço a esse mundo, mas tenho a impressão de que poderia.

arquivo: «Under Pressure» (Queen & David Bowie, 1982)

estampa CCXXXIX - Marie Bashkirtseff


Auto-Retrato com Paleta (1880)

quarta-feira, março 08, 2017

Camilo, algumas aparas

Que penso eu do Camilo?
Costumo dizer que ele vale por toda uma literatura. Está no mesmo patamar da poesia trovadoresca, do Camões, do Padre António Vieira, entre outros poucos. Isto é: podia a literatura portuguesa contar apenas com o CCB, e já poderíamos dar-nos por felizes.
Execrável criatura, imoral, porventura amoral, porém fisicamente corajosa. Demolidoramente sarcástico, violento até à bengalada.
Ideologicamente instável, menos reaccionário do que se supõe, oportunista no que fosse preciso.
Detractores, não creio que os tenha hoje, mesmo entre os que preferem o Eça. Já é um clássico.
Conheço-lhe a obra deficientemente (uns quinze títulos ou pouco mais), na proporção incomensurável que logrou alcançar, o suficiente, porém, para um juízo não muito erróneo.
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, freguesia dos Mártires, Lisboa, 16 de Março de 1925 -- São Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, 1 de Junho de 1890), é um dos meus escritores.

arquivo: «Traz Outro Amigo Também» (José Afonso, 1970)

terça-feira, março 07, 2017

não foi para isto que se fez o 25 de Abril, ò palermas

Comecemos pelo que interessa, pelo que é importante: Jaime Nogueira Pinto é um dos mais esclarecidos intelectuais da direita portuguesa. Ouvi-lo, para quem, como eu, está à esquerda, é sempre interessante e desafiador. O gozo está no debate de ideias, em ouvir quem, de boa-fé, não pensa como nós; se é para estar no rebanho, se é para as palavras-de-ordem, vamos ver o Glorioso, vamos a Fátima, às assembleias da iurd ou a uma manif da CGTP-In. O que não pode passar em claro: censurar um intelectual -- não se trata de um palhaço, de um agitador, em relação aos quais não deve haver contemplações --, não é possível num país como o nosso, e portanto a coacção não pode ficar impune, ainda para mais numa universidade.



Quanto ao circo: nunca tinha ouvido falar na 'Nova Portugalidade'; tenho até dúvidas de que sejam fascistas ou colonialistas. Deve tratar-se dum grupo de criaturas que tinham orgasmos a ouvir o Agostinho da Silva (que não era um homem de direita), quando o velho filósofo tripava valentemente à conta do Quinto Império & outros xamanismos. Há sempre sonhadores e poetisos que se embalam nestas lengalengas, e depois surgem com parvoíces como as lusofonias alucinadas. Normalmente seduzem contabilistas e juristas basbaques, que quando alcançam governar engendram coisas como o Aborto Ortográfico. Os portugaliteiros (acabei de criar a palavra), em geral, são inofensivos, embora possam tornar-se nos idiotas úteis de alguma quinta coluna neo-facha. Quanto aos alunos aspirantes a censores, deve a UNL começar por virá-los para a parede, de castigo, com umas orelhas de burro.
Sempre gostaria de ver quanto destes palermas, daqui a vinte anos, estarão à direita, a fuçar em fundos de pensões, assalariados do financismo, consumidores e bonecos do sistema.


Em tempo. A reacção de Vasco Lourenço, oferecendo as instalações da Associação 25 de Abril para a realização da conferência, é de grande alcance cívico e político. Outra coisa não seria de esperar.

arquivo: «That Old Feeling» (Louis Armstrong & Oscar Peterson, 1957)

segunda-feira, março 06, 2017

criadores & criaturas



Jacques Laudy, Jacques Van Melkebeke e Hassan e Kaddour


arquivo: «12 O'Clock High» (Dirty Looks, 1980)


domingo, março 05, 2017

e ainda dizem que não há milagres



História de um milagre. Não, de dois milagres.
O primeiro é a descoberta de um músico que ninguém queria ouvir na sua terra, Estados Unidos, tornado herói na África do Sul do apartheid, junto da juventude africânder, sufocada pelo regime. A situação de pária internacional fez com que Sixto Rodriguez ignorasse, durante trinta anos, que era uma estrela na África do Sul, maior do que Elvis, só eventualmente ultrapassada pelos Beatles e Simon & Garfunkel.
O segundo milagre é o próprio Sixto Rodriguez, como se vê neste notável documentário de Malik Bendjelloul.

sexta-feira, março 03, 2017

arquivo: «Subúrbio» (Chico Buarque, 2006)

o faz-de-conta vai sair-nos caro

daqui
Enquanto arranjam um pretexto para torpedear a Le Pen, deixam que o anormal da foto se babe livremente em enormidades
Mais vale ilegalizar os partidos neo-fascistas, racistas e xenófobos e varrer todo este lixo da vida pública, em vez de andarmos a criar vítimas, que irão capitalizar nos votos.  
Depois, para grandes males, grandes remédios. Isto vai sair-nos caro.

estampa CCXXXVIII - Carlo Carrà

daqui

O Funeral do Anarquista Galli (1911)
MoMA, Nova Iorque

quinta-feira, março 02, 2017

quarta-feira, março 01, 2017

criadores & criatura



Gian Luigi Bonelli, Aurelio Galleppini (Galep) e Tex

fonte

arquivo: «Sing» (Travis, 2001)

microleituras

Um dos primeiros livros publicados por Camilo Castelo Branco participa desta literatura, com «Maria. não Me Mates que Sou Tua Mãe!» (1848), como é referido pelo autor desta síntese notável de enquadramento e análise dum género tão peculiar, caído em desuso não há muito. Literatura de cordel, literatura de cego, vendido por feiras e mercados deste país, histórias fabulosas, relatos de viagem, episódios do ciclo arturiano, do último feito notável ou do último crime cometido, verso,drama e prosa de proveito e exemplo que leitores e ouvintes (não esquecer o analfabetismo endémico), consumiam gulosamente. Que o dissesse Ferreira de Castro, ainda criança, com a História do João Soldado -- um must da literatura de cordel.

incipit: «A designação "literatura de cordel" recobre, no uso dos especialistas,, um conjunto imenso e instável de obras que eram penduradas para exposição e venda em cordéis distendido entre dois suportes, presos por pregos ou alfinetes, em paredes de madeira ou na rua, podendo também pender dos braços da da cintura de vendedores ambulantes.»  


Carlos Nogueira, Literatura de Cordel: História, Teoria e Interpretação, 2.ª ed., (2003)