quarta-feira, dezembro 31, 2008

estampa CXLVI

Alfredo Keil, Praça dos Restauradores
Museu do Chiado, Lisboa

Cordilheiras do Riff - 6/10

12. Johnny Hartman, «It Never Entered My Mind». Voz de veludo, um crooner. Sammy Davis swinga com estilo. (Postado em 24 de Junho)
12. The Kinks, «Lola». Uma das músicas emblemáticas da banda de Ray Davies -- banda que com os Beatles, os Rolling Stones e The Who estiveram no centro do pop britânico em meados da década de sessenta. Estes com menos sucesso, mas com lugar cativo na história que ajudaram a compor. (Postado em 6 de Novembro)
12. Mark Knopfler, «Speedway At Nazareth». Knopler era os Dire Straits, que acabaram esgotados. O seu percurso a solo é robusto, e toca como poucos. Solid rock. (Postado em 7 de Fevereiro, e com um novo abraço à Ana Vidal, pelo comentário)

Antologia Improvável #347 - Fernando Leiro

SONHOS


Tão transtornado fiquei
por ter sonhado contigo,
que já não sei o que digo
e ainda não comecei.

Estou em crer que nenhum rei
viveu tão bela aventura...
Porém, na melhor altura
-- que raiva imensa! --, acordei.


Ficaste desiludida
por saber quais são na vida
os sonhos que me consomem?


Não sou culpado do espanto;
pra que me julgas um santo,
se eu sou apenas um homem?!


Luz da Minha Candeia

terça-feira, dezembro 30, 2008

Cordilheiras do Riff - 5/10

16. George Thorogood & The Destroyers, «Bad To The Bone». Uff! Um duro do blues branco, guitarrista de mão cheia, como se pode ver. O tema é dele, e é já um clássico. (Postado em 19 de Setembro, como comentários do Ruela, pelo que lhe deixo mais um abraço)

16. The Ink Spots, «If I Didn't Care». Das igrejas para a música profana, a América dos anos cinquenta e sessenta conheceu inúmeros grupos de grande trabalho vocal. Este, exímio. (Postado em 22 de Agosto)

16. Johnny Winter, «Rock'n'Roll Hocchie Koo». Um príncipe da Renascença toca e canta blues... Mais um nome do blues branco, um grande nome, discípulo de Muddy Waters, numa versão formidável. (Postado em 8 de Outubro)

Pouco vale a verdade dos pequenos!

Frei Agostinho da Cruz

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Cordilheiras do Riff 4/10

16. Kurt Elling, «The Waking». De cortar a respiração. Uma das grandes vozes de hoje no jazz, no magnífico programa de Jools Holland (BBC). Eu já tive a sorte de ouvi-lo, aqui em Cascais, no Parque Palmela. (Postado em 10 de Dezembro)

16. Muddy Waters, «Catfish Blues». Nome mítico dos blues, que os electrificou, ao vivo no Festival de Newport, em 1960. Mítico também para uma série de jovens músicos do lado de cá do Atlântico, como Mick Jagger e Keith Richards, que deste tema retiraram o nome da sua banda. (Postado em 12 de Maio, e com um abraço à Estrelícia Esse, pelo comentário)

21. The Carpenters, «Superstar». Ou de como os arranjos (de Richard Carpenter) podem proporcionar um salto qualitativo a uma canção que seria banal sem eles -- apesar da grande voz malograda Karen... (Postado em 16 de Outubro)

vinhetas

Zep, «A mega-ameaça», in Astérix e os Seus Amigos (álbum colectivo), Edições Asa

domingo, dezembro 28, 2008

Cordilheiras do Riff 3/10

21. Horace Silver, «Señor Blues». Grande tema de Horácio Tavares da Silva, filho de caboverdiano, tocado na Holanda, há 49 anos. Tudo isto é blues, tudo isto é soul, tudo isto é jazz. (Postado em 8 de Fevereiro; com um abraço à Ana Vidal e ao Ruela, pelos comentários)

21. Lou Reed, «Satellite Of Love». Grande melodista, ambígua a música, antes de depois dos riffs de Reed. (Postado em 26 de Junho; e novo abraço ao Ruela, pelo comentário)

21. Van der Graaf Generator, «Killer». Som como só o chamado rock progressivo tem. Peter Hammill, com muito mais anos em cima, aguenta-se bem, e o mesmo se diga para o espectacular David Jackson, nos saxes -- que entrada!... (Postado em 20 de Maio)

caderninho

Se queres fazer progressos, evita juízos como estes: «se negligenciar os meus afazeres, não terei com que viver»; «se não castigar o meu escravo, tornar-se-á insolente.» Em verdade, é melhor morrer de fome, sem cuidados e sem medos, do que viver rodeado de riquezas mas perturbado. Bem assim, é preferível o teu escravo ser insolente a viveres tu próprio na infelicidade.

Posto isto, começa pelas coisas mais pequenas. O teu óleo foi derramado, o teu vinho carrascão foi roubado? Diz para ti mesmo: «é este o preço da tranquilidade e da paz de espírito.» Gratuitamente nada se consegue. E quando chamares o teu escravo, pensa que poderá não te obedecer ou que, se o fizer, poderá nada fazer do que pretendes. Mas não é ele tão importante que dele dependa a tua paz de espírito. Epicteto

A Arte de Viver (tradução de Carlos A. Martins de Jesus)

sábado, dezembro 27, 2008

acordes nocturnos

Cordilheiras do Riff 2/10

25. Lee Konitz, «Lazy Afternoon». Música de filme. Francês, de preferência. (Postado em 23 de Janeiro)




26. Chris Potter Underground, «It Ain't Me, Babe». Truncado e tudo, filmado por um amador e tudo, é do melhor que alguma vez passou pelo Vale do Riff. A música de Dylan é magnificada pelo clarinete baixo e pelo sax tenor de Potter. Faltam-me as palavras. (Postado em 15 de Abril)


26. Paul Robeson, «My Curly Headed Baby». Foi assim que tudo começou, com lullabies, espirituais e gospel, os blues... Robeson, grande barítono, é simultaneamente enternecedor e arrepiante. (Postado em 31 de Março)

caracteres móveis - August Strindberg

O que se entende por sociedade?
É uma forma de coexistência social, desenvolvida sob a influência da classe dirigente para manter subjugada a classe baixa.




Breve Catequese para a Classe Oprimida
(tradução de Alexandre Pastor)

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Cordilheiras do Riff 1/10

Volto a seleccionar músicas d'O Vale do Riff, como (algumas d)as melhores do ano que finda. Trinta, em duzentas e tal. Só que este ano pedi aos meus filhos teenagers (Joana, António e Teresinha) para votarem a minha escolha, e pontuarem cada uma de 1 a 10 (cá em casa divertimo-nos...). Elas aqui ficam, no lugar em que eles as puseram.

28. Talking Heads, «Cities». Ao vivo em Roma, em 1980. Trepidante e funky. David Byrne, alucinante. Lancinante a guitarra de Adrian Belew -- que não pertencia à banda, e que ouviríamos em breve, voz e guitarra, nos King Crimson. Tina Weymouth, maravilhosa. O realizador, italiano..., deixa-lhe a sua marca. (Postado em 3 de Abril)


29. Cannonball Adderley, «The Jive Samba». Olha!, a little bit funky again... E que beat tinha o Julian "Cannonball"! Mas são os arranques de flauta do Yusef Lateef que verdadeiramente me transportam. E pode um austríaco (Joe Zawinul) não ser frio? Pode. (Postado em 21 de Outubro)


30. Charlie Haden (com Kurt Weill!), «Speak Low». Lindo. Com George Gershwin, Weill foi, dos compositores vindos de outra esfera, quem maior eco obteve na música popular -- de Louis Armstrong a Nick Cave. Os solos de Haden servem na perfeição este grande tema. (Postado em 7 de Julho)

Antologia Improvável #346 - Maria Teresa Horta (6)

POEMA AO CUIDADO

Cuidado de mal amado
meu mal
de mal cuidado

novas de dano chorado
ou perjuro do que
afirmo
quando olho o meu cuidado

Cuidado meu fruto
cedo
colhido sobre o seu
ramo

cuidado de muito engano
quando descanso o cuidado
como a cuidar de quem amo


Minha Senhora de Mim

acordes nocturnos


imagem daqui

segunda-feira, dezembro 22, 2008

os melhores tons

O ano a chegar ao fim, e reposto aqui o melhor de «Outros tons», pois nem tudo é riff.
«A morte saiu à rua», concerto de despedida de José Afonso no Coliseu. A morte saíra há rua sob a forma de pide, para abater o pintor Dias Coelho. Um grande momento da obra do nosso maior trovador. Postado em 1 de Janeiro.
Luís Cília na Catalunha, cantado um tema da década de sessenta, «Sou barco». Versos do historiador António Borges Coelho, escritos na prisão de Peniche. Com uma abraço à Minucha, que comentou. Postado em 21 de Abril.
Não sei se repararam, mas a chamada música de intervenção foi o que de melhor se fez neste país como sonoridade urbana. O fado interessa-me como música étnica em renovação; há boa música ligeira e de variedades, mas acrescenta pouco. E depois há produtos industriais informes, vendidos como música, mas que o não é.
Sérgio Godinho, «Domingo no mundo». Ou como se faz música de intervenção sem se ser panfletário. Postado em 31 de Maio.

domingo, dezembro 21, 2008

capismo

capa de Luís Pinto e Panchita para Aventuras do Barão de Münchausen, de Gottfried August Buerger

Vega, Lisboa, s.d.

caderninho


Muita razão tinha quem disse que «gostamos de mostrar que somos o que gostávamos de ser». Emílio Costa
Filosofia Caseira

sábado, dezembro 20, 2008

figuras de estilo - Miguel Real

[..] a lama que te apanhou, meu querido, são as borras do Portugal velho, a enxúndia dos possidentes, a escória dos burocratas-juízes-finaceiros, a escuma dos ancestrais-professores-de-direito-de-Coimbra, a baba escorrente dos frades-barões do Almeida Garrett, a ralé dos fidalgos-terratenentes-parasitários das terras e das aldeias do Júlio Dinis, o cuspo dos bacharéis-administradores-de-concelho do Eça, o escarro dos cónegos-abades-vigários do Camilo, o babadouro dos directores-superintendentes-capitães do Raul Brandão, a escória dos desempregados-da-Índia do Pessoa e dos loucos-lúcidos-alucinados do Sá-Carneiro, a gosma dos reitores-professores-funcionários-ignorantes do Vergílio Ferreira, a gentalha-canalha dos medíocres-interioreâneos-cobiçosos-das-oportunidades-na-cidade-grande, como o ministro das contas, do Régio, o refugo dos chupistas-patrões que engolfam e não partilham do Ferreira de Castro, os descendentes-embrutecidos das casas fidalgas do Norte da Agustina, o rebotalho dos banqueiros-protegidos-do-regime do Lobo Antunes, os aljubeiros cegos de presos cegos do José Saramago, as vísceras podres das personagens vernaculares do Mário Cláudio, o restículo miguelista dos dons João V e VI sugando o ouro do Brasil e enforcando Gomes Freire de Andrade, é da diarreia dos dejectos deles que este fogo é feito, não do fogo da vida, que não queima e não mata [..]

O Último Minuto na Vida de S.

cartoon - William Hannah & Joseph Barbera

Tom & Jerry, «The Night Before Christmas» (1941)

sexta-feira, dezembro 19, 2008

quinta-feira, dezembro 18, 2008

capismo

capa de A. Pedro para O Trono e o Altar, de Maurice Baring
Unibolso-Editores Associados, Lisboa, s.d.

Antologia Improvável #345 - Sidónio Muralha (3)

OS OLHOS DAS CRIANÇAS


Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto.


Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.


Os Olhos das Crianças
(imagem)

O Vale do Riff Natal 2008 - Greg Lake, «I Believe In Father Christmas»

quarta-feira, dezembro 17, 2008

caderninho


As paixões contêm uma injustiça e um interesse próprios que tornam perigoso segui-las, e de que devemos desconfiar, mesmo quando nos parecem as mais razoáveis. La Rochefoucauld
Máximas (tradução de Cristina Proença)

O Vale do Riff Natal 2008 - Jona Lewie, «Stop The Cavalry»

terça-feira, dezembro 16, 2008

figuras de estilo - José Saramago

Cai a chuva, o vento desmancha as árvores desfolhadas, e dos tempos passados vem uma imagem, a de um homem alto e magro, velho, agora que está mais perto, por um carreiro alagado. Traz um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu. À frente caminham os porcos, de cabeça baixa, rasando o chão com o focinho. O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô.


As Pequenas Memórias

O Vale do Riff Natal 2008 - Slade, «Merry Xmas Everybody»

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Antologia Improvável #344 - Carlos Pena Filho

A SOLIDÃO E SUA PORTA

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sòzinho na batalha

e arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é solvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.


Livro Geral / A Nova Poesia Brasileira
(edição de Alberto da Costa e Silva)

O Vale do Riff Natal 2008 - Elton John, «Step Into Christmas»

homenagens a Nicot

David Mourão-Ferreira