terça-feira, junho 30, 2015

Sócrates

Mais uma vez, gostei da entrevista, desta vez ao Diário de Notícias; mais uma vez, parece-me um abuso que alguém possa estar preso. um mês sequer, sem ser acusado. Se se tratasse dum criminoso violento, um suspeito de terrorismo, um traficante, ainda se podia admitir. Assim, não se livra de parecer que se trata de uma perseguição. 
Aliás, a minha alma emparvoece quando vê banqueiros à solta; e políticos a quem chamam de vigaristas para cima na televisão, e que estão calados como ratos -- evidência clara de que algum ilícito praticaram. (Quem cala, consente -- não é verdade?) O que é que se passa com estes gajos, que deram cabo da vida a tanta gente?
O caso Sócrates não é só trágico; será patético se no fim disto tudo não houver acusação, ou ela seja tão frouxa que que a incapacidade dos detentores do processo fique demonstrada perante a opinião pública. E depois, como será?

segunda-feira, junho 29, 2015

Se pudesse escolher só uma música

Tarefa dificílima, uma vez que Um Redondo Vocábulo (2009), de João Afonso & João Lucas, seria um dos meus discos para a ilha deserta. Em primeiro lugar, é um disco de versões de José Afonso, o trovador, o bardo, o autor, o melhor, mais profundo, criativo e inovador músico que Portugal já teve, um homem que revolucionou a música popular portuguesa -- da evolução desde o chamado fado de Coimbra ao entrecruzar de sonoridades urbanas e extraeuropeias, neste último caso não tendo sido alheia a sua experiência africana. Por outro lado, José Afonso ("Zeca" é só para os amigos, já que ele nunca se assinou como tal), era um libertário, um utópico, um ingénuo no melhor sentido da palavra, cujas letras oscilam entre a exaltação duma realidade social outra e um desprezo salutar por todo o tipo de farisaísmo, político e cultural, que tomou conta deste país.
O melhor elogio que se pode fazer a João Afonso ao cantar material do seu tio é o de não se ter deixado subjugar nem ser reverente; apropriou-se dele tornando-o doravante também seu, que é o que se espera de um artista com personalidade. O piano de João Lucas dá toda a espessura à música, como se tivesse sido pensada e composta em forma de lied. Admirável.

assombroso Chris Squire



Soube, pela bloga, da morte de Chris Squire, baixista dos Yes, e único fundador que permaneceu na banda, em 47 anos de existência. Era um instrumentista assombroso, o melhor dos melhores que o rock já conheceu. Também cresci a ouvi-lo.

sexta-feira, junho 26, 2015

o referendo na Grécia

Desde a eleição do Syriza que estava à espera deste desfecho: em face da chantagem e da inépcia, Tsipras vai colher a legitimidade à fonte da soberania. O referendo decidirá se o povo grego aceita ou não as condições que lhe são impostas. Se aceitar, deve preparar-se para sofrer; se não aceitar, também. O problema é que se o "não" vencer será uma derrota política, não sei se fatal, para a União Europeia -- um projecto de paz e prosperidade tornado tóxico pela subserviência e exposição aos mercados, reflexo também da sua fraqueza política como união, cada vez mais entregue nas mãos e no interesse de um único país, a Alemanha. A política desgraçada no processo da Ucrânia aí está para o demonstrar. 

na morte de John Steed



Patrick Mcnee, o actor de uma das séries da minha vida, morreu hoje. Ainda tenho o carro da Corgi Toys...

estampa CXCIII - Ludwig Meidner


A Casa da Esquina (Villa kochmann, Dresden), 1913
Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid

quinta-feira, junho 25, 2015

O despudor governamental: dois exemplos de ontem

1) Oiço no rádio que o governo vai adiar a abertura do próximo ano lectivo. Como este ministro se distinguiu por introduzir a rebaldaria no início das aulas, percebe-se que, com eleições à porta, o melhor é tentar disfarçar o mais possível os previsíveis problemas que vão surgir;

2) Nos telejornais de ontem, vejo ministros e secretários de estado na cerimónia de assinatura que previsivelmente conduzirá à alienação da TAP -- um dos muitos bens nacionais de que os portugueses foram espoliados. Alertaram-me para o seguinte facto, tão significativo da má consciência e da má-fé do executivo: nenhum governante ostentava na lapela do casaco o pin com a bandeira portuguesa. Nem um. Estratégia de agência de comunicação, por certo, e não qualquer arroubo de pudor por parte dos intervenientes.

O desprezo pelos cidadãos, em toda a descarada evidência. Que miséria, que miséria.

BRAINSTORM



quarta-feira, junho 24, 2015

Merkel espirrou, as bolsas descem; Tsipras teve um ataque de caspa, os mercados assustam-se

Quando os governos dos estados estão nas mãos dos humores oscilantes dos mercados de capitais -- essas entidades sem moral nem consciência que procuram tirar rendibilidade até das pedras da calçada, e que tanto respeito e consideração merecem aos homúnculos políticos que dirigem este e outros outros países --; quando a navegação é feita à vista míope, o resultado, mais cedo do que tarde, será o caos e depois a guerra, o caos da guerra. Por isso é tão importante que Tsipras não saia derrotado neste combate desigual, mesmo com as cedências que tenha de fazer, consequência das que arrancará à UE e FMI.   

ELEGY FOR STRINGS


V de vendidos

Vendidos - vendidos.

segunda-feira, junho 22, 2015

DIRGE FOR NOVEMBER


Se tivesse de escolher só uma música

A Tori Amos fatiga-me um bocado, é demasiado sofredora para a minha paciência. Tem, contudo, alguns bons momentos. E deste seu álbum inaugural, de 1991, a minha escolha recai sem hesitação neste Precious Things, muito bem produzido

domingo, junho 21, 2015

extraordinária Catarina Martins

foto: Expresso
Ouvi um excerto da sua intervenção na convenção do Bloco, magnífica. Depois de ter dito várias vezes que Passos Coelho mentia -- com enorme objectividade, diga-se, pois a característica de um mentiroso é mentir... --, saiu-se com esta tirada, inspirada pelo bule de Joana Vasconcelos no Portugal dos Pequenitos: «"Não andamos aqui a tomar chá e a fazer de conta que é possível que todas as palavras tenham significados vários e sorrirmos todos como se tudo isto fosse uma mera troca de galhardetes".
Isto que sirva de aviso ao PS, para que se deixe de sentir cercado pelas insinuações em presença, do despesismo e falta de rigor até aos barretes que anda a enfiar nas alusões à corrupção, com as suas juras pias de seriedade.
O caso é este: o actual governo exerceu o poder contra os portugueses, é colaboracionista, antipatriótico e vendilhão dos bens nacionais. O resto é a chamada conversa da treta (Pacheco Pereira dixit) dos avençados do costume. Intervenções como esta de Catarina Martins, assertivas, inteligentes (e cultas, até) fazem dissipar um pouco o ar viciado da política portuguesa.

P.S. -- não voto PS (nem BE).

criador & criatura


Al Capp & Li'l Abner (Ferdinando)


quinta-feira, junho 18, 2015

A União Europeia, Alves Redol e o evangelista Mateus

A União Europeia, as últimas declarações de comissários, eurocratas e pessoal político, trazem-me à memória a epígrafe retirada do Evangelho de São Mateus, aposta por Alves Redol no extraordinário romance Barranco de Cegos (1962):  

 «Deixai-os; cegos são e condutores de cegos; e se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no barranco».

Mas, deixai-os?... Ai de nós. 

quarta-feira, junho 17, 2015

CAMINHO DAS ÁGUAS


a ministra pesca zero

As declarações de Cavaco na Bulgária a propósito da Grécia foram lamentáveis. As perplexidades de Passos Coelho são sonsas. As observações da ministra Albuquerque (nem estive para ver se nessa qualidade) são apatetadas. Sabe lá ela se um país pode ou não pode entalar os outros todos; percebe lá ela se os outros todos entalarem a Grécia dos potenciais efeitos devastadores para a UE!...  A senhora sabe de mercearias, o resto, como tecnocrata, é-lhe vagamente coiso. Se Cavaco e Passos estão a fazer (baixa) política, a pobre ministra -- a quem nunca deveriam ter sido retiradas as mangas de alpaca de contabilista -- julga que sabe o que diz, mas, como se tem visto, em política caseira mete frequentemente os pés pelas mãos (falta-lhe manha); de geopolítica, então, a ministra pesca zero.

terça-feira, junho 16, 2015

está bem servida a UE

A estrema-direita xenófoba já tem um grupo no Parlamento Europeu. Marine Le Pen agradece, sarcástica, ao presidente Schulz o ter dificultado a vida aos ditos nacionalistas. Enquanto isso, Tsipras precisa de paciência de santo para lidar com marionetas avinhadas, nulidades presidenciais, sócio-democratas vendidos & outros obtusos. Com tristes destes, a União Europeia está bem servida e com futuro radioso à frente. Só espero que Tsipras não vergue. 

segunda-feira, junho 15, 2015

P de prazer

Prazer -- razão de vida, já que temos de morrer.

domingo, junho 14, 2015

Se eu tivesse de escolher só uma música

Seria este blues primário a transbordar de testosterona, Bon Scott a babar-se de luxúria e gloriosamente desesperado por carne fresca; o solo de Angus Young a competir na pulsão predadora, até à apoteose voz/guitarra.
AC/DC, Highway To Hell (1979): Bon Scott, voz; Angus Young, guitarra; Malcolm Young; Cliff Williams, baixo; Phil Rudd, bateria.

sábado, junho 13, 2015

quinta-feira, junho 11, 2015

os obituários do dia

James Last: para mim, é um disco com música de Natal que ouvia em casa da minha avó e que ainda conservo. Christopher Lee: creio que ainda sairá do caixão. Ornette Coleman: o free apela à liberdade em Cascais, corria o ano de 1971. E também o que no outro dia repesquei para o meu Diário.

Foi bonito de se ler

O inquérito a Sócrates publicado pela Sábado é épico. Aquela assertividade não só o favorece aos olhos dos leitores, como incomoda o tipo de perguntas imprecisas que lhe são feitas. É kafkiano. As questões com o primo, então, são de bradar aos céus e fariam rir se não fosse trágico (têm aqui razão aqueles que criticam Sócrates por, no governo, não ter sido sensível -- ou nem ter pensado nisso -- ao que se sujeita um arguido nas mãos da máquina judicio-burocrática). Acrescente-se isto às fugas de informação orientadas e ao timing político, desastroso sob qualquer ponto de vista. Pelo meio, Sócrates ainda pôs na ordem um coiso que coadjuvava, que julgou poder ser malcriado ou grosseiro, nas referências à antiga namorada. 

quarta-feira, junho 10, 2015

VAI SEM MEDO

Eu olho para estes gajos e vejo que muito do melhor da nossa música nos últimos trinta e tal anos está aqui.


nunca gostei de gente mole, e as enguias provocam-me vómitos

É só para dizer que apreciei muito a atitude de José Sócrates. Quanto à minha posição sobre o assunto, nada se alterou (para interessados & curiosos, é só seguir a etiqueta).

HAMMER IN THE SAND



segunda-feira, junho 08, 2015

«Me olvidé de vivir»

Fui ver, em missão de pai, o novo filme Mortadelo e Salaminho, em animação digital. Cumpre, embora resvale para o ordinarote, o que não acontecia com os quadradinhos do meu tempo. Havia a censura, o Franco, por isso o Ibañez devia sentir-se mais à vontade. Isto entre duas sonecas no cinema. Nos créditos, este ska desopilante, que para minha estupefacção era do pomadoso do Júlio Iglésias.  A versão do Macaco é que é gira. Siga...

Y de Young

Young, Lester - Lester Young a Prezidente.

domingo, junho 07, 2015

o que mostra o governo do Syriza

O que nos mostra o governo do Syriza é o contrário dos executivos que o antecederam, da Nova Democracia e do Pasok: está indisponível para tratar os concidadãos como rebanho, pascente e manso, conduzindo-os ao matadouro dos mercados. Como europeu, tenho orgulho em Tsipras

DRAKE



sábado, junho 06, 2015

P de políticos

Políticos - a eliminar, como profissão; eu sou político, tu és político, ele é político.

ENIGMA VARIATIONS


sexta-feira, junho 05, 2015

P de Portugal

Portugal - país que deveria ter ficado para sempre uma charneca medieval, sem passar nunca do reinado de D. Dinis.

quinta-feira, junho 04, 2015

um elogio a Crato

Pelo avanço no ensino do Latim e do Grego, independentemente de questões técnicas e pedagógicas, que não domino. Houvesse melhor conhecimento das raízes da língua, e esta não seria destratada como é nem o aborto ortográfico entraria em uso com a facilidade confrangedora que se conhece. Que interessa Para se se escreve espectador ou espetador?... Como diria o filósofo, "siga para bingo!", que a vida não está para essas minudências.

"carta de garantias"

É a expressão que de imediato me vem à cabeça, quando penso em Passos e Portas.

quarta-feira, junho 03, 2015

será possível?

O tribunal deu provimento à providência cautelar suspendendo a privatização da TAP, por não observação da Lei-Quadro das Privatizações. Mas... mas... além de vendilhões, estes tipos a soldo do Governo -- e, além do mais, muito bem pagos -- poderão ser assim tão incompetentes?! Ahahah!...

terça-feira, junho 02, 2015

Se tivesse de escolher só uma música

Estas escolhas nunca são fáceis. O Julian 'Cannonball' Adderley é-me mais familiar num combo do que em big band. Big band, cujo volume sonoro adoro, em especial quando a secção rítmica puxa pelos metais. O arranjo de Ernie Wilkins, cuja orquestra dirige, é sensacional. O tema é de Chuck Mangione, então jovem com 21 anos, o disco é African Waltz (1961), e os músicos: Cannonbal, Adderley, sax alto; Nat Adderley, Clark Terry, Ernie Royal, Nick Travis, trompetes; Bob Brookmeyer, Melba Liston, Jimmy Cleveland e Paul Faulise, trombones; George Dorsey, sax alto e flauta; Jerome Richardson e Oliver Nelson, saxes tenores e flautas; Arthur Clarke, sax barítono; Don Butterfield, tuba; Wynton Kelly, piano; Sam Jones, contrabaixo; Charlie Persip ou Louis Hayes, bateria; Ray Barreto, conga.


se dúvidas houvesse..

episódio de Portalegre é elucidativo da qualidade mentecapta que grassa por este país em lugares de decisão. Mas nós elegemos estes gajos para coisas destas?...

G de guitarras

Guitarras - tocam altíssimo.

segunda-feira, junho 01, 2015

No silêncio bebe a sua taça / e é dor o amor enquanto espera

Fiama Hasse Pais Brandão