quinta-feira, dezembro 31, 2009

Cordilheiras do Riff '09 - 4/6

Led Zeppelin, «Babe I'm Gonna Leave You». Têm quarenta anos estas imagens. Há quarenta anos, os primeiros fab four terminavam o seu caminho em conjunto; vieram estes novos fab four, por mais dez anos, até à morte de um deles. Via-se aqui que prometiam (a bem dizer, Page já era conhecido e Jones, músico de estúdio; Bonham e Plant, rapazes da província). Os Led Zeppelin eram especiais, tal como o foram os Beatles -- ou os fab four que tomaram o testemunho aos Zep, os U2. Postado em 3 de Julho (com um novo abraço à GJ, pelos comentários).

Lennie Tristano, «Tivoli Garden Swing». O ritmo na mão esquerda, o swing na direita. Um grande mestre. Postado em 20 de Maio.

Mel Tormé, «April Showers». Grande voz, grande swing, grande figura. Postado a 19 de Novembro.

vaidoso, preguiçoso e egoísta

Obrigado à Teresa Santos por este galardão. Apetece-me conferi-lo a muitos, por isso guardo-o só para mim.

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Cordilheiras do Riff '09 - 3/6

Ella Fitzgerald, «How High The Moon». A maioria dos jazz lovers considera Billie Holiday a maior cantora de sempre da música negra norte-americana. Há, porém, um grupo que entroniza Ella Fitzgerald. Eu teria muita dificuldade em compará-las. Se ninguém canta como Billie -- aqui escrevi anteontem --, Ella tem um swing inultrapassável, mesmo em idade avançada, como se vê aqui em baixo. Postado em 4 de Abril (com um abraço à Marie Tourvel, que comentou).

Eric Clapton, «Have You Ever Loved A Woman». Nos anos sessenta, admiradores entusiastas do guitarrista escreviam nas paredes de Londres: "Clapton is God". Eu não sei se ele é deus; o que sei é que quem sola um blues assim, tem de ter, por certo, inspiração vinda directamente de Nosso Senhor. Postado em 7 de Janeiro.

Gentle Giant, «The Advent Of Panurge». Uma das maiores bandas do prog rock, numa excelente demonstração das suas capacidades em explorar o lado mais elaborado da música popular, em que o dito rock se conjuga com a tradição medieval, renascentista e barroca, o jazz, a música contemporânea, o folk... Postado em 4 de Junho

terça-feira, dezembro 29, 2009

cordilheiras do riff '09 - 2/6

Carlos Santana, «Soul Sacrifice». Há quarenta anos, o rock caribenho de Santana punha em polvorosa os entorpecidos de Woodstock. O baterista ainda era teenager. Postado a 8 de Junho (com a abraço à GJ, que comentou).

Creedence Clearwater Revival, «I Put A Spell On You». Também em Woodstock, o formidável John Fogerty has the guts. Do outro mundo. Postado em 24 de Fevereiro (com um abraço à Marie Tourvel, pelo comentário).

David Bowie, «Aladdin Sane». Uma versão fantástica. Bowie em grande forma. Repare-se em Gail Ann Dorsey, baixo e voz. Postado a 1 de Outubro.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

cordilheiras do riff '09 1/6

Annie Ross, «Twisted». Uma britânica na América, com o grande Count Basie (sempre económico e apanhado distraído...). Tony Bennett e Hugh Hefner apreciam sentados. É bop vocal?... É surpreendente. Postado em 5 de Maio.

Bill Le Sage, «Times Two And A Half». O quarteto de violoncelos em ritmo perfeito com o contrabaixo. Swing with strings! Le Sage (grande nome), o vibrafonista e John Scott no sax alto. Mais um britânico, espectacular e ousado nas new directions in jazz.
Postado em 2 de Abril
Billie Holiday, «Trav'lin' Light». The great Lady Day uns meses antes de morrer. Ninguém canta como ela. Postado em 11 de Maio (com um abraço a Addiragram e GJ, pelos comentários).

domingo, dezembro 27, 2009

cordilheiras do riff 2009








































tons portugueses de 2009 - 2/2

Fausto, «Os soldados de Baco». Fausto trágico-marítimo; do melhor que se publicou por aqui este ano, em qualquer idioma. Postado a 1 de Agosto.

Rui Veloso, «Todo o tempo do mundo». Ou como se toca e canta bem em português, música de forte inspiração no cancioneiro negro norte-americano. Postado em 9 de Maio (com um abraço à GJ, pelos comentários).

Sérgio Godinho, «O Charlatão». Sempre fresca, e actual, esta música de Sérgio Godinho e José Mário Branco. No 25 de Abril, ela misturava-se com tons familiares; era como se eu conhecesse de há muito o Sérgio Godinho e o José Mário Branco. Postado em 4 de Abril (com um abraço a Ana Paula e GJ, pelos comentários).

sábado, dezembro 26, 2009

tons portugueses de 2009 - 1/2

Camané, «Sei de um rio». O poema de Pedro Homem de Mello servindo a música do enorme Alain Oulman; o dedo de José Mário Branco e a voz de Camané a magnificar tudo. Postado em 14 de Março.

Carlos Mendes, «Verão». Frescura pop no Festival da Canção de 1968. A música é de Pedro Osório, a dar-lhe valentemente no órgão. Postado em 5 de Setembro (com um abraço a Ana Paula, Fátima e GJ, pelos comentários).
Delfins e Rui Pregal da Cunha, «Canção de engate». Cover extraordinário do esquipático António Variações, pelos meus conterrâneos Delfins (andei com o Miguel Ângelo na escola...) e o vocalista dos Heróis do Mar, banda também com elementos autóctones (Monte Estoril, se bem me lembro). As músicas do Variações ganharam sempre com as versões que delas fizeram (Lena d'Água, Delfins, Humanos), o que também abona em seu favor. Este ano, vindo do Gerês, parei pela primeira vez junto do seu busto, na sual aldeia natal, concelho de Amares. Postado em 30 de Maio.

tons portugueses de 2009

Daqui a nada.












sexta-feira, dezembro 25, 2009

músicas grandes de 2009 para o dia de Natal

Mário Marques, sonata # 3 em lá menor de Carlos Seixas (Allegro / Allegretto). O balanço da música de Seixas, em grande parte desaparecida com o terramoto de 1755. Não sei porquê, algumas das suas sonatas para cravo trazem-me à memória composições dos velhos Paredes, Artur e Gonçalo. Não será, certamente, por todos serem de Coimbra; mas porventura tem de ser-se português para soar assim.
Postado em 31 de Outubro (com um abraço, pelos comentários, à Ana Paula, Fátima e Martinha).


Bahman Salless / Boulder Chamber Orchestra, «Sospiri», de Edward Elgar. Um adagio do grande Elgar, o compositor da Inglaterra eduardina, fim de uma era. Este tom elegíaco acusava a entrada do país na Grande Guerra, a primeira carnificina sem nome do século XX.
Postado em 12 de Setembro (com um novo abraço à Ana Paula, pelo comentário)


Sir Andrew Davis / Orquestra Sinfónica da BBC, «Fanfare For the Common Man», de Aaron Copland. No centro de outra carnificina inominável, na primeira metade da década de 40, Copland, judeu e homossexual, celebra o homem comum, aquele que luta na Europa e em África, no Atlântico e no Pacífico, nos mares e nos céus -- o homem comum que nos salvará do Mal.
Postado em 25 de Julho.
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quarta-feira, dezembro 23, 2009

Caracteres móveis - Julio Cortázar

contando as minhas poucas moedas de estudante, debatia o problema de as gastar num bar automático ou comprar uma novela e um sortido de caramelos ácidos no seu saco de papel transparente, com um cigarro que me nublava os olhos e no fundo do bolso, onde os dedos o roçavam por vezes, a embalagem do preservativo comprada com falsa desenvoltura numa farmácia onde todos os caixeiros eram homens, e que não teria a menor oportunidade de utilizar com tão pouco dinheiro e tanta infância na cara


«O outro céu»,
Todos os Fogos o Fogo
(tradução de Carlos Barata)

O Vale do Riff Especial de Natal - Vanessa Williams, «What Child Is This?»

terça-feira, dezembro 22, 2009

JornaL

Funeral do Grande Aiatola Montazeri. A nossa vida política mesquinha, em contraponto à grande causa da liberdade que se joga no Irão.

Arbeit Macht Frei. Encontrada a divisa tristemente célebre de Auschwitz, partida em três partes, já embrulhadas. Roubada por neo-nazis fanáticos? Não, pelo menos directamente. Antes por ladrõezecos reles, detritos que a polícia capturou em três horas.

O Vale do Riff Especial de Natal - Whitney Houston, «Do You Hear Waht I Hear»

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Antologia Improvável #413 - Carlos Drummond de Andrade (2)

O AMOR ANTIGO

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Amar se Aprende Amando

JornaL

A. M. Pires Cabral. Prémio Luís Miguel Nava 2009 para o livro As Têmporas da Cinza. Admiro muito a prosa de Pires Cabral. Da poesia, li apenas Douro: Pizzicato e Chula (um bom título), sem grande proveito.
Belém-São Bento. Quando Cavaco disse, em pleno Agosto, que não alimentava polémicas criadas para desviar as atenções, estoirava-lhe, pouco depois, a trapalhada Fernando Lima. No comunicado de ontem, volta ao tema do "desvio". Que episódio que se seguirá?
Sérgio Sousa Pinto. Parece-me fraquinho o pretexto das declarações inóquas do Presidente acerca do casamento gay. Eu sei que sou preconceituoso, mas, bolas, pegue-se em Cavaco por razões outras que não este pequeno folclore.

O Vale do Riff Especial de Natal - Judy Collins, «Silver Bells»

sábado, dezembro 19, 2009

oh!, os quadradinhos

Passeio / nem me lavei -- raramente me lavo / é bom o frio da rua bate-me nas pernas por baixo da saia / azul tem um pato (Donald) amarelo! na anca / com coisas de roberto no convés tais como «olá» (Paulo da Costa Domingos)

outros tons - Jorge Palma, «Picado pelas abelhas»

sexta-feira, dezembro 18, 2009

JornaL

Aminetu Haidar. Já está no Saara Ocidental. Foi uma vitória sua, dos sarauís, de quantos a apoiaram. Uma derrota para Marrocos, sem dúvida, mas a melhor derrota que lhes foi possível obter.
Adopção. Vão alterar o Código Civil para impedir a adopção de crianças por casais homossexuais. Vão também proibir a adopção por parte de pessoas solteiras, homo ou hetero? Para que conste: acho a questão do casamento ridícula, um falso problema; quanto à adopção, esta deverá ser exercida por pessoas idóneas, hetero como homo. Para tal, apenas é preciso competência dos competentes serviços públicos (e meios, já agora).
Maria do Rosário Pedreira. Uma boa directora editorial transfere-se da QuidNovi para a Leya. Também gosto da sua poesia.
Miguel Veiga. A vacuidade enfatuada.
Berlusconi. O homem é insuportável, mas afligiu-me aquela contusão.
Red Bull Air Race. É impressionante o provincianismo de alguns portuenses. Os malditos organizadores da corrida aérea renunciaram ao Porto, não sei porquê nem me interessa; de imediato: a retórica antilisboeta bacoca.

Livros a espiolhar: J. Rentes de Carvalho, Com os Holandeses (Quetzal), Chil Rajchman, Sou o Último Judeu (Teorema); Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Poemas Portugueses -- Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI (Porto Editora); João Ubaldo Ribeiro, O Albatroz Azul (Edições Nelson de Matos); Evelyn Waugh, Corpos Vis (Relógio d'Água).
Discos a escutar: Ella Fitzgerald, Twelve Nights In Hollywood (Verve); Francisco Ribeiro, Desiderata a Junção do Bem (Multidisc); Endless Boogie, Focus Level (No Quarter); R.E.M., Live At The Olympia (Warner).

O Vale do Riff - Milt Jackson, «Take The "A" Train»

quinta-feira, dezembro 17, 2009

caderninho

Os hábitos são tão difíceis de combater, porque neles a inércia, que em geral se opõe a qualquer acção, se associa a um certo sentido rítmico de actividade. Hugo von Hofmannsthal
Livro dos Amigos (tradução de José A. Palma Caetano)

O Vale do Riff - James Moody, «Giant Steps»

quarta-feira, dezembro 16, 2009

caracteres móveis - Ernest Hemingway

Tu estás a matar-me, peixe, pensou o velho. Mas tens todo o direito. Nunca vi uma coisa maior, ou mais bela, ou mais serena, ou mais nobre do que tu, meu irmão. Vem e mata-me. Não quero saber qual de nós mata.


O Velho e o Mar
(tradução de Jorge de Sena)

O Vale do Riff - The Stubborn All-Stars, «Tin Spam»

Antologia Improvável #412 - Graça Pires

Quando a noite renova a planura
das sombras sobre a terra, os cães
ladram à palidez da lua, fustigados
pelo ranger das portas.
Dantes, pelos caminhos,
havia pessoas apressadas,
de regresso às casas, agora desertas
e as mulheres chamavam os filhos
com a mesma voz com que rogavam
pragas à miséria.


Quando as Estevas Entraram no Poema

terça-feira, dezembro 15, 2009

segunda-feira, dezembro 14, 2009

domingo, dezembro 13, 2009

O meu Estoril Film Festival -- de A a T (11 e final)


Spider, de David Cronenberg, Canadá, 2002 («Retrospectiva David Cronenberg»). Ralph Fiennes num papel soberbo dum esquizofrénico que carrega o peso dum passado obsidiante. Outro grande filme de Cronenberg. El Sur, de Victor Erice, Espanha e França, 1983 («Cineastas raros»). O Sul é a Andaluzia, imaginada do Norte de Espanha por Estrella, a filha dum casal de opositores ao franquismo; o Sul terra dos avós, reaccionários, e duma velha paixão lá deixada. O filme participa da mesma quietação angustiosa que vimos em «Alumbramiento»* essa jóia dum cineasta raro que pudemos conhecer no Estoril.

Tetro, de Francis Ford Coppola, EUA, Itália, Espanha, Argentina, 2009 («Fora de competição»).Não sei se «Tetro» ficará na filmografia de Coppola* como um dos seus pontos mais altos. Um grande filme é sempre um grande filme, mesmo quando o realizador se chama Francis Ford Coppola e tenha assinado «O(s) Padrinho(s)», «Apocalypse Now», «Do Fundo do Coração» ou «Drácula». O que sei, é que é um filme arrebatador -- do tema ("todas as famílias têm um segredo") à opção pelo preto-e-branco, dos actores (desde logo, Vincent Gallo e Maribel Verdú) à música e à cidade de Buenos Aires, onde a maior parte da acção decorre. De todas as novidades do festival, provavelmente aquela que mais tenho vontade de rever.

sábado, dezembro 12, 2009

acordes nocturnos

homenagens a Nicot

Serge Gainsbourg + Popeye

O meu Estoril Film Festival -- de A a T (11)

Rendez-vous, de André Téchiné, França, 1985 («Homenagem Juliette Binoche»). História banalíssima da provinciana na grande cidade, à procura dum lugar ao sol nos palcos e nas telas. Fogosa, Nina vai coleccionando homens, sem disso tirar grande proveito (o traço mais curioso da personagem é mesmo uma certa candura e desprendimento). Entre o frouxo bom rapaz, o desequilibrado mau rapaz, mais atractivo e necessariamente mais atraente, até ao génio torturado que a transfigura e a deixa à beira da interpretação do papel de Julieta... Bah! Binoche*, já luminosa mas ainda matéria em bruto, para outras mãos que não as de Téchiné.


Le Roi de l'Évasion, de Alain Guiraudie, França, 2009 («Em competição»). A homossexualidade campónia, deselegante e feia -- eis o desígnio do realizador: mostrar que para além dos gay pride e das lantejoulas, continua a haver nos meios pequenos e tradicionais da velha europa um conjunto de restrições e interditos que persistem em condicionar os indivíduos. Infelizmente, o filme envereda pelo grotesco e pelo absurdo. Ficamos, inclusive, sem saber o que faz por ali a personagem interpretada pela belíssima Hafsia Herzi (quem viu o magnífico «Couscous» não a esquecerá). Não liguem ao trailer; é publicidade enganosa.
The September Issue
, de R. J. Cutler, EUA, 2009 (caído não se sabe donde). Preparava-me para levantar o bilhete de «Duas mulheres»*, quando sou informado que o filme fora escalado para outro dia, substituído por um misterioso «The September Issue», ausente da programação. À hora do filme, o Centro de Congressos do Estoril estava invadido pela fauna da moda. Eu, que detesto moda, torci o nariz, mas ainda me dispus a ver o misterioso número de Setembro. Um documentário cretino sobre uma cretina que parece ditar a moda do alto da Vogue, revista que dirige. Resisti dez minuto ao horror de todos os clichés: mulheres velhíssimas suportadas a cremes e engalanadas com cabelo cor de molho de carne assada, modelos escanzelados e deprimentes, larilagem exuberante, homens de negócios fingindo-se prá-frente, babando-se de avidez.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

quarta-feira, dezembro 09, 2009

caderninho

De vez em quando a eternidade sai do teu interior e a contigência substitui-a com o seu pânico. São os amigos e conhecidos que vão desaparecendo e deixam um vazio irrespirável. Não é a sua «falta» que falta, é o desmentido de que tu não morres. E o que logo a seguir te invade é o ridículo de qualquer razão ou interesse que te mantenha de pé. Vergílio Ferreira
Escrever (edição de Helder Godinho)

O Vale do Riff - Herbie Mann, «Memphis Underground»

O meu Estoril Film Festival -- de A a T (10)


Petit Indi, de Marc Recha, Espanha e França, 2009 («Em competição). Um belo filme cheio de melancolia, conta a história de Arnau, um adolescente proletário cuja mãe está presa, sendo a libertação dela a sua causa dessa hora. Para tanto, concorre a peculiares certames de aves canoras, treinando vários pássaros, entre os quais um sobredotado pintassilgo. Ao mesmo tempo, Arnau salva uma raposa, que encontra bastante mal tratada -- atitude que terá uma consequência inesperada. Por muito que façamos o bem, nunca sabemos como seremos retribuídos.



Poltory Komnaty Ili Sentimentalnoe Putesheshtvie Na Rodinu («A Room And A Half»), de Anfrey Khrzhanovskiy, Rússia, 2009 («Em competição»). A história de São Petersburgo / Leninegrado e de alguns dos seus habitantes nos anos 50/60, cidade do poeta Joseph Brodsky, Prémio Nobel, amigo do realizador, com os constrangimentos e os sonhos duma geração do pós-guerra. Este seria o meu filme premiado, pelo recurso muito criativo à mistura de vários géneros cinematográficos, entre os quais os desenhos animados, o documentário e a animação computorizada.


Un Prophète, de Jacques Audiard*, França, 2009 («Fora de competição»). Um filmaço, para encerrar o EEF. Uma reconstituição notável do ambiente prisional, dos gangs que se defrontam dentro dos muros, das leis e das estratégias de sobrevivência, em que se conjugam a sagacidade e a sorte. Dois desempenhos notáveis do praticamente estreante Tahar Rahim e do veterano Niels Arestrup. Película europeia produzida e filmada à americana, como um avatar de Coppola ou Scorsese. Os franceses na sala, impavam.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Antologia Improvável #411 - Cesário Verde

PROH PUDOR

Todas as noites ela me cingia
Nos braços, com brandura gasalhosa;
Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada e langorosa.

Todas as noites uma fantasia
Lhe emanava da fronte imaginosa;
Todas as noites tinha uma mania
Aquela concepção vertiginosa.

Agora, há quase um mês, modernamente,
Ela tinha um furor dos mais soturnos,
Furor original, impertinente...

Todas as noites ela, ó sordidez!
Descalçava-me as botas, os coturnos,
E fazia-me cócegas nos pés...


«Poesias dispersas»,
O Livro de Cesário Verde
(edição de Maria Ema Tarracha Ferreira)

O Vale do Riff - Gladys Knight, «License To Kill»

O meu Estoril Film Festival -- de A a T (9)

Kynodontas, de Yorgos Lanthimos, Grécia, 2009 («Em comprtição»). Venceu o Festival. Uma família, pais e três filhos adolescentes. Estes nunca saem de casa, não têm qualquer contacto com a realidade, por tal forma que esta é manipulada pelo pai, o que cria situações hilariantes. O filme ganha pelo absurdo e perde pelo caricatural. Não seria a minha escolha.


Livros. Comprei dois, na banca da fnac. A saber: Notas sobre o Cinematógrafo, de Robert Bresson (Elementos Sudoeste); e As Lições do Cinema, de João Mário Grilo (Edições Colibri / FCSH da UNL).


Moon, de Duncan Jones, Reino Unido, 2009 («Em competição»). Um filme extraordinário, para mim, que nem sou grande apreciador de ficção científica, um dos melhores a concurso. O protagonista, o austronauta Sam Bell (grande desempenho de Sam Rockwell), é o único trabalhador duma estação lunar, tendo por companhia Gerty, um sagacíssimo robot para (quase) todo o serviço. Quando Sam sai em missão exterior,depara-se com um acidente na central extractiva do minério selenita de que a Terra necessita -- razão da sua presença aí. Estranho acidente: o astronauta avista nada mais nada menos do que o seu próprio cadáver. A saber: aquele que julgava ser o astronauta Sam Rockwell é, na verdade, um clone deste. O futuro é já aqui, quando todas as interrogações se levantam. Uma curiosidade: Duncan Jones é filho de David Bowie.