segunda-feira, fevereiro 28, 2022

playlist: «Woven Song»

em tempo, ou quando o Bolsonaro não diz asneiras, é notícia

 Num insersor do canal Breaking News, também conhecido por cnn/Portugal/tvi, uma paragona de intuito crítico: «Bolsonaro nega massacre» (depreende-se que por parte dos russos em relação aos ucranianos); enquanto que no rodapé corre repetidamente números das autoridades ucranianas: 5300 militares russos mortos; 352 civis (entre os quais 14 crianças) mortos. Pelo vistos são os russo quem está a ser alvo de massacre. Daria voontade de rir, se não fosse tudo tão trágico e perigoso para todos.

jornalismo de miséria

O comentariado especializado tem sido particularmente útil, em especial os especialistas em estratégia e geo-política. É o que podemos ter, e raramente outras vozes desalinhadas. Estive á espera no sábado para ouvir Jaime Nogueira Pinto e Fernando Rosas, e estiveram cinco minutos no ar. JNP deve ter falado dois minutos, se tanto, que miséria.

No que respeita ao miolo, os telejornais são feitos por analfabetos para analfabetos, com os enviados muitas vezes a encher chouriços.

Ainda a propaganda: o porta-voz do Kremlin faz um briefing diário que não é mostrado por este atrasos de vida. Como não querem propaganda, os pobres, acham que não ouvir as duas partes, mesmo que para posteriormente desmontá-las se chama jornalismo.

mais notas sobre a Ucrânia

Conversações. A situação está tão estupidamente perigosa que bom seria que amanhã (já hoje) houvesse um cessar-fogo. A Rússia tem a opinião pública ocidental toda contra si, e toda a supremacia militar. Toma Kiev quando quiser, mas como quer fazer o mínimo de baixas possível entre a população, há-de limitar-se a cercar a cidade, permitindo a saída de parte de parte dela, excepto a tropa. Duma maneira ou doutra, Kiev vai ser conquistada, a não ser que haja um milagre e tudo pare. Se for para continuar, há-de ser como os russos ditarem. Especialistas militares que tenho ouvido dizem que os russos ainda não começaram a atacar a capital da Ucrânia.

Tempo. O tempo corre contra a Rússia, principalmente por razões internas.

Acordo. Parece.me impossível haver acordo sem uma mediação terceira: um país equidistante (Índia, por exemplo) ou uma pool de países em que ambos possam confiar, não totalmente hostis (China, Hungria). Ou um misto das duas.

Fantasia. Uma das minhas filhas saiu-se com esta, não sei se ouvida em algum lado: a Ucrânia seria aceite já como candidato à UE, com um calendário de adesão relativamente rápido, e em troca assume neutralidade. Ambos ficarão satisfeitos Seria uma boa ideia, porém com a UE a ser braço político da NATO... Há ainda a questão da Crimeia, que é inteiramente russa e portanto os russos nunca abrirão mão dela; e do Donbass, talvez o caso mais complicado de resolver. Mas há fantasias que valem a pena, nem que seja por umas horas.

Direito internacional. A Rússia violou o Direito Internacional? Pois violou. Mas a coberto deste, só se fosse estúpida deixaria que as coisas continuassem a progredir. Acho mesmo que foi bastante paciente. O Direito Internacional é lindo, mas não se aplica às grandes potências (ou quem tem as costas quentes, como Israel). Nem Estados Unidos, nem Rússia, nem China se comovem com ele. Os EUA nem sequer reconhecem a jurisdição do TPI, no que aos próprios respeita. É a vida.

(Ir)Responsáveis. NATO e UE, que assume uma posição quase bélica. Estão lá, os maiores culpados disto, incluindo as lideranças ucranianas, das quais Zelensky será o menos responsável. Irresponsáveis ou incompetentes, deixaram-se enrolar pelos canalhas dos americanos.

Americanos (administração). Pulhas nas mãos de patifes, ou patifes e pulhas. O incapaz do Biden veio dizer, depois de Putin falar em armas nucleares, que a América não fez nada para que a Rússia tomasse essa atitude. Que monumental filho da puta... Sou anti-americano desde as armas de destruição maciça do Iraque, um dos muitos crimes que têm no cadastro. O ideal reles da ganância, uma nódoa irremovível.

RT. Deixámos de ver a propaganda russa; agora só vemos a americana.

Soljenitsin. Ídolo do Ocidente, por boas razões -- digo sempre que a leitura do Arquipélago de Gulag  na adolescência me vacinou contra o comunismo, e adjacências idiotas como trotskismo, maoísmo, etc. --, proclamou que esse mesmo Ocidente que o idolatrara queria destruir a Rússia. Talvez Ocidente aqui seja metonímia de Estados Unidos, Destruir a Rússia significa torná-la irrelevante. Mas o Putin é um nacionalista à frente de um grande país, algo que von-der-leyens e borréis deveriam perceber, e já agora explicar ao cheché de Washington, à tontinha que lhe serve de v-p e aos mentecaptos em torno.

sábado, fevereiro 26, 2022

playlist: «Seashell Eyes»

milhões, reconstituições, provocações

1. Milhões.  Seiscentos milhões de dólares em armamento vendidos pelos Estados Unidos à Ucrânia, afirmou o major-general Raul Cunha, no telejornal das nove horas da RTP3, entre outras coisas esplêndidas de se ouvir. No mesmo canal, mais tarde, o jornalista Miguel Szymansky fala em cinco mil milhões de dólares ($5.000.000.000) que a Ucrânia pagou a países como os Estados Unidos, a França e já não me lembro quantos mais na aquisição de armamento -- certamente alimentando expectativas de uma integração na NATO. Isto poderia explicar a reacção descabelada da aliança e também da UE, lamentavelmente, no que pode parecer má consciência, se estes abutres tivessem consciência.

2. Reconstituições. A última idiotice veiculada pelo inenarrável Biden é a de que a Rússia pretende reconstituir a União Soviética. Sem mais nem menos. Que eles são ignorantes e superficiais, é um facto; rapaces também. Reconstituir a URSS, está-se mesmo a ver. O melhor era ter começado logo pelos estados bálticos, poupava-se tempo e começava-se já a III Guerra Mundial.

3. Provocações. A NATO convidou a Finlândia e a Suécia a participar na reunião de líderes; dois países neutrais. A Finlândia depois de derrotar os soviéticos no Inverno de 1940 conseguiu negociar um estatuto de neutralidade e ser deixada em paz. Foi assim que atravessou toda a Guerra Fria, livre e próspera. Como a situação não é suficiente complicada, toca a adensá-la. Brilhante. 

sexta-feira, fevereiro 25, 2022

playlist: «Say It Isn't So»

a Costa Rica, o presidente da Ucrânia, a miss universo e as figuras d'úrsula

Os patéticos, porque desesperados, apelos do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mostram como ele foi usado pelos americanos, que obviamente já o deitaram fora, como fazem sempre quando aqueles de que se servem deixam de ter utilidade. Apesar de inicialmente impreparado para a função, teve tempo para aprender; logo suspeito que foi mal aconselhado ou então é teimosamente autossuficiente.

Os indignados com a invasão russa para tomar o controlo do país e torná-lo pelo menos inócuo para as suas pretensões de defesa, nem se apercebem (ou devem estar agora a aperceber-se, dada a quantidade de analistas competentes que tem aparecido ultimamente a comentar, geralmente militares) -- (nem se apercebem) de como os americanos se estavam a paulatinamente a instalar-se ali. E o cidadão a leste destas matérias nem em sonhos se apercebe do que são as acções de subversão a vários níveis de que as potências lançam mão, Não é pois de admirar que em relação a esta guerra da Ucrânia se esteja, na análise, à escala proclamatória da miss universo. Pode parecer muito má onda, mas as relações internacionais não se regem pelas boas intenções, mas por interesses, pequenos ou grandes. É assim em todo o lado, sejam os estados pequenos ou grandes. Deveríamos ser todos como a Costa Rica (um estado feliz, provavelmente), mas por enquanto só há uma. E até essa me parece que não deixa os seus interesses por mãos alheias, tal como se afigura ter sucedido com Zelensky, que está agora a pagar o preço da temeridade/teimosia/inconsciência [riscar o que não interessa], preço que sinceramente espero não seja tão alto como o próprio diz.

Em relação aos sonsos, que sabem muito bem o que está em causa -- dois imperialismos em disputa, grosso modo, e essencialmente nada mais do que isso -- dá-me voltas ao estômago a sua sonsice. A começar pela Senhora von der Leyen, que ontem parecia um doberman a invectivar a acção militar da Rússia, como se ela não soubesse e colaborasse na estúpida estratégia (?) europeia que foi a da hostilização, quando não tentativa de humilhação daquele a todos os títulos extraordinário país: do afastamento indiscriminado dos atletas das olimpíadas (a resposta digna da grande Elena Isinbaieva quando quiseram abrir-lhe uma excepção, por ser quem era, faria corar quem tivesse vergonha na cara); ou, por exemplo as directivas dadas à Agência Europeia do Medicamento quanto às vacinas russas contra o sars-cov2. Enfim, eles lá foram arranjando o estocismo necessário para aparar os destrates. Afinal, na Rússia houve sempre duas correntes, pró-ocidental e isolacionista. Com o isolacionismo da pátria de Tchekhóv, de Prokofiev, de Répin e de um sem número de figuras deste nível em todas as áreas, que são igualmente pilares da civilização europeia, temos mais nós a perder do que eles -- é a minha convicção. Por isso ouvir idiotices da von der Leyen ou do Borrell e o papaguear do dirigismo nacional, é algo que me dá náuseas. Não significa isto que a Rússia esteja acima da crítica, obviamente; mas não nos tomem a todos por parvos.

quinta-feira, fevereiro 24, 2022

"Leitor de BD"

 aqui

O Homem de Lugar Nenhum, de Tiago Barros e Fábio Veras

playlist: «Noturna (Nada de Novo na Noite)»

uma passagem pelo café, e mais notículas sobre a guerra da Ucrânia

 Esperando não ter de emendar, enquanto as televisões anunciam a aviação russa sobre Kiev, leio também que os alvos são militares, como se impõe a qualquer país civilizado -- sendo que a Rússia é bastante mais civilizada do que por exemplo os Estados Unidos (meu deus, como estou anti-americano, mas garanto que não sou do PCP). Os correspondentes das televisões falam sorridentes sob os céus de Kiev. Nada mal para um novo Hitler ou Stálin.

Em seguida, um directo da Câmara dos Comuns com o badalhoco do Boris Johnson. Vêm falar-me de Putin com o crédito e a audiência que dão a este gajo? É tão cansativo...

Ouvir Ursula van der Leyen a tomar-se das dores dos americanos, com uma linguagem belicista. não deixa de ser realmente preocupante. Ou a senhora faz teatro, ou não tem noção.

Os amantes da liberdade devem estar satisfeitos: Erdogan e Orban condenaram Putin.

Como já escrevi, aceito que os países bálticos ou a Polónia estejam nervosos, é natural, embora irrealista. Quando Putin atacar Vilnius ou Varsóvia, eu venho aqui pedir para o internarem. No entanto, compreendo, no quadro de agora, o envio de tropas da NATO para lá, não poderia ser de oura maneira.

Ucrânia e simplismos: a situação exige perguntas, ou quando um porco é sempre um porco

1. Declaração prévia. Sou pela autodeterminação dos povos. Isto serviria para apoiar a luta anticolonialista de Angola, Guiné e Moçambique, se houvera idade para tal na altura (nasci em 1964); isto serve para o povo ucraniano e serve para o povo russo, nomeadamente o que vive no Donbass (como serve para os catalães e outros). Ou há convicções e somos coerentes, ou não passamos de troca-tintas. E eu nunca pude com troca-tintas, causam-se repulsa, inclusive física. Logo. de acordo com os russos no Donbass, em desacordo se pretenderem suprimir o estado ucraniano, algo que duvido possam conseguir, mesmo se isto passa pela cabeça do Putin. No entanto, a Ucrânia só pode queixar-se dela própria, e do amigo-da-onça americano. Democracy, sempre. Que o diga o Assange aí ao lado, ou o Snowden no exílio. Um porco é sempre um porco.

2. Dir-me ão, mas não se pode andar a mudar fronteiras pela força (os restos dos Impérios soçobrados na Grande Guerra). E eu digo, ah, pois não... A não ser que...

3. Pergunta importante #1 e a ser repetida as vezes que me apetecer: é ou não verdade que tomaram para com Gorbachev o compromisso de não expandir a NATO, nomeadamente aquando da reunificação alemã? 

4. Embora o poder corrompa (e o poder absoluto corrompa absolutamente), recuso-me a análises ao nível do programa do Goucha. Ainda hoje ouvi na Antena 1 ao Milhazes esta pérola: o Putin é paranóico. Acho que a minha cadela faria uma análise mais fina. Ainda não percebi o que é o Milhazes, mas também não vou perder tempo com ele.

5. Repetindo-me: a Ucrânia não podia ser como a Finlândia? Poderia, se ela não estivesse a ser usada pelos americanos na desestabilização da Rússia (posso tentar explicar, noutra altura). Além disso, há sempre boas oportunidades de negócio. E poderia também se as lideranças fossem outras, embora em abstracto eu não tenha má opinião do Zelensky. É inteligente mas não teve  arcaboiço para manter a Ucrânia imune às pressões dos interesses, o que convinhamos nunca seria fácil.

A quem interessar está aqui o que escrevi sobre a Ucrânia desde 2014. Vale o que vale, a opinião de um observador interessado, sempre de boa-fé, e que não gosta de rebanhos e ainda menos de vigaristas.

Haverá mais perguntas a fazer e a repetir.

quarta-feira, fevereiro 23, 2022

playlist: «Lament for King George V»

no outro dia, um comentador

 dizia-se muito angustiado e dividido com a situação da Ucrânia, fascistas ou extrema-direita de parte a parte (já não me recordo), segundo depreendi das suas palavras, sendo que alguns fascistas eram vítimas doutros fascistas, acobertados pelo Direito Internacional. Mas alguém está interessado nos estados de alma destas personagens? Isto já não são comentadores, mas vedetas da televisão, floribelas. Se eu quiser saber das angústias e expectativas destas criaturas, vou ali a um quiosque ordinário e compro a maria, a tv guia ou outro recipiente de inanidades. 

seis parágrafos sem paciência a propósito da Ucrânia

1. Terça de manhã, na Rádio Observador, o major-general Carlos Branco. Oh, tanto que há a dizer. Eu punha uma série de comentadores de meia-tigela numa prova de ditado, com orelhas de burro.

2. o José Rodrigues dos Santos em piruetas e pliês junto do mapa da região, depois de, com guinchos de terror, dizer que Putin citou Lenine e Stálin, não percebendo que era uma crítica que ele -- bem ou mal -- estava a fazer a ambos, como criadores da Ucrânia como entidade política.

3. Calado há algum tempo, o Chega pronunciou-se, acusando a UE de frouxidão. Propõe-se o envio voluntário do Ventura para o leste da Ucrânia, com o camuflado de brinde da campanha eleitoral. (Mas o Putin não era de extrema-direita? Pelo menos foi o que ouvi afirmar a um antigo membro de berloque de esquerda...)

4. Não tenho seguido as reacções dos partidos. Só sei que o PCP está cheio de razão, o resto é conversa fiada para entreter os indígenas e Washignton ouvir,

5. O Biden, esse querido velhinho, indignado com o ultraje russo de reconhecer a "independência" dos separatistas, esquecendo-se do cadastro que o país tem com a criação de Kosovos, que o comportado MNE Luís Amado foi obrigado a reconhecer -- sem esquecer essa linda entidade política chamada Bósnia-Herzegovina, que nunca em tempo algum alguma vez fora país ou nação. Há quantas décadas estão lá os capacetes azuis para que eles não se matem? É que antes eles viviam todos juntos, casavam-se entre si, como se passa(va) na Ucrânia. 

6. Cada vez tenho menos paciência para ouvir comentadores incapazes e políticos sonsos, Eu percebo que o cidadão comum não tenha possibilidade de analisar a situação.  Mas que dizer desta patota antiputinista primária, secundária e pavloviana? Parece que ele não deixa as criancinhas russas serem expostas a parvoíces como a ideologia de género na escola, entre outros atentados à inteligência; deve ser por isso que lhe têm tanta sede nos Estados Unidos e aqui na parvónia.

terça-feira, fevereiro 22, 2022

playlist: «A Whiter Shade of Pale»

a arte de começar

 «José das Dornas era um lavrador abastado, sadio e de uma feliz disposição de génio, que tudo levava a rir, mas desse rir natural, sincero e despreocupado, que lhe fazia bem, e não rir dos Demócritos, de todos os tempos -- rir céptico, forçado, desconsolador, que é mil vezes pior do que o chorar.»

Júlio Dinis (1839-1871), As Pupilas do Senhor Reitor (1867)

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

playlist: «We Have the Power»

Putin e Biden: jogo do gato e do rato numa ratoeira chamada Ucrânia

Olaf Scholz diz que há ainda lugar para a diplomacia e Macron insiste ao telefone com Putin. Eles bem querem, mas o que querem os Estados Unidos? Cada vez mais parece que é a expulsão do sistema monetário internacional como já foi apontado por outrém; uma forma mais limpa de tentar minar a Rússia, estrangulando-a econòmicamente. Se for assim, Putin está a evitar a armadilha: se atacar caem-lhe as sanções em cima; se não atacar, será não só um revés estratégico, como dará gaz aos americanos. O Donbas ali serve para já para ir entretendo, e Putin ganhar tempo. Não sei até que ponto os acordos com a China poderão de alguma forma compensar as tais sanções económicas nunca antes vistas. Se assim for, o tempo joga contra a Rússia e a favor dos Estados Unidos. O que poderá sair deste imbróglio, ninguém sabe, nem Putin.

Zelensky, que até meio da semana passada tivera uma atitude responsável e de sangue frio, deu de repente uma guinada e passou também a saber, tal como Biden, a que horas iria começar a guerra. Mas fez pior: pediu à NATO um cronograma para a sua entrada. Como isso, nas actuais circunstâncias parece ser uma impossibilidade, está também ele a ser boneco de ventríloquo, como o sec-geral da Nato a presidente da Comissão Europeia, para não falar no Boris Johnson, um tipo que merece todo o crédito que sabemos, do Brexit às festarolas no n.º 10.

Ucranianos em Portugal manifestaram-se em frente às representações diplomáticas russas. Alguns em lágrimas. Não deveriam ter ido às congéneres americanas? Já se perguntaram do porquê de tanto afinco e precisão na defesa da democracy por parte de quem está tão longe? Eu bem sei que parte deles está ali orientado e em serviço. Basta ouvir-lhes o mantra, qualquer coisa como isto: agora é na Ucrânia, amanhã estão a mergulhar nas águas do Guincho. Vamos lá todos então entrar em guerra porque a Ucrânia (ou quem da classe dirigente toma conta) não lhe serve ser um estado neutral e tem medo da influência da Rússia nas províncias de maioria russa. Vamos todos então escaqueirar a Ucrânia, porque os seus dirigentes assim o querem. Os dirigentes, ou os que de Washington mandam neles? 

sábado, fevereiro 19, 2022

terça-feira, fevereiro 15, 2022

playlist: «A Wrinkle in Time Sets Concentric Circles Reeling»

mais notas sobre a Ucrânia

 1. Hoje. A retirada parcial de tropas, parece que previamente calendarizada, não pode deixar de ser lida como um gesto de boa-vontade por parte da Rússia, no dia em que recebe o chanceler alemão, e ao mesmo tempo de prudência em face das fortes sanções económicas  dos Estados Unidos e da UE, no caso de uma invasão. Invasão que, de acordo com analistas militares que tenho ouvido, se efectuaria ou efectuará em caso de provocação do lado da Ucrânia, v.g. um ataque militar contra os russos do Donbas.

2. A estratégia russa.  No entanto, nem as preocupações permanentes da Rússia se dissipam, nem a estratégia de rapina norte-americana previsivelmente se aplacará. Não podendo os Estados Unidos defrontar militarmente a Rússia sem que isso provoque uma guerra mundial, a estratégia de desestabilização do regime passa pela tentativa de asfixia económica, que a breve prazo terá consequências para o establishment russo, e isso foi certamente tido em conta pelos russos.

2.1. Tudo isto é especulação, espera-se que da boa; aliás, o que de válido pode haver nas últimas linhas não se deve a mim, mas ao major-general Carlos Branco, que tem sido cristalino.

3. Conceitos estratégicos. Os países movem-se por interesses permanentes, independentemente de quem esteja no poder, sendo os mais determinantes os que são condicionados pela Geografia e pela História. As questões económicas, sendo importantes, e também estratégicas, são conjunturais. A Rússia, várias vezes invadida ao longo dos séculos, tem uma sensibilidade especial na preservação do seu espaço (tal como, por exemplo os países bálticos o têm em relação à própria Rússia, ou a Polónia, sua "inimiga" (ou competidora) histórica). 

4. A estratégia americana. Para além da rapina (im)pura, a partir da altura em que os EUA tomaram uma posição de condicionamento do país, bases militares na Ásia Central, adesão dos países ex-URSS à Nato, entre outras, os russos obviamente desconfiam. Até no tempo de Ieltsin, no meio do marasmo, eles não deixaram de vincar a sua posição em face aos Estados Unidos, com a ocupação do aeroporto de Pristina, para embaraço dos "aliados" americanos e a sua costumeira má-fé.

5. Ainda os comentadores. Do que tenho lido e visto, a generalidade dos comentadores é uma de três coisas: incompetente, vesga, ou intelectualmente desonesta. Incompetentes, quando se comenta sem ter conhecimentos da história da região e dos interesses estratégicos; vesgos quando se deixam toldar pelo sentimento anti-Putin, alvo, de resto, de uma propaganda negativa fortíssima, sem perceberem ou não querendo perceber, que o problema está muito para lá de Putin; e a pura desonestidade intelectual, endossando a posição americana e o seu instrumento da Nato, sem se referirem a todos interesses, claros e obscuros, que estão por detrás. 

Ainda hoje na rádio, ouvindo um português que vive na Ucrânia, insuspeito de simpatia por Putin, dizia que enquanto que a adesão à UE é uma aspiração colectiva, ninguém está propriamente interessado em aderir à NATO; a sua conclusão (óbvia conclusão para qualquer observador minimamente informado e isento) é a de que o país (e o seu povo) está a ser usado para interesses que não são seus. Também posso falar da cabeleireira ucraniana da minha mulher, bastante consciente dos vínculos históricos entre ucranianos e russos, para se deixar impressionar pelos protestos de defesa da Ucrânia dos Estados Unidos e os cãezinhos amestrados da Nato.

É por isso que, exceptuando os analistas militares, que sabem do que falam, e casos muito raros de comentadores isentos e honestos, como o da académica Sónia Sénica, conhecedora da história e cultura da região, a maioria daqueles são confrangedores. Ouvir Pires de Lima ou um porta-voz do Pentágono é a mesma coisa; no Domingo, no habitual debate entre João Soares e Miguel Poiares Maduro, ver este a fazer-se de ignorante, talvez por medo de tomar uma posição isenta, ou ainda ontem, Lívia Franco, outra comentadora habitual, em conversa de café, aos saltinhos e aos papéis, querendo fazer parecer que não*, foram alguns dos muitos espectáculos tristes do acompanhamento mediático desta crise. **

* Só vi a parte final do painel, em que um outro militar, cujo nome não retive, marcou a habitual diferença da seriedade e do estudo.

** Gosto muito mais de elogiar do que atacar, mas não posso deixar passar em claro o que considero ser intervenções de comentadores impreparados ou parciais, medíocres ou enganosos num assunto tão sério como este. Vir para a televisão falar sobre uma crise com esta magnitude, não é propriamente o mesmo que ser convidado do Cabaré da Coxa.

«Leitor de BD»



Marcello Quintanilha, Escuta, Formosa Márcia

(aqui)

segunda-feira, fevereiro 14, 2022

Playlist: «Rise»

versos do dia

 «Do baile / alado / só ficou ela;»

[...]

Saul Dias, «Baile», Tanto (1934)

domingo, fevereiro 13, 2022

Teremos guerra esta semana?

1. Em minha opinião, Biden apressa-se a dizer aos americanos para saírem da Ucrânia, pois já têm a data marcada para a provocação que os seus títeres neonazis do Batalhão de Azov, na linha da frente, como tem referido o tenente-general Carlos Branco, irão perpetrar. Veja-se aqui a bicharada com os seus símbolos a fazer lembrar as SS. Serão varridos pelos russos, impiedosamente o que será muito bem feito; e espero que estes usem de humanidade para com os civis e a tropa feijão-verde ucraniana, que serão usados pelos que verdadeiramente mandam na administração americana -- o complexo militar-industrial --, de que Biden é pelo menos lacaio -- como carne para canhão. Fizeram-no há pouco com os curdos contra o Daesh, abandonando-os à sua sorte. Neste século, a invasão do Iraque: as inexistentes armas de destruição maciça, que todos sabíamos que não existiam (excepto Durão Barroso). Milhares de mortos inocentes, famílias e vidas destruídas. Puros criminosos de delito comum.

2. A última esperança: a visita amanhã e depois do chanceler alemão Olaf Scholz a Putin e a Zelensky, que até me parece um tipo decente, mas sem qualquer força para se opôr ao sacrifício dos concidadãos pelo belicismo americano. Tal como Sholz não terá força para parar os Estados Unidos, nem para convencer Putin a perder a face. Oxalá me engane. 

3. Perante isto, a última coisa que me apetece ouvir são as parvoíces do MNE Santos Silva, a fazer de Durão Barroso. Bem sei que somos aliados -- a geografia pesa muito --, mas tal não implica a subserviência de avalizar as vigarices dos americanos. Haja alguma vergonha. 

playlist: «Love Is All We Have Left»

sábado, fevereiro 12, 2022

sexta-feira, fevereiro 11, 2022

JornaL

Abusos na Igreja. Se o abuso em qualquer idade é gravíssimo e revela problemas psíquicos sérios, no que concerne ao abuso sexual de uma criança trata-se de uma depravação que não tem outra solução que não a de trancar a criatura e deitar fora a chave. (Não, não é a prisão perpétua, mas o simples internamento psiquiátrico, com o bicho bem sedado.) Não é preciso ser psiquiatra ou psicólogo para sabe que a castração da sexualidade pode originar os comportamentos mais aberrantes. Não é uma explicação única, mas parece-me importante. Dito isto, fui aluno num colégio de padre durante seis anos, entre os dez e os quinze, e nunca tal se viu ou disso se falou. Acredito que seja uma minoria na Igreja, mas não poderiam sequer lá entrar. O mal que fizeram a milhares de pessoas é devastador e não tem desculpa.

"Bombista". É de Fátima; está explicada a perturbação mental.

Chega. É um partido liderado por um bully (contra os fracos, é claro). Eu até acho piada a Diogo Pacheco Amorim, até subscrevo claramente algumas das coisas que ele defende -- pelo que ouvi dizer, pois não li o texto polémico. No entanto, pertence a um partido inapresentável como o são boa parte dos 380 mil que votaram nele. E não há volta a dar-lhe: só num país que não se leva a sério é que uma criatura como o Ventura pôde fazer as declarações sobre a comunidade cigana sem que ninguém tivesse processado o menino e retirado os direitos políticos durante um período, para aprenda a não ser malcriado. Sempre ouvi dizer que é de pequenino que se torce o pepino.

Jornalismo de miséria. Não foi nada disto que o Biden, disse, mas tão só a inferência óbvia de que os dois mais poderosos países do mundo se se enfrentassem a consequência seria essa, algo0 que até a minha cadela sabe. Mas o Biden estava a falar para um jornalista de televisão e teve de falar como se aquele ainda fosse muito estúpido. E é com lixo deste, veiculado pela sic (Londres-Luanda-Nova Iorque...) que se informa as pessoas.

Ucrânia. Os Estados Unidos irão "defender" a Ucrânia até ao último ucraniano.

a Ucrânia e os "comentadores"

 Quando um tipo decentíssimo como comentador, porque culto e informado como poucos, não alinhou pelo argumentário oficial na questão da Iugoslávia, refiro-me ao malogrado Carlos Santos Pereira, passou a emprateleirado e ausente, porque não era um papagaio como a maioria dos seus colegas. Quem não se lembra do inefável José Rodrigues dos Santos, esganiçado, a abrir um Telejornal em pranto: "Boa noite, os campos de concentração voltaram à Europa!"... Seguia-se imagens de um campo de prisioneiros de guerra muito magros, é certo, croatas ou bósnios-muçulmanos, já não me recordo, com a evidente e grosseira mensagem subliminar: "campos de concentração = nazis, logo sérvios = nazis", propaganda que servia a quantos fizeram aquela embrulhada na Bósnia-Herzegovina (ao fim destes anos, a tropa estrangeira lá continua para que não se matem), sem falar na vigarice do Kosovo. Outro observador independente e de grande nível, Pezarat Correia, foi convenientemente esquecidp, pelas mesmas razões.

Hoje raramente há jornalistas como Santos Pereira; ou são analfabetos funcionais ou nem se ralam com o que papagueiam. Mas não só os jornalistas. Tenho visto e ouvido comentadores que são outras nódoas, a propósito do caso da Ucrânia. Boa parte nem é por ignorância, mas porque gostam que quem detém o poder oiça o que eles, domesticados, dizem; outros há movidos a puro preconceito, não afastando a possibilidade de haver quem esteja a ser pago -- em dinheiro ou em géneros -- para veicular as posições norte-americanas. Em resumo, um vómito nauseabundo.

As últimas que tenho visto são as imbrincadas explicações para a deslocação de Macron à Rússia, cuja a análise se centra na proximidade das eleições presidenciais em França, e as tácticas do inquilino do Eliseu em face da Le Pen e do outro vigarista que disputa com esta a extrema-direita. Que sofisticação de análise que estes cretinos querem exibir, esquecendo-se que a situação tal como está, em que ninguém acredita na possibilidade de uma guerra, porque seria devastadora, é perigosamente real. Basta haver provocações ou descontrolo. Mas para além das jogadas de Macron, ficámos a saber que ele e Putin beberam Chardonnay à refeição.

Para minha surpresa, vi há pouco na RTP3 o major-general Carlos Branco, para quem j+a chamei a atenção. Escreve no Jornal Económico, e vale imenso a pena ler a sua última crónica: «Por quem os sinos dobram em Kiev». É lê-lo (e agora ver e ouvi-lo, enquanto deixam), não ligar aos analfabetos funcionais que apresentam as notícias, e muito menos à miséria de comentadores da treta, que se limitam a reproduzir a conversa do Pentágono e da cúpula da NATO.

P.S. Obviamente que Macron avança com uma solução à finlandesa, porque não há outra que possa dispensar os tambores da guerra. Os Estados Unidos e os que por estes são mandados, discordam. Se não fosse triste e potencialmente trágico, daria vontade de rir.

P.S. 2. O presidente da Ucrânia -- sobre o qual não tenho opinião, por desconhecimento -- tem-se mostrado bastante apaziguador e à procura de uma solução diplomática. Ele sabe que serão os primeiros sacrificados se a rapina norte-americana forçar a guerra.

P.S. 3 Quando esta criatura do Biden foi eleita eu escrevi aqui que os problemas iriam começar rapidamente. Aliás, via-se como a harpia da Hillary Clinton estava cheia de vontade. Eles aí estão.

P.S. 4 Ler e ouvir Carlos Branco é ao mesmo tempo refrescante, mas também assustador. São os nacionalistas neo-nazis, com muitas conivências internas e cumplicidades externas que estão no leste da Ucrânia. Pode ser que façam o jeito aos tipos que mandam no cheché americano, e comecem a abrir fogo contra a população e milícias de origem russa que vivem no Donbas. E aí a Rússia não deixará de intervir. De que modo? Cá estaremos para ver. E depois?, sabe-se como acaba? 

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

playlist: «Embody»

versos do dia

 [...]

Água que é fraga e que faz sede, / quarto sem espelho, cor sem rede.»

Pedro Tamen, «Pintura de Graça Morais (II)», Depois de Ver (1995)

quarta-feira, fevereiro 09, 2022

playlist: «Come Back Home»

 



Homem Voador, por José Pinto Carneiro e Álvaro

(aqui)

versos do dia

 «A virtude é a mãe do vício / conforme se sabe; / acabe logo comigo / ou se acabe.»

Torquato Neto, «Mais desfrute, curta»

terça-feira, fevereiro 08, 2022

playlist: «A Estrada»

versos do dia

 «Tento pensar-te acima de menino / pela mão de uma horas assustadas.»

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Pedro Tamen, Os Quarenta e Dois Sonetos (1973)

segunda-feira, fevereiro 07, 2022

playlist: «Scaccomatto»

versos do dia

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«Quebra-se a superfície do lago, / quando, do barco parado, / o pescador lança as redes.»

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Li Bai, «O pescador», Poemas de Li Bai

(versão de António Graça de Abreu)

domingo, fevereiro 06, 2022

apresentação à sociedade do meu neto José Pedro


 
Nasceu no dia 4, no Hospital de Cascais, enquanto o avô tertuliava a propósito do Fernão Lopes e a sua Crónida d'El-Rey D. Pedro I -- rei que deu carta de vila a Cascais em 7 de Junho de 1364, seiscentos anos e cinco dias antes de o avô nascer.
E como isto anda tudo ligado, como diria Eduardo Guerra Carneiro, que conheci no Museu Ferreira de Castro, a propósito de uma pesquisa que desenvolvia sobre o Blaise Cendrars, o autor da versão francesa de A Selva, do mesmo Ferreira de Castro, cujo busto em bronze é da autoria de António Duarte, o mesmo escultor que concebeu a estátua de D. Pedro I, em frente dos Paços do Concelho, em Cascais, por ocasião do sexto centenário da vila, 7 de Junho de 1364, seiscentos anos e cinco dias antes de nascer o avô do pimpolho aí em cima, que se apresenta agora à sociedade, sobe a égide de Beatrix Potter e o seu Pedrito Coelho.

 

«Leitor de BD»

Dylan Dog - O Número 200 (Paola Barbato e Bruno Brindisi)

 aqui

quadrinhos


 

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

«Minute Steak»

versos do dia

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«Quando morrer, a sua pele / tomará a cor dos tremoços:»

Saul Dias, ...Mais e Mais... (1932)

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

portugueses


LAURO ANTÓNIO de Carvalho Torres Corado

 

playlist: «I Knew You When»

versos do dia

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«os veterinários passam lentos lendo Dom Casmurro / há jovens pederastas embebidos em lilás / e putas com a noite passeando em torno de suas unhas»

[...]

Roberto Piva, «Praça da República dos meus sonhos» 

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

playlist: «Death and the Lady»

versos do dia

«Os versos assemelham-se a um corpo / quando cai / ao tentar de escuridão a escuridão / a sua sorte»

[...]

José Tolentino Mendonça, Baldios (1999) 

terça-feira, fevereiro 01, 2022

playlist: «A tu more»

os coveiros do CDS

 É muito curioso que  gente que ainda há pouco pertencia ao CDS, facção tralha portista, se apresse a declarar a morte de um partido com centenas de autarcas eleitos, a governar seis autarquias sòzinho e mais de cinquenta em coligação com o PSD, no governo das duas regiões autónomas e com um deputado europeu eleito. Nuno Melo, que lembrou isso mesmo, sendo embora um dos grandes responsáveis pelos resultados de Domingo. É um nome possível, apesar da sua ligação tóxica ao portismo: odiado pelo wokismo de direita e de esquerda, tem uma virulência equivalente ou superior à de Ventura, com a diferença de este não ter princípios nenhuns e o outro ser um conservador. Por estas características de combate, talvez seja um bom nome para agarrar no partido, digo eu, que estou de fora, mas a acompanhar com interesse.

portugueses


URRACA DE PORTUGAL


 

versos do dia

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A uma fogueira entrevista / torsos lampejam / lastrando a luz

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Sebastião Alba, A Noite Dividida (1996)