sábado, novembro 30, 2013

O meu LEFFest 2013 #21 -- «The Immigrant»

The Immigrant, de James Gray (EUA, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».
País de imigrantes, a identidade americana (as identidades americanas, de Norte a Sul) tem sempre esse lastro dramático de nostalgia e luta pela vida que marcou e continua a marcar a sua população não autóctone nem ex-escrava (porque nestes casos, o passado é ainda mais traumático). Gray, que no Estoril, evocou o seu avô russo, é grande, e conta-nos uma história -- dos muitos milhões de estórias de que as Américas continuam a fazer-se -- com mestria. E Marion Cotillard está sublime.

sexta-feira, novembro 29, 2013

O meu LEFFest 2013 #20 - «My Blueberry Nights»

My Blueberry Nights, de Wong Kar Way (Hong Kong / China e França, 2007). "Homenagem - Wong Kar-Wai". 
Deixei passar este nas salas, e agora não perdi a oportunidade de ver a adorável Norah Jones, que não me desapontou nada enquanto actriz. Filme circular, Lizzie (NJ), mais uma desiludida das relações amorosas, conhece outro solitário (Jeremy), imigrante que explora um pequeno restaurante em Nova Iorque; restaurante que, entre outras iguarias, oferece uma tarte de mirtilo que nunca ninguém quer, projecção do próprio Jeremy. Lizzie afasta-se de NI, vai curtir o desgosto on the road, primeiro Memphis, a trabalhar por sua vez também num restaurante, e depois num casino, em Las Vegas. O círculo fecha-se quando a peregrinação de Lizzie a reconduz a Nova Iorque, memória do sabor de uma tarte de mirtilo.



quinta-feira, novembro 28, 2013

O meu LEFFest 2013 #19 --«Història de la Meva Mort»

Història de la Meva Mort, de Albert Serra (Espanha e França, 2013). "Selecção oficial -- Fora de competição". Casanova meets Drácula. Notabilíssima interpretação de Vicenç Altaió i Morral, encarnando o Grande Libertino. Como li algures, o filme ilustra (ou pretende ilustrar) a passagem do racionalismo iluminista de Setecentos ao romantismo destemperado da centúria seguinte. Confesso que a minha coluna e o meu traseiro burgueses perderam, a meio do filme, a paciência com as abaixo de desconfortáveis cadeiras do Centro de Congresso do Estoril. Foi uma pena, porque esse desconforto já não me deixou fruir em condições a segunda parte, e, a certa altura, já não levava nada a sério, e via em Serra um autor de uma espécie de crossover do cinema de Oliveira com o de Coppola, e olhava para o Drácula como a figura do Lobo Mau, à espera de soprar à porta das 3 porquinhas... Malvadas cadeiras!


terça-feira, novembro 26, 2013

O meu LEFFest #18 -- «La Vie d'Adèle»

La Vie d'Adèle -- Chapitres 1&2, de Abdellatif Kechiche (França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».
Para ir directo ao assunto, não me comoveu. Não basta tratar-se de amor entre duas mulheres, com cenas de sexo explícito, para que o filme deixe de ser um tratado banal sobre as relações amorosas, histórias com princípio meio e fim. Posto isto, é um filme que merece ser visto (Adèle Exarchopoulos, actriz estupenda), mas de todos quanto vi neste Festival, que estiveram na calha para a Palma de Ouro (La Vénus à la Fourrure, Inside Llewyn Davis, Le Passé e The Immigrant), este seria o último a ficar com ela.
  

O meu LEEFFest #17 -- Fish & Cat


Fish & Cat, de Shahram Mokri (Irão, 2013). "Selecção oficial -- Em competição".
Mesmo sem ver uma boa porção dos outros filmes a concurso, achei que era um forte candidato ao principal prémio do Festival, tal o engenho e a mestria da equipa de Mokri. Somos confrontados, no início, com a notícia (verídica) de que numa província do Irão, num restaurante que entretanto encerrado, foram encontrados vestígios de carne humana, que teria sido servida... A partir daqui, a acção parte do exterior duma casa de pasto onde estão dois tipos mal encarados, e um grupo de jovens e tenros estudantes de Teerão que se concentram à beira de um lago, onde decorrerá um festival de papagaios de papel... Tudo é filmado num único take, com cerca de vinte personagens em cena, o que obrigará à repetição de cenas em diferentes perspectivas, com uma rigorosa marcação "de palco". A certa altura, corre-se o risco de deixarmos de prestar atenção ao plot para nos concentramos naquele maravilhoso deambular da câmara tecendo esta sugestiva tapeçaria persa. Certamente ciente desse risco, Mokri consegue manter-nos atentos com um progressivo acréscimo de tensão. É um filme espantoso, e fiquei bem contente por ter sido premiado. 

segunda-feira, novembro 25, 2013

Eanes

Militar do 25 de Abril (e do 25 de Novembro). Democrata, confiável à esquerda e à direita. Homem de cultura, que nunca se pôs em bicos de pés. Cidadão impoluto, que a generalidade do país admira.
Que mais é preciso num estadista?



P&R -- Amoz Oz

Define-se, aliás. como um peacenik e não como um pacifista. Qual é a diferença?  Para um pacifista, o pior mal é a guerra. Para mim, é a agressão. E a agressão, por vezes, tem de ser travada pela força. Uma tia minha que morreu há uns anos e foi sobrevivente do campo de Theresiendstat disse uma frase que nunca vou esquecer: "Nós fomos libertados não por manifestantes com cartazes mas por soldados com armas."
Entrevista a Luciana Leiderfarb, Expresso / Actual #2143, 23.XI.2013 

domingo, novembro 24, 2013

O meu LEFFest 2013 #16 -- «O Grande Mestre»


O Grande Mestre, de Wong Kar-Wai (China / Hong Kong, 2013). "Selecção oficial -- Fora de competição».
Se a imagem da filigrana não estivesse tão estafada, utilizava-a para falar do modo como W. Kar-Wai nos apresenta as cenas de combate kung-fu, virtuosismo puro; para não falar de tudo o resto: do argumento (a acção decorre em anos negros para a China: invasão japonesa e guerra civil), aos cenários, à fotografia e às actrizes, às actrizes...

Os CTT -- para não esquecer mais uma traição aos portugueses

Quando o governo anterior foi levado a negociar com a troika, na sequência do chumbo do PEC IV, previu-se o recurso a privatizações de activos do Estado português no valor de 5.000.000.000 € (cinco mil milhões euros). 
Até agora, o Estado encaixou mais de seis mil milhões, tornando dispensável a alienação dos Correios de Portugal, empresa lucrativa, fundamental para a coesão do território (como ainda há pouco era lembrado n'"O Eixo do Mal") e, como a RTP (Rádio e Televisão de Portugal) ou a TAP (Transportes Aéreos Portugueses) são instrumentos de soberania (tal como o era, por exemplo a REN, Rede Eléctrica Nacional).
Isto demonstra que este governo é atentatório da dignidade e da soberania nacionais. Recorde-se que o serviço de correios foi instituído em 1521 por D. Manuel I, e que pouquíssimos países no mundo conhecem uma originalidade destas (nos EUA, por exemplo, os correios são públicos).
O insuportável vice-primeiro-ministro disse estarmos à beira do 1.º de Dezembro (feriado, aliás, que foi ignominiosamente suprimido, por gente sem vergonha); a conclusão óbvia é a de que a direcção política do governo encarna o perfil do traidor Miguel de Vasconcelos. Como dizia Mário Soares, seria bom que eles se apeassem por si próprios, para não serem defenestrados, como sucedeu com o dito Vasconcelos colaboracionista.

sábado, novembro 23, 2013

O meu LEEFFest 2013 #15 -- «Fruitvale Station»

Fruitvale Station, de Ryan Coogler (Estados Unidos, 2013). "Selecção oficial -- Fora de competição".
As tensões raciais nos Estados Unidos não desapareceram com a eleição de Obama, como é óbvio. O filme traz-nos a história verídica, passada em 2009, do assassínio de Oscar Grant III pela polícia, na sequência de uma rixa no metro, entre negros e brancos. A Autoridade canaliza a sua acção repressiva apenas contra os negros, enquanto os brancos não são incomodados. Bom cinema.


O meu LEFFest 2013 #14 -- «Stop The Pounding Heart»

Stop The Pounding Heart, de Roberto Minervini (EUA, 2013). "Selecção oficial -- Em competição".
Mixed feelings a propósito deste documentário ficcionado. Uma família do Texas, cristã observante, leituras e exercícios diários sobre a Bíblia, que provocam uma inesperada empatia, apesar de todo aquele primitivismo que não se aguenta. Empatia provocada talvez pelo apelo da simplicidade, da vida familiar tanto quanto possível harmoniosa, que hoje é uma ficão para muita gente. Gostava de ter ouvido o realizador a propósito, e também sobre aquela rápida e intrigante sequência duma cruz em chamas, que imediatamente me remeteu para o Ku Klux Klan... De facto, é tudo muito branco, por aqueles lados... Por fim, há um amadorismo que, mesmo assumido, não deixa de fatigar.

O meu LEFFest 2013 #13 -- «Week-end»


Week-end, de Jean-Luc Godard (França, 1967). «Rupturas». 
Godard como Jacques Tati, negro.

quinta-feira, novembro 21, 2013

O meu LEFFest 2013 #12 -- «Wakolda»


Wakolda, de Lucía Puenzo (Argentina , França, Espanha, Noruega, 2013). «15 anos, 15 filmes -- Mostra de cinema iberoamericano».
Pelo que vi, Lucía Puenzo é uma realizadora de mão cheia (e é filha de peixe, como a sua contemporânea Sofia Coppola). A história (Lucía P. também assina o argumento) é esplêndida. Uma família feliz (ele é um artesão dedicado a manufacturar bonecas...) em trânsito para o fim do mundo patagónico, aonde ela tomará posse da herança da mãe, um fantástico albergue nos arredores duma cidadezinha dos confins, cruza-se, por maldade do acaso, num apeadeiro do deserto, com um alemão que (eles saberão depois; nós um pouco antes) não é mais nem menos que o foragido e tenebroso Josef Mengele, o anjo da morte nazi. Puenzo, ainda jovem, além de argumentista madura é uma realizadora seguríssima. Planos que tiram o melhor partido de cenários incríveis, magnificados por uma fotografia soberba. Um filme do caraças.


quarta-feira, novembro 20, 2013

O meu LEFFest 2013 #11 -- «O Passado»


Asghar Farhadi, O Passado (Itália e França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição» 
Farhadi é um mestre na exibição crua das relações humanas no mais recôndito das causas e motivações individuais; e a sua mestria resulta na forma como ele sabiamente doseia esse encadeamento relacional. Fortíssimo, na sua contenção, o último plano. O passado é um lugar de onde nunca se consegue sair.

terça-feira, novembro 19, 2013

O meu LEFFest 2013 #10 - «Alexandra»


Alexandra, de Aleksandr Sokurov (Rússia e França, 2007). «Homenagem -- Aleksandr Sokurov».
Na crónica que mantém na Revista  do Expresso de 9 de Novembro, o esplêndido José Tolentino Mendonça, cuja leitura nunca dispenso, escreveu que «Os avós são mestres de uma arte esplêndida e rara: a arte de ser». Neste filme de Sokurov, uma avó vai visitar o neto, um capitão a combater na Tchetchénia, ao acampamento das tropas russas estacionadas naquela província irredentista do Cáucaso. Se a guerra despersonaliza e bestifica, são as mulheres, as avós, que têm de reapresentar esses mancebos angustiados nessa tal arte de ser, de tornar a ser. Não apenas as mulheres e avós russas, mas também as mulheres e as avós tchetchenas, que no filme se encontram no afecto e com poucas palavras para a brutalidade da guerra.

Não me sairá da retina a cena do neto, capitão curtido pelos rigores do combate anti-subversivo, a entrançar o cabelo da avó, como menino que por instantes voltou a ser.

P&R -- Roman Polanski

Para si quem é a Vanda?  É uma mulher que sabe o que quer. Este filme é a história de um homem enrolado por uma mulher com a facilidade com que se enrola um charro. Eu queria fazer um filme para mulheres. E ter uma que diz as coisas certas, numa linguagem divertida, sem banalidades.
Entrevista a Francisco Ferreira, Expresso / Actual #2142, 16.XI.2013

segunda-feira, novembro 18, 2013

O meu LefFest 2013 #9 -- «Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo»

Quando a Noite Cai em Bucareste ou Metabolismo, de Corneliu Porumboiu (Roménia, 2013). «Selecção oficial - Em competição». 
O envolvimento entre um realizador e a sua actriz é um excelente tema para se tratar. Aqui, foi pífio e soporífero.










O meu LEFFest #8 -- «We Own The Night»


We Own The Night [Nós Controlamos a Noite], James Gray (EUA, 2007). «Homenagem -- James Gray».
Grande cinema. O melhor Coppola e o melhor Scorsese estão aqui. Uma história comum de lealdade e homenagem filiais, exercidas pelo lado mais difícil. Tudo neste filme é bom e intenso, milimetricamente planeado para que fiquemos numa espécie de letargia na cadeira da sala de cinema, profundamente embebidos do que, no grande ecrã, se desenrola diante dos nossos olhos.

domingo, novembro 17, 2013

O m eu LEFFest #7 -- «Sacro Gra»


Sacro Gra, Gianfranco Rossi (Itália e França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».A maior autoestrada urbana italiana, que envolve Roma. No meio, milhões de vidas, das mais ricas às mais degradantes, das mais faustosas às que se remeteram à mais insignificante insignificância. É um excelente documentário, da mais pura reportagem. Intermináveis histórias de vida.

sábado, novembro 16, 2013

O meu LEFFest #6 - «Lições de Hamornia»


Emir Baigazin, Lições de Harmonia (Casaquistão, 2013). «Selecção oficial - Em competição» Filme despojado, como espartano é o cenário da aldeia da Ásia Central em que a acção decorre, brutal, da casa à prisão. A escola, um liceu comum como um similar da província portuguesa, poderia ser um lugar de normalidade, não fora a ocorrência de bullying e extorsão por parte de organizações juvenis já mafiosas, a que se alia uma brutalidade policial de arrepiar.

sexta-feira, novembro 15, 2013

quando a protestadeirice passa das marcas ou a histeria em torno da homenagem a João César Monteiro

Espero que muitos dos que assinaram esta carta-aberta imbecil não tenham lido o seu conteúdo. A razão que assistia aos familiares por ninguém lhes ter dado cavaco sobre a homenagem que o festival de cinema de Paulo Branco iria prestar a João César Monteiro (leitura de textos por diversas pessoas, entre as quais o ministro Poiares Maduro) -- essa razão desvaneceu-se com a idiotice dos termos utilizados no protesto.
Acresce que não devem invocar os protestatários o suposto "intuito subjacente de branquear, neutralizar, festivalar o furor interventivo, manifestamente Anti-Sistema [com maiúsculas e tudo, caralho!], do cineasta, assim posto à mercê de tais canibais homenageantes", porque quem histericamente leva o protesto para a questão política devia saber que quem invoca o nome de João César Monteiro não tem autoridade moral para a invocar, pois JCM só filmou porque um negregado político (democraticamente mandatado, note-se, embora para alguns protestateiros tal possa ser coisa de somenos) despachou favoravelmente os subsidiozinhos para que JCM estendeu a mão (não a dele, é claro, que a gente não se suja com essas coisas, mas a do pedinte então de serviço, um produtor...). Houve gente, antes e depois do 25 de Abril, que nunca aceitou subsídios do Estado. Tenho exemplos. Não assim JCM no Portugal democrático (não sei se o que fez durante a Ditadura mereceu espórtula estatal; quero crer que não) e, quanto a mim, muito bem; muito mal este destempero protestadeiramente grotesco e, além do mais ridículo: daqui a cinquenta anos, se alguém se lembrar de ler poemas de JCM num certame destes, ninguém se vai dar ao trabalho de atestar a santidade Anti-Sistémica (para usar também maiúsculas, foda-se!) do preclaro realizador.

quinta-feira, novembro 14, 2013

O meu LEFFest #5 -- «Only Lovers Left Alive»

Only Lovers Left Alive, de Jim Jarmusch (Reino Unido, Alemanha e França, 2013). "Selecção oficial - Fora de Competição".
Esteticamente interessante; Tilda Swinton e Tom Hiddleston, muito bem.
Argumento pretensioso e a dar-se ares (vampiros e Stephen Dedalus -- oh, a ironia insuportavelmente saloia!-- entre vários outros pedantismos by the book).
Não tenho pachorra.

segunda-feira, novembro 11, 2013

O meu LEFFest #4 -- «Tip Top»

Tip Top, de Serge Bozon (França, 2013). "Selecção oficial -- Em competição". Uma comédia policiária, um papelão de Isabelle Huppert, boa para desopilar, moderadamente. Apesar da leveza, a paisagem humana, magrebina e gendarmiana, poderá fazer-nos pensar sobre a involução política do hexágono.

O meu LEFFest #3 - «Jimmy P. -- Psycothérapie d'un Indien des Plaines»

Jimmy P.-- Psychotérapie d'un Indien des Plaines, de Arnaud Desplechin (França, 2013). «Selecção oficial -- Fora de competição».
Há cerca de uma década, escrevi um poema intitulado «3 Visões do Terror», em que falava de espectros e estilhaços, de mortos-vivos, a propósito do que entendia, e entendo, terem sido, os maiores crimes praticados contra a Humanidade.
Este filme conta-nos a história (verídica) do encontro entre Jimmy Picard (Benicio del Toro), um índio blackfoot, saído da reserva para o cenário francês da II Guerra Mundial, e no qual sofreu um acidente; e o antropólogo e psicanalista francês George Devereaux (Mathieu Amalric) -- aliás, o judeu romeno de etnia húngara naturalizado francês György Dobó. Numa nota apressada escrevi que se tratava do encontro entre dois homens carentes. Mas, na verdade, foi mais que isso: uma história que trata do laço que se cria entre dois portadores dum trauma psíquico ("dor na alma", diz Devereaux no filme), de dois homens estilhaçados por dentro. 

domingo, novembro 10, 2013

Emmanuelle Seigner

(e mais dois gajos)

O meu LEFFest 2013 #2

Inside Llewyn Davis, Joel & Ethan Coen (EUA/França, 2013). "Selecção oficial - Fora de competição". Nova Iorque, 1961. Um bom folk-singer que não consegue passar da mediocridade dos pequenos bares e das editoras farruscas. Porquê? Não sei, a música é fantástica. Talvez ausência de carisma... A verdade é que tudo lhe corre mal, das grandes aspirações às ocorrência mais prosaicas do dia-a-dia. Na noite em que definitivamente atira a toalha ao chão e a câmara o segue para a porta das traseiras, percebemos de soslaio que um jovem de guitarra nas mãos e harmónica presa à altura da boca, começa a cantar com uma voz fanhosa. De quem se trata, todos sabemos, e os Coen dispensam-nos de  referir-se ao óbvio. A voz fanhosa acompanha os créditos finais.

O meu LEFFest 2013 #1

Vénus de Vison, de Roman Polanski, França e Polónia, 2013 ("Selecção Oficial -- Fora de Competição"). 
A palavra é "virtuosismo", não há outra, para esta reincidência de Polanski pelo texto puramente dramatúrgico. Emmanuelle Seigner, sexualmente devastadora e Mathieu Amalric perfeito, apesar do perigo derrapagem para o caricatural. A música (de Alexandre Despalt), quase inexistente de início, vai ganhando intensidade, à medida que os papéis se trocam e desvelam, nesta comédia terminada em farsa.

sexta-feira, novembro 08, 2013

outros tons - Delfins

A Cor Azul

P&R - Gianfranco Rossi

Não é sensível ao facto de muita gente, sobretudo jovem, ver filmes em ecrãs pequenos, às vezes muito pequenos? Sei disso, mas não quero saber. Não faço filmes em formato de bolso.
Entrevista a Jorge Leitão Ramos, Expresso / Actual # 2140, 2.XI.2013.

P&R (pergunta e resposta) - Carlos do Carmo

A propósito, está a gostar do Papa Francisco? É bom de mais para ser verdade...
Entrevista a José Carlos de Vasconcelos e Manuel Halpern, JL #1124, 30.X.2013.

estampa CLXVI

Ar Livre (Banhistas em Moritzburg) (1910)
Museu Wilhelm Lehmbruck, Duisburgo

quinta-feira, novembro 07, 2013

quarta-feira, novembro 06, 2013

a mercantilização da violência

As imagens são mercadoria. Diante dos proventos que elas permitem arrecadar, nenhum "empreendedor" mediático recuará, se puder exibi-las com impunidade. Não há restrições éticas para este tipo de gente. Como não há para os pais-dos-amarais, de missinha dominical, que conspurcam as casas portuguesas com a mais besuntada vulgaridade.
Entre a casa dos segredos e latrinices televisivas afins e uma cena de decapitação ou apedrejamento há apenas uma diferença de grau, quer de inanidade de quem nelas refocila quer de deslealdade dos bandalhos que as difundem, com o único fim de engordarem o porta-moedas.
(A propósito deste post.)
Chorar não basta / pra dignificar / a tristeza.
Cassiano Ricardo

criador & criatura



terça-feira, novembro 05, 2013

segunda-feira, novembro 04, 2013

30 dias, 30 livros

Beatriz J A, blogger extraordinaire, deu-se ao trabalho de postar sobre 30 livros que a marcaram. E fê-lo com grande interesse e inteligência. Recomendo.

Fender vs. Gibson: Buddy Guy e Angus Young



sábado, novembro 02, 2013

O meu ateísmo simples acredita em milagres

Encarar como possibilidade a ocorrência primordial duma entidade que paira sobre nós, operosa, intervindo nas nossas vidas, dotada de vontade, e à qual nós devemos a ventura da existência, eis algo que para mim não só é inconcebível, como resulta da tão humana fragilidade carente de sentido e de amparo. 
O grande milagre é termos chegado aqui, sem sabermos ler nem escrever, à real mas não menos presunçosa condição de sapiens, fruto de acasos que se combinaram, desenvolveram e evoluíram necessariamente, até tomarmos consciência de nós: em relação ao universo, primeiro; do nosso próprio mundo interior enquanto indivíduos, depois.
Que esta minha verificação não exclua uma dimensão metafísica, mas não sobrenatural, é uma evidência que seria dispensável enunciar.

(a propósito de um debate, ontem, no Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro)

3.ª epígrafe de A SELVA, de Ferreira de Castro

«Realmente, a Amazónia é a última página, ainda a escrever-se, do Génesis».