sábado, novembro 30, 2019

a música em 2015: «Violent Motion Pictures»

um parágrafo de Aquilino Ribeiro

«Do pinhão, que um pé-de-vento arrancou ao dormitório da pinha-mãe, e da bolota, que a ave deixou cair no solo, repetido o acto mil vezes, gerou-se a floresta. Acudiram os pássaros, os insectos, os roedores de toda a ordem a povoá-la. No seu solo abrigado e gordo, nasceram as ervas, cuja semente bóia nos céus ou espera à tez dos pousios a vez de germinar. De permeio desabrocharam cardos, que são a flor da amargura, a abrótea, a diabelha, o esfondílio, flores humildes, por isso mesmo troféus de vitória. Vieram os lobos, os javalis, os zagais com os gados, a infinita criação rusticana. Faltava o senhor, meio fidalgo meio patriarca, à moda do tempo.» A Casa Grande de Romarigães (1957)

«Mellow Yellow»

sexta-feira, novembro 29, 2019

quinta-feira, novembro 28, 2019

a música em 1990: «Fields Of Athenry»

acordo de 'cavalheiros' ou as notícias que ficam esquecidas, por estragarem narrativas

Afinal, não houve atraso nenhum de Joacine Katar Moreira e da sua equipa na apresentação da iniciativa sobre a Lei da nacionalidade; simplesmente, havia um acordo de cavalheiros não escrito e que, portanto, não faz parte do 'regimento' da Assembleia da República, quanto a prazos -- acordo que vem da legislatura anterior, e que não havia sido comunicado à deputada do Livre.
Claro que esta notícia só escavando é que se encontra, o que é preciso é continuar a ladrar e alimentar telenovelas. Ainda esta manhã, na TSF, a intriga se renovava, com a notícia da demissão de um fundador do partido, e requentava. Mas quanto àquela notícia -- relevante, para o esclarecimento da informação bombástica de ontem, que era a do Livre ter falhado os prazos numa iniciativa legislativa que era uma sua bandeira --, nem uma palavra. Curiosamente, ainda ontem a criatura que dirige a informação lá do posto, do alto da nulidade analítica que lhe desassiste, concluía, um mês depois da tomada de posse, que a deputada não tinha condições para continuar a exercer o mandato. E é isto um director de informação.
Perante este esta matilha, faço votos nitzscheanos para a fortaleza de Joacine, dentro do Livre e nos carris, sempre em bitola variável, claro está...

quarta-feira, novembro 27, 2019

a música em 1989: «Baticum»

um pouco menos de ruído, se faz favor

Como não há para aí cão, gato ou bicho careta que não fale do Livre, eu que tenho sempre falado, e assinei para a sua formação, direi o seguinte:
1. Votei primeiro no Livre, e depois em Joacine; e assim continuarei, enquanto achar o Livre interessante -- aliás a única coisa que suscita interesse naquele hemiciclo, para além do PCP, por razões meramente históricas (sem menosprezo).
2. Joacine foi para mim uma magnífica surpresa, mesmo com uma visão da História discordante da minha.
3. Joacine enriquece o Livre, portanto faz-lhe falta.
4. Joacine 'precisa' do Livre, pois por muito inteligente, por muito gaga, por muito negra e por muito gira (que o é -- ah, o meu sexismo, impenitente e militante) que seja, é o Livre -- enquanto for o Livre -- que lhe dá brilho. Joacine sem Livre é de menos; Joacine no Berloque, no PC, no PS, seria de menos, e sozinha ainda mais de menos.
5. Ao contrário do que tenho ouvido dizer, o que me interessa no Livre é a forma quase libertária como o partido se estrutura. Apresenta dificuldades? Claro que sim -- é muito mais fácil todos responderem às ordens do dono ou do chefe. O sucesso do Livre prende-se mesmo com esta visão que os comentadores à esquerda criticam; para ser uma réplica dos outros, não me apetece.
6. A piada fácil adeja; deve dar um gozo do caraças gozar com o Rui Tavares e aproveitar para fazer amochar a Joacine, tão saliente, não é verdade? Até o rebotalho dos fedorentos andam a ganhar a vida à conta.
Como votante, e entusiasta do projecto, sugiro mais afinação e menos ruído, senão, não.

no LEFFest #6


Abel Ferrara, Tommaso (Itália, 2019)
«Selecção oficial - em competição» (filme vencedor)



terça-feira, novembro 26, 2019

a música em 1977: «Blank Generation»

«Leitor de BD»


 
sobre Selva!!!, de Filipe Abranches e
Aventuras de Joana, João e o Macaco Simão -- O Vale das Cobras, de Hergé

a música em 1964: «The House Of The Rising Sun»

segunda-feira, novembro 25, 2019

no LEEFest #5


Wagner Moura, Marighella (Brasil, 2019)
«Sessões especiais»


a música em 1953: «Winter Wonderland»

domingo, novembro 24, 2019

no LEFFest #4 (uma obra-prima)


Chistian Petzold, Phoenix (Alemanha e Polónia, 2014)
(«Homenagem Christian Petzold»)


a música em 1941: «Gloomy Sunday»

no LEEFest #3


Paul Schrader, Auto Focus  EUA, 2002
Homenagem Willaem Dafoe


a música em 1939: «Fine And Mellow»

no LEFFest #2




Wes Anderson, The Life Aquatic with Steve Zissou / Um Peixe Fora de Água (EUA, 2004)
Homenagem Willem Dafoe


sábado, novembro 23, 2019

polícias: degradações, um gesto e uma pergunta

Degradação 1: o entrincheiramento dos deputados em face de uma manifestação de agentes de segurança e representantes da autoridade do estado democrático, demonstra a má consciência dos partidos do poder: PS, PSD e CDS -- este a mostrar querer competir com o Chega, o que lhe proporcionará um triste fim, e será bem feito, o outro faz muito melhor esse papel. O Telmo Correia que vá comentar o Benfica, que é o que ele faz bem (SLB, SLB, etc...)

Degradação 2: as condições de trabalho e os vencimentos de PSP e GNR mostram bem que se estão a marimbar para eles. É natural que eles se sintam desrespeitados. Curiosamente, o mesmo não se passou com os magistrados do Ministério Público… Ah, esta politicalha.

Degradação 3: a PSP e a GNR cantando o hino de costas para a Assembleia da República, mesmo que esta se tenha posto a jeito (ver 1)

Degradação 4: a infiltração nas polícias dos movimentos populistas e de extrema-direita. Os inocentes deixam-se manipular.

Gesto: vi um sindicalista da polícia puxar as orelhas ao espertalhão do Chega, e a declarar perante as câmara o repúdio por este aproveitamento.

Sabe-se, por acaso, quanto gasta o estado, em todos os níveis da administração, com sinecuras e inutilidades (autopromoções e propaganda em proveito próprio, viagens, motoristas, assessores, cartões de crédito)? Aposto que não…


no LEEFest #1


Robert Eggers, The Lighthouse (EUA, Canadá, 2019) - Selecção oficial - Fora de Competição


quinta-feira, novembro 21, 2019

quarta-feira, novembro 20, 2019

o génio de José Mário Branco: a transgressão na tradição, ou vice-versa

transformar a banalidade em brilho. Sempre foi assim (embora por vezes também fosse um chato, um chato genial, vamos lá). Detestara o fado por más razões. (Então o fado não é o nosso blues?...) Até que se encontrou com ele: 2 fados 2 no Ser Solidário, grandes fados. E depois de o encontrar, faz o Camané, faz isto, com a maravilhosa Katia Guerreiro. E isto é revelador de uma segurança, de um conhecimento profundo, de um amor à música, e neste caso ao fado, que é o que lhe permite a transgressão, ou seja, o avanço, ou seja, o progresso, ou seja, a revolução. Sempre coerente.

"hoje já poderiam estar os 'caterpillares' a funcionar no Montijo"

Raras vezes ouvi em público tal brutal desfaçatez da ganância, como na entrevista deste senhor à Antena 1 e ao JE. A dos caterpílares é uma; outra é a lógica de merceeiro, expendida sem pudor: se os turistas não vierem para aqui irão para outro lado. Rebentar com o país por causa do turismo... Tudo isto é nauseante. Continuo a dizer que uma boa maneira de todos os portugueses de bem se manifestarem contra este processo lesivo e muito duvidoso será o da resistência contra este processo feito despudoradamente nas nossas barbas. E nós, mansíssimos, fracos, alienados, deixamos.
No caso de a construção ser aprovada, com a desculpa dos cinquenta anos que levamos para decidir, sem que tenham sido ponderadas e explicadas todas as hipóteses, como é obrigação do governo,  tenho esperança de que a malta na casa dos vinte e trinta, que ainda não está conspurcada pelo cacau -- no fundo, é só disto que se trata -- esteja na linha da frente dessa resistência activamente pacífica, cercando, ocupando, inviabilizando qualquer trabalho.
(E ainda não foi hoje que falei das aldeias do lítio).

terça-feira, novembro 19, 2019

José Mário Branco, a revolução melodiosa

foto de Rita Carmo
José Mário Branco era a revolução e o músico excepcional; alguém que começando por não gostar do fado se tornou um nome importantíssimo, nomeadamente no seu trabalho com Camané, e não só. Desde o início, ele andou por aqui, e também
aqui,
aqui

aqui



«Papuça»

segunda-feira, novembro 18, 2019

«Leitor de BD»

Logo Jornal i
sobre Conversas com os Putos e com os Professores Deles (Álvaro)
e O José Foi à Escola (Matos Barbosa)

estampa CCCLXXXIV - Frédéric Bazille


A Toilette (1869)

quinta-feira, novembro 14, 2019

erotica


Petra Skoupilová

Eça de Queirós, nos 150 anos do Canal do Suez



do Amor como categoria política

Ele existe, e a Joacine sabe do que fala; parece que tem costela anarca, tal como o Livre dela se apregoa. Quem não sabe ou não quer saber é Costa, bastante quadrado: «Discordo. A actualização do salário mínimo nada tem a ver com o amor.» Ah ah ah...

50 discos: 16. OS SOBREVIVENTES (1971) - #7 «Farto de voar



terça-feira, novembro 12, 2019

criador & criatura

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Dupa e Cubitus

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«Leitor de BD»


sobre Undertaker - 1. O Devorador de Ouro, de Xavier Dorison e Ralph Meyer,
e O Amor Infinito que Te Tenho, de Paulo Monteiro

estampa CCCLXXXIII - Boccaccio Boccaccino


Rapariga Cigana (1516)

segunda-feira, novembro 11, 2019

do que eu gostei mesmo nas eleições espanholas

foi a ERC-Esquerda Republicana da Catalunha, cujo líder, Oriol Junqueras, está preso com uma condenação a treze anos de cadeia, ter obtido mais três deputados que o partido do patife do Rivera.

domingo, novembro 10, 2019

orquestrais & concertantes: Beethoven, SINFONIA #5 (1808) - I. Allegro con brio / Muti

comunismo e nazismo, uma equiparação idiota, ou o Gulag não é Auschwitz

O tema já tem semanas, mas este post de Jorge Carreira Maia, em que faz muito bem o distinguo entre nazismo e comunismo, levou-me a alinhavar o que segue, na esteira do que ali ficou escrito.

Uma cabazada de eurodeputados maioritariamente de países do antigo Pacto de Varsóvia, e que hoje tão válidas lições de democracia e direitos humanos nos dão, esmagadoramente pertencentes aos grupos conservadores, com meia dúzia de liberais e quatro socialistas, entre os quais uma luminária do PS, subscreveram uma moção, aprovada por esmagadora maioria, que o nazismo / fascismo e o comunismo eram equiparáveis. (Está aqui o pastelão, para quem tiver pachorra; eu não tive, fio-me na imprensa.)

Há ali uma compreensível motivação de ajuste de contas com o passado recente e ressentimento por parte dos países que foram ocupados pelos soviéticos, boa parte deles, de resto, aliados da Alemanha nazi, o que não justifica essa ocupação disfarçada, é claro, e muito menos o esmagamento da insurreição húngara de 1956 ou da Primavera de Praga, liderada pelo eslovaco Alexander Dubceck, um dos meus heróis, secretário-geral do PC checoslovaco, e que bem caro pagou a coragem e audácia à mão dos apparatchiks do Partido.

Então, por que razão comparar nazismo e comunismo é duma estupidez crassa? Não matou o comunismo ainda mais gente que o nazismo? Sim, tal não me oferece dúvidas, atendendo ao tempo que se mantiveram no poder, do sátrapa Stálin (nem falo do megalómano Mao, no psicopata do Pol Pot ou na monarquia comunista norte-coreana, pois são realidades um bocado chinesas para nós -- não os percebemos...). Não foram (e são) o comunismo soviético um monstruoso embuste, que caiu de podre como a URSS e satélites? Sim, o comunismo soviético foi uma vergonha e um embaraço para qualquer pessoa intelectualmente honesta.

No entanto, ah, no entanto, aqui vai o diabo do pormenor: as palavras têm peso e correspondem a ideias. Na esteira do que bem escreveu Jorge Carreira Maia, em especial no segundo parágrafo, o factor da irracionalidade do nazismo, faz com que o mal seja assumido sem ambiguidade, na desumanização dos não-(ditos)arianos; enquanto que, o lastro racionalista do marxismo-leninismo, filho do iluminismo, nunca poderá acomodar qualquer espécie de opressão étnica, nem tal pode ser admitido, sob pena de autodesclassificação, mesmo quando episodicamente o tenham feito, no tempo de Stálin, sob pretextos fantasiosos (a chamada "conspiração judaica" e outras paranóias do Zé dos Bigodes).

Que são ambos regimes totalitários, é indesmentível; que um aponta para o Céu e outro para o Inferno (para os sub-homens, não "arianos"), é-o também. Não há que admirar: o marxismo-leninismo, ao tornar os cidadãos funcionários e dependentes do Estado, criou de imediato as condições para que o sistema criasse entropias que estão na base da sua futura desagregação, que só não se deu mais cedo graças à criação dum estado policial e perversamente repressivo -- a negação e repressão da liberdade como instrumento de manutenção do poder. Dessa funcionalização surgiu o que é previsível e surge sempre nestas circunstâncias: os carreiristas, os oportunistas, os desavergonhados e os alienados inofensivos completamente inseridos no sistema, que viviam a sua vida e achavam que era assim e teria de ser assim para todo o sempre. A RDA, no seu desmoronamento de há trinta anos aí está para comprovar isso e o seu contrário: andava o Muro a cair e ainda havia polícias e burocratas a tentar parar o vento com as mãos. No entanto, prometendo sempre o Sol e as bem-aventuranças neste mundo.

(Claro que no comunismo houve e há muita gente de bem; mas a sua adesão a esse ideário é do domínio da, não do racional; mas, que diabo!, não há gente a  acreditar na existência de "Deus", na imortalidade da alma e coisas assim?...)

Uma subtileza, pois, que não interessa nada, aqui no rectângulo, à direita democrática com reserva mental, saudosa do salazarismo e que à boca pequena execra a abrilada, como carinhosamente chama ao 25 de Abril, nem perdoa a descolonização, além de tudo o que cheira a esquerda (ainda ontem vi um pacóvio a torcer-se todo por causa da libertação do Lula e com vergonha de defender o Bolsonaro, que só sabe contar até 9).

Subtileza que de facto o não é; que entra pelos olhos dentro de qualquer pessoa com informação suficiente e tenha por hábito pensar, a diferença abissal entre comunismo (mesmo que soviético, pois há outros) e nazismo; e que chateia ver o PS embarcar em tão más companhias, por desleixo ou estupidez, não interessa. 

Por muito que lhes custe, e, principalmente, por muito que tenha custado ás vítimas, o Gulag não é Auschwitz; há toda uma diferença de escala na maldade e na perversidade, cuja avaliação nunca poderá ser quantitativa. Qualquer pessoa de boa-fé e com dois dedos de testa percebe isso. Quem não percebeu foram as criaturas que votaram a equiparação da pêra rocha com a pirite alentejana. Um mistela intelectual que me lembra uns turistas chineses no restaurante em que costumo almoçar, que misturam azeitonas na mousse de chocolate.

sábado, novembro 09, 2019

a grilheta da escrita

«Vim : -- e a pena, asa sublime do Sonho, transformou-se em instrumento de suplício : e a mesa de trabalho em cadafalso inexorável.» Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge (em colaboração com Eduardo Frias),  «A Legenda do Pórtico» (1924)

orquestrais & concertantes: CONCERTO DE BRANDEMBURGO #4 (C. 1718-21) - I Allegro / Richter

Lula livre!



https://lulalivre.org.br/blog/2019/11/07/stf-decide-em-defesa-da-constituicao/

sexta-feira, novembro 08, 2019

«Off The Ground»

lixo

Foi presa a mulher que deitou o filho que acabara de parir, sozinha numa tenda, para dentro de um contentor de lixo. Deve haver por aí muitos alvitres, eu não tenho nenhum. Só me parece que quem se sente e toma por lixo aí deposita o sangue do seu sangue.

"a possibilidade vocálica de Deus"

«Talvez a realidade possa ser apreendida na forma estranha da arte, mas eu, fincando em espaços divinos, lembro-me destas palavras: Floresta -- Dália -- Medusa -- Silvalde -- Maresia -- Saudade -- Sonho e cheiro do mar na onda da praia na concha da espuma quando também me lembro do cheiro misterioso em castanhos efeitos a sair da terra molhada. E... vejo o céu na nuvem passeante adormecida na cor sem forma de adeus. O ritmo de palavra é como se pode ver uma expressão musical -- quanto mais afinado está o ritmo harmónico mais sensível aparece o estado de alma dado em pormenor pelo som silábico. Os meus estudos imaginativos têm-me levado a estas novas possibilidades onde a alma consegue definir-se estaticamente, o verbo é a criação e o ritmo é a necessidade de agitação de sonho para o homem -- As palavras são essência da vibração como folhas de árvore são necessidade de vento. Toda a religiosidade da natureza é dada pela interpretação ritmada do verbo -- o verbo divino nada mais é do que a possibilidade vocálica de Deus!» Ruben A., Páginas I (1949)

50 discos: 9. OS AFRO SAMBAS (1966) - #7 «Bocoxé»



quinta-feira, novembro 07, 2019

"hoje, o artigo do dia é poesia"

«Curiosamente, hoje, o artigo do dia é poesia. Nos bares da moda, nas portas de teatro, nos lançamentos, livrinhos circulam e se esgotam com rapidez. Alguns são mimeografados, outros, em offset, mostram um trabalho gráfico sabido e diferenciado do que se vê no design industrializado das editoras comerciais. Mesas-redondas e artigos discutem o acontecimento. O assunto começa -- ainda que com alguma resistência -- a ser ventilado nas universidades. Trata-se de um movimento literário ou de mais uma moda? E se for moda, foi a poesia que entrou na moda ou foram os poetas? O fato é que a poesia circula, o número de poetas aumenta dia-a-dia e as segundas edições já não são raras.» Heloisa Buarque de Hollanda, 26 Poetas Hoje (1975)

quarta-feira, novembro 06, 2019

«Pennies From Heaven»

tomem um chá de camomila...


A parvoíce da semana é a conversa fiada da gaguez da deputada Joacine Katar Moreira, enquanto parlamentar.
Sobre o assunto, tenho a dizer: a gaguez é uma deficiência como outra qualquer; e assim como na anterior legislatura o Parlamento teve de adaptar-se à cadeira de rodas do deputado Jorge Falcato, do BE, nomeadamente no que respeita às acessibilidades, aqui vai ter de adaptar-se à gaguez de Joacine. E o melhor, quanto a mim, é estabelecer já um critério, e não deixar ao bom senso ou à boa vontade de quem estiver a presidir à sessão. Os deputados têm um minuto para intervir?; ela terá dois, e certamente saberá acondicionar o discurso ao tempo que lhe está reservado. Aliás, estou convencido que à medida que a actividade parlamentar for deixando de ser uma novidade, a própria deputada ganhará maior à-vontade e maior fluência no discurso.
Quanto ao resto, é conversa comunicacional sem substância, vale zero.
Enquanto não se habituarem, levem um termo com cidreira.
Já agora, a primeira proposta do Livre, apresentada por Joacine, será o da trasladação dos restos mortais de Aristides de Sousa Mendes para o Panteão Nacional. Se há alguém que merece inequivocamente lá estar é ele (eu aristidiano ou aristidiófilo me confesso).
Com uma ressalva: não sei se ele está enterrado com a sua mulher, Angelina, por quem a provação também passou. Se assim for, como provavelmente será, não me parece justo separá-los -- diz-mo o meu incorrigível romantismo; e se fosse descendente, embora satisfeito com a reparação do país, não autorizaria essa separação.

terça-feira, novembro 05, 2019

«Entardecer»

Um poemeto acolhido aqui, com a benevolência de José Pascoal, a quem agradeço.

«Leitor de BD»


sobre O Coleccionador de Tijolos, de Pedro Burgos
e Fora de Boneville, de Jeff Smith

criador & criaturas

fonte

Bonvi e Sturmtruppen

fonte

segunda-feira, novembro 04, 2019

as guerras da água

foto
Quando, ainda no século passado, se dizia que as guerras deste seriam determinadas pela água, eu imaginava refregas no Médio Oriente e em África e estava longe, na minha ignorância, de suspeitar que o problema se poria com grande acuidade aqui. Claro que não é previsível nenhum conflito grave com Espanha no momento presente, mas esta é uma típica situação de potencial casus belli
Além da seca, assistimos à predação do património que é de todos, com a óbvia cumplicidade dos sucessivos governos, uma vez que estas barragens são exploradas pelas companhias eléctricas, cuja gestão dos caudais é feita com contabilidade merceeira a benefício dos accionistas (shareholders, em estrangeiro). 
Ora aqui está mais uma inadmissibilidade a que urge pôr cobro, independentemente das ameaças e das pressões comunicacionais dos mercenários e putéfias da caneta agenciados, que visam intimidar todos quantos defendem os bens públicos, e de caminho desvirtuar as suas ideias. (E isto também serve para os aeroportos, e para o lítio, de que ainda falarei).

"Dou palavras um pouco como as árvores dão frutos"

«Ao escrever, e independentemente do valor do que escrevo, tenho às vezes a vaga consciência de que contribuo, embora modestamente, para o aperfeiçoamento desta terra onde um dia nasci para nela morrer um dia para sempre. Dou palavras um pouco como as árvores dão frutos, embora de uma forma pouco natural e até antinatural,porquanto, sendo como o é a poesia uma forma de cultura, representa uma alteração, um desvio e até uma violência exercidos sobre a natureza. Mas, ao escrever, dou à terra, que para mim é tudo, um pouco do que é da terra. Nesse sentido, escrever é para mim morrer um pouco, antecipar um regresso definitivo à terra.» Ruy BeloTransporte no Tempo (1973), «Breve programa para uma iniciação ao canto».

domingo, novembro 03, 2019

erotica


solitude

«A estação de Ovar, no caminho de ferro do Norte, estava muito silenciosa pelas seis horas, antes da chegada do comboio do Porto.» Eça de QueirósA Capital! (póstumo, 1925)