quinta-feira, março 31, 2016

microleituras

Uma visão realista-pessimista dos efeitos do declínio do poder americano no mundo, não por défice de poderio militar, nem sequer pelos problemas estratégicos que um elevado endividamento externo (a China é o principal credor) pode acarretar; mas, fundamentalmente, pela queda da autoridade moral dos EUA, que tem início com a II Guerra do Iraque -- um monumental e criminoso embuste (não o diz o autor, mas digo eu), cujos efeitos estamos e estaremos, por muito tempo a, pelo menos, presenciar. A América terá, portanto, deixado, na visão o autor, de ser um factor de contenção, pelos sinais de esticar de corda a que vamos assistindo na cena geopolítica internacional. O que poderá originar, inesperadamente, um novo 'Sarajevo', ou seja: um incidente político aparentemente sem grande importância, no entanto rastilho para uma conflagração mundial.
A esperança que o autor revela é o papel da Europa como interlocutora internacional sólida por parte do Ocidente -- mesmo se, neste texto de 2014, Weiler aponta já os impasses que a UE atravessa, desde logo a clivagem Norte-Sul e a questão das dívidas soberanas. Se, há ano e meio, o tom do autor é cautelosamente esperançoso, eu acabo de ler este ensaio com um maior pessimismo. Surgiu, entretanto a crise dos refugiados de guerra, de que decorre a suspensão desordenada de Schengen; e, por outro lado, a a própria falta de autoridade moral da Comissão Europeia pela forma como lidou com a Grécia e como está a tentar lidar connosco. Acresce a possível saída da Inglaterra da UE (quanto à Escócia, veremos), machadada, talvez decisiva no infelizmente malogrado projecto europeu. 

incipit - «Penso que é difícil contestar o facto de que os Estados Unidos têm sido consistentemente, ao longo deste período histórico, o protagonista mais relevante a nível internacional.»

Joseph H. H. Weiler, Outra Vez Sonâmbulos -- A Europa e o Fim da Pax Americana -- 1914-2014 (2015)

(também aqui)

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