segunda-feira, março 21, 2016

Fui ouvir as escutas a Sócrates

Fui ouvir as escutas a Sócrates, depois de ver, no Governo Sombra, Ricardo Araújo Pereira a dissertar sobre elas. E não gostei do que ouvi. Refiro-me apenas à conversa do ex-PM com o generoso amigo. E se as mesmas não chegam para provar a existência de corrupção, deixam-nos desconfortavelmente suspeitosos sobre aquele tipo de relacionamento. 
Eu, que tanto tenho escrito aqui sobre o 'Caso Sócrates', não podia deixar de  referi-lo. Mas não retiro uma linha a tudo o que disse, em especial ao comportamento de alguns agentes da Justiça, e ao conluio com o tabloidismo.   Quem não se dá ao respeito...

11 comentários:

Jaime Santos disse...

Há muito que decidi que não faria julgamentos em relação ao caso Sócrates que pertencem aos tribunais. Não disponho da informação toda (e sim de seletas violações do Segredo de Justiça) e mesmo que dispusesse, não sendo jurista, não saberia ajuizar da eventual culpabilidade ou inocência do antigo PM. Sei que, mesmo que Sócrates acabe condenado depois de devidamente provadas as suspeitas que sobre ele recaem, ter-se-à sempre cometido uma Injustiça, porque se violou a Lei impunemente para enxovalhar um homem na Praça Pública, cortesia de quem passou a informação à Imprensa e dessa mesma Imprensa. Pergunto-me aliás quantas pessoas foram até hoje condenadas pela violação do Segredo de Justiça em Portugal e apetece-me rir na cara da Sra Procuradora-Geral de cada vez que ela diz um daqueles lugares comuns em que é perita a este respeito. Suspeito ainda que em outras jurisdições a violação sucessiva do princípio da Legalidade Processual já seria mais do que suficiente para anular todo o Processo de Sócrates, independentemente da sua Culpa ou Inocência. Recordo, sem pretender comparar os dois suspeitos, do que aconteceu no processo dos Pentagon Papers... E isso seria mais do que bem feito para aquela central produtora de lixo jornalístico que dá pelo nome de CM... Isto dito. posso, com aquilo que Sócrates já admitiu, fazer um julgamento moral do antigo PM e mesmo que ele esteja inocente de qualquer crime, Sócrates não se sai nada bem na fotografia. Como é que alguém que devia saber que é sujeito a vigilância apertada por parte da Justiça Portuguesa e Internacional (como qualquer ex-político) se permite a ir pedir dinheiro emprestado a um amigo que trabalhou para empresas que beneficiaram, ainda que legitimamente, da intervenção dos seus Governos? Como é que alguém que criticou e bem a ganância dos Mercados andou a ser sustentado por uma amigo que deixou um rasto de falências e de dívidas atrás de si? Como é que essa pessoa não se lembra que tem uma dívida para com todos os seus amigos e correligionários que com ele trabalharam e o defenderam? É Sócrates alguém assim tão néscio? Suspeito que sim...

Ricardo António Alves disse...

Concordo. Não fica bem Sócrates; não fica bem a Justiça. Mais valera que esta fizesse o seu trabalho seriamente, aguardando o carreamento de indícios que não deixassem pouca margem para dúvidas quanto às suspeições. Quiseram prender para investigar, e parece que andam a apanhar bonés, do Grupo Lena à Quinta do Lago e, em simultâneo, servem-se do tabloidismo para ter a opinião pública a seu favor e, de caminho, provavelmente, aparecerem como 'estrelas da companhia' no circo merdiático em que se transformaram as nossas sociedades.
Se há coisa que a Justiça deve guardar numa sociedade, é o respeito, a contenção, a austeridade, o respeito pela legalidade -- o mesmo é dizer o respeito por si própria.

josé neves disse...

O caro já está entrando, mesmo dizendo que sem querer e com muitas dúvidas, no interior do calculismo do rap, cfa, pacheco e todos do eixo e do governo sombra. E pior que isso, começa a credita nas montagens artificiosas do cm que já vêm montadas dos compadres alex e rosarinho.
Embarcado,apanhado e levado pelo grande argumento falacioso dos esquerdistas de palavreado e baba ranhosa, que dão cambalhotas e torcem-se de calculismo e oportunismo sempre que são obrigados a ter de definir-se e caem sempre para o lado dos patrões que lhes pagam, e bem, a vença e as palhaçadas privadas. Andaram cheios de dúvidas e por fim acertara nesse tal argumento de que até pode ter razão mas perde-a completamente quando se "pôs a jeito" ao pedir dinheiro ao amigo.
Pois, quanto a mim, o que os calculistas oportunistas nas tv e vós aqui também é retirar um sinal de sentido contrário do que retirais dessa situação. O seu carácter e honestidade, à prova de bala, como sempre foi e reforçou depois de preso, demonstra que Sócrates é de outra massa que não a dos calculistas, oportunistas subservientes face ao terror que sentem de poder perder as avenças do bem-estar e daí o argumento sofista e de efeito jurídico nulo do "Pôr-se ajeito".
Tal argumento já foi usado por alguns juizes e juizas da nossa praça no julgamento de mulheres que foram brutalmente violadas; não teriam elas se "posto a jeito" perante o macho? E, tem piada, nestes casos os rap todos deste país fartam-se de fazer rábulas prá-frentx contra os juizes mas, no caso Sócrates, pemsam e agem de modo contário, porquê?
Não, quem se "põe a jeito" são precisamente os palhaços privados fedorentos, os tavares, pachecos e clarinhas perante quem lhe garante a boa vidinha. Quando esta gente mui calculista arranja tal argumento sofista sem mais está revelando seu próprio carácter oportunista e não diz absolutamente nada sobre o de Sócrates. Este, como todo aquele de total integridade jamais, antes de agir, coloca à priori na sua conduta o calculismo do "parecer" de amanhã desde que esteja agindo escrupuloamente dentro da lei.
Como Sócrates, o grego, também o nosso não fugiu e prferiu enfrentar de frente o seu caso para "sofrer a injustiça que antes fugir-lhe ou infringí-la". Dum carácter que cortou nas mordomias de pensões, mandatos e outras de magistrados e políticos, inculindo a sua própria pensão vitalícia sem pensar, calculisticamente, se tal lhe iria fazer falta, ninguém de bom senso pode pensar e raciocinar com se estivesse tratando com um pessoa vulgar.
Outro argumento falacioso e oportunista papagueado para enganar o pagode é de que logo foi pedir "uma fortuna ao amigo" Este faz lembrar o argumento do encornado, "e logo com o meu melhor amigo" indigna-se o corno. Claro que não pode, necessariamente, de ser a um amigo, maior ou menor, pois alguém vai pedir dinheiro a quem não conhece?
E quanto à "fortuna" é outra falácia de exagero para enganar o zé-povinho ingénuo e ignorante. 500 mil de 22 milhões são 2,3% e eu posso dizer que emprestei a um amigo meu camarada na guerra colonial seis mil e quinhentos euros o que representa quase 20% da minha poupança de uma vida. Qual o amigo de infância de alguém que até foi PM legitimo do país não atende, sem calculismos, o pedido solicitado!
O mal, meu caro, não está no comportamento de Sócrates mas sim e, integralmente, no pensamento calculista rasteiro de quem se esconde atrás de seus próprios preconceitos de mesquinha moralidade para tentar desviar a atenção de que, eles sim, estão sempre disponíveis e a jeito para fazer fretes.





Ricardo António Alves disse...

Caro José Neves,
O calculismo é uma coisa lixada e para o qual, mesmo que o queira, tenho pouca aptidão. Aliás, basta andar por aqui para se perceber que não sou do tipo de me dar ao trabalho de querer agradar. Feitios. A circunstância de ser praticamente um anónimo e não dever favores, também me facilita muito, é verdade.
Nas muitas ocasiões em que falei deste caso, terei escrito algures, que preferia enganar-me a respeito de Sócrates, no caso de ser demonstrada a sua culpabilidade, a ser dos primeiros a atirar pedras. Não por ter ter telhados de vidro,mas porque procuro fazer um juízo tão acertado quanto possível, à margem das manipulações e da carneirada. Por isso, como referi no post, não renego uma linha do que aqui escrevi sobre o assunto. Entretanto, surgem as escutas e, como muitas vezes foi propalado, confirma-se que a postura do amigo não é a normal, como é óbvio.
Diz o José Neves que se trata de uma montagem, uma fabricação. Isso já transcende as minhas capacidades de análise. Bem gostaria eu que assim fosse, não por ser 'socrático', mas pela sanidade mínima desta rebaldaria.
Porque razão venho eu agora com isto? Talvez até seja por calculismo, não o do tipo a que se refere, mas para vincar a minha independência de juízo, que não tem importância para ninguém, a não ser para mim próprio. Ouvi e não gostei do tom. Prova isso que Sócrates é corrupto e que o amigo é um testa de ferro? Não chega para prová-lo; mas, depois de ouvir a gravação daquele telefonema, é muito difícil pensar o contrário; agora sim, é que seria uma fèzada em Sócrates, pessoa que não conheço, pelo que não há nenhuma razão da minha parte para adoptar postura idêntica à sua. Claro, se se demonstrar que se trata duma "montagem", como diz, o caso muda de figura.

Jorge Carvalheira disse...

Chamo apenas a atenção dos comentadores supra.
Os comentários reconhecem as irregularidades (quer dos magistrados, quer de comunicação social) que têm rodeado o caso Sócrates.
E são unânimes também em considerar que houve irregularidades (quiçá ingenuidades) da parte de Sócrates. Que recebeu ajudas muito grandes de um amigo que lhas podia fornecer.
Aí entram os comentários no campo do processo de intenções. Não é normal nem habitual (logo portanto pouco provavel!) que isso tenha sido como Sócrates sustenta.
Isto não é uma atitude de cidadão atento e lúcido. Segue a máxima duvidosa de que não há fumo sem fogo. E pode haver. O fumo das granadas lacrimogéneas, que não têm fogo por baixo.
É por isso que a única atitude do cidadão é uma: a lei e o estado de direito e os direitos dum cidadão estão a ser postos em causa, por agentes reconhecidos e claros. E isso é inadmissível.
Se Sócrates vier a ser acusado, e condenado por sentença transitada em julgado, então, e só então, é culpado e criminoso. Até lá, tem direito à presunção legal de inocência.
Deixar, alheadamente, que esta "Justiça" actue impunemente, é deixar o ouro à guarda do bandido.
Um cidadão não pode fazer isso à cidade.

Ricardo António Alves disse...

De acordo com o que escreve Também eu conheço casos de grande altruísmo. O problema foi mesmo ter ouvido o tom entre os dois amigos. E se sempre expus aqui as minhas perplexidades e indignações ao caso, não poderia, nem deveria, deixar de fazê-lo agora.

josé neves disse...

"Ouvi e não gostei do TOM"
"O problema foi mesmo ter ouvido o TOM entre os amigos"

Por acaso não dá conta que o argumento do "tom" tem o mesmo valor, sentido e significado caricatos do "pôr-se a jeito".
Porque é que o tom de uma conversa particular entre amigos de infância tinha de ter o tom sério da formalidade institucional ou, porque metia Sócrates, tinha de ter o tom politicamente correto que o caro acha devido ao caso. O tom e o pôr-se a jeito são puras subjectividades que nada provam e nada podem contar perante uma justiça séria baseada na lei e não em falsos moralismos.
É sintomático que RAA, para atirar pedras e fazer coro na condenação de Sócrates, evoque questões de moral subjectivas do foro do gosto individual quando para o defender tem à sua disposição graves atropelos à lei cometidos pelos magistrados e estes não os evoca nem os usa.
Eu não ouvi e muito menos ia a correr ouvir as "escutas" traduzidas pelo esgoto "cm" mas, fico sabendo que RAA acredita plenamente no que diz e como diz tal caneiro de mentiras. Lembra-se do antigo Procurador Geral e Presidente do Supremo dizerem que as "cassetes" das escutas do caso do "Atentado contra o Estado de Direito" deviam ser postas integralmente a circular pela imprensa para se perceber bem a fantochada montada para parecer um atentado contra o Estado de Direito. Sabe o RAA ou o "cm" informa a data dessas transcrições, donde foram retiradas esses excertos ou conhece verdadeiramente qual o assunto que dava ou não razão ao tom usado? Ou bastou ouvir o que ouviu do "cm" de "referência" e ficou de consciência tranquila à maneira dos fedorentos, clarinhas e outros que vivem subordinados da Imprensa na qual nunca tocam porque lhes paga a boa vidinha.
Uma coisa é certa, se acredita no "cm" não pode acreditar no Sócrates ou se gosta do "cm" não pode gostar de Sócrates.

Ricardo António Alves disse...

José Neves, vamos lá, ponto por ponto:

1. Quem falou em 'pôr-se a jeito' foi você, não fui eu. Aliás, nunca falei nisso, nunca achei estranho um pedir dinheiro emprestado ao outro, nem sequer alguma vez me referi ao Grupo Lena, que aparece para atirar areia para os olhos dos incautos.

2. Quanto ao tom: por muito amigo de infância que eu possa ser, aquela conversa não cabe na cabeça de ninguém, isto é: ninguém pede autorização para fazer determinado tipo de obra num imóvel que lhe pertence; nem o beneficiário desse suposto empréstimo manda o beneficiante dar corda aos sapatos, daquele modo. Eu, pelo menos, não o faria -- mas aí deve ser preconceito meu.
Ah, mas você não ouviu, nem quer ouvir. Parabéns para si! Eu também estive dias sem ouvir; mas, a partir da altura em que o RAP -- que, por muito palhaço que possa ser, não é nem um jornalista analfabeto nem um boy analfabeto dos aparelhos partidários -- (a partir da altura em que o RAP) se refere às escutas do modo como o fez, quem anda, como eu, há não sei quanto tempo, a debitar sobre o caso, só se fosse tontinho ou devoto é que não iria confirmar ou infirmar o que foi dito. E sabe porquê? Porque, apesar de não ter nenhuma importância o que aqui escrevo, nunca haverá alguém a dizer que eu calei algo por conveniência. É um prurido burguês, é certo, mas nunca dei azo a que me chamassem aldrabão ou troca-tintas.

3. Não invoco nem uso os graves atropelos do caso, diz você. Não tenho feito outra coisa, aliás com verve e contundência. Mesmo neste post não deixo de o fazer. Mas, como dizia Montaigne, o cu não tem nada que ver com as calças.

4. Quanto a acreditar, acredito em mim, e mesmo assim tem dias. Não se trata de acreditar, mas de ouvir com estes dois. Diz você -- que não ouviu -- tratar-se duma montagem. Muito bem, ambos, ou os respectivos advogados, têm oportunidade para esclarecerem a opinião pública. Poderá dar-se o caso de ostensivamente ignorarem as escutas, difundidas ilegalmente; mas, então, terão oportunidade de fazê-lo em tribunal, ou noutro fórum, se não se chegar a essa fase.

5. Dê-se ao trabalho, se quiser, de pesquisar o que aqui escrevi sobre ele, e verá que nem sou devoto de Sócrates nem padeço de socratofobia, era o que me faltava! Digamos que há leituras que prefiro ao CM, como, por exemplo, a «Gina»; ou que há políticos que considero piores do que Sócrates e outros que me parecem melhores. Até votei nele uma vez, veja lá! E sabe quando? Depois de surgir o chamado 'Caso Freeport'.
Como vê, não acompanho a maralha, até tenho gosto em ser do contra. Vaidosices.

Jaime Santos disse...

Eu lamento discordar de Jorge Carvalheira, mas insisto, mesmo que José Sócrates não tenha cometido crime nenhum, nunca deveria ter pedido um empréstimo àquele amigo. Um antigo PM é como a Mulher de César, não lhe basta ser honesto, tem também que parecê-lo. Recorde o que aconteceu com o antigo Presidente alemão Christian Wulff, e que foi suficiente para lhe destruir a carreira. Eu considero que Sócrates tem direito à presunção de inocência e espero mesmo que ele esteja inocente, mas jamais voltaria a votar nele. Sócrates mostrou uma coisa de que eu já desconfiava. Falta de prudência e logo falta de inteligência. Aliás, a apreciação sibilina de António Costa quando foi visitar Sócrates à cadeia, de que Sócrates lutaria sempre pela sua verdade foi muito reveladora. Outros dirão que faltou coragem a Costa, eu teria dito muito pior de Sócrates se ele tivesse feito o que fez ao PS e eu estivesse no lugar de Costa. Custa-me aliás ver pessoas inteligentes que defendem o comportamento de Sócrates. Se há coisa que um político não pode ser é néscio.

sincera-mente disse...

Também faço parte dos que lamentam e repudiam veementemente os julgamentos na praça pública e os graves atropelos e irregularidades que têm envolvido o caso Sócrates, máxime as recorrentes violações do segredo de justiça.
Uma coisa porém, me causa uma grande estranheza: que alguém, no seu perfeito juízo, seja comentador ou cidadão comum, literato ou analfabeto, mesmo correlegionário ou amigo, ache natural que um fulano apareça de repente podre de rico e, acometido de uma desenfreada liberalidade, desate a emprestar/dar dinheiro a outrem, mesmo que seja ao melhor amigo, sem limites nem qualquer registo.
Abraço, Ricardo!

Ricardo António Alves disse...

Caríssimo, enalteço o seu comentário, particularmente qualificado.
Quanto à particularidade a que se refere, e apesar de todas as perplexidades, eu pessoalmente não sei se apareceu de repente podre de rico ou se já o era. Cabe às autoridades investigarem-no com proficiência, e após todas as diligências actuarem por forma a que não fiquem dúvidas nos cidadãos, creio eu.
Forte abraço!