segunda-feira, março 25, 2013

Nós e a Europa

     Seria importante, agora mais do que nunca, que tomássemos para nós, e sem esperarmos pelos outros, o desafio de pôr a Europa nos eixos. Sem esperarmos pelos outros, porque os outros nada farão por nós -- como nós nada faremos por eles. É assim, o egoísmo dos estados...
     Há um presidente da Comissão Europeia português submisso aos ditames da Alemanha, coadjuvada por holandas outras finlândias. Há um presidente da República apagado que desde o início da crise que nos assola deveria ter chamado a si uma acção diplomática activa e proactiva nas diversas chancelarias europeias (de preferência com colaboração do Governo; dispensando-a, se houvesse obstáculos), em vez de limitar-se a visitas de charme à Finlândia, e que ainda está a tempo de o fazer, se quiser justificar a própria existência e terminar o seu mandato fazendo esquecer que é o pior presidente que conheceu a III República, e cuja acção, com raras se excepções, se caracterizou ora pela baixa política ora pela mais embaraçosa irrelevância. Há um Executivo servil que, em estado de calamidade económica e social, deveria evitar a postura de governo de principado decorativo ou de república desestruturada do antigo bloco soviético e assumir-se como um dos estados mais antigos da Europa, contribuinte líquido cultural para este continente, e orgulhoso desses pergaminhos -- como aliás, o negregado Sócrates fez questão de dizer ao lado da chancelerina Merkel.
      Nunca como agora foi tão importante a CPLP e a nossa situação nela, porque dela depende a afirmação do nosso peso na Europa -- influência que teríamos se a soubéssemos potenciar.
    Todos quantos me conhecem sabem que nada tenho de nacionalista, que sou europeísta, que sou federalista. Mas, como cidadão português, em primeiro lugar, não posso tolerar estas atitudes germânicas e afins e a mansidão portuguesa, não apenas em nome de todos os nossos séculos de história e cultura, mas em nome da democracia e da própria ideia de Europa, pervertida pelo abuso alemão e pela fraqueza dos governos da Europa do Sul.

4 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Pois, e as Duas Circunstâncias são a de a Hollande relevante ser a da graça do ocupante do Eliseu que censurou o antecessor por se pôr de cócoras e fez pior ainda, como a de a CPLP não passar da chacota geral entre os diplomatas estrangeiros que gargalham a bom gargalhar do anão que sonha com a sua Commonwealth privativa...

Portugal acabou, Meu Amigo
Abraço

Ricardo António Alves disse...

Não acabou nada, ó IC. Nem como Estado e muito menos como Cultura. Antes de nós, acabarão espanhas, bélgicas e mais bósnias-herzegovinas.
Que diabo, temos o Camões e o Pessoa, o Vieira e o Eça, o Nuno Gonçalves e o Carlos de Seixas, Henrique o Navegador e Bartolomeu Dias); andamos a poetar desde o tempo dos trovadores (ou até antes, se nos fiarmos no génio do grande Goscinny...)!

Hollande, não espero nada dele, mas deixemo-lo acabar; quanto ao outro, teve duas belas mulheres, de resto não estou a ver mais nada...

A CPLP se suscita gargalhadas é porque os seus líderes políticos são de gargalhar (o que é verdade, no que nos diz respeito). Mas as tais gargalhadas foi sempre um problema que tivemos, não é de agora. E, além disso, imagina sermos a chacota dum diplomata holandês ou finlandês: não te dá vontade de rir, isso?...

Mas, sem complexos coloniais de parte a parte, antes valorizando uma história comum, basta o Brasil tomá-la a peito, com Angola e Moçambique a progredirem na sua juventude enquanto estados independentes, com o respeitável Cabo Verde, que só fará rir os patetas (São Tomé é o que é, cacau e café; Timor ainda uma incógnita, mas com lideranças notáveis, como é o caso do actual PR; a Guiné, triste realidade, não conta).

Não sei o que nós, portugueses, saberemos fazer disto. Mas algo devia fazer-se. E fazendo-se bem feito, o nosso horizonte deixaria de confinar-se às chantagens de alemães & outros que tais.

Ânimo, rapaz, ainda não é o fim da pátria!

Ab.

Paulo Cunha Porto disse...

Pois, se os Descobridores ressuscitarem, concordo que ainda teremos uma chance.
Quanto aos eminentes Vultos da Cultura que citas, seguem o destino macabro traçado por Vigny quanto aos membros da Academia Francesa: «os Imortais são os que morrem duas vezes, primeiro, fisicamente, depois, quando os esquecem». Quem os lê, hoje em dia?
Achas que com Salazar alguém se ria de nós? Desesperar, ainda vá, um embaixador Britânico chegou a receber tratamento priquiátrico e outro, Americano, confessou a um subordinado não querer encontrar-se com o Presidente do Conselho «por não querer ir uma hora ali para dentro apanhar pancada, o homem é esperto demais para mim...
Dos PALOPS é o que se sabe, estão-se nas tintas para nós, salvo no caso singular da existência de carcanhol, quanto a negócios lucrativos. E o Brasil está muito mais apostado em liderar a América do Sul do que em pontes para cá do Atlântico.
Consumatum est!

Abração

Ricardo António Alves disse...

Bom, meu caro, os descobridores, como sabes, eram homens do mar (e também da terra), cuja experiência secular e contacto(s) com o(s) outro(s) serviram desígnios políticos, estratégicos & etc. das elites, criando-se as sinergias necessárias a (ou que levaram a), num dado momento histórico.
Agora os descobrimentos têm de ser outros, e isso passa sempre por termos portugueses cada vez melhor qualificados, e não as pesadas heranças de boçalidade, de alarvidade, que é o que caracteriza a maioria dos nossos compatriotas, porque a sua condição foi a de optar por serem capachos de meia dúzia, ou então (dizem que os melhores deles), saírem, porque aqui não se respirava. Tem sido essa a triste condição dos portugueses.

Quanto aos vultos, a questão não é tanto a de serem lidos (e alguns aindao são), mas do sedimento que originaram, do lastro que deixaram, e que não se apaga, porque se entranha, mesmo quando se estranha...

E, deixa lá o Salazar, caralho!, mais o país miserável que deixou em 40 anos de gov. É evidente que o homem não foi um Passos Coelho, mas não é preciso andar a pôr velas ao santinho.

Os PALOPS é uma questão bem mais difícil e interessante. Tu podes estar-te nas tintas para eles, mas eles (ou boa parte deles, não estão, e têwem-no demonstrado). Quanto aos carcanhóis, acho que estás a inverter a coisa; a rapinagem, como de costume, parte mais daqui. O caso brasileiro, mais complexo ainda, como bem sabes, e não há tempo nem espaço.

MAS eu teimo em não desesperar. O que não deixa de ser engraçado, ó IC, eu, que não sou nacionalista, dizer-te isto; e tu estares, junqueiranamente, em modo de finis patriae... Põe-te a pau!

Abraço