[Papá]
Nesta ocasião em que o meu futuro se fixou, não posso deixar de me recordar do muito que devo ao Papá pelos sacrifícios feitos por mim.
[...] Meus irmãos foram privados, não sei por que vistas providenciais, de colherem neste mundo os frutos da esmerada educação que lhes dera. Esse mesmo poder, que os sacrificou tão novos, parece ter-me reservado como que para realizar em mim a recompensa que lhe merecia a resignação do Papá.
Alegra-me esta ideia e anima-me a acreditar que não me faltará a vida e a saúde para poder cumprir essa missão talvez providencial.
Creia-me que tenho sentimentos para avaliar todos os seus sacrifícios e para compreender o alcance da delicadeza com que procurava não mos fazer sentir.
Neste dia, um dos mais solenes de toda a minha vida, permita-me que cumpra com o meu primeiro dever beijando-lhe respeitosamente a mão.
[a seu pai, informando da nomeação para a Escola Médica do Porto,
Felgueiras, 24 de Julho de 1865]
Júlio Dinis, Cartas e Esboços Literários, Porto, Livraria Civilização, 1979.
editor: Egas Moniz
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