O céu de súbito pôs-se negro e o vento à solta, parecia querer derrubar montes, castelos e vidas. -- Eduardo, meu filho! gritou a mãe. E o pequeno que deixara de brincar, cego pela poeira e assustadíssimo pelo brusco desaparecimento da luz do sol, deitou a correr para casa. Batia-lhe de frente a ventania dificultando-lhe a corrida. Um remoinho de folhas secas ergueu-se, descompassado. Eduardo, chegou. -- Mas, vens a tremer, meu filho? -- Sim, minha mãe, tenho frio. E com efeito nessa manhã suavíssima de outono o vento fez-se cortante como nos dias baços, chuvosos, e doentios de Janeiro. Eduardo, a pouco e pouco, ia ficando tranquilo. Entretanto, o vento, numa lamúria desgrenhava as árvores, partindo-as, e a chuva, torrencial, dava-nos a impressão de alagar o Universo. Os relâmpagos iluminavam a terra e o céu. A casa estremecia e algumas telhas abalavam como flechas pelos ares. -- Não tenhas medo, meu filho. Deus protege o nosso ninho. Eduardo, então, desatou a chorar, e por mais que a mãe lhe perguntasse a causa daquele choro, não respondia, e sempre a chorar, lembrava-se, com certeza, do ninho de passarinhos que destruíra nessa manhã.
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