E a bagagem, trazida por três carroças atulhadas, foi dispersa pelos aposentos de ambos os pisos, obedecendo à numeração que neles se fixara, baseada num código que me pareceu insolitamente arbitrário. Eram grandes caixotes de pinho, arvorando o nome e o endereço do destinatário, desenhados a zarcão, além de malões e de malas e de maletas e de caixas de chapéu, a ostentar numa placazinha de metal as simples iniciais EQ, gravadas em caracteres de esmero particular. Andaram por aí seis ou sete almocreves, largando bastante lama pelos soalhos, manobrando as cordas e retesando os músculos dos braços, exasperadamente sardentos ou desmaiadamente pálidos, e ficou possuída a casa do sangue e da alma do seu novo ocupante.
Início de as Batalhas do Caia, de Mário Cláudio, Lisboa, Publicações dom Quixote, 1995.
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