terça-feira, setembro 27, 2005

Antologia Improvável #56 - Alexandre O'Neill

GATO

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pelo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Abandono Vigiado / Poesias Completas

9 comentários:

lebredoarrozal disse...

fabuloso, o O'Neill é genial, genial mesmo... até me consegue por deliciada com um poema sobre gatos:P

Paulo Cunha Porto disse...

Vivo na constante e perturbadora interrogação final.
Quanto ao comentário anterior, desgosta-me um pouquinho o «até».
Seja-me permitido dizer que gostaria de ver "Lebre por gato".
Viva o O´Neill.

lebredoarrozal disse...

desculpe, mas nao tenho culpa de nao gostar de gatos.

Ricardo António Alves disse...

Cáspite! Também eu pensava que não gostava de gatos até ter o meu, ou melhor, a minha: Gotha de sua graça, uma Gata de Saxe-Coburgo-Gotha. Mas não sei se será das companhias plebeias do meu rafeiro arraçado de beagle/epagneul Toby (Tobias-José), pois desconfio que a minha gata é arraçada de cadela!...

lebredoarrozal disse...

eu até gosto, tenho é muito medo de gatos, das arranhadelas e das mordidelas. Pronto, se tivessem dentes e unhas de borracha eu até gostaria de ter um

Ricardo António Alves disse...

É espantoso, Lebre, como podemos mudar a nossa opinião. Eu antes de ter a minha Gotha nem me passava pela cabeça pegar num; agora olho-a em-be-ve-ci-do. É tão bom como ter um cão, mas é outra coisa. Nem melhor nem pior, diferente...

lebredoarrozal disse...

pois, uma amiga minha tb diz o mesmo sobre o gato dela:)
eu fico-me com o medo.

maria joão disse...

é muito bonito. O poema do gato do antónio gedeão também

Ricardo António Alves disse...

O Gedeão é um dos poetas mais estimáveis do século vinte.