quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Antologia Improvável #463 - José Craveirinha (5)

PRIMAVERA DE BALAS

Agarro
Na minha última humilhação
E sem ir embora da minha terra
Emigro para o Norte de moçambique
Com uma primavera de balas ao ombro.

E lá
No Norte almoço raízes
Bebo restos de chuva onde bebem os bichos
No descanso em vez da minha primavera de balas
Pego no cabo da minha primavera de milhos
e faço machamba ou se for preciso
Rastejar sobre os cotovelos
E os joelhos 
Rastejo.

Depois

Escondido em posição no meio do mato
Com a minha primavera de balas apontada
Faço desabrochar no dólman do sr. Capitão
As mais vermelhas flores florindo
O duro preço da nossa bela
Liberdade reconquistada
Aos tiros!

in No Reino de Caliban III
(edição de Manuel Ferreira)

2 comentários:

Mónica disse...

se me permite, para variar outro poeta moçambicano http://www.astormentas.com/reinaldo.htm para ler "o Futuro" :P

Ricardo António Alves disse...

Vou ver. Reinaldo deve ser o Ferreira, nascido em Lisboa, e filho do Repórter X.