IMITAÇÃO DA ÁGUA
De flanco sôbre o lençol,
paisagem tão marinha,
a uma onda deitada
na praia te parecias.
Uma onda que parava
ou melhor: que se continha,
que contivesse um momento
seu rumor de fôlhas líquidas.
Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sôbre a própria pupila.
Uma onda que parara
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista
e se fizesse montanha,
por horizontal e fixa,
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.
Uma onda que guardasse
naquela praia finita
a natureza sem fim
do mar de que participa
e em sua imobilidade
que difícil se equilibra,
o dom de se derramar
que as ondas faz femininas,
mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.
Quaderna / Antologia da Nova Poesia Brasileira
(edição de Alberto da Costa e Silva)
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2 comentários:
Muito bonito, Ricardo, querido. :)
Beijos
Era formidável, o João Cabral...
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