sexta-feira, maio 27, 2016

microleituras

Sobre a Censura e a auto-censura. O artiguinho saltou-me há vinte anos, impressionado com a leitura das «Mensagens» de Ferreira de Castro na sessão do MUD (1946) e na campanha de Norton de Matos (1949):  O medo das pessoas falarem livremente umas com as outras, não fossem ser presas, despedidas, interrogadas, torturadas. O país do medo. E, no tempo de Salazar, Ferreira de Castro escrevia isto para ser lido em público:

«[...] Os Portugueses, na sua maioria, vivem numa permanente desconfiança [...] Eles vêem em todo o compatriota que não conhecem um possível inimigo -- um homem que lhes pode fazer mal. Eles desconfiam de tudo, até dos mendigos, algumas vezes até dos parentes. até da sua própria sombra. Mesmo os homens mais pacíficos, pais de família cuja principal preocupação poderem alimentar os filhos, vivem neste ambiente de suspeição, que produz, tantas vezes, imerecidos juízos sobre pessoas que, afinal, são outras tantas vítimas do medo.»
(«Mensagem de Ferreira de Castro», Campanha Eleitoral da Oposição. Depoimento. 3.ª série, Lisboa, 1949)

O mesmo ano, contra a mediocridade instaurada pelo medo, com os surrealistas a erguerem-se. E, por falar em surrealistas, cruzo na temática do medo, poemas de Alexandre O'Neill, Natália Correia, mas também de Manuel da Fonseca e Manuel Alegre. E foi o que me veio à memória, quando pensava no que escrever sobre esta separata. Lembrei-me do parazer em pegar nos textos, aqui e ali, misturá-los, cozinhá-los. Sempre gostei de fazê-lo. E não apenas com a literatura, mas também com a pintura, a música...

incipit - «Uma ideia que tem feito carreira com sucesso é a da inexistência de grande obras reveladas após o 25 de Abril, dessas que aguardaram publicação durante anos nas gavteas dos seus autores.»

 Ricardo António Alves, Ferreira de Castro: Um Escritor no País do Medo (1997)
(também aqui)


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