quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Figuras de estilo - Eça de Queirós

Olhemos agora a literatura. A literatura -- poesia e romance -- sem ideia, sem originalidade, convencional, hipócrita, falsíssima, não exprime nada; nem a tendência colectiva da sociedade, nem o temperamento individual do escritor. Tudo em torno dela se transformou, só ela ficou imóvel. De modo que, pasmada e alheada, nem ela compreende o seu tempo, nem ninguém a compreende a ela. É como um trovador gótico, que acordasse de um sono secular numa fábrica de cerveja.
Fala do ideal, do êxtase, da febre, de Laura, de rosas, de liras, de Primaveras, de virgens pálidas -- e em torno dela o mundo industrial, fabril, positivo, prático, experimental, pergunta, meio espantado, meio indignado:
-- Que quer esta tonta? Que faz aqui? Emprega-se na vadiagem, levem-na à polícia!


Uma Campanha Alegre

4 comentários:

T disse...

Eça o meu conterrâneo!

E no Dias, Cascais e Guincho para si:)

Ricardo António Alves disse...

Não a sabia poveira!
Muito obrigado, já lá vou.

T disse...

Poveira de nascimento, lisboeta adoptada:)

Ricardo António Alves disse...

Mais do que eu, que nasci aí...