A grande massa burguesa da cidade continuava a sonolear na sua egoísta indiferença, sepultada nesta beatitude inerte dos que sentem o gozo fácil e a vida segura. Uma instintiva manha aconselhava mesmo a multidão enorme dos ganhões e traficantes a aproximarem-se,um escoramento mútuo de interesses, dos grandes mandões dispondo da influência e dos ganhos. Mas o eterno explorado, o proletário, pela miséria irremissível da sua condição tornado incrédulo, não podendo arrecear-se de penas sobrenaturais mais horríveis que o seu incomportável inferno já neste mundo, esse dia-a-dia mais violento e negro sentia no íntimo crescer-lhe o ódio por todo o existente, e se consultava a alma não colhia da sua tutmultuária ânsia senão explosivas ameaças.
Amanhã
Retrato porAntónio Ramalho
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