quinta-feira, julho 14, 2005

A SELVA como expressão das ideias libertárias de Ferreira de Castro (5)

Os novos habitantes do Paraíso foram descendo, em friso, a prancha que ligava o cais ao navio. Alguns adequavam motejo ao receio dos outros, quando eles estendiam o braço para o companheiro da frente, em solidariedade pueril de caminhantes em corda bamba.
Lá dentro, como se aproximassem da escotilha quando uma lingada descia, o mestre fê-los deter com voz rude e imperiosa. Quedaram-se um momento hesitantes, depois rumaram para a esquerda, seguindo Alberto, que ali descobrira refúgio.
O convés, ao contrário do de cima, era húmido, sujo e escorregadio. Dir-se-ia que visco fluido e repulsivo se exalava de toda a parte, estendendo-se sobre a pele, furando até os poros.
-- Fiquem aqui, que logo que o vapor acabe de carregar se armam as redes -- disse Balbino, antes de subir para instalar-se na primeira classe.
Estavam ali já outros tabaréus ignaros, gente destinada a vários seringais do Madeira, lá longe, onde o mistério insinuava bom futuro. Alguns levavam as mulheres e os filhos e, mesmo antes de aninhar-se, davam sensação de promiscuidade -- farraparia, miséria errante, expressões mortiças de sofredores.
Cap. II, 32ª ed., pp. 42-43.

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