Quando o seringueiro tinha «saldo», vendia-lhe tudo quanto ele desejasse; fosse loucura rematada ou objecto inútil [...]. Mas se o trabalhador, por curta estada ali, por doença ou preguiça não conseguira solver a dívida inicial, que rebentasse de fome, pescasse ou caçasse, pois não lhe forneceria nada para além do valor da sua produção. «De sem-vergonhas que tinham morrido antes de liquidar o débito ou que fugiram como cães, sem que ninguém os apanhasse, havia largo cadastro no seringal, a demonstrar quanto eram perigosas as transigências impostas por dó do coração.»
[...]
Mas com os «brabos», ignorantes do que era e não era indispensável, Juca Tristão procedia de maneira diferente. Ele próprio organizava a lista do aviamento: o boião a defumar, a bacia para o látex, o galão, o machadinho, as tigelinhas de folha, todos os utensílios que a extracção da borracha exigia -- e mais um quilo de pirarucu e uns litros de farinha, pois nos primeiros dias nunca um «brabo» sabe como se caça a paca e a cotia ou se pesca o tambaqui.
Aquele era sempre o «talão grande», ao qual se juntavam posteriormente as despesas da viagem e mais empréstimos que prendiam por muitos anos ao seringal, em trabalho de pagamento, o sertanejo ingénuo.
Alberto viu-se com o seu na mão -- setecentos e vinte-mil réis parcelados por seis ou oito linhas -- e depois sobre o balcão, meia dúzia de coisas que lhe pareceram não valer um pataco. [...]
Cap. IV, 32ª ed., pp. 91.92.
Nota: Chamo a atenção para o que escreveu sobre isto Stefan Zweig, um ou dois posts acima.
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