domingo, julho 11, 2010

Antologia Improvável #441 - José Carlos Ary dos Santos (4)

DESESPERO

Não eram meus os olhos que te olharam
nem este corpo exausto que despi
nem os lábios sedentos que pousaram
no mais secreto do que existe em ti.

Não eram meus os dedos que tocaram
tua falsa beleza em que não vi
mais que os vícios que um dia me geraram
e me perseguem desde que nasci.

Não fui eu que te quis. E não sou eu
que hoje te embalo e canto e gero
possesso desta raiva que me deu
a grande solidão que te espero.

E a sombra da mágoa que te vejo
e a sombra do ódio e que te quero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E a seiva que te dou o desespero.

As Palavras das Cantigas
(edição de Ruben de Carvalho)

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