Vivemos em tempo de exegetas. Explicar a criação (o criado) tornou-se tão importante (ou mais) do que a própria criação. Nunca o aparato crítico-exegético se viu tão bem apetrechado e com gente tão dotada como hoje. Diríamos, até, que nos mais felizes dos casos, a exegese é, só por si, uma verdadeira obra de arte. Talvez por isso eu venha, de há anos a esta parte, «rodeando» Joyce, através das admiráveis exegeses que lhe têm sido dedicadas, sem coragem para meter o dente a fundo na obra propriamente dita. Ao mesmo tempo, detém-nos um certo medo de, não conhecendo a coisa criada, mas só a exegese dela, acabarmos um dia, travando conhecimento com a criação original, por rejeitarmos esta ou rechaçarmos a crítica recriação que dela conhecíamos, ou até as duas. Alexandre O'Neill
Coração Acordeão (edição de Vasco Rosa)
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