segunda-feira, julho 19, 2010

Antologia Improvável #442 - Lyster Franco

NUVEM VERMELHA

Vermelho sangue! Vermelho cristas de galo! Tenho os olhos a doerem-me de tanto vermelho lágrimas!
Eco de granadas que rebentam em leques brancos!
Visão de metralhadoras que cantam sem cessar hinos de luto!
Trincheiras que desabam afogando gente! Aviões que vomitam morte! Obuzes que incendeiam o ar de asfixias e canhões que cortam os ecos com os estrondos!
E o 47 da 1.ª companhia a escrever à mulher quase a morrer de ausência!
E o 22, que foi promovido a sargento! E oito que ficaram esfacelados! Cortou-os em pedaços um tiroteio inimigo. Voaram corpos em farrapos de carne feitos borboletas!
Tenho no rosto a expressão daqueles rostos sem expressão e ouço os canhões cantando vermelho!

Porto 7 -- 1917

Poesia Futurista Portuguesa (Faro -- 1916-1917)
(edição de Nuno Júdice)

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