RETRATO
Ah, Senhor, por que não sermos
amados pelo que somos,
e sim pelo que nos sonham?
Os mais prementes anseios
abandonamos na vida.
Resta a mágoa adquirida.
Com que torturado esfôrço
arrastamos o que temos
para fora da moldura!
Para que o olhar amado
resplandeça de ternura,
há que ser outro o retrato.
A mágoa de não nos sermos
guardemos adormecida.
Para não manchar a tela
tôda lágrima guardemos.
E que as ondas dêsse pranto
embalem tamanha perda.
Ah, Senhor, nessa premência
de termos o que nos trazem,
de sermos o que nos sonham,
afinal o que é que somos?
Somos o vasto silêncio
da solidão que nos fazem.
Pastoral / A Nova Poesia Brasileira
(edição de Alberto da Costa e Silva)
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2 comentários:
E quando nasci mamãezita cortou vários figurinos e fez um álbum para quando eu fosse moça. Tentei seguir, mas não! fugi fugi...e nunca mais encontrei molde.
Bom sinal, Rose.
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