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Na ressaca do punk, um tipo desconhecido, professor de literatura inglesa, surgia com um som retro, uma invejável competência técnica como guitarrista, uma voz cavernosa e música indiferente ao que então estava a dar.
Podia ter sido uma das recorrentes irrupções revivalistas que sucedem em todas as artes. Mas não. Os Dires Straits -- ou melhor, Mark Knopfler -- eram muito mais que um epifenómeno nostálgico. Communiqué, de 1979, já o assegurava.
Falei em euforia. «Getting crazy on the waltzers but it's the life that I choose», reza o primeiro verso de «Tunnel of love». Depois de entusiasticamente saudados, Knopfler e o baterista Pick Withers foram convidados a tomar conta da guitarra-solo e dos tambores do álbum de Bob Dylan, Slow Train Coming (1979). Sabemos qual foi o seu desempenho. Este Making Movies surge quando os Straits estão na linha da frente da música popular. Justifica-se, pois, a euforia: «Well take a look at that / I made a castle in the sand / [...] / If I realised that the chances were slim / How come I'm so surprised when the tide rolled in» -- versos de «Solid Rock», faixa que poderia ter dado o nome ao disco. Knopfler, coadjuvado por Withers, John Illsley e Roy Bittan, pianista da E Street Band, de Bruce Spingsteen, deu-nos um dos álbuns mais consistentes, mais sólidos da história do rock. Uma lição de Knopfler para ouvir de uma ponta a outra: a consabida mestria do guitarrista -- o celebrado recurso ao fingerpicking, muito perceptível nas guitarras acústicas -- inibe-o de fazer exercícios estéreis de virtuosismo; e a Fender sobressai naturalmente, sustentada pela secção rítmica.
7 comentários:
Grande disco de um grande grupo! É sempre fantástico ouvi-los, ontem como hoje, depois de os ter acompanhado ao detalhe durante muito tempo. Fui fã incondicional. E ainda sou :)
Excelente texto, RAA!
Obrigado, Ana Paula :|
Acho que eles, dois discos mais tarde, se despistaram. Gosto da sobriedade actual do MK.
Vc é bom como crítico musical. Nossa! Impressionada.
Grande disco ... saudades !!!!
Abraço
RAA
Obrigada pela visita, comentário e referência no seu blog.
Vizinhos de interesses também.
:-)
Abraço
Rita V.
É o disco da maturidade;)
E este texto é igualmente um apontamento muito seu, RAA.
Não sei se tem algum livro de contos. Se não tem devia pensar no assunto.:-)
Rose: tem piada, ontem respondera, a si e à Rita, mas a resposta não a vejo...
Dizia-lhe que começara a "criticar" no jornal do liceu, depois num dos jornais cá da terra, e depois me deixara disso...
Outro, Rita :|
Obrigado, GJ. Contos, por acaso tenho andado a pensar nisso. Talvez quando a madurez me cair em cima... .|
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