domingo, março 18, 2007

Correspondências #84 - Jaime Brasil a Ferreira de Castro

Lisboa, 10 de Março de 1936
Meu caro Ferreira de Castro:
Sei que o Julião Quintinha já chegou, mas ainda não lhe falei. Como ele, porém, está em Lisboa, é fácil preveni-lo do dia da reunião. Ficou assente que esta, para discussão dos Estatutos, se realizaria na sexta-feira, 13, em minha casa, às 18 horas. Poderá V. vir nesse dia e a essa hora? Oxalá. Se não puder, mande-me as duas linhas combinadas.
Imagine que está na forja a organização do Grémio corporativo dos proprietários de jornais, com objectivos nada tranquilizadores, pois, segundo me disse um ornamento do Sindicato Nacional, as empresas vão estabelecer acordos sobre coisas de publicidade, horários e contratos colectivos de trabalho e, o que é mais grave, limpeza de pessoal. Imagine se não seria magnífico os jornalistas terem representação pessoal nesse grémio. Só a sua presença evitaria muita vilania patronal.
Parece-me que se houver uma única probabilidade, contra 99, de se fazer alguma coisa, devemos empenhar todos os nossos esforços para fazer triunfar a ideia do jornal de jornalistas, pois, amanhã, pode ser tarde.
Você, caro Castro, está um tanto afastado do ofício, mas isso não fará com que se desinteresse da sorte dos camaradas e lhes negue o seu apoio. Continuo a considerar que o seu nome seria uma garantia de êxito, na direcção do jornal, se ele vier a publicar-se -- e só virá se houver meios materiais para isso --.
Cá o espero na sexta, para conversarmos ainda sobre este ponto.
Camarada e amº
sempre mto aftº
Jaime Brasil



Jaime Brasil, Cartas a Ferreira de Castro
(edição de Ricardo António Alves)

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