quarta-feira, janeiro 03, 2007

Uma leitura da «presença» #5

Gaspar Simões
Na «beleza emotiva» (19) procurada pelos poetas da presença não havia também lugar para o formalismo, para a habilidade dos vates de academia, para o tecnicismo, espartilho de muito razoável poeta que dele não logrou libertar-se. E se para Gaspar Simões -- o mais assertivo dos teóricos presencistas, cujas tiradas terão contribuído o seu quê para dar da revista a imagem duma certa irredutibilidade («a história da arte é a história da luta dos artistas com a realidade exterior» (20)), não se seguia -- pelo menos para os restantes co-directores -- que o artista se devesse encasular, umbilicalizar, torredemarfinizar. A poesia-pura, na acepção de Casais, rejeitando a submissão à forma e às escolas, não se afastava dos grandes problemas do homem -- fazia-o, porém, apenas «como expressão directa do seu debate interior.» (21)
(19) Helmut SIEPMANN, «Aspectos da poesia do segundo modernismo português», Revista da Faculdade de Letras, 5.ª série, n.º 16-17, Lisboa, Universidade de Lisboa, 1994, p. 278.
(20) João Gaspar SIMÕES, «A arte e a realidade», presença, n.º 36, Coimbra, Novembro de 1932, p. 6.
(21) Adolfo Casais MONTEIRO, «Mais além da poesia pura», presença, n.º 28, Coimbra, Agosto-Outubro de 1930, p. 7.
(continua)

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