Rua Misericórdia, 68
Lisboa, 9 Maio 72
Meu caro Horácio Bento de Gouveia:
O seu artigo sensibilizou-me imenso. Por via de si, velhas relações que ressurgiram agora, ao cabo de muitos anos, com a pujança do trigo que passa o tempo frio sob uma camada de neve*. Por via de Você e por via da Madeira, à qual me encontro ligado por complexos e profundos sentimentos de amor e de poesia. Finalmente, pela generosidade que há nas suas palavras. Fico-lhe muito, muito obrigado. Obrigado e enternecido.
Foi de grande satisfação para mim esse pedaço de noite em que convivemos -- sua esposa e a minha, Você e eu -- aqui, no hotel. E oxalá não tarde muito a encontrarmo-nos novamente.
Em Julho, quando Vocês pensam voltar, estarei no Hotel de S. Vicente -- Termas de S. Vicente, perto de Penafiel. Se Vocês se decidirem a dar um passeio pelo Norte e quiserem ver um belo trecho do Minho, venham lá almoçar ou jantar comigo. Eu teria uma grande alegria com isso.
Afectuosos cumprimentos de minha mulher e meus para a sua esposa e para si, acompanhados dum forte abraço do seu velho amigo e admirador,
Ferreira de Castro
* É claro que nunca houve gelo entre nós, mas apenas desencontros físicos.
In O Escritor, n.º 6
(edição de José António Gonçalves)
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