Amo com esta saudade
que me corrói.
Amo cada vez mais doído.
A boca fechada sobre as ervas
há tanto tempo.
Os braços a descansar
no pântano do ventre.
A saudade enxuga-me o fogo
longe do mundo.
A saudade torna-me verde.
Tenho no rosto
aquela parte negra do branco.
A vida toda encostada à lembrança
com a comoção das origens
a soluçar-me
instante a instante
na garganta.
Os ossos
neste Inverno da vida
com a noite da saudade por cima.
Brilha nessa escuridão o passado.
Cresce no frio um caule de luz.
Dissolvo pouco a pouco
a sede baça da morte.
Transfiguro-me perplexo.
A saudade seca-me a tristeza.
Cede-me ao céu
e aos raios da sua alegria.
Enxuga-me a mágoa.
Cresce-me no meio do corpo uma flor.
É uma flor matinal
de anil
rebentando por entre as vértebras.
Brilham-me no ser
os braços irradiantes de uma estrela.
A saudade coa-me no sangue um astro.
O meu corpo
é a raiz sombria de um outro sol.
O Poeta na Rua
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2 comentários:
Um excelente ano de 2007 para si e para os seus, Ricardo.
O poema de António Ramos Rosa foi uma boa maneira de começar o ano.
Um abraço.
Aexandre
Obrigado, Alexandre. Grandes conterrâneos tem você. Abraço também.
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