RELÍQUIA
Era de minha mãe: é um pobre xale
Que tem p'ra mim uma carícia de asa.
Vou-lhe pedir ainda que me fale
Da que ele agasalhou em nossa casa.
Na sua trama já puída e lassa
Deixo os meus dedos p'ra senti-la ainda;
E Ela vem, é ela que me abraça,
Fala de coisas que a saudade alinda.
É a minha mãe mais perto, mais pertinho,
Que eu sinto quando toco o velho xale
Que guarda um não sei quê do seu carinho.
E quando a vida mais me dói, no escuro,
Sinto ao tocá-lo como alguém que embale
E beije a minha sede de amor puro.
Poesias / Líricas Portuguesas, 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)
quarta-feira, março 29, 2006
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