Você define-se sempre como um anarquista?
A anarquia encobre muitas coisas diferentes. Mas existe uma corrente no seio da anarquia que constitui a herança directa do liberalismo clássico, que se esforça por defender a liberdade e a democracia contra o capitalismo. Essas correntes anarquistas pretendem apresentar formas de organização susceptíveis de ajudar as pessoas a multiplicar os frutos da liberdade.
Os anarquistas foram sempre ligados a um princípio fundamental: toda a forma de autoridade, de hierarquia, deve ser posta em causa e deve provar o seu fundamento. Não há autojustificação que seja aceitável. Isto é de igual modo válido para as relações entre os pais e os filhos, os homens e as mulheres, no mundo do trabalho ou entre os Estados. É necessário referenciar todas as formas de autoridade e fazer com que as mesmas justifiquem a sua existência.
Alguma dessas formas de autoridade têm fundamento. Assim, as relações entre uma mãe e o seu filho são de natureza autoritária. Mas toda a forma de autoridade que não pode provar o seu fundamento é ilegítima, e temos o direito de a derrubar. Isto é verdade a todos os níveis, desde as relações individuais até às relações internacionais. Do meu ponto de vista, é esta a contribuição essencial do pensamento anarquista. Provém directamente das lutas populares, do iluminismo.
Duas Horas de Lucidez
(entrevistas com Denis Robert e Weronica Zarachowicz)
(tradução de Miguel Cardoso)
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