VENDO A MORTE
Em tudo vejo a morte! E, assim, ao ver
Que a vida já vem morta cruelmente
Logo ao surgir, começo a compreender
Como a vida se vive inutilmente...
Debalde (como um náufrago que sente,
Vendo a morte, mais fúria de viver)
Estendo os olhos mais avidamente
E as mãos p'ra a vida... e ponho-me a morrer.
A morte! sempre a morte! em tudo a vejo,
Tudo ma lembra! E invade-me o desejo
De viver toda a vida que perdi...
E não me assusta a morte! Só me assusta
Ter tido tanta fé na vida injusta
...E não saber sequer p'ra que a vivi!
Comigo / Líricas Portuguesas 2ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)
sexta-feira, março 10, 2006
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