A CORRENTE
Lá vão as folhas secas na corrente...
Lá vão as folhas soltas das ramadas...
Hastes envelhecidas e quebradas
galgando as asperezas da vertente.
A cheia arrasa os frutos e a semente,
a terra inculta, as várzeas fecundadas,
e vai perder-se ao longe, nas quebradas,
numa fúria cruel e inconsciente.
Em nós ainda é mais funda, ainda é mais vasta,
esta ansiedade enorme e sem perdão,
que nos fere, nos tolhe e nos devasta...
As árvores desprendem-se e lá vão...
Mas nós ficamos porque nada arrasta
as raízes fiéis dum coração.
Jardim
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2 comentários:
Fernanda de Castro, por vezes,excedia a si própria e escrevia poemas muito belos. É o caso deste soneto. Ficou quase no esquecimento por ser mulher de quem era e por algumas atitutes de pacto com o salazarismo que tornou públicas e que, por isso, lhe saíram caras. Há, ao longo da história de todos os países, casos assim que não sei se lhes deva chamar de exemplares. É bom recordá-la para que a sua obra não caia definitivamente no esquecimento. Um abraço
É verdade, há que separar o artista das relações de circunstância. A Fernanda de Castro escreveu na República,no Estado Novo e depois do 25 de Abril. O que for bom sobreviverá.
Um abraço também.
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