sexta-feira, março 15, 2019

no meio da apatia geral, incluindo a minha, lembrei-me duma música do Sting

No primeiro álbum a solo, The Dream Of The Blue Turtles (1985), sem adivinhar Gorbachev, «Russians» era uma canção de esperança na humanidade dos russos, num contexto exacerbado de Guerra Fria. Em face da histeria e da retórica armamentistas, os ex-membro dos Police manifestava a sua esperança no amor que os russos teriam pelas suas crianças, não desencadeando um conflito que extinguiria a humanidade. Dentro da música, uma citação de uma passagem do Tenente Kijé (1933-34), do enorme Prokofiev, em tempo de canção de embalar.
Muitas vezes me ocorre a composição do Sting, quando penso no inferno que estamos a criar, para nós próprios, mas que atingirá em cheio os nossos filhos e os nossos netos, aqueles que dizemos amar e julgamos que amamos.
Um magnífico artigo de João Camargo no Público de hoje (sem link, mas aconselho também este seu texto no Expresso), a propósito da greve de jovens estudantes contra as alterações climáticas, interpela-nos. Pelo menos a mim. Quais têm sido as minhas acções para fazer a diferença. Muito poucas, quase nada, para além da preocupação de algum civismo ecológico mais dou insuficiente, e vociferação contra o capitalismo predatório de que todos nos vamos alimentando.
Já devo ter escrito que uma tarte à bucha & estica deveria ser atirada em cheio ao focinho dos políticos, empresários, jornalistas económicos estipendiados e todos quantos nos viessem falar no conhecido crescimento da economia.
Cresçamos, pois, infinitamente, até não haver mais recursos naturais, até darmos cabo da vida daqueles que dizemos amar. Olhemos bem para eles, e depois para o espelho. Os nossos olhos nos dirão o que somos.

11 comentários:

PNLima disse...

Não só ficou o Sting a "cantar na minha cabeça", como fiquei a pensar no assunto... vou ler o artigo.
"We hope all the people love their children too"!

Jaime Santos disse...

Na mouche, mas conviria lembrar que a ideologia do crescimento eterno não é apenas um apanágio do Capitalismo. Leia o que escreve uma certa Esquerda que defende o pleno emprego e o remédio que eles dão para tudo é também o crescimento.

Não aprecio a personagem, mas Carrilho foi certeiro quando um dia disse que Sócrates sofria de um fascínio parolo pela tecnologia. Acho, infelizmente, que não é só ele, mas todo um escol de Economistas e Engenheiros que, para além do mais, estão aterrados com a perspetiva de dizerem às pessoas comuns que no futuro teremos que nos habituar a viver com menos.

Não porque eu ache que os pobres se importariam por aí além que isso fosse reconhecido, mas porque isso obrigaria os ricos a partilhar uma parte do que têm, pelo menos, em lugar de abocanhar tudo...

A tecnologia serve pois sempre como desculpa para se adiar a resolução de problemas políticos. Possam os nossos jovens pensar diferente...

Também achei que o melhor comentário à polémica sobre Magalhães foi o Bartoon que referiu. Mas acrescentaria, como alguém disse, que a História é sempre interpretada à luz do presente, no caso, tratou-se de um episódio que envolveu Portugal apenas de raspão, o alvo era o Governo Espanhol que resolveu e bem comemorar a viagem do Ronaldo do sec. XVI em parceria com o País que o viu nascer e onde ele aprendeu as artes de marear (ele e os outros 'tugas' que com ele viajaram).

E quando diz que a História está aí para nos interpelar, acho justamente que a questão é mesmo perceber o que podemos aprender com ela. Por isso é que ela é talvez a mais política de todas as Ciências...

R. disse...

E faz muito bem, Paula.

R. disse...

Seja bem aparecido, meu caro, que é feito? Não me diga que já é catedrático :)
Pois, sem dúvida, será a que mais se presta a manipulações...
Um abraço

Jaime Santos disse...

Não, estou ainda onde estava :-), simplesmente o trabalho tem-me mantido algo afastado dos comentários (mas continuei a ler o que escreve, nem sempre de acordo, mas sempre com agrado). Abraço.

R. disse...

Obrigado. Já sabe que o G+ vai acabar, por isso veja se se reconverte.

Jaime Santos disse...

Sim, sei, na verdade foi um fim bem-vindo porque me deu um motivo para fazer uma pausa nos comentários, que por vezes me tiravam mais do que uma hora por dia. Quando me mudar para o blogue, serei mais comedido :-) ...

Depois, o mundo político e social continua a girar sem os meus bitaites. Nem tudo o que se passou entretanto (vitória de Bolsonaro, violência dos e contra os coletes amarelos, trapalhadas do Brexit) é muito animador, mas o resultado das intercalares nos EUA foi-o, esperemos agora que os Democratas sejam capazes de encontrar um candidato/a que recambie Trump para Nova Iorque, de preferência para a penitenciária...

Os níveis de desigualdade que se fazem sentir nas sociedades ocidentais são de tal ordem que, por muito urgente que a crise ambiental seja, ou eles são reduzidos e recuperamos algum sentido do coletivo nacional (e, espero eu, também ao nível da UE) ou acabaremos todos governados por um modelo neo-oligárquico/mafioso que fará Trump ou Putin parecerem anjinhos. E, como se sabe, tais oligarcas estão-se nas tintas para o ambiente, uma das formas de eles ganharem dinheiro é a venderem petróleo...

rose marinho prado disse...

Bom dia...

R. disse...

Viva, Rose!
Que é feito?)

R. disse...

Jaime,

sem dúvida que as desigualdades sociais estão na linha da frente, partilho essa sua preocupação.

R. disse...

Fui ouvir)