Não fora Joana Amaral Dias, honra lhe seja, e não saberíamos do conteúdo da auditoria à Caixa Geral de Depósitos relativa ao período 2000-2015, embora há que tempos se falasse dos grandes devedores. Não é tanto, embora seja importante, o desastre de cada negócio: uns correram mal, outros serão suspeitos de trafulhice a vários níveis -- cabe às autoridades apurar. Não é tanto, pois: trafulhices e maus negócios não começaram nem ficarão por aqui; o que é especialmente repugnante é 1) os prémios de gestão atribuídos aos quadros que descapitalizaram o banco público, o despudor e o abuso aí estão à vista de todos, e os premiados não pintam a cara de preto porque não têm vergonha na dita; 2) o encobrimento, obviamente protegendo o sindicato dos interesses com a activa cumplicidade das cúpulas políticas; 3) o alheamento ou a raiva dos cidadãos duramente extorquidos com impostos, desviados para alimentar o regabofe. Também isto cria bolsonaros & trumps, ainda mais do que as questiúnculas fracturantes.
O antigo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, com quem não me encontro há vários anos, foi, pelo seu primeiro casamento, um familiar muito próximo, e conhecemo-nos ainda desde a adolescência dele e a minha jovem adultez (sou poucos anos mais velho). Creio que nunca aqui lhe fiz referência por essa razão e também, diga-se com frontalidade, por não ter e nunca ter tido pachorra para as empresas, para as bolsas e temas quejandos -- nunca leio as páginas de economia dos jornais, a não ser quando aparece um bom cronista, fenómeno pouco frequente. Vem isto a propósito da minha admiração pela sua substituição no Governo -- além de académico destacado, geria uma pasta que apresentava óptimos resultados para o Governo apresentar, além de ser pessoa de excelente trato -- logo a remodelação não me fez muito sentido (não foi, certamente, por causa da timidez do ministro, factor parece que importantíssimo aí para o jornalismo raso e acéfalo da intriga política.) Ainda por cima, substituído por um advogado, homem de confiança do PM, o que é mais ou menos como nomear um veterinário para director clínico do Santa Maria. Até que há dias se fez luz: havia um secretário de estado, parece que bastante competente, Jorge Seguro Sanches, que andava a tornar-se demasiado saliente. Havia que removê-lo, para cair sec. de estado, tinha primeiro de cair o ministro. É a minha leitura, e duvido que haja outra convincente.
Entretanto, a história do genro de Jerónimo de Sousa parece ter sido tratada de forma enviesada, segundo revela O Polígrafo . Não há que admirar: há uma extrema-direita subterrânea, larvar, vermínica, motivado pelos gelados ventos de leste, apostada em aproveitar a degenerescência política em que temos andado, desde o cavaquismo. Goste-se mais ou menos (e eu nem mais nem menos), o PC é um dos baluartes do sistema democrático, tal como existe desde 1974. Miná-lo é a tentativa de aspirar uma grossa fatia de eleitorado descontente que, a exemplo, por exemplo da França, alimentaria essa extrema-direita. Esperemos que 1) não seja bem sucedidos e 2) que se enganem.
2 comentários:
E o PCP armou-se em mártir, em vez de esclarecer, ele próprio essa coisa?
Já agora, o Polígrafo terá averiguado quem são essas empresas 'concorrentes'?
Acho que é a Câmara de Loures que tem que esclarecer o que houver a, e não o PC.
Quanto ao «Polígrafo», não sei, mas é a sua fiabilidade que está em jogo, portanto presumo que não tenham deixado nada por ver.
Por outro lado, só depois de visto o «Polígrafo é que me apercebi que aquilo veio dum site da extrema-direita. Assim sendo, nem é assunto para considerar.
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