quinta-feira, outubro 07, 2010

eu também quero dizer qualquer coisa sobre o Mario Vargas Llosa

Um dos livros da minha vida é A Guerra do Fim do Mundo, do Mario Vargas Llosa. A propósito da história de António Conselheiro e das campanhas militares de Canudos, um dos episódios mais dramáticos, sangrentos, fantásticos e fanáticos da história do Brasil, o escritor peruano cometeu o feito de evocar (e, de alguma forma, emular) com sucesso essa obra-prima da literatura brasileira e da língua portuguesa que é Os Sertões, do Euclides da Cunha. Quer um quer outro, já passaram por aqui, e hão-de voltar.
Por razões obscuras, e apesar de ter gulosamente as Travessuras da Menina Má numa pilha prioritária, nunca li a outra ficção sua. Mas -- para além de ensaios dispersos -- recordo-me de às sextas-feiras, no DNA, creio, devorar-lhe as crónicas.
Neste dia em que lhe foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura, quero frisar que, do pensamento político e ético do autor de A Tia Júlia e o Escrevedor (vi o filme...), se extrai uma lucidez , uma argúcia e uma finura que é timbre dos grandes intelectuais: alguém que não se deixa encantar pelas utopias revolucionárias que, q.e.d. (URSS e Satélites; Fidel Castro a apodrecer no poder, em Cuba; capitalismo selvagem envergonhado de partido único, na China; a tirania mais grotesca e desprezível na Coreia do Norte), se perverteram; mas que, reconhecendo a até hoje inultrapassável superioridade dos sistemas demo-liberais, no que ao Ocidente (e não apenas) diz respeito, foi (e creio que continua a sê-lo, apesar de já não o ler com regularidade há muito tempo) crítico deste mercantilismo despudorado que nos trata a todos como potenciais consumidores de mercadorias, antes de nos considerar como pessoas.

6 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Grande texto seu, RAA.

Ricardo António Alves disse...

Bondade sua, Ana Paula. Obrigado.

Manuel Nunes disse...

"O Elogio da Madrasta", fora de todo este registo, li-o nas férias. É um poema, e o mais que se quiser... Se calhar até era um livro bom para o Clube de Leitura
(?).
Abraço,

Ricardo António Alves disse...

Provavelmente, meu caro. Logo no início levei as «Travessuras», mas ninguém lhe pegou.
Abraço também.

Teresa Santos disse...

Seria por mero acaso que muitos não concordaram com a atribuição do prémio?

Ricardo António Alves disse...

É provável, mas, à esquerda e à direita, só tenho lido louvores.